sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Segue a encenação



Eduardo Marinho - 20122019

A guerra entre globo e record continua, subterrânea nos acontecimentos divulgados pela mídia. Agora que o "perigo vermelho" está fora dos cargos de governo, se pegam entre si os caçadores de cabeças. Esse tal "perigo vermelho" não é perigo e muito menos vermelho. Apenas sinalizava, entre as gerações sucessivas, um caminho de instrução e conseqüente tomada de consciência, com peso nas estatísticas da população daqui a muitas gerações, a terem continuidade suas políticas sociais. Pensavam que podiam compor com os banqueiros, os senhores da escravidão, da violência e da criminalidade mundial. Mas eles têm laboratórios de pensamento, têm controle da informação, da mentalidade, da instrução e foram informados que gente feita pra ser explorada não pode ter instrução de verdade, porque põe em risco a escravidão e o domínio dos vampiros sociais, ainda que leve algumas gerações. Avisaram os patrões, que tomaram suas providências. Difamação, calúnia, indução, programação mental generalizada, controle das comunicações, do jornalismo, das redes sociais acabam controlando as mentes em quantidade suficiente pra chegar onde querem. A ignorância é a base, o ódio o combustível.
Antes derrubaram e prenderam sem provas. Agora há provas até demais, mas não se toma atitude, porque os poderes verdadeiros não estão se importando muito com essas provas. É preciso ficar mais descarado ainda, como se fosse possível, pra derrubar essa quadrilha instalada nos poderes ditos públicos. E ainda assim, pra colocar no lugar coisa bem semelhante nos resultados, embora com mais polimento no trato. Não importam muito as marionetes, além do estilo próprio de cada. Os poderes instalados continuam instalados, claro, nos bastidores da farsa político-econômica.
Os resultados são o que temos a maioria esmagadora, vendo a quantidade de desabrigados aumentando há anos, num ritmo lento e contínuo. A injustiça, a miséria, a ignorância, a desinformação, a pobreza, a fome, o abandono levam ao desequilíbrio, à revolta, à violência, à criminalidade, à produção de uma segurança pública altamente repressiva, não pra provocar bem estar, paz e segurança social, mas medo, agressividade, violência e destruição. É a evolução do caos social já previsto e afirmado há muito, muito tempo, e abafado, escondido, omitido pelos meios de comunicação, todos dominados por poderes econômicos. Os fuzis e armamentos pesados, antes restritos aos grandes centros, se espalham pelo país, a criminalidade alcança mais e mais lugares, espaços e territórios.
Os direitos das pessoas no trabalho sumiram, criminalizados, apontados como causa da “crise”, cortam-se então, eliminam-se, é cada um por si, “se o trabalhador quer direito, não pode ter trabalho, se quer trabalho, não pode exigir direitos” foi o que disse o agora capataz da vez, muito antes, inclusive, de ser eleito. O desemprego cresce veloz, agonia de ver tanta gente sendo despedida, fila de espera da demissão nos empresas, vários conhecidos passaram por essa agonia e ainda passam. Agora se adaptam as estatísticas, o que antes era visto como desemprego – a pessoa perde o emprego mas a vida continua e é preciso dar seu jeito, arruma uma banca e vai vender sei lá o quê nas calçadas, procura um lugar, às vezes disputa e se impõe ou se conforma e encontra outro, agora sai da estatística, deixa de se considerar desempregado nas estatísticas mostradas ao povo. O trabalho informal, último recurso do desempregado pra sobreviver – antes do crime empresariado, passa a ser considerado “emprego”. “Está melhorando, os empregos estão aumentando, os índice de desemprego caem...” dizem os canalhas, os de consciência vendida, e os ignorantes, os desinformados que se julgam informados por acompanharem o jornalismo das empresas de comunicação, repetem, convictos, raivosos porque seus “argumentos” não podem ser sustentados sem briga, sem insultos, sem poeira levantada.
A maldade assume os cargos sem disfarce. Antes ela vinha disfarçada, entre a hipocrisia, a demagogia, a encenação bem treinada, com os “agrados” populistas, com jogos de cena minimamente sedutores. A truculência se travestia de delicadeza. Agora é a truculência assumida, sem constrangimento, orgulhosamente se levanta a bandeira da violência e da maldade social, em nome da pátria traída, entregue a poderes econômicos internacionais, saqueada e escravizada, da família modelo, homofóbica, hipócrita e repressiva e de um deus de ódio e intolerância, de agressividade e desamor, um deus que não reconheço.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Escolha sexual?

Quando eu morava em Minas e ia manguear em Belo Horizonte, nos bares, nas noites, tinha alguns percursos que eu fazia, encontrando os bares, as mesas nas calçadas, os lugares onde se podia entrar pra vender. Conheci muitas figuras interessantes, que me instruíram, sem perceber, a respeito da humanidade. Era entre 1988 e 1992.
Havia um bar com mesas nas calçadas - era uma esquina -, a última mesa quase em frente a um prédio, na sequência da avenida Brasil. Nessa última mesa conheci um moço dos seus vinte e poucos anos, que tinha capacidade reflexiva, que se identificava com meu trabalho questionador, cheio de idéias, denúncias, propostas, tiradas, ironias, enfim, ficamos quase amigos. Várias vezes ele comprou meus broches, gostava, dava de presente. Ele morava no prédio, tomava sua cerveja na mesa mais próxima.
Uma vez ele me perguntou, depois de questionar como eu chegava àquelas idéias e pensamentos, se eu não sentia uma solidão imensa. Eu nunca tinha pensado nisso. E naquele instante, eu percebi todas as solidões da minha vida, a quantidade de vezes em que eu estava sozinho no mundo, em estradas, em reservas florestais, em meio às multidões, nas periferias, cercado de gente também. Senti uma solidão imensa que me fez refletir, pensar e me modificar de várias maneiras. Vi espaços, sertões, estradas, solidões, em cidades, em idéias, em sentimentos.... Ele percebeu, na minha reação, toda uma divagação, passou muita coisa nos meus olhos de memória, até recuou, "não queria causar um sofrimento", eu o tranquilizei, tava só pensando, percebendo o que não tinha percebido.
Esse moço era bem feminino e se percebia fácil a sua homossexualidade. Eu nunca tinha falado nisso, até porque isso pra mim não tem a menor importância, além do desrespeito inaceitável e tão comum em nosso meio. Mas quando ele me tocou tão fundo e me fez refletir a respeito de mim mesmo, da minha vida, da trajetória até ali, já com três filhos... Acho que me senti na liberdade de questionar também, de minha parte.
E perguntei como era isso de ser homossexual. É escolha, opção sexual como a gente escuta por aí?Em princípio ele se incomodou com a abordagem direta, "mas é assim tão evidente?" Eu ri, era evidente demais, os modos eram totalmente femininos, mas disse "não, mas eu percebo" e ele relaxou, "ah, claro, você percebe, é natural..." Perguntei, é uma escolha, quando aparece, como tu fica sabendo? Ele riu, "escolha? Cê acha que alguém pode escolher ser homossexual? A gente sabe como o mundo trata os homossexuais, alguém pode escolher isso? Só se for masoquista." Achei óbvio.
E contou que era um menino normal de classe média, jogava bola com os amigos, quando foi chegando a idade em que os amigos falavam de meninas, ele se desinteressava, queria jogar bola, ir pra outras atividades. Até o dia em que, depois de uma partida de futebol, um amigo tomou um banho na sua casa e ele sentiu desejo por esse amigo. Entrou em pânico, "não posso ser viado", tentou namorar meninas, se enturmar em casais, só deu errado, só problema, não era sua onda, não era sua sexualidade. Nunca tinha sentido tanta solidão, não podia falar disso com ninguém, nem com a própria mãe, com quem se dava muito bem. Andou perdido, sem rumo, entre góticos, punks, até encontrar um coroa que disse a ele que ele era homossexual, que era preciso assumir, que toda a angústia vinha disso, da sua negação. E o levou pra redutos homossexuais, pra conviver com a homossexualidade naturalmente, pra se sentir humano, digno e respeitável.
Não é uma escolha, aprendi com a vida, com a observação, com a boa vontade, com a sinceridade. É um fato, uma situação, uma realidade, mas não uma escolha, uma opção. Se houvesse opção nesta sociedade primitiva e violenta, ninguém escolheria ser homossexual, seria, como disse meu amigo, masoquismo uma escolha dessa.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O poder econômico domina o político


O promotor público diz que o Estado é cúmplice dos crimes madeireiros. “O poder de cooptação do grupo é proporcional ao seu poder econômico. Existe corrupção e cooptação de agentes públicos, como funcionários de órgãos ambientais”, conta o promotor. Se o madeireiro precisa de documento pra vender a madeira, o estado dá, se precisa legislação, o parlamento faz a lei, se precisa de vista grossa e olhos fechados, distanciam pessoas de processos decisórios ou fiscalizadores.
Ele ta falando de um caso municipal, talvez até estadual. Imagine-se a nível nacional, continental, mundial, o tamanho das forças econômicas, dos interesses gigantescos que se envolvem nos poderes públicos, no controle das comunicações como força de pressão, de controle de opinião e da visão de mundo, em todo o tecido social, em todas as áreas. Vivemos uma colossal falcatrua social onde o ser humano está em plano secundário e em primeiro plano estão os interesses parasitários de banqueiros e mega-empresários de todos os ramos, uma casta de aristocratas, a nobreza da atualidade. A estrutura social é em função destes e em prejuízo dos povos, das populações como um todo, nos países ricos menos, nos pobres mais visivelmente, escancarados prejuízos, miséria, ignorância, desinformação, violência e criminalidade.
É preciso ver o mundo como ele é, ver a sociedade e suas falsidades, pra não se deixar levar e poder escolher de vontade própria como viver sem se frustrar com as mentiras publicitárias, empresaristas, estragando o pouco tempo que temos pra viver com as ilusões fabricadas pelo massacre midiático-ideológico, que visam manter a estrutura social injusta, perversa, desumana como ela é. Entende-se a dívida pública que drena riquezas nacionais pra uma ficção econômica que, sempre que foi auditada, investigada, revelou ilegalidades que roubavam dinheiro público. A Auditoria da Dívida Pública tai mesmo, com todas as informações a respeito, mundialmente conhecidas e estrondosamente omitidas, escondidas pelo jornalismo empresarial.
Estamos numa sociedade totalmente enganosa. Ver permite se soltar das suas falsidades.

Obs.: A citação do primeiro parágrafo faz referência a reportagem de Diálogos do Sul - https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/meio-ambiente/61866/o-maior-desmatador-do-brasil-possui-120-madeireiras-na-regiao-norte-do-pais

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Vida, passagem de "nascimorte".

Aos dezenove anos eu pensava que não viveria além dos trinta anos - "não chego nos trinta". Pela vida que eu vivia, tinha a convicção de que "minha hora" a qualquer momento "chegaria". Vi "chegar a hora" de várias pessoas e muitos bichos, vi mortes de muitos tipos, às vezes com a sensação de que não tinha sido minha vez a cada vez que escapava - às vezes "milagrosamente". Depois vieram os filhos e, da primeira vez que bala zumbiu na minha orelha em tempos de paternidade, o sentimento de gravidade foi grande, pela primeira vez. E os riscos, então, passaram a incomodar e serem evitados. A prudência ocupou o lugar da temeridade. Ainda que se possa por essa "prudência" entre aspas. Era só a negação do exagero, dos riscos desnecessários.
E a vida foi passando, crianças crescendo, décadas que se viveram, trinta, quarenta, cinquenta... pelo meio dessa década reparei que tinha vivido já muito mais do que imaginava, nos princípios. Num momento de tristeza, brinquei comigo, que que eu ainda tô fazendo por aqui, filhos criados, ninguém dependendo mais de mim pra viver, já tinha produzido tanta coisa, espalhado pelo mundo, já tava me repetindo demais, tudo já gravado por aí em vídeo, no iutube, nas redes, dito, redito e repetido até demais, não precisa mais d'eu por aqui, não. Minha condenação, pelo jeito, é bem maior do que eu imaginava. Devo ter cometido algum crime hediondo noutra passagem.
A vida como uma condenação, uma sentença, um castigo - uma brincadeira antiga, que transforma a morte num alívio, como contraponto à tragédia que se vê. A morte não é mais que a porta de saída, tudo o que nasce tem como destino a morte, tudo o que entra na matéria vai sair um dia, de volta à sua dimensão original. De volta à dimensão espiritual da sua sintonia, sua freqüência vibracional, seu nível espiritual. "Isso não é filosofia, é física", dizia Einstein, o gênio da física. "Sintonize a sua freqüência e esta é a realidade que você terá. Não tem como ser diferente."
Morte não é o contrário de vida, mas de nascimento. Porta de saída é oposto a porta de entrada. Vida é o espaço e tempo que temos pra passar de uma porta à outra. Se mantenho isso na cabeça, os falsos valores implantados pela sociedade em sua farsa se tornam cada vez mais evidentes. É uma passagem. Uma passagem rápida, vamos vendo à medida em que vai passando. Formando uma visão bem diferente da que é mostrada, percebendo necessidades outras, além da publicidade, das pressões do consumo como valor. A satisfação consigo mesmo, com as próprias atividades, a troca de afeto, a criação de laços afetivos, de solidariedade, a cooperatividade, o bem estar da alma, interno, a busca de harmonia coletiva e individual.
O conforto interno aparece mais importante que o externo, por passageiro que é. Estar bem consigo mesmo, com seus sentimentos e sua consciência, é fundamental, nessa visão da vida, por ser o que prevalece no bem estar verdadeiro. O bem estar material, o excesso apregoado pelo massacre cultural publicitário, midiático, ideológico, é uma ilusão angustiante, isolante, falsificada e falsificadora da realidade - muito além das formas e aparências. O excesso, o luxo, a riqueza exigem o sacrifício da alma, da consciência, da sensibilidade, do senso de justiça. Exigem conivência e cumplicidade, indiferença com o sofrimento de multidões e perversidade no proveito dos crimes sociais que criam mão de obra barata, roubando direitos constitucionais. Numa sociedade em desequilíbrio, qualquer privilégio é uma grande responsabilidade diante da sabotagem dos direitos de tantos.
A "consideração social" custa muito caro em espiritualidade. Percebi que pra manter essa consideração - nasci num meio socialmente bem considerado - teria que sacrificar meus sentimentos e minha consciência. Não aceitei, decidi outra coisa, diferente do esperado, do convencional. Escolhi a alma, o bem estar, o conforto interno. O resto foi como que automático, a desconsideração começou na própria família de origem e se estendeu por toda a sociedade. Tudo começou a me tratar pior. Menos os que, naquele momento, me pareciam os melhores e mais interessantes, justamente os perseguidos, os párias, a ralé, os de vida rica em acontecimentos, dificuldades e histórias. Perdi o respeito e a consideração pela sociedade, pelo seu modelo estrutural, onde os interesses econômicos valem mais que o ser humano, mais que a vida, onde se vale o que se tem. E, por conseqüência, perdi também qualquer necessidade de consideração da sociedade, com seus valores furados, superficiais, vazios, impostos pela própria sociedade, com a mídia, o modelo de educação empresarista, a cultura do consumo, utilizando em larga escala psicologia do inconsciente pra enquadrar mentes e corações, formar mentalidades e visão distorcida da realidade. Toda aquela consideração era falsa, condicional à cumplicidade com os crimes sociais. E a desconsideração é sinceridade. Melhor um pé na bunda sincero que um sorriso falso. Na minha opinião, claro, há quem prefira o contrário.
Na sociedade do patrimônio, dos interesses econômicos, da ânsia por bens, luxos e privilégios duvidosos, o bem mais importante e, ao mesmo tempo, mais esquecido, mais sacrificado, é o bem estar consigo mesmo, com a própria consciência, com o próprio sentimento em estar vivo nessa bagaça.


sábado, 19 de outubro de 2019

Coentro retira metais pesados do corpo

São tempos de metais pesados. Na água, no ar, na comida, pela pele adentro. Por isso é que se precisa do coentro. Ele retira metais pesados do corpo, do sangue, dos tecidos, é a informação que rola.

A passagem pelo rio Doce, duas vezes em dois anos, foi marcante. Reveladora dos valores nesta sociedade onde a vida está num plano tão evidentemente secundário que choca a sensibilidade mesmo havendo a consciência de tal disposição, de tal estrutura social, desumana, perversa, capaz de qualquer coisa "possível" em nome de interesses econômicos, empresariais. Inclusive transformando a política, a administração pública, os poderes do Estado em marionetes, em instrumento, em uma farsa institucional que trai cotidianamente a população, dominada nos bastidores, em círculos acima dos poderes públicos, a partir do mercado econômico-financeiro, do punhado de podres de ricos mundiais e seus cúmplices, agentes e beneficiários regionais e locais, elites privilegiadas que usufruem das injustiças e falcatruas sociais.

Na primeira viagem, a barragem de Fundão acabara de romper, havia menos de um mês, e nós começamos em Mariana, invadindo o distrito de Bento Rodrigues* - os acessos estavam embarreirados e a área estava sob controle da segurança da Samarco, mineradora testa da Vale, o terror dos povos originários e ribeirinhos, a população em geral do vale do rio Doce - e depois passando em todas as localidades ao longo do percurso dessa onda descomunal de rejeitos da mineração, metais pesados de todo o tipo, altamente cancerígenos. Desde o rio Gualaxo do Norte, coberto e destruído, passando pelo rio do Carmo, que continua "limpo" no centro de Mariana, mais de vinte quilômetros acima do despejo venenoso, segue ainda oitenta quilômetros serra abaixo até Barra Longa, depois mais dez, onde se junta ao rio Piranga pra formar o rio Doce*.

Em Barra Longa a maré do metal pesado cobriu a área de lazer da cidade, à beira rio. Chegamos à noite lá e no dia seguinte vimos tratores limpando, recolhendo, enchendo caminhões basculante que saíam pingando pelas ruas da cidade pra levar a lama tóxica até um espaço determinado pela prefeitura como depósito dos metais pesados. Claro, sem mencionar "metais pesados" em nenhum momento. Pensei neles, vendo escorrer pelas ruas, "isso vai secar, carros vão passar, a poeira vai levantar, cheia de veneno, pro povo respirar". Não deu outra. Dois anos depois, Barra Longa era "campeã" em doenças nas vias respiratórias, em todo o vale*. Doenças de pele, de esôfago, de estômago, garganta, intestino, pâncreas, fígado, em tudo, proliferaram e continuam proliferando por todos os mais de oitocentos quilômetros do rio Doce, hoje fonte de envenenamento. Não serve nem pra irrigar as plantações.

Bueno, tudo o que estou dizendo aqui já disse antes, a intenção agora é chamar a atenção pro coentro, como desmetalizador pesado de corpos, retira metais pesados que as... como dizer... "atribulações sociais", ou melhor, as mancomunações público-privadas da mineração espalharam em rios, mares, vales, montanhas, em proporção nunca vista. Informação necessária, não só pra ajudar os tratamentos, mas pra ligar sintomas desconhecidos à presença desses venenos, cádmio, chumbo, cobre, ferro, arsênio, etc, etc, etc, nas águas, terras, nos ares, na comida da atualidade.

São tempos de metais pesados. São tempos em que a necessidade do coentro, não só mas sobretudo, aumenta em importância medicinal. Chá de coentro, salada de coentro, coentro na manteiga, no queijo, no azeite, em tudo. Coentro!

http://observareabsorver.blogspot.com/2017/01/o-rio-doce-precisa-de-quelacao-urgente.html

*https://observareabsorver.blogspot.com/2015/11/o-apocalipse-de-bento-rodrigues.html
*https://observareabsorver.blogspot.com/2015/12/rio-doce-cidade.html
*https://observareabsorver.blogspot.com/2018/03/do-bento-barra-longa.html

sábado, 5 de outubro de 2019

Facilidades e dificuldades

Não sou defensor dos pobres e oprimidos, nem imagino de onde foi tirada essa idéia. Só tô vendo a realidade como ela não é mostrada, por estar vivendo exposto há quarenta anos, sem seguro, sem plano de saúde, sem salário, sem emprego - e trabalhando muito, sem férias nem feriados, amarradão, gosto muito do meu trabalho -, sem garantias a não ser a da morte e a da perseguição da sociedade que, sem ter conseguido me enquadrar, sempre tentou me impedir de expor as coisas que faço - e algumas vezes tomou tudo o que eu tinha, me roubando o sustento da minha família e quase me levando ao crime. Nessas horas sempre aparecia um "acaso" ou "coincidência", alguma "casualidade" pra me aliviar a revolta e dissuadir a disposição de delinqüir. As tentações são muitas e o Estado empurra a gente pro crime. Heróis são os que não se tornam criminosos.
Só tô vendo claro que os mais pobres são muito mais fortes do que as classes mais protegidas. Não por evolução espiritual, não por alguma genética ou superioridade, mas pela prática diária, cotidiana, superando dificuldades que as classes médias e altas não têm. Por isso mesmo a maioria é roubada nos seus direitos humanos, constitucionais, sabotada na educação e na informação pra que não se tome consciência da própria força e da própria importância na existência da sociedade como um todo. E se deixe explorar, enganar, conduzir, escravizar, manipular, convencida de uma inferioridade falsa e conformadora pelo modelo de educação, pelo massacre midiático-publicitário, pela prática social cotidiana. A fortaleza passa despercebida. Ainda.
Facilidades geram fragilidade e medo. Dificuldades geram capacidade de superação e resistência. Não é difícil entender. As pessoas mais protegidas, que têm seus direitos respeitados - e mais ainda os que têm regalias e privilégios - são mais frágeis, menos capazes diante das dificuldades, não enfrentam e superam os problemas que a maioria precisa encarar, têm sempre funcionários pra resolver os piores problemas. Os menos protegidos, os roubados nos seus direitos humanos, constitucionais, acabam se tornando mais fortes, por serem obrigados a superar dificuldades cotidianas.
Há pais que não levam em conta estarem formando os adultos de amanhã.  Quem educa seus filhos satisfazendo suas vontades e protegendo em excesso não os prepara pra encarar as dificuldades da vida, ao contrário - cria bundamoles sem capacidade de superação, sem resistência aos tombos e topadas da vida. Os adultos de hoje já dão uma idéia do que resulta da formação consumista, chantagista, subornadora e interesseira. É só olhar em volta o comportamento geral. Com louváveis e comoventes exceções, sempre. A humanidade é um garimpo. Ainda. 

Diferente da preciosidade mineral, a preciosidade humana contamina, as exceções se multiplicam, dão seu jeito, arrumam formas de viver além dos valores convencionais, soluções pros problemas estrategicamente criados pra dificultar autonomia, justiça, solidariedade, as qualidades sociais que resultarão em harmonia. Os podres de ricos não admitem justiça, vivem do sofrimento das multidões. Estas, as multidões, ao tomarem consciência de si, da sua força e resistência, não precisarão nem pensar em derrubar os opressores - eles cairão sozinhos, porque são sustentados pelas multidões inconscientes.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Estamos a trote na direção dos colapsos

Ao afirmar que as ongs aplicadas na preservação ambiental estariam por trás dos mais de setenta mil focos de incêndio na Amazônia, a "autoridade máxima" do país e seus defensores dão uma demonstração clássica de julgar os outros por si mesmo. A agressividade violenta, intolerante e vingativa é a índole demonstrada à exaustão por essa... digamos... linha política de comportamento. Assim é fácil pensar que se toca fogo por vingança, pela suspensão de verbas destinadas exatamente à preservação ambiental - aliás, já falada e prometida como compromisso de campanha, abertamente, com o apoio total de madeireiros, garimpeiros, criadores de gado, plantadores de soja e outros tradicionais destruidores das florestas, assassinos dos seus povos. É o que nos diz a História, não por acaso outro alvo de ataques dessa "turba", com 'b' mesmo. A ignorância é o alicerce dessa linha política e sua correia de transmissão conta com a mentira e a violência explícita na sua composição. Não pode haver espaço pra reflexão, profunda, serena, sincera, é preciso gritos, insultos, pancadas pra levantar a poeira e não se enxergar a realidade. E a realidade é que, se já caminhávamos em direção ao caos social, agora estamos trotando, correndo, apressando os colapsos. Terríveis consequências se anunciam, já se apresentam em nosso cotidiano social, por mais que se escondam pelos meios de comunicação privados e dominantes das comunicações no país. Exponho aqui algumas coletas de informação do dia de hoje apenas, dos informativos que recebo e leio diariamente. O presidente do PROAM conclui dizendo que o governo cava "seu próprio buraco". Quem dera. O buraco está sendo cavado por todo o território nacional e quem vai ter que sair dele é o povo, principalmente os trabalhadores, os pobres, os miseráveis, os excluídos, as vítimas permanentes desta sociedade primitiva que comete crimes continuados, por gerações, contra sua própria população. O problema, afinal de contas, não é "este governo", mas a formação da sociedade em si. Este governo está apenas descarando o que era menos descarado, apressando o passo em direção aos colapsos sociais que venho anunciando há quatro décadas como inevitáveis, se não houvesse mudanças de costumes, de valores, de comportamentos, enfim, de modelo de sociedade. Não houve. O descaramento total de agora pode ser mais uma chance de se perceber a realidade social e a falcatrua da imagem social apresentada, as mentiras deste modelo e a urgência da criação de outro, outra forma de existir e de ser, coletivamente, socialmente. Ou isso, ou as mudanças serão impostas pelo sofrimento, pela destruição, pela catástrofe, pelos colapsos.

Abaixo uma pequena série do que li hoje. Em parte do que vi, que não tenho tempo pra passar tudo. Bom proveito a quem puder dar.


"Desde que o Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assumiram seus postos de governo, todas as políticas ambientais ficaram em xeque. Mesmo o fundo de recursos foi alvo de mudanças, o que desagradou seus principais doadores, Noruega e Alemanha que, nas últimas semanas, optaram por suspender os repasses diante do aumento do desmatamento no governo Bolsonaro. Na comparação com julho de 2018, neste ano, houve um aumento de 278% na taxa de devastação, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Dizer que o Fundo Amazônia era para as ONGs é uma balela. Na verdade, o Fundo atendia não só os poderes públicos estaduais e municipais, como também as próprias comunidades que vivem na Amazônia e que tinham o incentivo ao extrativismo sustentável, que é um saída econômica para aquela região”, afirma (o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental - Proam -, Carlos Bocuhy)Sem os recursos internacionais do Fundo Amazônia, projetos dos corpos de bombeiros florestais do Pará, Tocantins, Mato Grosso, Acre, Rondônia, ou mesmo a fiscalização do Ibama são prejudicados." 
"Durante sua entrevista na Rádio Brasil Atual, o presidente do Proam também criticou o edital, divulgado nesta quinta-feira (22), para contratar uma empresa privada voltada ao monitoramento da Amazônia, a despeito dos sistemas brasileiros usados ao longo de décadas. Bocuhy analisa que isso será “um desperdício de dinheiro público” apenas para contradizer os dados que jogam contra Bolsonaro ao explicitar as consequências de suas políticas."
"Ibama publica edital para empresas privadas monitorarem desmatamento"  
“Você tem a perda do Fundo Amazônia, de milhões e milhões de reais, jogando dinheiro público fora, é um absurdo que o governo faça isso. E, agora, ele quer gastar mais de forma desnecessária. Ou seja, para tumultuar a situação, para dizer que está fazendo uma nova política inovadora, o governo descarta tudo o que já tinha e funcionava bem, afirma Carlos Bocuhy.”
"“Isso me assusta porque, pior que fossem os governos anteriores, era possível dialogar, e agora só nos resta o Judiciário e a pressão internacional”, analisa. “A má imagem do Brasil traz uma perda econômica relativa às commodities, dos produtos certificados e desregula o mercado internamente já que se tem a perda de divisas no exterior. Acredito que o governo está cavando o seu próprio buraco”, finaliza (Bocuhy)."
Foto - Jornal da USP
"O Brasil era até recentemente reconhecido internacionalmente como líder na proteção da biodiversidade, e rapidamente se transformou no país que mais agride a biodiversidade -" ambientalista José Pedro de Oliveira Costa, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo.
"Aquilo que é um bem da população brasileira está se transformando em um bem privado, bem debaixo dos nossos narizes."
"A pesquisa revela o “impacto catastrófico” que agrotóxicos têm no meio ambiente e saúde humana. Estima-se que cerca 1,2 milhão de toneladas de agrotóxicos altamente perigosos são usados nos países de baixa e média renda todos os anos, representando um enorme mercado – cerca de US$ 13 bilhões."
"“É necessário denunciar o uso dos agrotóxicos como uma arma química. Temos que olhar para esses dados como um processo de extermínio da população mais pobre”, aponta categoricamente Francileia Paula de Castro, agrônoma e educadora da FASE, que também integra a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida."
"Um conjunto de 454 municípios brasileiros, com uma população total de 33 milhões de pessoas, apresentou resíduos de agrotóxicos na água para consumo humano acima dos limites legais pelo menos uma vez durante o período de quatro anos, o que representa um quarto do total de cidades. Dos 27 tipos de produtos encontrados, 16 são classificados como altamente tóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 11 associados a doenças como câncer, disfunções hormonais, doenças crônicas e malformação fetal."
"A versão em português do relatório “Lucros altamente perigosos” foi lancado pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida nesta quinta-feira (29), às 15h, na aula pública “O envenenamento do povo brasileiro – impactos dos agrotóxicos à saúde”. A atividade integrou a 18ª Jornada de Agroecologia, que aconteceu em Curitiba de 29 de agosto a 1º de setembro."

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Os resistentes

  • Os índios da Amazônia
Eles são hoje 306 mil, de acordo com o Censo 2010 do IBGE. No sempre difícil e desvantajoso contato com os selvagens do asfalto, tentam fazer com que lhes respeitem a cultura milenar e o modo de vida, baseados na pesca, caça e agricultura. Na Amazônia, perduram seis famílias linguísticas: tupi, aruaque, tukano, jê, karib e pano. A Constituição assegura a eles a posse e o uso da terra, mas, com o aval dos Três Poderes, que fizeram da Carta de 1988 letra morta, têm se repetido na floresta emboscadas, ataques e morticínio por parte de grileiros, garimpeiros e madeireiros contra os nativos da Amazônia. Como os xerifes do capital consideram os índios vagabundos e improdutivos, delegaram a seus capitães do mato a responsabilidade do – por mais que escondam o nome – genocídio. 
  • Raoni Metuktire

JEFF PACHOUD/AFP
Líder dos Kayapo do Xingu, tornou-se 30 anos atrás embaixador da causa dos indígenas ameaçados da Amazônia. Usou de cara o prestígio e o palco do cantor Sting e, aos 89 anos, continua ativo nas suas missões de conversão. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

O último de um povo massacrado

A fuga era desde criança, desde que se lembrava. Seus pais, avós, os ancestrais, muitas aldeias foram deixadas pra trás, muitos lugares, sempre mudando quando se aproximavam os civilizados, com suas armas de fogo e máquinas de derrubar as florestas. Enquanto viviam sossegados, caçavam, pescavam, faziam suas coisas, canoas, casas, redes, comidas, festas, danças, cultuavam os espíritos da floresta, do céu, da terra, da água, do dia e da noite. Até chegar de novo o povo das armas, da destruição e da morte, das doenças e do sofrimento. Aí era pegar o que dava pra levar e sair fora mais uma vez, os velhos na frente pra dar o ritmo, mulheres e crianças logo depois e os guerreiros atrás, dando proteção. O cacique ia na frente com os velhos pra ouvir os conselhos. Mas essa decisão e organização se deu depois de muitas mortes, os civilizados traziam presentes, o povo adoecia e morria. Chegaram os garimpeiros, os madeireiros, os jagunços dos fazendeiros. Trouxeram a água ardente e muita arma. Os civilizados atiravam, tocavam fogo na aldeia, matavam os homens, escravizavam as mulheres, abandonavam os curumins nos matos, foram muitos tempos, foi perdida a esperança de pacificar os civilizados, agora é só fugir e fugir, a cada aproximação. A tribo diminuía, poucas crianças, muitos mortos. Então fugiam em canoas, de noite pra não ser visto, de dia se escondia as canoas com folhas, comer, dormir, esperar a noite pra continuar viagem, sempre em busca de floresta ainda não atingida, de terras sem civilizados. Onde os mais velhos diziam, se fazia a nova aldeia.
Depois chegaram máquinas que voam. Umas de asas abertas, soltando veneno que queimava a gente por dentro. Outras eram como besouros, paravam no ar, tão alto que as flechas não alcançavam, de lá jogavam paus de trovão que vinham explodir cá embaixo, destruindo, matando, despedaçando casa, gente, tudo. Morreu gente, velho, criança, homem, mulher e toca fugir de novo. A última aldeia tinha pouca gente, mas ainda tinha família, mulher com filho, cacique, pajé, era pouco mas era um povo ainda. Caçava, pescava, plantava a roça, colhia, vivia enfim.
Aí veio o ataque que acabou com o povo. No amanhecer do dia, de repente, o barulho dos tiros explodiu, seguido de gritos de dor, raiva e desespero. Ele se jogou da rede no chão antes de entender o que acontecia. Viu a rede da mulher, de baixo, já pingando sangue. Desesperado, levantou e correu até ela, que tinha a criança no peito, as balas já tinham varado as duas, da cabeça da mãe escorriam os miolos cinzas, a criança soltara o peito, uma bala atravessara seu pequeno corpo inteiro, da perna ao ombro, na diagonal. O desespero deu lugar ao instinto de sobrevivência, ele correu em direção à porta, abaixado, olhou e viu várias luzes explodindo a cada tiro, nos matos em volta. Disparou na direção do mato mais próximo, abaixou atrás do primeiro capim e viu, do seu lado, um homem com a espingarda apontada pra aldeia, pros parentes em pânico. Que também o viu e já virava o cano na sua direção, quando ele, com um pulo certeiro, arrancou a arma pelo cano, girou no ar e, como uma borduna, arrebentou a cabeça do sujeito com o cabo de madeira. Sumiu pela floresta ainda escura e só tempos depois percebeu a mão queimada e o tiro na perna. A dor e, depois, a febre, a inflamação até que a bala saiu pelo outro lado da perna. Pensou que ia morrer, quis mesmo morrer, mas a ferida foi melhorando até cicatrizar.
Tempos depois encontrou cinco parentes que tinham sobrevivido ao ataque. Todos homens. O encontro foi de euforia, de alegria, apesar de rápida, com o peso da lembrança recente trazendo o silêncio. Estavam mortos como povo. Sabiam serem os últimos, que a tribo fora condenada. E viveram conformados com isso, sem outra alternativa, só restava viver mesmo e esperar o destino. Anos passaram, conseguindo manter distância do povo da morte, das máquinas da destruição, se embrenhando nas matas, sempre em movimento, raramente parando tempo suficiente pra plantar e colher. Caçavam e coletavam, só plantavam quando estavam bem seguros do seu isolamento.
Um dia estavam num igarapé se banhando, haviam já comido uns peixes e se lavavam. Do outro lado, no meio do mato, estavam uns civilizados armados que, como é comum, atiraram sem motivo nenhum, só por serem índios. Pegos de surpresa, morreram cinco, sobrou um, que sumiu voando baixo pelos escuros da floresta, ele, sozinho agora e pra sempre.
Em Rondônia, 1998, dois indigenistas da FUNAI souberam da existência de um índio solitário, que vivia na floresta fechada. Os indícios espantaram os indigenistas, abrigos com profundos buracos cavados na terra - um tipo de habitação não catalogado por antropólogos. Ele mudava de abrigo a cada aproximação. Uma única vez o viram, e ele demonstrou com agressividade e clareza não querer nenhum contato. E sumiu novamente na mata fechada.
No relatório foi escrito:"...ele, no seu desespero e ódio, não deseja neste momento dialogar ou receber a visita de quem quer que seja. É seu direito: mais do que qualquer um ele sabe o que foi perder seus parentes e seu povo, envenenado e baleado pelos mesmos" (na sua visão - n do A) "que agora aparecem como amigos, para lhe oferecer ferramentas e comida. Ele está só e parece querer morrer assim. É seu direito".
E o Estado o deixou em paz. Embora eu duvide que a "sociedade", em sua ambição, o tenha feito.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Tudo cênico, tudo mentiroso.

No sistema carcerário não há e nunca houve intenção de "re-socialização", de recuperação, de reintegração à sociedade. O segundo maior massacre de presos foi cometido num presídio chamado "Centro de Recuperação Regional de Altamira". Só mais uma entre tantas mentiras institucionais. Governos não governam, escolas não ensinam, hospitais matam, em toda parte se vêem máfias instaladas e operantes. O Estado é uma organização social, pra mim, totalmente desmoralizada, não merece consideração nem respeito, apenas medo do seu aparato de cobrança, perseguição, ameaça e repressão, apenas a intenção de passar o mais despercebido possível. O que o Estado faz na área falsamente chamada de segurança pública, o que a sociedade em sua minoria comandante quer é vingança, é causar sofrimento, é morte, é caça àqueles que não se enquadram na situação de explorados, de escravizados com a cabeça baixa, conformados, que se fiam nas exceções pra contar com a sorte, que sofrem a vida inteira nesse sonho até, decepcionados consigo mesmos e se culpando pelo próprio "fracasso" socialmente programado, encontrar a morte.

Se não fosse um escândalo internacional nesse grau evolutivo da planetaridade, os presídios seriam oficialmente centros de extermínio e de trabalhos forçados. Perversidade ainda existe pra isso, pode-se ver, quando se olha atrás da farsa, da fraude social apresentada nisso que chamam "democracia" ou, pior ainda, pra deboche, "mundo livre". Algumas pessoas até expressam essa "opinião", sem nenhum pudor - opinião fabricada e estimulada de muitas, incontáveis formas, que encontra eco no próprio primitivismo humano e social a ser superado no caminhar permanente através do tempo. É a opinião que interessa aos poderes econômicos, implantada profundamente na mentalidade coletiva pela mídia, porta-voz e indutora ideológica do poder econômico-financeiro a partir do inconsciente da população - induções e condicionamento diferenciados por classes sociais. E ainda há quem resista, há sempre exceções às regras.

Uma semana antes do massacre de mais de cinqüenta no presídio de Altamira, um preso avisa à mãe, em visita, da tensão na cadeia. Pede pra ela memorizar sua bermuda e camisa, pro caso de ser necessário reconhecer o corpo. Nas classes protegidas, parece irreal, parece "absurdo", parece outra realidade. O mundo dos direitos garantidos, o mundo dos privilégios parece outro mundo mesmo. Não se percebe a ligação entre o privilégio e a barbárie social. Quem conhece esta situação sabe que isso é regra, não exceção. É este o sistema que pretenderia "recuperar criminosos para a sociedade". Esta é uma sociedade que se diz humana. Que mente em todos os sentidos, engana, apresenta farsas que se desmentem na prática cotidiana e, sobretudo, nas conseqüências. Gente como lixo, ignorância analfabeta, desinformação, massacre midiático-publicitário incitando violência e criminalidade em permanente produção, organizações criminosas empresariais, forças de segurança que aterrorizam a população pobre e têm comportamento oposto nos bairros mais ricos, postos de saúde sem condições de atendimento, transportes públicos torturantes e precários, trabalho escravo comendo solto.

Dizem que presídios vão diminuir a criminalidade, que a punição mais dura vai conter a violência. Ora, vão pro raio que os parta! Isso é estupidez ou mau-caráter? O camarada que cai preso por ter roubado uma galinha, ou melhor, por ser pobre, tem que matar, arrancar uma cabeça e brandi-la aos outros, pra ganhar "respeito". Tem que se incorporar às quadrilhas, às organizações do crime - que têm suas raízes no próprio "mercado", seus empresários financiando e controlando autoridades e posições de mando "público" - pra sobreviver. Periculosidade, destrutividade significa respeito, a cadeia é a formação acadêmica do crime, a especialização, a insensibilização plena. O sistema carcerário é formador de criminosos, deformador de almas, sua visão é um painel demonstrativo de como somos uma sociedade primitiva, precisando evoluir a forma humana de existência.

A maior parte dos presidiários sofreu crimes de Estado desde a infância, muitos foram levados ao crime pelo próprio Estado criminoso e esses crimes continuam sendo praticados no cotidiano, na rotina da sociedade, contra a maioria mais pobre, a parte mais explorada, por isso mesmo mantida na ignorância e na desinformação, num círculo vicioso sem fim. Educação e informação também são áreas sociais regidas por mentiras de enorme gravidade, por interesses empresariais óbvios, impondo a ideologia do consumo, do conflito, da competição permanente, a superficialidade como regra. O controle social pelo mercado é obviamente negado com toda a ênfase e veemência, raivosamente ou debochadamente pelos mesmo ideólogos da mídia, jornalistas, especialistas, comentaristas, todos de consciência comprada ou ignorância social comprovada - malabaristas da fala, da idéia, enroladores muito bem pagos pra confundir as coisas e deformar a realidade. A mídia é porta-voz dos interesses empresariais mais desumanos e anti-sociais da corte dos parasitas, banqueiros e mega-empresários que se escondem nos bastidores dos poderes falsamente apresentados como públicos.

Quando houver (Se houvesse) alguma intenção verdadeira em diminuir a violência e a criminalidade social, veremos (veríamos) investimentos verdadeiros, profundos e maciços em educação, em alimentação, em saúde e moradia, em dignidade na existência e na formação das pessoas, sem exceções, investimentos nos direitos da população como um todo. E o retorno dos investimentos se fariam com uma população mais instruída, informada, consciente, em condições de pensar e escolher com base e com senso crítico, os caminhos coletivos da sociedade na construção de harmonia social. Como a intenção no sistema social de agora é a escravidão, a exploração injusta do trabalho de baixa qualificação, o sistema de ensino público é mentiroso, não tem intenção de instruir a maioria, ao contrário, o desestímulo ao desenvolvimento é marca registrada, visível, patente, óbvio. O incômodo causado pelas pessoas vocacionadas, as que têm o dom, o prazer, a intenção de instruir, de formar as pessoas desde a infância, provoca discriminação, perseguição e, no limite, exclusão dessas pessoas. Por isso se vê professores adoecendo tanto, a educação pública adoece os bem intencionados.

Por outro lado, o sistema de saúde não tem interesse em saúde, mas em doença. Como toda a estrutura social é impregnada com a ideologia empresarista, desumana e anti-social, o interesse na medicina, como em todas as áreas, é o lucro. Saúde não gera lucro, doença sim. A medicina lucrativa vende remédios, procedimentos, internações, consumos, tudo na finalidade do lucro e não da "saúde", como se apresenta. É mentira em cima de mentira.

Educação, saúde, transporte, habitação, mineração, agricultura, turismo, construção, comunicações, em todas as áreas da sociedade é máfia, é mentira, é farsa. Assim se pode entender  tanta miséria, ignorância, abandono e sofrimento desnecessários. DESNECESSÁRIOS diante da capacidade atual de produção, transporte e distribuição, diante do desenvolvimento tecnológico, diante das condições materiais de eliminação desses primitivismos. Mas necessários, fundamentais na manutenção do controle social por poucos, pouquíssimos podres de ricos, parasitas da sociedade, escravistas e torturadores de multidões em nome de seu poder, patrimônio e lucro, indiferentes ao sofrimento de milhões. Abjeções tão necessárias quanto a mentalidade superficial, consumista, alienada da realidade, a visão egoísta e pequena, focada no entorno imediato e não na situação geral, nas razões de ser, nas raízes dos problemas a serem resolvidos e superados. O desenvolvimento da consciência, o desenvolvimento verdadeiro do ser humanos, da coletividade humana, da harmonia social e planetária não interessa a esse punhado desumano, que fez, faz e fará tudo e qualquer coisa pra impedir. A cooptação de inteligências brilhantes e consciências compráveis é permanente. E a grande mentira é caprichada e convincente. Consciência social é o terror dos dominantes - pra esse pequeníssimo grupo, consciência é um mercado privatizado. Desde as "melhores" universidades. Desde o próprio "poder público", seqüestrado, dominado, feito marionete do Mercado - sempre o mesmo punhado e os mesmos cúmplices, mudam personagens, permanecem as entidades tenebrosas, macabras, nos bastidores escuros dos poderes - vislumbráveis por olhos atentos em algumas ocasiões, ou sempre nas suas conseqüências coletivas - miséria, ignorância, abandono, sofrimento e a violência, a criminalidade que acompanha estas situações, nas sociedades de consumo chamadas ironicamente de "mundo livre". Livre pros demônios do poder econômico-financeiro, pelo que se vê. A escravidão mental é característica social.

Voltando ao sistema prisional, não há nada que aponte na direção de paz e harmonia social (aliás, nem no sistema de educação).Expressões ridículas ou absurdas como "combate à violência" ou "à criminalidade", ou mesmo "guerra às drogas" escondem crimes de Estado. Crimes sociais cometidos todos os dias, no atacado, contra a população como um todo, focados principalmente nas classes pobres, nas periferias, nas pessoas que têm seus direitos humanos, fundamentais e constitucionais, roubados pela própria sociedade, pela própria estrutura social montada pra favorecer àquele punhado parasita social e à sociedade de castas como a vemos, minorias privilegiadas e maiorias escravizadas.  Não há um departamento de psicologia em cada presídio pra estudar cada caso de cada preso que chega e determinar suas necessidades e atividades enquanto preso. Não há ocupações socializantes, aulas, cursos profissionalizantes, nada, o preso é tratado como quem "merece" punição, como lixo e nada mais. Não se vê a causa da criminalidade na própria estrutura da sociedade, nas mazelas que ela mesma cria e não pretende resolver, mas reprimir, jogar longe, esconder, segregar, exterminar, encarcerar. Ilusão estúpida pra maioria, ilusão criminosa pra minoria que se protege com cercas eletrificadas, segurança privada, helicópteros e jatos, bolhas de isolamento. Esporadicamente, bolhas estouram.

Na questão da "guerra ao tráfico", me custa acreditar que pessoas instruídas acreditam na honestidade dessa falsa guerra. A mim parece uma evidência essa mentira - aliás, como tantas, é bom frisar. Há décadas, muitas décadas, praticamente todos os países movem o combate ao narcotráfico, em todos os lugares, de todas as formas. Aparatos pesados, armamentos caríssimos são mobilizados, navios, aviões, helicópteros, tropas e mais tropas, destróem-se plantações, apreendem-se cargas, prendem-se e matam-se pessoas. Há décadas e décadas sem parar e o tráfico só cresce, se desenvolve e continua servindo ao mercado riquíssimo do consumo, movendo bilhões no sistema financeiro, espalhando propinas, comprando autoridades, consumindo armas, munições e dinheiros públicos em grande escala, mais que qualquer guerra "oficial" no planeta. É o tráfico uma entidade extraterrestre, fora do alcance das tecnologias e armas terráqueas? É um exército imbatível, inalcançável às tropas e armas que se movem com esse pretexto? Ou é mais fácil perceber que o tráfico está entranhado na própria estrutura da sociedade e tudo o que toca esse assunto é falso, é encenação? E que serve de biombo pra esconder interesses gigantescos como gigantescos são os lucros. Pretexto pra investimentos no aparato de repressão que visa não a paz ou a segurança pública, muito menos acabar com a produção e o tráfico de drogas ilegais, mas sim garantir a permanência desta estrutura social, na contenção da massa periférica sabotada e sem direitos, no terrorismo de estado, na repressão geral.

"Os pretextos ofendem a inteligência, as motivações reais inflamam a indignação." Quem disse isso, mesmo?

Pós escrito:

Os resultados do poder banqueiro-empresarial sobre o Estado estão aí, à nossa volta, em ignorância, miséria, abandono, violência e criminalidade. Essas aberrações sociais existem porque são necessárias neste modelo de sociedade que consentimos, que sustentamos - com nossas atitudes, com os valores induzidos, os comportamentos planejados, os objetivos de vida impostos, a visão de mundo distorcida... não há o que autoridade alguma diga que receba o meu crédito. Nem representantes de empresas ou interesses econômicos. Com estes e diante do quadro social, primeiro a desconfiança. Nenhuma autoridade, nenhum porta-voz de interesses banqueiro-empresariais, diante da desumanidade social, merece confiança. A não ser que denuncie a grande falcatrua da democracia, onde mandam os que dominam a economia, a mídia, o poder econômico-financeiro, mantendo forçosamente a ignorância, a desinformação, a indução, o condicionamento, a distorção da realidade, a coação psicológica e publicitária e o controle das comunicações, do "jornalismo", da mentalidade e do comportamento geral. Nesse caso, não será autoridade muito tempo e só terá chegado neste posto por descuido desse poder no escuro, nos bastidores dos poderes encenados públicos, na verdade privados. Tô cansado de ver os que fazem pela coletividade serem derrubados. Mesmo servindo aos poderes dominantes, econômico-financeiros, adaptados ao sistema social, cumprindo os crimes cotidianos do Estado contra a população, se deixam cair migalhas, se possibilitam instrução, acesso á informação, à formação de consciência, ainda que pontualíssimo, é o suficiente pra cair. O domínio banqueiro-empresarial mantém o aparato estatal sob seu controle, com arapucas contratuais entre o público e o privado, em velhíssima promiscuidade ainda a ser superada no caminhar da humanidade, em seu desenvolvimento verdadeiro, o da alma, do abstrato, em seus valores e em tudo o que decorre disso. Fazemos isso em nossas próprias vidas, e estamos fazendo na sociedade. Não dá pra contar com as instituições, dominadas, infiltradas, seqüestradas pelos poderes econômicos, prontas a reprimir o desenvolvimento de direitos e de respeito com as pessoas todas, arrumadas pra impedir tomadas de consciência e de atitudes organizadas e coletivas. Fazer em si o que se quer no mundo, como dizia Gandhi, e exercer no coletivo, sem impor e sem cobrar, apenas servindo com o que se pode, com respeito. A estratégia de dominação está aí, fala a língua de cada classe, de cada profissão, cada caminho no mundo, impregnada nos valores, comportamentos, visão de mundo... até os revolucionários estão impregnados de condicionamentos e, na sua arrogância, não se percebem reproduzindo essas induções. Bom perceber que há sempre as exceções, em qualquer lugar, em qualquer meio coletivo, em qualquer classe ou grupo. Entre estas há uma ligação além do perceptível à razão, coisa de intuição, de sentimento mesmo. O sentimento de sermos exceções e parte do grande grupo humano, com a responsa que a visão impõe, responsa e não superioridade.









 

Desmatamento amazônico, degradação social.

Agora tá a três campos de futebol oficial por minuto. Mil, quinhentos e quarenta por dia, cento e seis mil e duzentos campos de futebol por mês. Falo do desmatamento na Amazônia, índice nunca dantes alcançado. Mais uma vitória desse governo capacho de interesses empresariais estadunidenses. O governo anterior, pelo menos, era só toalha de mão, servidor, mas não tão capacho assim. Por isso mesmo é que foi retirado: enquanto servia os colonizadores, encarnados no "mercado", sobretudo o financeiro, sem se opor ao saque cotidiano das riquezas brasileiras, investia migalhas na população mais pobre, historicamente roubada em seus direitos, desde que direitos foram criados nas instituições do Estado. Isso, a longo prazo, criaria condições de entendimento da realidade e poderia dificultar as regalias na exploração, criando senso crítico e resistência inteligente na população. Mas, sem tocar nos privilégios banqueiros, sem regular as comunicações do país, tomadas pela mídia comercial, empresarial, privada, sem regular nenhum setor estratégico, sem investigar a fundo os acontecimentos durante os governos militares, sem questionar a dívida "pública" criminosa que rouba metade do orçamento nacional todo ano, ficou fácil pros verdadeiros poderes derrubarem essa falsa "esquerda" dos cargos de mando. O que fizeram com sua incompetência, com seu vôo de galinha, com sua arrogância, foi preparar o caminho pra essa corja descarada que está cumprindo as ordens de reduzir a nação a uma colônia conformada com seu destino de escravidão, miséria, ignorância e, por conseqüência, violência e criminalidade, a começar pelo próprio aparato público e os crimes de Estado contra sua população, seu patrimônio, suas riquezas e sua soberania.

A área de preservação ambiental, o Parque Nacional do Xingu, sob o cuidado dos povos originários, não foi tocada. O governo capacho adoraria acabar com esse parque e com todas as terras indígenas do território nacional, seria uma tremenda puxada de saco nos exploradores do norte, aos pés de quem rasteja constrangedoramente a "autoridade máxima" deste país e seu grupo institucional - secretários, ministros, assessores, parlamentares, empresários, grupo elitista, escravista, anti-social, a fina flor da ignorância, da agressividade, do teleguiamento ideológico, da colonização mental e da truculência vingativa. A fina flor da indiferença com o sofrimento de milhões que só vem aumentando, com todas as medidas tomadas até agora por isso que ainda chamam de "governo".

As projeções nefastas, macabras, a médio e longo prazo. As de curto prazo já se vêem nas ruas, na quantidade de desabrigados, mendigos, drogados, abandonados sociais. Já há conseqüências, previstas e acontecendo, demonstrando a realidade das projeções com base no que está sendo feito. Violência do Estado e nas ruas, quadrilhas de bandidos pra todo lado, traficantes, milicianos, grupos se formando em empresas dos mais variados crimes... e o exemplo dado de cima dos poderes públicos.

É preparar o lombo, a criatividade e a resistência. 


Em cima do muro?

Tem quem diga que estou em cima do muro porque não voto. Visão superficial de quem só vê os dois lados. Eu me sinto no centro de um círculo e posso caminhar na direção que minha consciência decidir. Não me vejo em cima de muro porque não vejo só dois lados pra pular. Que pulem os que pensam assim, escolham seus lados. Na minha visão, é pura indução midiática, cultural, comportamental, da natureza de uma sociedade competitiva, superficial e estrategicamente enraizada no inconsciente coletivo, adaptadas às mentalidades antagônicas, criadas pra dar a ilusão de que se muda alguma coisa desse jeito. Os banqueiros, em suas fortalezas, dão risada.
Não é só não votar, é não ter patrão nem empregado, é detestar ostentação de luxos e consumos "de elite", é não desejar mais do que se precisa, é ter vergonha de privilégios da riqueza, é respeitar o modo de ser dos outros, é olhar com igualdade mesmo pras diferenças. É querer pouco e reconhecer a própria pequeneza diante do todo e grandeza diante de si mesmo. É gostar do respeito alheio, mas não abrir mão do próprio. É ouvir a própria consciência acima da própria conveniência. Essas são algumas posições que aplico em minha vida. Sem querer posar de exemplo ou dar conselho a ninguém. Não é o que acho certo, é só o MEU certo.
Cada um com sua própria consciência. E sem cobranças.


Nota - Texto escrito em agosto de 2018, perdido nos arquivos do computador roubado em Santa Maria, RS.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Colonialismo Mental

A mentalidade colonizada é criada pelo colonizador e implantada nas elites coloniais, responsáveis pela administração da colônica saqueada, explorada, escravizada, miserabilizada. Mantidos privilégios, a subalternidade venera o explorador e despreza o explorado - e se contenta em manter seus privilégios diante das populações sabotadas, roubadas em seus direitos. Nas colônias, os privilegiados devem necessariamente desprezar e trair os seus irmão de nação, não devem nem reconhecê-los como irmãos e sim vê-los inferiores, com desprezo, merecedores da sua própria desgraça.

É isto ou cair em suspeita, digno de perseguição. Falar de injustiças sociais é ser "cumunista". Conivência garante os direitos, cumplicidade já traz privilégios, perversidade leva a cargos de mando. Assim é formada a estrutura social, assim ela precisa ser vista pra que assim possa ser modificada, a partir de dentro de cada um de nós, que é o melhor rastilho de pólvora - o exemplo. 

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Americanos somos todos nós, viventes deste enorme continente. Chamar os estadunidenses assim é reconhecer neles a referência das Américas, os donos, os principais. Uma lavagem cerebral, estratégia antiga, já exercida pelos romanos, pelos gregos, pelos europeus em geral, criando subalternidade não só econômica e política, mas também cultural e psicológica. É preciso perceber pra não colaborar com esse jogo, inconscientemente. Sentimentos de superioridade e inferioridade são criados artificialmente pra manutenção desse estado de coisas social onde vivemos. Em todos os níveis. 

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Declarações reveladoras - o presidente e o cientista.

O cara começa a responder com uma frase desconexa, precariamente articulada como toda a explicação. "“Se toda essa devastação que vocês nos acusam que estamos fazendo e que já foi feita no passado (sic) (aqui ele esquece de incluir um 'fosse verdade', talvez?), a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto”. O cara em questão aqui é o presidente da república, Jair Bolsonaro. Ele não parou por aí. Em resposta a jornalistas que apresentavam os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entidade constituída na década de 70, com um respeito internacional construído pela credibilidade dos seus dados por todas essas décadas) mostrando a aceleração do desmatamento, da destruição, da contaminação da floresta amazônica. 

Consciente das forças que o apóiam - mineradoras, madeireiras, empresas latifundiárias ávidas por pastos, monoculturas transgênicas, assassinos de indígenas, dos povos da floresta, dos ribeirinhos, das comunidades que "atrapalham" o caminho do lucro destrutivo -, e seus interesses, ele não pestaneja antes de barbarizar, contando com a ignorância, com a cegueira da desinformação e com a perversidade induzida. Responde o presidente:

"A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos. Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir explicar aqui em Brasília esses dados aí que passaram para a imprensa. No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum." 

Pois bem, o "cara que está à frente do Inpe" está louco pra ir a Brasília explicar esses dados. Ele mesmo afirma isso e desafia o presidente a cumprir o que disse. Não deixa barato, não acredita que o cara fique de frente com ele, que é covarde pra isso. 

Aqui não trato de "atacar" ou "defender" nada nem ninguém, tô observando os fatos. Esse simplismo - atacar, defender, acusar, insultar, escolher um lado - impede a gente de ver com profundidade, de perceber raízes, ao contrário, induz à superficialidade, ao conflito, ao insulto, exatamente pra impedir o entendimento do que acontece, as razões de ser das decisões no poder dito público. É o debate dos ignorantes. Pra que não se perceba a farsa, os poderes verdadeiros que dominam o Estado impedem o investimento social na extinção da miséria, da ignorância, na criação de condições pra existência de um povo digno, instruído, informado e bem nutrido, com capacidade de entendimento e decisão, com senso crítico, capaz de escolher os caminhos que levem a uma sociedade harmônica, onde não existam abandonados, miseráveis, onde não se crie condições de produção da criminalidade esmagadora em que vivemos. E falo tanto da criminalidade de rua quando da criminalidade no aparelho estatal, sobre e dentro dos poderes públicos. Aliás, agora como "nunca antes na história desse país", descarada, sem nenhum pudor. Mentiras que só alcançam o nível mais primário de ignorância e as mentes psicopáticas da intolerância e agressividade socialmente produzidas e extremamente estimuladas pela própria cultura social da atualidade.


Desde que vi no Estado uma organização criminosa contra sua própria população, nunca tinha visto tamanho descaramento, não imaginava que fosse possível se piorar tanto o que já era tão ruim. Pelo menos não sem reação, como foi visto. Mas a reação não se faz e os prejuízos vão só aumentando. O sofrimento que já começou está apenas começando. Suas conseqüências sociais se anunciam terríveis. Fica difícil escolher sobre o que falar, todas as áreas da sociedade estão sendo afetadas pra piorar a situação da maioria - universidades, programas de saúde, educação básica, povos indígenas, agricultura familiar e orgânica, mineração, construção civil, indústria naval e em geral, comércio, tudo, tudo está piorando. A população desabrigada, sem casa, faminta, drogada, só aumenta, as cidades grandes e pequenas se infestam de abandonados sociais, miseráveis, de zumbis na madrugada. Tô só olhando, nada surpreso, os movimentos que venho observando já apontavam há tempos nesta direção. 

Não entro na disputa induzida entre bolsonaristas e esquerdistas, entre mínions e petralhas, nessa troca de ódio e superficialidade fabricados pela psicologia do inconsciente em laboratórios de pensamento. E aplicados cuidadosamente nas classes sociais - pra maioria, os 80% sem acesso a uma educação que mereça o nome, a tevê aberta, com parte menor das redes sociais; pras classes médias a maior parte dessas redes internéticas, os canais a cabo e fechados, os veículos de mais uso. Criando mentalidades, visões de mundo, distorção e engano. Entendo cada opinião induzida, cada agressividade, cada insulto como programações sociais, sei a origem dessas opiniões e não "culpo" seus interlocutores, seu repetidores tanto de idéias quanto de comportamentos. Diante do quadro, exerço minha responsabilidade humana e não me deixo levar. Que briguem, mas não contem comigo. Eu tô ocupado fazendo coisas que me parecem mais úteis.



Constrangedor ver um cientista reconhecido, respeitado no mundo todo por sua capacidade, por sua história, por seus merecimentos próprios em décadas de existência e atuação no meio da ciência, dos cientistas, ser esculachado dessa forma por interesses empresariais, desumanos, destrutivos, anti-sociais que se escondem atrás de uma figura grotesca, bruta, perversa, inconsciente social completa, assumidamente criminosa, posta à frente dos poderes institucionais na intenção - pra mim, clara - de, no final das contas, colocar um país, que já estava de joelhos diante dos poderes econômico-financeiros mundiais, completamente de quatro.


Deixo aqui a resposta do diretor do INPE - instituto que apenas fez o que vem fazendo desde a década de 70, quando foi criado, com o respeito público de milhares de consultas do mundo inteiro, ou seja, divulgar a quem tiver interesse os dados coletados por satélites da superfície do planeta na parte que lhe compete - por ser um "instituto nacional" -, o território nacional conhecido por Brasil, do qual a Amazônia faz parte. Seu nome, Ricardo Magnus Osório Galvão, diretamente ofendido pelo pronunciamento presidencial. Diz ele:


"Os dados são acessados pelo Ibama na nossa página na internet. Estão abertos para todo mundo, todo mundo pode verificar. São publicados em revistas científicas internacionais. Temos mais de mil citações pelos nossos dados, qualquer um pode testar."

Ele comenta o desprezo oficial pela ciência e tecnologia, na minha opinião uma área estratégica onde este governo atual tem a função de embarreirar o desenvolvimento e destruir os mecanismos que o promovam. Assim como a indústria tem sido, a união latinoamericana e outras iniciativas, tudo o que signifique autonomia, soberania, dignidade, desenvolvimento de verdade deve ser sabotado, desfeito, desarticulado. É um claro processo de refortalecimento das relações coloniais, subalternas, que roubam o país e o povo, mantendo miséria, ignorância, criminalidade pra que se mantenha o parasitismo, o saque das riquezas e a manutenção da desumanidade social que está à nossa volta. E se propõem mentiras como "solução". Claro engodo.

O diretor do INPE, em nome da ciência brasileira, afirma:

"Este ano, em junho, o doutor Antonio Divino Moura, coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, ganhou o equivalente ao prêmio Nobel de meteorologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Não teve uma carta de congratulações nem do presidente nem do ministro de Ciência e Tecnologia. O presidente não tem noção da respeitabilidade que os dados do Inpe e que os pesquisadores do Inpe têm. É uma ofensa o que ele fez."

E comenta a reveladora manifestação do atual presidente da república:

"Ele tomou uma atitude pulsilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos. Eu sou um senhor de 71 anos, membro da Academia Brasileira de Ciências, não vou aceitar uma ofensa desse tipo. Ele que tenha coragem de, frente a frente, justificar o que ele está fazendo."

"Ao final da entrevista, fiquei mais chocado ainda, Bolsonaro teve a coragem de dizer que os ministros de Ciência anteriores não sabiam distinguir gravidez da lei da gravidade. Com isso ele atacou nomes de extremo prestígio na ciência nacional, como o ministro Renato Archer, o ministro José Israel Vargas, Sérgio Resende, talvez um dos cientistas mais destacados do País no mundo todo, e o Marco Antonio Raupp, que foi presidente da SBPC. Dizer que eles não sabem distinguir gravidez da lei da gravidade é um absurdo. É uma ofensa de botequim."

Não é preciso dizer muita coisa. A realidade taí. Não na teoria, mas na prática cotidiana, no aumento da miséria, da criminalidade, da pobreza, da violência de Estado e, evidentemente, da violência social como conseqüência. Não existem argumentos diante de fatos. Desenvolvimento que não tenha como objetivo o extermínio da miséria, da ignorância, da exclusão, não é desenvolvimento humano, não é desenvolvimento social. O desenvolvimento econômico de que tanto se fala, apresentado pela mídia e pela corja que exerce os poderes públicos, é destruidor, envenenador, escravista, explorador, sem responsabilidade humana ou ambiental. Um desastre pras populações, pro meio-ambiente, pra harmonia social e planetária. Um desenvolvimento que só interessa e serve a um punhado de parasitas sociais podres de ricos que dominam os Estados e impõem esse modelo de sociedade criminoso, violento e perverso - entranhado na mentalidade geral pela lavagem cerebral profunda e permanente imposta pela cultura da superficialidade, do consumo compulsivo, da competitividade, do egoísmo, através do massacre midiático-publicitário nas comunicações e do modelo de ensino empresarista e anti-social - que é preciso superar. Temos todo o tempo do mundo, embora o melhor seja o fazer agora.

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As falas foram retiradas desta entrevista:
https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/bolsonaro-tomou-atitude-pusilanime-e-covarde-diz-diretor-do-inpe/

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Eduardo Marinho Já Dizia

Som de Douglas Vargas, que também acrescentou nas palavras, adaptando ao seu modo de fazer e de dizer. Gracias parceiro, tá bom isso aí, útil na evolução da humanidade. Oportunidade criada, como é função da arte.

sábado, 6 de julho de 2019

Percepção da farsa - também dentro de cada um de nós

Nisso que dizem ser uma democracia, nada é o que parece, nada é o que diz ser. Não há democracia além da fachada, o que há é apenas um cenário formado por instituições ditas democráticas, cenário falso, institucional, e marionetes a rodo, sorridentes e mentirosas, encenando a farsa nefasta de uma democracia falsa, um sistema parasita, escravista, desumano, anti-social, que produz ignorância, desinformação, egoísmo, ânsia de consumo e alienação pra se manter, invisível, sem ser percebido, no escuro dos bastidores da institucionalidade cênica e macabra.

O sistema de ensino, educação e preparação de pessoas para serem adultas se divide entre a parte que forma a grande maioria, para ser explorada, de baixa qualificação e salários, para serviços pesados, sacrificados, de maior risco e desgaste; a que forma, nas classes médias, os organizadores, gerentes, supervisores, diretores, os qualificados encarregados de exercer a perversidade social, sem questionar as injustiças, em nome de seus direitos garantidos e, talvez, alguns privilégios; e a parte mínima, de elite, formadora dos mandatários, dos que vão exercer seu poder econômico, social, midiático sobre os chamados poderes públicos - as marionetes no palco das "políticas" partidárias, institucionais, entre poderes falsamente públicos, num Estado seqüestrado, dominado, infiltrado pelos poderes econômico-financeiros e pressionado pelo controle das comunicações, com a mídia empresarial como porta-voz dos interesses banqueiro-empresariais e enganadora-mor da população, sedutora, usando conhecimentos de psicologia do inconsciente, trabalhando criminosamente na distorção da realidade, na mentira, na criação de mentalidades ainda que momentâneas e desde que atendam interesses imediatos. Estamos vendo acontecer com o 'ministro da "justiça"', peça fundamental pra impedir a continuação do ciclo petista de administração estatal e iniciar a destruição da indústria nacional, vista como "ameaça aos seus interesses" pelos gringos que manobram nos bastidores dos poderes na América Latina e pelo mundo afora, onde conseguem. A "peça fundamental" se torna descartável. As riquezas estão dominadas, petróleo, mineração, agricultura, indústrias em marcha lenta, exportação de matérias primas, o país sendo posto em grilhões, de joelhos, subalternizado, o território sendo entregue aos colonizadores estrangeiros, o povo roubado em seus direitos pela cumplicidade das elites locais já psicologicamente construídas em subalternidade completa.

O sistema de saúde é dominado por laboratórios, indústrias da medicina, interesses econômicos que têm no lucro sua maior importância, o que faz a doença mais interessante que a saúde, porque a saúde não compra remédio nem busca tratamento, a doença sim e isso é que é lucrativo. Nessa lógica, não há surpresa na existência de tráfico de órgãos, máfias de todo tipo, próteses, tratamentos psiquiátricos, coisas de dar terror em quem não tem idéia do que acontece nos subterrâneos da sociedade.

O sistema de transporte, máfia de todo tipo, transporte de carga é mais eficiente que o de passageiros, em toda parte se encontram sintomas de que a sociedade não tem no seu centro de importância o ser humano, mas o patrimônio, o interesse econômico. A vida, o povo, o ambiente, estão em plano secundário e isso se vê na própria formação das pessoas que constituem a coletividade, em sua visão de mundo, seus desejos e objetivos de vida, desumanizados na educação empresarista que faz do mundo uma arena competitiva onde é cada um por si. A busca da harmonia coletiva, o atendimento de toda necessidade básica da população e de cada um, o equilíbrio e a justiça social como objetivos comuns da sociedade como um todo não se vê em nenhuma escola.

Mineração, agricultura, pecuária, em todas as áreas prevalecem máfias, como o é o próprio modelo social, a própria estrutura da sociedade. Essencialmente empresarista e desumana, anti-social em função do lucro extremo a custo mínimo. Um custo em desrespeito e sofrimento para a maioria.

Nas formações acadêmicas programa-se mesmo as mentalidades revolucionárias, de forma a não oferecerem riscos à estrutura social como ela é. A a gente vê o resultado, na arrogância, na distância, na incapacidade de entender e participar do processo na humildade, com muito mais produtividade, em capacidade revolucionária, em mutações verdadeiras. É preciso perceber com profundidade as próprias grades e correntes, porque é nelas que começa o trabalho coletivo. A partir do trampo interno, íntimo, individual, em cada componente da coletividade humana, se faz o verdadeiro trabalho coletivo, sem pretensão e com espírito de serviço. É preciso estar pronto a largar tudo o que acreditávamos no momento em que percebemos dentro de nós mesmos que estávamos errados. Um apego aí e permanecemos atados ao passado e, por consequência, impedidos de seguir livremente em frente.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.