quinta-feira, 23 de julho de 2015

Pulverizar as comunicações

A democracia esconde a tirania. O luxo esconde a dependência. A ostentação esconde a fraqueza. A arrogância esconde a insegurança, a agressividade esconde o medo. A riqueza esconde a pobreza, a sociedade esconde a miséria que produz. Mas ela escorre pelas sarjetas, ocupa as sombras e rosna.

Os esconderijos estão aparecendo. A grande blindagem das informações apresenta vazamentos. Em todas as partes, movimentos de formigas com pés de cabra trabalham na ampliação dos furos. São poucos ainda, diante da estrutura, mas são focos que contaminam, acordam e abrem caminhos.

As comunicações são uma área estratégica da sociedade. É preciso pulverizar, abrir o espaço, Milhares, milhões de comunicadores precisam se comunicar nas periferias, em todo lado, em rádios, jornais, tevês comunitárias, públicas, de escolas, associações, sindicatos, centros culturais, cooperativas, de qualquer tipo. Nada de disputar hegemonia. É preciso destruir qualquer hegemonia.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Estrutura violenta, violência geral


A estrutura da sociedade é construída de forma extremamente violenta com a base, com a maioria da população. A base é o alicerce e é preciso manter o alicerce imóvel pra construção se manter. Desde a sabotagem do ensino público (não é possível crer em desinteresse ou incompetência quando os melhores e mais bem intencionados são perseguidos e expulsos e os melhores planos educacionais são feitos em pedacinhos, difamados e destruídos), passando pelo desprezo do sistema de saúde, pelo massacre midiático-publicitário permanente, pela desinformação dos meios de comunicação, pelo abandono das vias públicas, pela tortura nos transportes públicos, pela exploração desenfreada nos trabalhos ditos formais e chegando na brutalidade policial cotidiana, no  genocídio cotidiano, no clima de guerra, de insegurança total nas periferias, com sobras evidentes nos bairros mais atendidos e mesmo nos privilegiados. É preciso perceber e reconhecer esta situação pra chegar às raízes da violência generalizada, em explosões pontuais e momentâneas, forças de segurança prontas pra abafar rebeliões, ou seja, explosões de revolta nas coletividades contra os sacrifícios impostos pelo Estado, sem nenhuma contrapartida, ao contrário, sob ameaça.

Quase toda a criminalidade tem origem na criminalidade estrutural. A sociedade, o Estado, as instituições descumprem descarada e rotineiramente a Constituição Federal, a Carta Magna, o símbolo máximo de uma sociedade dita civilizada. Crianças nascem já predestinadas à miséria ou ao crime, aos milhares, aos milhões, e os ideólogos sociais propõem endurecer medidas penais. Em vez de fechar a fonte, respeitando os direitos fundamentais da população, constroem-se presídios. É parte do mesmo plano. Produzir a criminalidade e lucrar com ela das mais variadas formas. Os meios de comunicação alardeiam a necessidade da redução da idade penal sem levar em conta um sistema carcerário hediondo, abarrotado, verdadeiros infernos. Fala-se em privatizar o sistema. Presídios são privatizados, viram empresas, cada preso é uma grana. O sistema de suborno aumenta a quantidade de presos, desde o agente que prende até o juiz que condena. A miséria, a ignorância, a instigação ao consumo, o valor social invertido garantem a produção de matéria prima pro lucro de poucos – excluídos, sabotados, violentados sociais.

O Estado, seqüestrado pelos mega-poderes banqueiro-empresariais, comete crimes graves contra sua população, com o incentivo da mídia.

“A pobreza mata muito mais pessoas do que todas as guerras da história, mais pessoas que todos os assassinos da história, mais que todos os suicídios na história. A violência estrutural não apenas mata mais pessoas do que toda a violência comportamental junta, como também é a principal causa da violência comportamental.” James Gilligan


É preciso parar de procurar culpados e construir caminhos. Há focos brotando em todo lado, pelas periferias numerosas, resgate de auto-estima,  desenvolvimento cultural independente, base de novas independências. Brotando, contaminando, sensibilizando, conscientizando, se ligando, formando redes de informação e de trocas. E da lama brotam os lírios, da merda se faz adubo pro que é novo crescer, iluminar e libertar.

Traição como lição


Precisei ser traído várias vezes pra perceber o que já percebia mas não me dava conta, a freqüência pessoal. Como uma onda de rádio, as pessoas emitem uma freqüência pessoal, única, intransferível. A traição dói mais quando o afeto está envolvido na confiança. E a confiança precisa da intuição, do discernimento, da percepção dessa freqüência. Trabalho interno.

A cada traição, cada engano, sentia mais tristeza que revolta. E a tristeza trazia reflexão. Afinal, antes da traição, é preciso confiar. Esse é o meu erro, onde posso trabalhar. O erro do outro foi uma conseqüência e dele eu não posso cuidar - a vida cuida. A revolta me leva ao confronto, à vingança e à perda da oportunidade de aprender. Eu me perguntava como é que poderia ter percebido que a figura não era confiável, antes. Puxava na memória desde o início da relação, conversas, observações, comentários, atitudes, procurava sinais e eles apareciam, sinais de caráter, sinais da personalidade, da visão de mundo, como avisos que me foram dados e eu não percebi. Então eram lições e assim eu as tomava. Traidores foram professores. E as lições, úteis na seqüência da vida. Vida segue, novas situações se apresentam, de repente cê percebe, "epa, olha um sinal". Sabedoria leva sentimento.

Sem saber, eu trabalhava a capacidade de percepção da freqüência pessoal. A intuição e o sentir foram se impondo e a razão desceu do pedestal em que a estrutura social a colocou, muito intencionalmente. A razão social justifica a barbárie e responsabiliza as vítimas. O sentimento capta a freqüência pessoal, a vibração da alma, que parte do corpo abstrato, do temperamento, da visão de mundo, do caráter, dos desejos, objetivos, afetos e desafetos, de tanta coisa que nem percebemos. 

O que sinto não se opõe  ao que penso e vice-versa, procuro compor, harmonizar sentimento, intuição, razão, equilibrar o abstrato – alma ou espírito – pra facilitar as relações, as decisões e atitudes. Não pretendo a harmonia plena, até porque não a conheço, mas sua busca, persistente e permanente, num caminho de superações infinito, até porque não conheço o fim.

Sem depressão ou revolta, em cada queda há lições e em cada dor, ensinamentos; em cada perda há um ganho possível e em cada crise, oportunidades. Escolhas fazem o proveito ou o desperdício.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.