quinta-feira, 27 de outubro de 2022

As "instituições democráticas" estão ameaçadas. Democracia ainda não houve.

 Não estamos tentando salvar "a democracia", mas sim as "instituições democráticas" - o que é muito diferente. A democracia ainda precisa ser construída. No conhecimento, na instrução, na informação verdadeira que são direito da população, sistematicamente negado. (Assim como alimentação e moradia decente, com saneamento, energia e segurança.) As instituições estão não só ameaçadas, mas desmoralizadas, a meu ver. Mais que nunca, porque desde o início dos anos 80 eu desacreditei no aparato estatal, em todas as suas áreas. Percebi as determinações dos poderes econômicos de um punhado de podres de ricos, inclusive no meu pensamento, na minha visão de mundo, nos meus desejos, objetivos e até nos sentimentos. E sacudi tudo fora. Agora olho, espantado e calmo, a reação violenta a um esboço de inclusão social, ao atendimento mínimo de alguns direitos de parte da população roubada em seus direitos constitucionais e excluída dos benefícios do desenvolvimento e da tecnologia. A sabotagem e cooptação da educação pelo "mercado", o controle das informações, a criação deliberada de ignorância, desinformação, superficialidade mental e agressividade competitiva criou o campo pro estímulo ao ódio, ao confronto, ao conflito que estamos vendo em toda parte. A ameaça é séria, assustadora, não só às "instituições democráticas" mas também, e principalmente, na situação social, às condições de vida, em todo o território nacional, da maioria da população - leia-se fome, desabrigo, violência e criminalidade miúda. E, pelo outro lado, da repressão estatal, do aumento da população carcerária, da destruição de vocações e de vidas, alimentando as "empresas" do crime organizado, municipais, estaduais, regionais, nacionais e internacionais.

domingo, 2 de outubro de 2022

Eleições de 22 - ponto de passagem, não de chegada.

 Não estou impregnado desse clima de festa, dessa "alegria da vitória", não me sinto "feliz de novo", não participo de comemorações, nem vejo a luz no fim do túnel. Só estou vendo as trevas espessas que cobriram o aparato estatal se dispersando, pouco a pouco. As revelações foram feitas, a maldade escondida tomou coragem de se mostrar, a perversidade se assumiu perversa, covarde, indiferente a injustiças e sofrimentos alheios. Os cargos públicos nunca se mostraram tão claramente vendidos, movidos a montanhas de dinheiro público, em plena pandemia, em pleno processo de empobrecimento e desemprego, em meio à fome e o desabrigo crescentes. É preciso dar proveito a essas revelações.

O que espero é o restabelecimento das instituições, pra recomeçar a tentar colocá-las no verdadeiro serviço público, no cumprimento da Constituição, no atendimento pleno de todos os direitos da população. Em todo esse período desde 2016, o que se viu foi o desmonte de várias estruturas industriais, de um sem número de programas que atendiam, ainda que mal e pouco, direitos básicos, humanos e constitucionais da maioria historicamente roubada nesses direitos. As instituições foram ocupadas pela bandidagem e foram invertidos os seus procedimentos. Protestar ou denunciar ficou mais perigoso do que sempre foi. A impunidade foi instalada, o incentivo aos crimes, maior que nunca.
Volta à cena o velho teatro de marionetes. Agora mais visíveis as forças econômicas tenebrosas que ainda dominam as câmaras - de vereadores, deputados tanto estaduais quanto federais e senadores -, os governos municipais, estaduais e federal, o judiciário por vias tortas e as comunicações, dominando todas as mídias e capturando a audiência da massa da população, em todas as suas formas. É preciso levar em conta que política não é só partidária. Política é muito mais que isso. Vem de polis, vários, muitos, e trata da existência coletiva buscando harmonia social. Tratar de entender como funciona a estrutura social, como funciona uma prefeitura e suas secretarias, o país e seus ministérios, como são compostos os orçamentos, de onde vêm e como são aplicados, em que setores e por quê, isso é tratar de política. E deveria ser ensinado nas escolas, desde os primeiros anos, adaptados, claro, ao linguajar e à realidade de cada fase do desenvolvimento.

É preciso criar espaços de encontros coletivos, pra falar sobre as necessidades do coletivo, pra resolver problemas e apresentar aos "poderes públicos" o que precisa ser resolvido, ainda que no passo a passo. Conhecer as formas de pressionar o atendimento dos direitos, contar com uma imprensa honesta, que não venda sua consciência - as empresariais priorizam interesses econômicos, não a verdade. É preciso também abrir espaço pras comunicações, geral, desde as comunidades periféricas às escolas, associações, sindicatos, universidades, enfim, detonar o domínio empresarial sobre o espaço das comunicações no país.
 
O controle dos territórios, as decisões finais sobre o que acontece neles devem ser dos que vivem nesses territórios. A sabedoria periférica, de sobrevivência e superação dos que formam o alicerce da sociedade, deve se impor em condições de igualdade aos saberes restritos a poucos e, em  sua maioria induzidos a um sentimento de superioridade ilusório e intencionado na criação de barreiras e afastamento entre o saber e a sabedoria. 

Este é o grande temor da classe dominante, que o saber e a sabedoria se unam na busca de uma sociedade menos injusta, mais igualitária, menos perversa e mais solidária. Pra manter as coisas como são, é preciso ignorância e desinformação, consumismo e alienação, competições e disputas, miséria e exploração. É preciso espalhar o saber, sem restrições e com humildade. E a humildade, por sua vez, é o melhor veículo pra aquisição de sabedoria. 
A necessidade da aproximação requer, do saber, respeito, humildade e disposição de aprender. E da sabedoria, consciência das próprias capacidades, auto-estima e respeito próprio. 

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.