quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Verdades escandalosas

O ministro da saúde escandalizou vários setores ao dizer que "é preferível morrer a perder a liberdade". No caso, "perder a liberdade" seria ter exigido um cartão de vacinação pra entrar em lugares fechados e cheios de gente. Uma distorção realmente escandalosa, mas que não surpreende nem um pouco. Um ministro aí de educação afirmou diante das câmeras, em público, que a educação superior "não é pra qualquer um", que é só pra elites, mesmo. Os ministros da saúde, que foram trocados vários durante a pandemia que só matar, matou mais de seiscentas mil pessoas. Sequelou outras tantas e deixou centenas de milhares de órfãos que dependiam de seus pais.

O que está sendo dito por essas "autoridades" só espanta por que não é coisa que se diga, apesar de ser a realidade. Todos esses absurdos são ditos pela realidade, pela sociedade, vejo isso há mais de quarenta anos. Não pela boca de ministros, mas sim pela prática cotidiana, no dia a dia do trato entre a população e os serviços públicos - saúde, educação, transporte, saúde, saneamento, moradia, segurança... (todas essas palavras mereciam aspas, porque na realidade não merecem os nomes, por sabotagem institucional de todas). O que no microfone e diante das câmeras causa indignação, me é dito no cotidiano, no dia a dia, esfregado na minha cara pela própria sociedade.

O que a realidade fala pra mim, desde que me entendo por gente, é isso mesmo que esses caras tão falando. Não são apenas bizarrices, absurdos, lamentáveis, inaceitáveis. São revelações, são demonstrações de que os cargos públicos, por mais de mando que sejam, não são os poderes verdadeiros, mas sim dominados por poderes econômico-financeiros, por gente podre de rica, que controla os poderes públicos e os holofotes das mídias - e por isso nunca ou quase nunca aparecem. E o que essas marionetes bizarras dizem é o que seus patrões, seus superiores, essa classezinha podre de rica, entre banqueiros, mega-empresários, financistas e similares pensam. É o que querem, o que impõem às populações e aos territórios, sempre em nome de seus interesses, controle, domínio, saque, exploração e escravidão. Pra isso é necessária tanta ignorância, tanta desinformação, tanto estímulo a egos, a vaidades, a disputas e conflitos.
Este estado de coisas, pouco a pouco, dá sinais e acende luzes sobre as correntes subterrâneas do controle sobre os poderes ditos "públicos", em todos os setores do aparato administrativo, legislativo, judiciário, com os poderes dos meios de comunicação, com a mídia dominante e o "jornalismo" comprado e vendido no mercado das consciências. Cada vez mais claro.
Esse enxergar é como um rastilho de pólvora, se alastrando, pouco a pouco, geração a geração. Num ritmo que vem se acelerando a olhos vistos e com a participação de eventos planetários no processo, produzindo situações que obrigarão à solidariedade como um fator de sobrevivência. Nas periferias já é assim há muito tempo, as dificuldades impõem a solidariedade, no dia a dia, como ferramenta de sobrevivência coletiva. Estão chegando tempos em que será preciso a nível planetário.
Porque a harmonia planetária se impõe e sinto que será alcançada. Se não por escolha coletiva da humanidade, será pelos sacodes catastróficos que se anunciam há muito tempo, anúncios vários, mas pouco vistos, escondidos pela mídia em nome, sempre, dos poderes econômicos. As mudanças climáticas, as secas, as inundações - sem falar no nível do mar, dos vulcões explodindo em todo o planeta, terremotos, mudança no eixo da terra, derretimento das calotas polares -, é cada vez mais difícil deixar de ver. Quem ainda não vê, porque não quer ou porque não consegue, pouco a pouco verá, embora alguns possam morrer negando. O período de aparente desarmonia, de tragédias, migrações e sofrimentos variados é parte da fermentação, da pressão nas mudanças necessárias em todos os campos, em todas as áreas. Em todo o planeta.

Agoniza um modelo social. Em sua morte vai estar formado o embrião de um outro modelo que nascerá, pouco a pouco, a seu tempo. Com as coletividades lapidadas em dificuldades e superação, solidárias, fraternas, generosas, com mais espírito de família irrestrita. Mas isso é pra gerações mais à frente, o privilégio e a necessidade agora é trabalhar neste sentido, como tantos ao longo de toda a história da humanidade.
Está próximo, vejo as primeiras luzes do amanhecer, depois de uma noite fria, tempestuosa. A percepção de que o dia vai amanhecer me dá a certeza da manhã. Se não vou estar mais ao amanhecer, verei cada momento clarear, pouco a pouco, e a certeza de que o sol está chegando me conforta. Quero ser só um bom passo no caminhar permanente da humanidade em direção ao sol.
As autoridades de agora serão esquecidas, talvez lembradas apenas nos livros escolares de história, com espanto, horror e repulsa. Pra se ter como lição, no aprendizado da sabedoria coletiva, dos saberes históricos sobre a formação das coletividades. Serão um pé de página, diante de figuras históricas de muito mais luz, hoje escondidas, mas que então já serão reconhecidas - não como ídolos, mas como referências, sem nunca abrir mão do senso crítico. Sem confundir, como é frequente, senso crítico com julgamento. Nem com chatice, com encheção de saco inútil.

Chove na montanha, não pude descer pro terreno. Há um alicerce pra terminar, há um barraco a construir. Mas estava chovendo, fiquei vendo coisas no computador, acabei escrevendo esse texto. Agora parou de chover. Já posso dar continuação lá.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.