segunda-feira, 22 de julho de 2019

Declarações reveladoras - o presidente e o cientista.

O cara começa a responder com uma frase desconexa, precariamente articulada como toda a explicação. "“Se toda essa devastação que vocês nos acusam que estamos fazendo e que já foi feita no passado (sic) (aqui ele esquece de incluir um 'fosse verdade', talvez?), a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto”. O cara em questão aqui é o presidente da república, Jair Bolsonaro. Ele não parou por aí. Em resposta a jornalistas que apresentavam os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entidade constituída na década de 70, com um respeito internacional construído pela credibilidade dos seus dados por todas essas décadas) mostrando a aceleração do desmatamento, da destruição, da contaminação da floresta amazônica. 

Consciente das forças que o apóiam - mineradoras, madeireiras, empresas latifundiárias ávidas por pastos, monoculturas transgênicas, assassinos de indígenas, dos povos da floresta, dos ribeirinhos, das comunidades que "atrapalham" o caminho do lucro destrutivo -, e seus interesses, ele não pestaneja antes de barbarizar, contando com a ignorância, com a cegueira da desinformação e com a perversidade induzida. Responde o presidente:

"A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos. Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir explicar aqui em Brasília esses dados aí que passaram para a imprensa. No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum." 

Pois bem, o "cara que está à frente do Inpe" está louco pra ir a Brasília explicar esses dados. Ele mesmo afirma isso e desafia o presidente a cumprir o que disse. Não deixa barato, não acredita que o cara fique de frente com ele, que é covarde pra isso. 

Aqui não trato de "atacar" ou "defender" nada nem ninguém, tô observando os fatos. Esse simplismo - atacar, defender, acusar, insultar, escolher um lado - impede a gente de ver com profundidade, de perceber raízes, ao contrário, induz à superficialidade, ao conflito, ao insulto, exatamente pra impedir o entendimento do que acontece, as razões de ser das decisões no poder dito público. É o debate dos ignorantes. Pra que não se perceba a farsa, os poderes verdadeiros que dominam o Estado impedem o investimento social na extinção da miséria, da ignorância, na criação de condições pra existência de um povo digno, instruído, informado e bem nutrido, com capacidade de entendimento e decisão, com senso crítico, capaz de escolher os caminhos que levem a uma sociedade harmônica, onde não existam abandonados, miseráveis, onde não se crie condições de produção da criminalidade esmagadora em que vivemos. E falo tanto da criminalidade de rua quando da criminalidade no aparelho estatal, sobre e dentro dos poderes públicos. Aliás, agora como "nunca antes na história desse país", descarada, sem nenhum pudor. Mentiras que só alcançam o nível mais primário de ignorância e as mentes psicopáticas da intolerância e agressividade socialmente produzidas e extremamente estimuladas pela própria cultura social da atualidade.


Desde que vi no Estado uma organização criminosa contra sua própria população, nunca tinha visto tamanho descaramento, não imaginava que fosse possível se piorar tanto o que já era tão ruim. Pelo menos não sem reação, como foi visto. Mas a reação não se faz e os prejuízos vão só aumentando. O sofrimento que já começou está apenas começando. Suas conseqüências sociais se anunciam terríveis. Fica difícil escolher sobre o que falar, todas as áreas da sociedade estão sendo afetadas pra piorar a situação da maioria - universidades, programas de saúde, educação básica, povos indígenas, agricultura familiar e orgânica, mineração, construção civil, indústria naval e em geral, comércio, tudo, tudo está piorando. A população desabrigada, sem casa, faminta, drogada, só aumenta, as cidades grandes e pequenas se infestam de abandonados sociais, miseráveis, de zumbis na madrugada. Tô só olhando, nada surpreso, os movimentos que venho observando já apontavam há tempos nesta direção. 

Não entro na disputa induzida entre bolsonaristas e esquerdistas, entre mínions e petralhas, nessa troca de ódio e superficialidade fabricados pela psicologia do inconsciente em laboratórios de pensamento. E aplicados cuidadosamente nas classes sociais - pra maioria, os 80% sem acesso a uma educação que mereça o nome, a tevê aberta, com parte menor das redes sociais; pras classes médias a maior parte dessas redes internéticas, os canais a cabo e fechados, os veículos de mais uso. Criando mentalidades, visões de mundo, distorção e engano. Entendo cada opinião induzida, cada agressividade, cada insulto como programações sociais, sei a origem dessas opiniões e não "culpo" seus interlocutores, seu repetidores tanto de idéias quanto de comportamentos. Diante do quadro, exerço minha responsabilidade humana e não me deixo levar. Que briguem, mas não contem comigo. Eu tô ocupado fazendo coisas que me parecem mais úteis.



Constrangedor ver um cientista reconhecido, respeitado no mundo todo por sua capacidade, por sua história, por seus merecimentos próprios em décadas de existência e atuação no meio da ciência, dos cientistas, ser esculachado dessa forma por interesses empresariais, desumanos, destrutivos, anti-sociais que se escondem atrás de uma figura grotesca, bruta, perversa, inconsciente social completa, assumidamente criminosa, posta à frente dos poderes institucionais na intenção - pra mim, clara - de, no final das contas, colocar um país, que já estava de joelhos diante dos poderes econômico-financeiros mundiais, completamente de quatro.


Deixo aqui a resposta do diretor do INPE - instituto que apenas fez o que vem fazendo desde a década de 70, quando foi criado, com o respeito público de milhares de consultas do mundo inteiro, ou seja, divulgar a quem tiver interesse os dados coletados por satélites da superfície do planeta na parte que lhe compete - por ser um "instituto nacional" -, o território nacional conhecido por Brasil, do qual a Amazônia faz parte. Seu nome, Ricardo Magnus Osório Galvão, diretamente ofendido pelo pronunciamento presidencial. Diz ele:


"Os dados são acessados pelo Ibama na nossa página na internet. Estão abertos para todo mundo, todo mundo pode verificar. São publicados em revistas científicas internacionais. Temos mais de mil citações pelos nossos dados, qualquer um pode testar."

Ele comenta o desprezo oficial pela ciência e tecnologia, na minha opinião uma área estratégica onde este governo atual tem a função de embarreirar o desenvolvimento e destruir os mecanismos que o promovam. Assim como a indústria tem sido, a união latinoamericana e outras iniciativas, tudo o que signifique autonomia, soberania, dignidade, desenvolvimento de verdade deve ser sabotado, desfeito, desarticulado. É um claro processo de refortalecimento das relações coloniais, subalternas, que roubam o país e o povo, mantendo miséria, ignorância, criminalidade pra que se mantenha o parasitismo, o saque das riquezas e a manutenção da desumanidade social que está à nossa volta. E se propõem mentiras como "solução". Claro engodo.

O diretor do INPE, em nome da ciência brasileira, afirma:

"Este ano, em junho, o doutor Antonio Divino Moura, coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, ganhou o equivalente ao prêmio Nobel de meteorologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Não teve uma carta de congratulações nem do presidente nem do ministro de Ciência e Tecnologia. O presidente não tem noção da respeitabilidade que os dados do Inpe e que os pesquisadores do Inpe têm. É uma ofensa o que ele fez."

E comenta a reveladora manifestação do atual presidente da república:

"Ele tomou uma atitude pulsilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos. Eu sou um senhor de 71 anos, membro da Academia Brasileira de Ciências, não vou aceitar uma ofensa desse tipo. Ele que tenha coragem de, frente a frente, justificar o que ele está fazendo."

"Ao final da entrevista, fiquei mais chocado ainda, Bolsonaro teve a coragem de dizer que os ministros de Ciência anteriores não sabiam distinguir gravidez da lei da gravidade. Com isso ele atacou nomes de extremo prestígio na ciência nacional, como o ministro Renato Archer, o ministro José Israel Vargas, Sérgio Resende, talvez um dos cientistas mais destacados do País no mundo todo, e o Marco Antonio Raupp, que foi presidente da SBPC. Dizer que eles não sabem distinguir gravidez da lei da gravidade é um absurdo. É uma ofensa de botequim."

Não é preciso dizer muita coisa. A realidade taí. Não na teoria, mas na prática cotidiana, no aumento da miséria, da criminalidade, da pobreza, da violência de Estado e, evidentemente, da violência social como conseqüência. Não existem argumentos diante de fatos. Desenvolvimento que não tenha como objetivo o extermínio da miséria, da ignorância, da exclusão, não é desenvolvimento humano, não é desenvolvimento social. O desenvolvimento econômico de que tanto se fala, apresentado pela mídia e pela corja que exerce os poderes públicos, é destruidor, envenenador, escravista, explorador, sem responsabilidade humana ou ambiental. Um desastre pras populações, pro meio-ambiente, pra harmonia social e planetária. Um desenvolvimento que só interessa e serve a um punhado de parasitas sociais podres de ricos que dominam os Estados e impõem esse modelo de sociedade criminoso, violento e perverso - entranhado na mentalidade geral pela lavagem cerebral profunda e permanente imposta pela cultura da superficialidade, do consumo compulsivo, da competitividade, do egoísmo, através do massacre midiático-publicitário nas comunicações e do modelo de ensino empresarista e anti-social - que é preciso superar. Temos todo o tempo do mundo, embora o melhor seja o fazer agora.

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As falas foram retiradas desta entrevista:
https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/bolsonaro-tomou-atitude-pusilanime-e-covarde-diz-diretor-do-inpe/

20 comentários:

  1. O Dr. Ricardo Galvão, diretor do INPE,tem 41 anos de pesquisa só no Instituto.

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    1. Então.. como podemos nos calar diante de um desgoverno desses

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  2. Oi Eduardo, nunca pensei que pior nao ia ficar. Estou em choque com a atual situação do Br. Mas o pior eh ver milhoes de pessoas apoiando tudo que esse homem faz e fala. Ja fui chamada de petralha, esquerdista, débil mental, comunista, etccc e já me mandaram ir embora para Cuba apenas por ter senso critico e nao concordar com esse psicopata. Nao respondo de volta, fico quieta pois nao dou combustível a ignorancia. Eh preciso de alguma forma tirar essa quadrilha do poder.

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  3. Tenho medo as armas antinaturales, pela falta de educação que existe, a verdadeira educação vem dos méritos do coração e é individual, estão distribuídos nos coletivos (genéricos) corações premiados que estão despertando,fora indústrias científicas químicas ouro p4incipios curativosfarmacêuticas agronegócio,tirem a mão da Amazônia ! Aguardo o dia do encontro,certamente uma aula Magna !!!

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  4. Mostrando a cara...bom sinal de novos tempos!!

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  5. É mesmo complicado por que mesmo a mídia que nos serve, nos fere, com o uso do viés da confirmação, o que nos afasta de confrontos tanto externos quanto internos, isso é um ataque direto a democracia, por tanto um prato cheio para as mídias de massa.
    Criando assim essa bipolaridade extremista que você citou no começo, ou bolsominions ou petralha.

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  6. É muito duro saber que, o que antes criticávamos por ser ruim, agora, ficou horrível! Isso é enlouquecedor! Eu nunca pensei viver tempos em que a ciência tem que se explicar para a ignorância. Às vezes penso que estou enlouquecendo. É de uma brutalidade e violência que dói na alma! Como a forma capital é sempre rude na periferia do capital!

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  7. Nunca me expliquei tanto em sala de aula. Como é difícil a crítica nesses tempos duros! A ditadura da ignorância é tão ou mais perigosa que a dos tanques!

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  8. Não, Eduardo. Não temos todo o tempo do mundo. Temos apenas o tempo do planeta. O tempo urge e temos que aproveitá-lo. Não gaste sua dialética sócio-masoquista. O sistema está vindo deste modo desde que mundo é mundo. Acelerando, é fato, nas maldades manifestadas por poderes egoicos. Mas, ego é inerente no ser humano. Tratemos nós de eliminá-los, cada um em si. Essa é a grande revolução, o verdadeiro sentido da vida. Só com a eliminação destes egos, com trabalhos internos e padecimentos voluntários, conseguiríamos a verdadeira felicidade. Ah! Existe técnica para eliminação dos egos em HERCÓLUBUS OU PLANETA VERMELHO. Fácil leitura. Não só leia-o, estude-o. Um livreto bem curto. Feliz fim de mundo.

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    1. O tempo do planeta não é o tempo do mundo? Tu tá com alguma dificuldade de entendimento. Vai nas tuas crenças aí, técnicas de eliminação de egos, planeta vermelho, certamente não serão "crenças" na tua opinião, mas assim como tu desacredita minhas opiniões, eu desacredito nas tuas. Não como consequência, como forra, mas porque não vejo mesmo nenhum sentido. Se tem, não sei dizer. Só que me parece não ter. Não tô atrás da "verdadeira felicidade", mas de satisfação nessa minha vidinha, participando dessa evolução coletiva por um momento em milênios, quem sabe mais. De quem conhece o "verdadeiro sentido da vida", assim geral, pra todo mundo, eu só quero distância. Discordância não precisa ser discórdia.

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  9. Se partimos do princípio comum "que sempre foi assim", o que estaríamos construindo? Estamos em uma sociedade concreta, um planeta concreto com todas as suas desgraças, e é contra elas que combato. Cada dia me deparo com situações em várias esferas da vida, cada vez me convenço da importância de resgatarmos nossa humanidade, pq está é a minha essência. Eu acredito que podemos, sim!

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  10. Fujo de duas perspectivas que em nada acrescenta para a nossa evolução:a pobreza e a miséria sempre existiram e a polêmica capitalismo versus comunismo. Neste último, já sabemos das mazelas dos dois sistemas, a questão está em construirmos modelos para além dos que nos oprimem.

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  11. URGENTE:
    Boa tarde Senhor Eduardo Marinho. Gostaria por favor que me respondesse aos emails que enviei para si: grupoinutil@yahoo.com.br através do youtube

    e ao outro
    arteutil.em@gmail.com através do facebook

    Agradeço
    Canal Essencia Ayam Eu Sou Mensagens


    e oara

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  12. A estupidez humana elegeu essa criatura abjeta que ao final do (des)governo em 2022 (se é que irá durar até lá) terá destruído tanta coisa, incluindo a Amazônia, que nem os maiores esforços serão capazes de reverter tantos estragos em tantas áreas, incluindo a ambiental.

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  13. O que o Eduardo fala é que o sistema que comanda e que coloca quem eles querem no poder. A o desmembramento da Amazônia já vem há décadas de alguma forma. A diferença desse governo atual, que o sistema escolheu, com a lavagem cerebral de parte das classes menos favorecidas, e muito bem explorada pelos poderosos que fazem parte desse comando, é que colocaram um louco e mal intencionado na presidência para as suas subserviências. Porque ele, como os que verdadeiramente comandam este país estão se lixando para a natureza e o ser humano. Só querem é continuar escravizando a população ,tevea representado pela figura do Sr. Banqueiro Paulo Guedes. E quem teve a oportunidaded mudar isso tudo, simplesmente deixo se levar pela ganância de se perpetuar no poder, virou as costas pra população. E isso foi um prato cheio para colocarem esse louco no poder.

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