terça-feira, 30 de julho de 2019

Colonialismo Mental

A mentalidade colonizada é criada pelo colonizador e implantada nas elites coloniais, responsáveis pela administração da colônica saqueada, explorada, escravizada, miserabilizada. Mantidos privilégios, a subalternidade venera o explorador e despreza o explorado - e se contenta em manter seus privilégios diante das populações sabotadas, roubadas em seus direitos. Nas colônias, os privilegiados devem necessariamente desprezar e trair os seus irmão de nação, não devem nem reconhecê-los como irmãos e sim vê-los inferiores, com desprezo, merecedores da sua própria desgraça.

É isto ou cair em suspeita, digno de perseguição. Falar de injustiças sociais é ser "cumunista". Conivência garante os direitos, cumplicidade já traz privilégios, perversidade leva a cargos de mando. Assim é formada a estrutura social, assim ela precisa ser vista pra que assim possa ser modificada, a partir de dentro de cada um de nós, que é o melhor rastilho de pólvora - o exemplo. 

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Americanos somos todos nós, viventes deste enorme continente. Chamar os estadunidenses assim é reconhecer neles a referência das Américas, os donos, os principais. Uma lavagem cerebral, estratégia antiga, já exercida pelos romanos, pelos gregos, pelos europeus em geral, criando subalternidade não só econômica e política, mas também cultural e psicológica. É preciso perceber pra não colaborar com esse jogo, inconscientemente. Sentimentos de superioridade e inferioridade são criados artificialmente pra manutenção desse estado de coisas social onde vivemos. Em todos os níveis. 

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Declarações reveladoras - o presidente e o cientista.

O cara começa a responder com uma frase desconexa, precariamente articulada como toda a explicação. "“Se toda essa devastação que vocês nos acusam que estamos fazendo e que já foi feita no passado (sic) (aqui ele esquece de incluir um 'fosse verdade', talvez?), a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto”. O cara em questão aqui é o presidente da república, Jair Bolsonaro. Ele não parou por aí. Em resposta a jornalistas que apresentavam os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entidade constituída na década de 70, com um respeito internacional construído pela credibilidade dos seus dados por todas essas décadas) mostrando a aceleração do desmatamento, da destruição, da contaminação da floresta amazônica. 

Consciente das forças que o apóiam - mineradoras, madeireiras, empresas latifundiárias ávidas por pastos, monoculturas transgênicas, assassinos de indígenas, dos povos da floresta, dos ribeirinhos, das comunidades que "atrapalham" o caminho do lucro destrutivo -, e seus interesses, ele não pestaneja antes de barbarizar, contando com a ignorância, com a cegueira da desinformação e com a perversidade induzida. Responde o presidente:

"A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos. Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir explicar aqui em Brasília esses dados aí que passaram para a imprensa. No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum." 

Pois bem, o "cara que está à frente do Inpe" está louco pra ir a Brasília explicar esses dados. Ele mesmo afirma isso e desafia o presidente a cumprir o que disse. Não deixa barato, não acredita que o cara fique de frente com ele, que é covarde pra isso. 

Aqui não trato de "atacar" ou "defender" nada nem ninguém, tô observando os fatos. Esse simplismo - atacar, defender, acusar, insultar, escolher um lado - impede a gente de ver com profundidade, de perceber raízes, ao contrário, induz à superficialidade, ao conflito, ao insulto, exatamente pra impedir o entendimento do que acontece, as razões de ser das decisões no poder dito público. É o debate dos ignorantes. Pra que não se perceba a farsa, os poderes verdadeiros que dominam o Estado impedem o investimento social na extinção da miséria, da ignorância, na criação de condições pra existência de um povo digno, instruído, informado e bem nutrido, com capacidade de entendimento e decisão, com senso crítico, capaz de escolher os caminhos que levem a uma sociedade harmônica, onde não existam abandonados, miseráveis, onde não se crie condições de produção da criminalidade esmagadora em que vivemos. E falo tanto da criminalidade de rua quando da criminalidade no aparelho estatal, sobre e dentro dos poderes públicos. Aliás, agora como "nunca antes na história desse país", descarada, sem nenhum pudor. Mentiras que só alcançam o nível mais primário de ignorância e as mentes psicopáticas da intolerância e agressividade socialmente produzidas e extremamente estimuladas pela própria cultura social da atualidade.


Desde que vi no Estado uma organização criminosa contra sua própria população, nunca tinha visto tamanho descaramento, não imaginava que fosse possível se piorar tanto o que já era tão ruim. Pelo menos não sem reação, como foi visto. Mas a reação não se faz e os prejuízos vão só aumentando. O sofrimento que já começou está apenas começando. Suas conseqüências sociais se anunciam terríveis. Fica difícil escolher sobre o que falar, todas as áreas da sociedade estão sendo afetadas pra piorar a situação da maioria - universidades, programas de saúde, educação básica, povos indígenas, agricultura familiar e orgânica, mineração, construção civil, indústria naval e em geral, comércio, tudo, tudo está piorando. A população desabrigada, sem casa, faminta, drogada, só aumenta, as cidades grandes e pequenas se infestam de abandonados sociais, miseráveis, de zumbis na madrugada. Tô só olhando, nada surpreso, os movimentos que venho observando já apontavam há tempos nesta direção. 

Não entro na disputa induzida entre bolsonaristas e esquerdistas, entre mínions e petralhas, nessa troca de ódio e superficialidade fabricados pela psicologia do inconsciente em laboratórios de pensamento. E aplicados cuidadosamente nas classes sociais - pra maioria, os 80% sem acesso a uma educação que mereça o nome, a tevê aberta, com parte menor das redes sociais; pras classes médias a maior parte dessas redes internéticas, os canais a cabo e fechados, os veículos de mais uso. Criando mentalidades, visões de mundo, distorção e engano. Entendo cada opinião induzida, cada agressividade, cada insulto como programações sociais, sei a origem dessas opiniões e não "culpo" seus interlocutores, seu repetidores tanto de idéias quanto de comportamentos. Diante do quadro, exerço minha responsabilidade humana e não me deixo levar. Que briguem, mas não contem comigo. Eu tô ocupado fazendo coisas que me parecem mais úteis.



Constrangedor ver um cientista reconhecido, respeitado no mundo todo por sua capacidade, por sua história, por seus merecimentos próprios em décadas de existência e atuação no meio da ciência, dos cientistas, ser esculachado dessa forma por interesses empresariais, desumanos, destrutivos, anti-sociais que se escondem atrás de uma figura grotesca, bruta, perversa, inconsciente social completa, assumidamente criminosa, posta à frente dos poderes institucionais na intenção - pra mim, clara - de, no final das contas, colocar um país, que já estava de joelhos diante dos poderes econômico-financeiros mundiais, completamente de quatro.


Deixo aqui a resposta do diretor do INPE - instituto que apenas fez o que vem fazendo desde a década de 70, quando foi criado, com o respeito público de milhares de consultas do mundo inteiro, ou seja, divulgar a quem tiver interesse os dados coletados por satélites da superfície do planeta na parte que lhe compete - por ser um "instituto nacional" -, o território nacional conhecido por Brasil, do qual a Amazônia faz parte. Seu nome, Ricardo Magnus Osório Galvão, diretamente ofendido pelo pronunciamento presidencial. Diz ele:


"Os dados são acessados pelo Ibama na nossa página na internet. Estão abertos para todo mundo, todo mundo pode verificar. São publicados em revistas científicas internacionais. Temos mais de mil citações pelos nossos dados, qualquer um pode testar."

Ele comenta o desprezo oficial pela ciência e tecnologia, na minha opinião uma área estratégica onde este governo atual tem a função de embarreirar o desenvolvimento e destruir os mecanismos que o promovam. Assim como a indústria tem sido, a união latinoamericana e outras iniciativas, tudo o que signifique autonomia, soberania, dignidade, desenvolvimento de verdade deve ser sabotado, desfeito, desarticulado. É um claro processo de refortalecimento das relações coloniais, subalternas, que roubam o país e o povo, mantendo miséria, ignorância, criminalidade pra que se mantenha o parasitismo, o saque das riquezas e a manutenção da desumanidade social que está à nossa volta. E se propõem mentiras como "solução". Claro engodo.

O diretor do INPE, em nome da ciência brasileira, afirma:

"Este ano, em junho, o doutor Antonio Divino Moura, coordenador do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, ganhou o equivalente ao prêmio Nobel de meteorologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Não teve uma carta de congratulações nem do presidente nem do ministro de Ciência e Tecnologia. O presidente não tem noção da respeitabilidade que os dados do Inpe e que os pesquisadores do Inpe têm. É uma ofensa o que ele fez."

E comenta a reveladora manifestação do atual presidente da república:

"Ele tomou uma atitude pulsilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos. Eu sou um senhor de 71 anos, membro da Academia Brasileira de Ciências, não vou aceitar uma ofensa desse tipo. Ele que tenha coragem de, frente a frente, justificar o que ele está fazendo."

"Ao final da entrevista, fiquei mais chocado ainda, Bolsonaro teve a coragem de dizer que os ministros de Ciência anteriores não sabiam distinguir gravidez da lei da gravidade. Com isso ele atacou nomes de extremo prestígio na ciência nacional, como o ministro Renato Archer, o ministro José Israel Vargas, Sérgio Resende, talvez um dos cientistas mais destacados do País no mundo todo, e o Marco Antonio Raupp, que foi presidente da SBPC. Dizer que eles não sabem distinguir gravidez da lei da gravidade é um absurdo. É uma ofensa de botequim."

Não é preciso dizer muita coisa. A realidade taí. Não na teoria, mas na prática cotidiana, no aumento da miséria, da criminalidade, da pobreza, da violência de Estado e, evidentemente, da violência social como conseqüência. Não existem argumentos diante de fatos. Desenvolvimento que não tenha como objetivo o extermínio da miséria, da ignorância, da exclusão, não é desenvolvimento humano, não é desenvolvimento social. O desenvolvimento econômico de que tanto se fala, apresentado pela mídia e pela corja que exerce os poderes públicos, é destruidor, envenenador, escravista, explorador, sem responsabilidade humana ou ambiental. Um desastre pras populações, pro meio-ambiente, pra harmonia social e planetária. Um desenvolvimento que só interessa e serve a um punhado de parasitas sociais podres de ricos que dominam os Estados e impõem esse modelo de sociedade criminoso, violento e perverso - entranhado na mentalidade geral pela lavagem cerebral profunda e permanente imposta pela cultura da superficialidade, do consumo compulsivo, da competitividade, do egoísmo, através do massacre midiático-publicitário nas comunicações e do modelo de ensino empresarista e anti-social - que é preciso superar. Temos todo o tempo do mundo, embora o melhor seja o fazer agora.

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As falas foram retiradas desta entrevista:
https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/bolsonaro-tomou-atitude-pusilanime-e-covarde-diz-diretor-do-inpe/

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Eduardo Marinho Já Dizia

Som de Douglas Vargas, que também acrescentou nas palavras, adaptando ao seu modo de fazer e de dizer. Gracias parceiro, tá bom isso aí, útil na evolução da humanidade. Oportunidade criada, como é função da arte.

sábado, 6 de julho de 2019

Percepção da farsa - também dentro de cada um de nós

Nisso que dizem ser uma democracia, nada é o que parece, nada é o que diz ser. Não há democracia além da fachada, o que há é apenas um cenário formado por instituições ditas democráticas, cenário falso, institucional, e marionetes a rodo, sorridentes e mentirosas, encenando a farsa nefasta de uma democracia falsa, um sistema parasita, escravista, desumano, anti-social, que produz ignorância, desinformação, egoísmo, ânsia de consumo e alienação pra se manter, invisível, sem ser percebido, no escuro dos bastidores da institucionalidade cênica e macabra.

O sistema de ensino, educação e preparação de pessoas para serem adultas se divide entre a parte que forma a grande maioria, para ser explorada, de baixa qualificação e salários, para serviços pesados, sacrificados, de maior risco e desgaste; a que forma, nas classes médias, os organizadores, gerentes, supervisores, diretores, os qualificados encarregados de exercer a perversidade social, sem questionar as injustiças, em nome de seus direitos garantidos e, talvez, alguns privilégios; e a parte mínima, de elite, formadora dos mandatários, dos que vão exercer seu poder econômico, social, midiático sobre os chamados poderes públicos - as marionetes no palco das "políticas" partidárias, institucionais, entre poderes falsamente públicos, num Estado seqüestrado, dominado, infiltrado pelos poderes econômico-financeiros e pressionado pelo controle das comunicações, com a mídia empresarial como porta-voz dos interesses banqueiro-empresariais e enganadora-mor da população, sedutora, usando conhecimentos de psicologia do inconsciente, trabalhando criminosamente na distorção da realidade, na mentira, na criação de mentalidades ainda que momentâneas e desde que atendam interesses imediatos. Estamos vendo acontecer com o 'ministro da "justiça"', peça fundamental pra impedir a continuação do ciclo petista de administração estatal e iniciar a destruição da indústria nacional, vista como "ameaça aos seus interesses" pelos gringos que manobram nos bastidores dos poderes na América Latina e pelo mundo afora, onde conseguem. A "peça fundamental" se torna descartável. As riquezas estão dominadas, petróleo, mineração, agricultura, indústrias em marcha lenta, exportação de matérias primas, o país sendo posto em grilhões, de joelhos, subalternizado, o território sendo entregue aos colonizadores estrangeiros, o povo roubado em seus direitos pela cumplicidade das elites locais já psicologicamente construídas em subalternidade completa.

O sistema de saúde é dominado por laboratórios, indústrias da medicina, interesses econômicos que têm no lucro sua maior importância, o que faz a doença mais interessante que a saúde, porque a saúde não compra remédio nem busca tratamento, a doença sim e isso é que é lucrativo. Nessa lógica, não há surpresa na existência de tráfico de órgãos, máfias de todo tipo, próteses, tratamentos psiquiátricos, coisas de dar terror em quem não tem idéia do que acontece nos subterrâneos da sociedade.

O sistema de transporte, máfia de todo tipo, transporte de carga é mais eficiente que o de passageiros, em toda parte se encontram sintomas de que a sociedade não tem no seu centro de importância o ser humano, mas o patrimônio, o interesse econômico. A vida, o povo, o ambiente, estão em plano secundário e isso se vê na própria formação das pessoas que constituem a coletividade, em sua visão de mundo, seus desejos e objetivos de vida, desumanizados na educação empresarista que faz do mundo uma arena competitiva onde é cada um por si. A busca da harmonia coletiva, o atendimento de toda necessidade básica da população e de cada um, o equilíbrio e a justiça social como objetivos comuns da sociedade como um todo não se vê em nenhuma escola.

Mineração, agricultura, pecuária, em todas as áreas prevalecem máfias, como o é o próprio modelo social, a própria estrutura da sociedade. Essencialmente empresarista e desumana, anti-social em função do lucro extremo a custo mínimo. Um custo em desrespeito e sofrimento para a maioria.

Nas formações acadêmicas programa-se mesmo as mentalidades revolucionárias, de forma a não oferecerem riscos à estrutura social como ela é. A a gente vê o resultado, na arrogância, na distância, na incapacidade de entender e participar do processo na humildade, com muito mais produtividade, em capacidade revolucionária, em mutações verdadeiras. É preciso perceber com profundidade as próprias grades e correntes, porque é nelas que começa o trabalho coletivo. A partir do trampo interno, íntimo, individual, em cada componente da coletividade humana, se faz o verdadeiro trabalho coletivo, sem pretensão e com espírito de serviço. É preciso estar pronto a largar tudo o que acreditávamos no momento em que percebemos dentro de nós mesmos que estávamos errados. Um apego aí e permanecemos atados ao passado e, por consequência, impedidos de seguir livremente em frente.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.