A democracia esconde a tirania. O luxo esconde a dependência. A ostentação esconde a fraqueza. A arrogância esconde a insegurança, a agressividade esconde o medo. A riqueza esconde a pobreza, a sociedade esconde a miséria que produz. Mas ela escorre pelas sarjetas, ocupa as sombras e rosna.
Os esconderijos estão aparecendo. A grande blindagem das informações apresenta vazamentos. Em todas as partes, movimentos de formigas com pés de cabra trabalham na ampliação dos furos. São poucos ainda, diante da estrutura, mas são focos que contaminam, acordam e abrem caminhos.
As comunicações são uma área estratégica da sociedade. É preciso pulverizar, abrir o espaço, Milhares, milhões de comunicadores precisam se comunicar nas periferias, em todo lado, em rádios, jornais, tevês comunitárias, públicas, de escolas, associações, sindicatos, centros culturais, cooperativas, de qualquer tipo. Nada de disputar hegemonia. É preciso destruir qualquer hegemonia.
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quinta-feira, 23 de julho de 2015
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Estrutura violenta, violência geral
A estrutura da sociedade é construída
de forma extremamente violenta com a base, com a maioria da população. A base é
o alicerce e é preciso manter o alicerce imóvel pra construção se manter. Desde
a sabotagem do ensino público (não é possível crer em desinteresse ou incompetência
quando os melhores e mais bem intencionados são perseguidos e expulsos e os
melhores planos educacionais são feitos em pedacinhos, difamados e destruídos),
passando pelo desprezo do sistema de saúde, pelo massacre midiático-publicitário
permanente, pela desinformação dos meios de comunicação, pelo abandono das vias
públicas, pela tortura nos transportes públicos, pela exploração desenfreada
nos trabalhos ditos formais e chegando na brutalidade policial cotidiana,
no genocídio cotidiano, no clima de
guerra, de insegurança total nas periferias, com sobras evidentes nos bairros
mais atendidos e mesmo nos privilegiados. É preciso perceber e reconhecer esta
situação pra chegar às raízes da violência generalizada, em explosões pontuais
e momentâneas, forças de segurança prontas pra abafar rebeliões, ou seja,
explosões de revolta nas coletividades contra os sacrifícios impostos pelo
Estado, sem nenhuma contrapartida, ao contrário, sob ameaça.
Quase toda a criminalidade tem
origem na criminalidade estrutural. A sociedade, o Estado, as instituições
descumprem descarada e rotineiramente a Constituição Federal, a Carta Magna, o
símbolo máximo de uma sociedade dita civilizada. Crianças nascem já predestinadas
à miséria ou ao crime, aos milhares, aos milhões, e os ideólogos sociais propõem
endurecer medidas penais. Em vez de fechar a fonte, respeitando os direitos
fundamentais da população, constroem-se presídios. É parte do mesmo plano.
Produzir a criminalidade e lucrar com ela das mais variadas formas. Os meios de
comunicação alardeiam a necessidade da redução da idade penal sem levar em
conta um sistema carcerário hediondo, abarrotado, verdadeiros infernos. Fala-se
em privatizar o sistema. Presídios são privatizados, viram empresas, cada preso
é uma grana. O sistema de suborno aumenta a quantidade de presos, desde o
agente que prende até o juiz que condena. A miséria, a ignorância, a instigação
ao consumo, o valor social invertido garantem a produção de matéria prima pro
lucro de poucos – excluídos, sabotados, violentados sociais.
O Estado, seqüestrado pelos
mega-poderes banqueiro-empresariais, comete crimes graves contra sua população,
com o incentivo da mídia.
“A pobreza mata muito mais
pessoas do que todas as guerras da história, mais pessoas que todos os
assassinos da história, mais que todos os suicídios na história. A violência
estrutural não apenas mata mais pessoas do que toda a violência comportamental
junta, como também é a principal causa da violência comportamental.” James
Gilligan
É preciso parar de procurar
culpados e construir caminhos. Há focos brotando em todo lado, pelas periferias
numerosas, resgate de auto-estima,
desenvolvimento cultural independente, base de novas independências.
Brotando, contaminando, sensibilizando, conscientizando, se ligando, formando
redes de informação e de trocas. E da lama brotam os lírios, da merda se faz
adubo pro que é novo crescer, iluminar e libertar.
Traição como lição
Precisei ser traído várias vezes
pra perceber o que já percebia mas não me dava conta, a freqüência pessoal.
Como uma onda de rádio, as pessoas emitem uma freqüência pessoal, única, intransferível.
A traição dói mais quando o afeto está envolvido na confiança. E a confiança
precisa da intuição, do discernimento, da percepção dessa freqüência. Trabalho
interno.
A cada traição, cada engano, sentia
mais tristeza que revolta. E a tristeza trazia reflexão. Afinal, antes da traição, é preciso confiar. Esse é o meu erro, onde posso trabalhar. O erro do outro foi uma conseqüência e dele eu não posso cuidar - a vida cuida. A revolta me leva ao confronto, à vingança e à perda da oportunidade de aprender. Eu me perguntava como é que poderia ter
percebido que a figura não era confiável, antes. Puxava na memória desde o início da relação,
conversas, observações, comentários, atitudes, procurava sinais e eles
apareciam, sinais de caráter, sinais da personalidade, da visão de mundo, como avisos que me foram dados e eu não percebi. Então eram lições e assim eu as
tomava. Traidores foram professores. E as lições, úteis na seqüência da vida. Vida segue, novas situações se apresentam, de repente cê percebe, "epa, olha um sinal". Sabedoria leva sentimento.
Sem saber, eu trabalhava a
capacidade de percepção da freqüência pessoal. A intuição e o sentir foram se
impondo e a razão desceu do pedestal em que a estrutura social a colocou, muito
intencionalmente. A razão social justifica a barbárie e responsabiliza as
vítimas. O sentimento capta a freqüência pessoal, a vibração da alma, que parte do corpo abstrato, do temperamento, da visão de mundo, do caráter, dos desejos, objetivos, afetos e desafetos, de tanta coisa que nem percebemos.
O que sinto não se opõe ao que penso e vice-versa, procuro compor,
harmonizar sentimento, intuição, razão, equilibrar o abstrato – alma ou
espírito – pra facilitar as relações, as decisões e atitudes. Não pretendo a
harmonia plena, até porque não a conheço, mas sua busca, persistente e
permanente, num caminho de superações infinito, até porque não conheço o fim.
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