domingo, 30 de junho de 2013

Não tinha ninguém com medo ali - O registro de um dia eterno

Esse vídeo foi feito por Victor Belart, do Escafandro. Ele foi um dos autores do documentário "Escafandristas - cifrões, padrões e exceções", já publicado neste blogue.

Eu estava lá. Vi a "juntada" covarde no policial que caiu com uma pedrada. Era o último da fila, quando caiu os outros não viram. Desacordado, foi espancado por um monte de possessos, pelo menos dois insufladores à frente, convocando os demais. Infiltrados catalisando o ódio de grupos violentos, uns por ideologia, outros pelo massacre cotidiano, outros por índole violenta estimulada pela cultura midiática... não há como procurar culpas, numa análise ampla que procura profundidade. Culpar é ficar na superfície. Vergonha, sim, isso senti, ao ver a covardia insana, praticada nos moldes que o próprio sistema fabrica. Mas isso não ofusca a grandeza da movimentação, impressionante por si, rios e mares de gente que não acabava mais. Não é nenhum gigante acordando, como a globo criou até um personagem. É uma manifestação, um sacode de insatisfação com alguma tomada de consciência e muito descarrego de pressão.

Não dá pra concluir. As manifestações, desde então, continuam. Nos ataques do dia 20, sobre o milhão de pessoas que se manifestavam, nas perseguições movidas em todo o centro do Rio, com a polícia colocada em todos os pontos estratégicos e atacando com gases e balas de borracha qualquer ajuntamento de pessoas, que era só o que havia, grupos tentando fugir. Ataques policiais por todo lado, até no largo da Glória. Na Lapa, na Cinelândia, na Marechal Floriano, Presidente Vargas nem se fala, Campo de Santana, rua do Lavradio, Rio Branco, cheio de destacamentos policiais postados pra pegar todas as saídas da manifestação. Como disse um policial, era a vingança da polícia pelo espancamento do policial no dia 17. Estavam todos com aquilo atravessado na garganta.

Chamei os espancadores de possessos, mas pelo menos dois eu vi que estavam ali por encomenda, eles partiam pra cima dos policiais e voltavam conclamando os outros, que iam. Esses possessos não têm a menor consciência de que estão servindo aos interesses do sistema, em jogar uns contra os outros, em criar clima de conflito, espalhar o medo e justificar os ataques indiscriminados das forças de segurança às multidões que manifestam a inconformação com esse sistema que sacrifica a população pra beneficiar bancos e mega-empresários. Sistema muito bem montado nas costas do Estado.


7 comentários:

  1. Olá Eduardo, seu texto fala muito do que vivi e senti naquela noite. Me senti um rato sendo encurralado e um sentimento de revolta e ódio tomou conta de mim. Isso porque sou um estudante e não me acho um perigo para sociedade para ser tratado daquele jeito. A polícia deveria me proteger e não me jogar bombas. Tudo ainda parece confuso sobre meu sentimento pela polícia, pois acho que tudo está muito errado na nossa sociedade e o cara atrás daquela farda é um produto disso. Esses dias me peguei pensando sobre os policiais que jogou sua arma na fogueira e aquele que não acatou a ordem do seu "superior". O que deve ter acontecido com eles depois da onda de protestos? Sei lá, acho que a cada dia que passa fico mais descrente de tudo. Obrigado pelos textos. Abraços. Carlos

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  2. Está muito evidente que a violência é o resultado do nosso estado interior. As manifestações, de modo geral, não acabarão. Nosso inconsciente coletivo está se manifestando de uma maneira muito perceptível. Acho que os netos e bisnetos dos escravos não querem ser tão explorados quanto seus ascendentes, me entendem?

    Mudando de assunto, li uma matéria sobre normose na superinteressante, você é citado em uma parte do texto, Edu. 'Tenta olhar para dentro de si mesmo, é aí que começa...' Essa maneira de pensar é muito bonita e extremamente útil para o nosso tempo.

    Grande abraço.

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  3. Eduardo, eu também estava lá nesse dia. Inclusive escrevi também um texto sobre o acontecimento intitulado "Sobre o chamado 'vandalismo'", disponível em pensamentopolitico.wordpress.com.
    Mas eu queria te fazer uma pergunta: como você pode confirmar que havia infiltrados? Aqueles dois infiltrados? Você acha impossível que eles sejam simplesmente manifestantes, manifestantes, claro, com ódio e "sangue nos olhos", e só? A meu ver, se fossem infiltrados, eles estariam mais interessados em dispersar do que promover ataque. E infiltrados por quem? Por qual interesse? Da PM? Do Cabral? Da CUT? do PCdoB? Dos neonazistas? Você afirmou isso sem dar nenhum detalhe a mais, nenhuma prova, nenhum argumento. Gostaria de saber o que você tem a dizer sobre isso.

    Abraços

    Rafael Estrela

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    1. Rafael...veja isso, talvez clareie um pouco mais prá vc...

      O governo convocou a cúpula do setor de inteligência da policia junto com
      cientistas políticos para acabar de vez com as manifestações, e tomaram
      algumas medidas:

      1* Corromperam os cabeças do movimento passe livre: até ja deram entrevistas
      dizendo que encerraram as manifestações e não deverão voltar.

      2* Membros de segurança do governo foram contratados para praticar
      vandalismo extremos nas ruas, quebrando, depredando e incendiando tudo que
      encontrar pela frente. (para que fique a imagem que todos são vândalos, não
      revolucionários que estão lutando pelo país).

      3* Convocaram a mídia somente para dar foco a esses vandalismos para que as
      pessoas de bem sintam medo de sair as ruas e aumentar ainda mais o numero de
      manifestantes, evitar falar das reivindicações e aos poucos parar de falar
      dos protestos (isso já esta acontecendo).

      4* Começaram a gravar e colocar no ar inúmeros comerciais mostrando tudo que
      o governo federal e estadual estão "supostamente" investindo nas cidades e
      no país.

      **É importante repassar essas informações a pessoas que não tem acesso a internet...

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  4. Eduardo, eu também estava lá nesse dia. Inclusive escrevi também um texto sobre o acontecimento intitulado "Sobre o chamado 'vandalismo'", disponível em pensamentopolitico.wordpress.com.
    Mas eu queria te fazer uma pergunta: como você pode confirmar que havia infiltrados? Aqueles dois infiltrados? Você acha impossível que eles sejam simplesmente manifestantes, manifestantes, claro, com ódio e "sangue nos olhos", e só? A meu ver, se fossem infiltrados, eles estariam mais interessados em dispersar do que promover ataque. E infiltrados por quem? Por qual interesse? Da PM? Do Cabral? Da CUT? do PCdoB? Dos neonazistas? Você afirmou isso sem dar nenhum detalhe a mais, nenhuma prova, nenhum argumento. Gostaria de saber o que você tem a dizer sobre isso.

    Abraços

    Rafael Estrela

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    1. Ao poder instituído não interessam passeatas ordeiras, manifestações tranqüilas. A máquina repressiva foi treinada pra contenção de massa, pra dispersão - união ordeira resulta em tomada de consciência, debates e união. O povo na rua é o pavor dos poderes. Se for organizado e consciente, cabou pra eles. Desde muito antes das Américas serem descobertas havia infiltrados - em aldeias, em cooperativas, nas coletividades, a serviço do poder constituído de então. Nas manifestações eles costumam ser o rastilho de pólvora que explode a bomba da repressão. É procedimento comum. Neonazistas, skinheads e grupos violentos também são bem úteis nisso, embora por conta própria. Há infiltrados que se misturam aos grupos que demonstram agressividade e estimulam a violência.

      Bueno, é o que penso. Pode estar errado. Mas eu não acho que esteja.

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  5. Olhem a frase do Beltrame carniceiro, que mostra que vidas pobres valem menos

    "Um tiro em Copacabana é uma coisa. Na Favela da Coréia é outra." .

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