quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Verdades escandalosas

O ministro da saúde escandalizou vários setores ao dizer que "é preferível morrer a perder a liberdade". No caso, "perder a liberdade" seria ter exigido um cartão de vacinação pra entrar em lugares fechados e cheios de gente. Uma distorção realmente escandalosa, mas que não surpreende nem um pouco. Um ministro aí de educação afirmou diante das câmeras, em público, que a educação superior "não é pra qualquer um", que é só pra elites, mesmo. Os ministros da saúde, que foram trocados vários durante a pandemia que só matar, matou mais de seiscentas mil pessoas. Sequelou outras tantas e deixou centenas de milhares de órfãos que dependiam de seus pais.

O que está sendo dito por essas "autoridades" só espanta por que não é coisa que se diga, apesar de ser a realidade. Todos esses absurdos são ditos pela realidade, pela sociedade, vejo isso há mais de quarenta anos. Não pela boca de ministros, mas sim pela prática cotidiana, no dia a dia do trato entre a população e os serviços públicos - saúde, educação, transporte, saúde, saneamento, moradia, segurança... (todas essas palavras mereciam aspas, porque na realidade não merecem os nomes, por sabotagem institucional de todas). O que no microfone e diante das câmeras causa indignação, me é dito no cotidiano, no dia a dia, esfregado na minha cara pela própria sociedade.

O que a realidade fala pra mim, desde que me entendo por gente, é isso mesmo que esses caras tão falando. Não são apenas bizarrices, absurdos, lamentáveis, inaceitáveis. São revelações, são demonstrações de que os cargos públicos, por mais de mando que sejam, não são os poderes verdadeiros, mas sim dominados por poderes econômico-financeiros, por gente podre de rica, que controla os poderes públicos e os holofotes das mídias - e por isso nunca ou quase nunca aparecem. E o que essas marionetes bizarras dizem é o que seus patrões, seus superiores, essa classezinha podre de rica, entre banqueiros, mega-empresários, financistas e similares pensam. É o que querem, o que impõem às populações e aos territórios, sempre em nome de seus interesses, controle, domínio, saque, exploração e escravidão. Pra isso é necessária tanta ignorância, tanta desinformação, tanto estímulo a egos, a vaidades, a disputas e conflitos.
Este estado de coisas, pouco a pouco, dá sinais e acende luzes sobre as correntes subterrâneas do controle sobre os poderes ditos "públicos", em todos os setores do aparato administrativo, legislativo, judiciário, com os poderes dos meios de comunicação, com a mídia dominante e o "jornalismo" comprado e vendido no mercado das consciências. Cada vez mais claro.
Esse enxergar é como um rastilho de pólvora, se alastrando, pouco a pouco, geração a geração. Num ritmo que vem se acelerando a olhos vistos e com a participação de eventos planetários no processo, produzindo situações que obrigarão à solidariedade como um fator de sobrevivência. Nas periferias já é assim há muito tempo, as dificuldades impõem a solidariedade, no dia a dia, como ferramenta de sobrevivência coletiva. Estão chegando tempos em que será preciso a nível planetário.
Porque a harmonia planetária se impõe e sinto que será alcançada. Se não por escolha coletiva da humanidade, será pelos sacodes catastróficos que se anunciam há muito tempo, anúncios vários, mas pouco vistos, escondidos pela mídia em nome, sempre, dos poderes econômicos. As mudanças climáticas, as secas, as inundações - sem falar no nível do mar, dos vulcões explodindo em todo o planeta, terremotos, mudança no eixo da terra, derretimento das calotas polares -, é cada vez mais difícil deixar de ver. Quem ainda não vê, porque não quer ou porque não consegue, pouco a pouco verá, embora alguns possam morrer negando. O período de aparente desarmonia, de tragédias, migrações e sofrimentos variados é parte da fermentação, da pressão nas mudanças necessárias em todos os campos, em todas as áreas. Em todo o planeta.

Agoniza um modelo social. Em sua morte vai estar formado o embrião de um outro modelo que nascerá, pouco a pouco, a seu tempo. Com as coletividades lapidadas em dificuldades e superação, solidárias, fraternas, generosas, com mais espírito de família irrestrita. Mas isso é pra gerações mais à frente, o privilégio e a necessidade agora é trabalhar neste sentido, como tantos ao longo de toda a história da humanidade.
Está próximo, vejo as primeiras luzes do amanhecer, depois de uma noite fria, tempestuosa. A percepção de que o dia vai amanhecer me dá a certeza da manhã. Se não vou estar mais ao amanhecer, verei cada momento clarear, pouco a pouco, e a certeza de que o sol está chegando me conforta. Quero ser só um bom passo no caminhar permanente da humanidade em direção ao sol.
As autoridades de agora serão esquecidas, talvez lembradas apenas nos livros escolares de história, com espanto, horror e repulsa. Pra se ter como lição, no aprendizado da sabedoria coletiva, dos saberes históricos sobre a formação das coletividades. Serão um pé de página, diante de figuras históricas de muito mais luz, hoje escondidas, mas que então já serão reconhecidas - não como ídolos, mas como referências, sem nunca abrir mão do senso crítico. Sem confundir, como é frequente, senso crítico com julgamento. Nem com chatice, com encheção de saco inútil.

Chove na montanha, não pude descer pro terreno. Há um alicerce pra terminar, há um barraco a construir. Mas estava chovendo, fiquei vendo coisas no computador, acabei escrevendo esse texto. Agora parou de chover. Já posso dar continuação lá.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Eleições, a farsa

 Aberta a temporada da farsa eleitoral. Dançam as marionetes, jogam os poderes subterrâneos, parasitas podres de ricos movem suas peças no tabuleiro. Os holofotes das mídias empresariais armam suas mentiras e distorções, contando tranquilas com a ignorância, a desinformação, a superficialidade mental implantadas minuciosamente sobre a sociedade como um todo. O bradesco demitiu, só esse ano, nove mil funcionários, sob o silêncio do jornalismo vendido. Os banqueiros se compõem, entre patrões estrangeiros e cúmplices nacionais, contra o povo, como sempre. Os candidatos se compõem com as mentiras sociais, caladinhos quanto aos verdadeiros poderes, econômico-financeiros. Ninguém menciona os mega-corruptores, mas são todos "contra a corrupção". A miséria, a exclusão, o desabrigo, a fome, a sabotagem da educação e da informação continuam provando a falcatrua institucional, os crimes da administração pública contra seu próprio povo, dominada pelo punhado de parasitas sociais, descendentes dos grandes senhores de escravos, brancos, colonizados, que admiram os colonizadores, os saqueadores estrangeiros, se sentem como eles, europeus e estadunidenses. E que desprezam o povo brasileiro e o desenvolvimento verdadeiro da sociedade, entregando de bandeja as riquezas do território ao saque mega-empresarial, ao envenenamento das terras, das águas e dos ares pelos agrotóxicos, pelos metais pesados da mineração, pela criação intensiva de gados.

Triste situação em que o povo tem que escolher entre capatazes, a serviço de patrões ocultos, senhores feudais da "fazenda Brasil". Entre eles, aquele que conhece a miséria, a exclusão, a sabotagem social é o único que ainda mantém a solidariedade com o povo, porque sabe o que é fome, sabe o que é viver aglomerado e sem direitos, porque passou pelo sofrimento da maioria. Quem passa pela miséria pode até sair dela, mas nunca vai esquecer. É o capataz bonachão, que não gosta de torturar, que aproveita os pequenos espaços de atuação livre de controle pra atender minimamente às necessidades extremas da população. Não há opção. Nenhum outro candidato a capataz tem essa sensibilidade. A esperança é a de que, passados quase dois anos na reclusão de uma cela, ele tenha percebido mais profundamente o que acontece na geopolítica mundial e no controle econômico-financeiro das políticas locais. Que tenha percebido a necessidade de informar a população sobre a realidade por trás dos holofotes, a necessidade de instruir de verdade, com outro modelo de educação, humanista e não empresarista. Que tenha percebido a necessidade de retirar o controle das comunicações das mega-empresas traidoras da população, distorcedoras da realidade, criadoras de alienação e superficialidade mental, de valores falsos, indutoras de vaidades e egoísmos, ferramentas nefastas na criação de condições pra golpes de Estado, como temos visto de sobra ao longo da história recente - assista-se ao documentário "O dia que durou 21 anos", baseado em fatos reais e documentos brasileiros, mas sobretudos, estadunidenses, publicados em 2004 de acordo com a lei deles lá, de publicar todos os documentos secretos depois de quarenta anos de segredo (para os distraídos, de 1964 a 2004 se completaram 40 anos do golpe "militar").
A farsa eleitoral está sendo encenada. O capataz camarada não é desejado pelos "donos da fazenda" e todo o aparato midiático, publicitário e ideológico está armado pra impedir sua "eleição", porque ele é muito escorregadio e difícil de controlar por completo. Ele é experiente e sabe cumprir suas funções de servir aos patrões, mas aproveita todas as brechas pra investir em direitos básicos pra maioria da população - o que é um risco pro controle social pelo menos a médio e longo prazo, por criar, pouco a pouco, condições de percepção da realidade, através das gerações.
A única opção apresentada é a do "pelo menos". A turma dele e a que o apóia continua arrogante e distante, sem respeito verdadeiro pela população, programados pelo próprio sistema social a olhar com superioridade pros sabotados sociais, sem perceber a enorme força da sabedoria, a superior capacidade de superação de dificuldades, a solidariedade incorporada como ferramenta de sobrevivência coletiva, mantendo as ilusões de comandar o povo, de "organizar os trabalhadores", de "conduzir as massas" e outras balelas teóricas, acadêmicas, exercendo sem perceber os condicionamentos sociais induzidos nas escolas de "nível superior".
Mas vamo que vamo, é um passo depois do outro e a caminhada não tem fim.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Transcomunicação - já ouviu falar?

Transcomunicação é a comunicação entre dimensões diferentes. Nesse caso se trata de comunicação com a espiritualidade além da matéria densa como a conhecemos. Entre "vivos" e "mortos" - entre aspas porque, afinal, permanecemos todos vivos em dimensões de freqüências diferentes. Dei uma olhada no saite da Rede TCI Brasil e trouxe esse texto deles lá, sem autoria declarada.


"A palavra Transcomunicação é a combinação contraída dos vocábulos Transcendental + Comunicação.

A expressão foi concebida na Alemanha, nos anos 80, pelo físico, engenheiro e prof. Dr. Ernst Senkowski. Transcomunicação é um neologismo, que ainda não é encontrado em nenhum dicionário, muito embora já exista o termo Trans, através, para além, além de. Seria difícil encontrar uma outra denominação que melhor definisse essas comunicações transcendentais.

Usa-se, entretanto, esta terminologia de origem europeia, também para designar todo e qualquer tipo de comunicação entre mentes encarnadas e consciências sem corpos do plano extrafísico. Vale dizer que as comunicações mediúnicas obtidas através dos médiuns e conhecidas como psicofonia, psicografia, materializações, os fenômenos de voz direta ou de efeitos físicos, etc., constituem um importante grupo de transcomunicação. Mais precisamente: Transcomunicação Mediúnica.

Mas, por que introduzir essa “complicação”, se os velhos e consagrados vocábulos – médium, mediunidade, comunicação mediúnica, etc. – já funcionam tão bem? A razão dessa aparente sofisticação está na necessidade de se criar uma nomenclatura adequada ao desenvolvimento tecnológico da comunicação com os Espíritos.

É que, de uns tempos pra cá, vêm sendo obtidas comunicações tecnológicas diretamente por meio de aparelhos físicos, eletrônicos, sem a intermediação humana, a não ser em alguns casos, para melhor viabilizar a comunicação. A essa categoria de comunicações dá-se a denominação de Transcomunicação Instrumental, com o objetivo de evitar ampliação semântica de difícil entendimento. A nova nomenclatura resulta, portanto, em ordem e simplificação, dando maior precisão e entendimento aos vocábulos.

Neste portal, estamos nos detendo especificamente na Transcomunicação Instrumental, uma vez que sobre as outras formas já existe farta informação a respeito."


Tá chegando o tempo da ciência "descobrir" a espiritualidade, comprovando cientificamente, através de aparelhos e comunicações diretas. Esses aparelhos fariam contatos bem mais claros do que os mediúnicos. E com o seu inevitável desenvolvimento tecnológico poderíamos conversar com nossos ancestrais que já passaram pelo portal da morte. Imagino que seria preciso marcar hora, há muito o que fazer sempre, né, tanto aqui quando lá, imagino eu. Pelo que li em psicografias, trabalho não falta na espiritualidade - ainda bem, desde criança a idéia de ficar em eterna beatitude, sem fazer nada além de entoar cânticos ouvindo harpa e olhando pra sempre a face de Deus me pareceu estranha, meio apavorante. Por mais divina que seja a face, eternamente não dá. Pensava, mas não dizia, por medo de ser chamado de herege.

Sempre senti a espiritualidade e não me surpreende o desenvolvimento desses aparelhos. Diante da descrença eu silencio, mas na vida tive uma quantidade incontável de "inexplicáveis", "acasos" e "coincidências" inacreditáveis, sem falar nos "casuais" convites pra ir a sessões mediúnicas, de raro em raro, mas que davam em toques, esclarecimentos, recomendações, avisos sempre valiosos. Sei que taí, apenas não tento entender muito, aceito e aprendo a tratar, a partir da relação comigo mesmo. Sei que tô de passagem, tenho muito a aprender e funções a cumprir no meio da família planetária, ainda que só à minha volta e dentro do meu pequeno alcance.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O sistema se descara

A demonstração do banqueiro - que manda nas autoridades públicas, dá "aulas" sobre a "independência" do banco central ("independência" do governo, controle criminoso dos banqueiros sobre as políticas públicas) - precisa ser melhor avaliada. Se levamos em consideração esse controle, ele se estende por toda a sociedade e por todas as políticas públicas - já sabemos o que acontece com governos que escapam, por pouco que seja, a esse controle. Que alcança o modelo de educação - competitiva e voltada ao mercado de trabalho -, domina as comunicações - criando valores, comportamentos, usando psicologia do inconsciente e de massas, antropologia, sociologia, pra induzir mentalidades e "opiniões públicas" deformadas, superficialidade, alienação e entretenimentos, distorcendo a realidade sempre a favor de interesses econômicos, a partir dos banqueiros até os grandes empresários e demais podres de ricos. Que transforma arte e cultura em produtos de consumo, em alienação e entretenimento.
A partir desse controle se entende a superficialidade mental, a ignorância - mesmo "instruída" -, o ódio estimulado, o controle mental, as injustiças sociais, a miséria, a fome, o desabrigo, o abandono, de um lado, e a exploração extrema, a escravização, a vida corrida, sofrida e sem sentido de verdade, do outro lado, pra maioria esmagadora da população. É preciso um trabalho interno, profundo, feito com sinceridade e profundidade, no questionamento dos próprios valores, da própria visão de mundo, dos próprios objetivos de vida, dos próprios desejos. A sociedade nos impõe padrões desumanos de existência, impõe a cegueira sobre as raízes da realidade, a indiferença diante das injustiças expostas, impõe a responsabilidade da miséria aos próprios miseráveis. Culpar as vítimas é uma velhíssima estratégia pra justificar a perversidade social.
A compreensão do domínio banqueiro-mega-empresarial explica as mazelas sociais, a desumanidade, a destrutividade, a violência do Estado, a criminalidade e as mentiras necessárias à manutenção dessa estrutura de sociedade onde o poder público está dominado, influenciado, pressionado, controlado pelos poderes econômicos de um punhado podres de ricos, parasitas do patrimônio público e das riquezas da nação, na exploração e no prejuízo das populações.
É preciso reconhecer que, por mais "progressista" que se considere, ninguém está imune ao profundo e permanente trabalho de enquadramento mental, às induções e condicionamentos aplicados profundamente a cada área da coletividade social. Ou se faz o trabalho íntimo, interno, no inconsciente, ou se reproduz condicionamentos, inconscientemente, inclusive a programação da insatisfação com as injustiças de forma a tornar os movimentos que se pretendem revolucionários inofensivos, incapazes de sequer ameaçar a estrutura social. A arrogância e a subalternidade, os sentimentos de superioridade e inferioridade são programações sociais, insidiosas, subliminares, que impedem ou, no mínimo, dificultam a verdadeira solidariedade. Esta sim, a solidariedade plena, é a base de uma revolução social profunda e integral. E de uma sociedade em harmonia, sem fome, desabrigo, miséria, abandono, ignorância e desinformação.

domingo, 24 de outubro de 2021

Morte, espiritualidade, transição (ou não)

 

Qual é o problema com a palavra morrer? Por quê se diz "perder a vida"? A gente perde é carteira, chave, documento, coisas. Dá pra ajudar alguém que perdeu a vida a procurar em algum lugar que ela tenha esquecido? Quando se morre não se perde a vida, se muda de dimensão. A idéia que a morte é uma tragédia, uma desgraça tá equivocada. Morte é conseqüência de nascer. Tudo que nasce, morre. Porta de entrada, porta de saída, a vida é o caminho entre uma e outra. Simples assim. Não se "perde" ninguém, a não ser de vista. "Perdi meu pai", "perdi minha mãe", a gente escuta por aí. Eles não tavam aqui quando tu chegou? Vivendo há tempos, antes de tu nascer? Estarão lá, quando chegar a hora de tu morrer. Porque todo mundo morre.

Em vários momentos da minha vida pensei que tinha chegado minha hora. “Então vai ser agora” ou “então é desse jeito”, passava rápido na minha cabeça. Uma interferência inesperada, um acontecimento, uma arma que masca e não atira, um poste no caminho do carro desgovernado, um “acaso”, um “aviso”, uma “coincidência”, um “inexplicável” surgia na hora agá e livrava a situação. E, como se vê, minha hora não chegou. Ainda.

Chegará, sem dúvida, e seria bom se houvesse desejo de boa viagem, em vez de lamentos, comemoração por uma vida bem vivida, um pequeno passo bem dado no caminhar infinito da humanidade. Nada de lamúrias e lamentações, que se contem histórias, que se relatem vivências, que se reflita, que se emanem bons sentimentos, bons desejos. Que se agradeça pela vivência. Uma festa de despedida, não um velório.

Que os frutos espalhados por aí sejam cuidados, sem a ilusão da permanência, mas que durem o máximo possível. Em couro, em madeira, em metal, em telas, em papel, em camisas, em ímãs, em livros, livrinhos feitos à mão, fanzines, por último em vídeos, esses não por grana, pelo menos ainda. Se encontrar uma forma que não me ofenda a consciência, sem dúvida faço uso. Mas não penso muito nisso, continuo produzindo e vendendo meus desenhos e tudo o mais, agora vendendo mais que antes.

No pequeno período universitário – menos de um ano – eu comecei a ser ateu, não convicto, mas negando toda a religiosidade que me cercava. Não durou muito – pouco mais do que o tempinho acadêmico –, fui me sentindo meio ridículo nas andanças periféricas e nas ruas das cidades, tanto diante de evidências espirituais quanto por me ver fazendo a mesma coisa que as religiões – afirmando o que não sabia. Então pude vivenciar espiritualidades diversas, desde doutrinas rígidas hierarquizadas até a mediunidade frilance, paga, retribuída ou não, de graça. Perceber um intercâmbio variadíssimo entre as dimensões, não duas – a visível e a invisível – mas muitas, além da material em que estamos, e todas materiais em sua freqüência, imateriais entre si. O que Einstein chamou de pluriverso.

Assim passei a ver espiritualidade em tudo, em qualquer lugar, em todo mundo, nos bichos, nas plantas, nas pedras. Não com a razão, mas com a intuição, o sentimento. Sentia mais que sabia – consciente já de que estava aprendendo o tempo todo, de acordo com meu próprio interesse, disposição, atenção e humildade. Aprendia só o que era capaz e sabia ser muito pouco pra sair tirando conclusões além da minha capacidade de compreensão. E sentia espiritualidade em tudo, mesmo sem entender.

A gente aprende de acordo com as próprias condições e não adianta querer explicar o ainda inexplicável, compreender o ainda incompreensível e alcançar verdades ainda inalcançáveis. Mais útil seria se aplicar no desenvolvimento do agora, aprender o que podemos aprender e aplicar o que já sabemos, porque é o que precisamos pra seguir adiante no processo. À medida em que aprendemos, aumentamos a capacidade de compreensão, de transformação e assimilação de novos conhecimentos, novos valores, novos comportamentos e novas relações.

Trato com a espiritualidade sem racionalizar muito. Sigo o que sinto e me sinto melhor assim. Sob a vigilância de uma consciência atenta, de quem nada está escondido, embora ela mesma possa esconder muita coisa nas profundezas do inconsciente. Não tenho pressa. Quando passar pelo portal, aí sim vou ter que tratar diretamente com outras dimensões. Por enquanto me relaciono com elas através dos sentimentos, dos pensamentos, dos desejos, do caráter, das ações e relações no dia a dia. Acho que todo mundo, a maioria inconscientemente, cada um à sua maneira, se relaciona com a espiritualidade.

Há previsões – mediúnicas e científicas – de que, afinal, a ciência vai comprovar a existência da realidade entre dimensões. A física quântica me parece um grande passo nessa direção. Assim como a existência de civilizações pelo universo todo, as mais variadas. Dizem que vamos desenvolver aparelhos pra conversar com parentes que tínhamos por “mortos”, perdidos pra sempre. Que haverá intercâmbio com outras orbes planetárias, na verdade sempre houve, mas agora de forma direta e consciente. O desenvolvimento é permanente. A “ciência oficial”, que sempre se pôs como dona das verdades, ao longo da história foi obrigada a voltar atrás e reconhecer erros inúmeras vezes. Mas não aprendeu ainda e continua arrogante.

Período de transição planetária. O mundo se modifica, terremotos, tempestades, vulcões, tufões, maremotos, gelos polares derretendo, nível do mar subindo, temperaturas variando como nunca, desertificações, migrações em massa, virão  mudanças geo-políticas, sociais, comportamentais. As mutações no mundo obrigarão a mudanças radicais nas relações sociais e com a natureza, a solidariedade será uma necessidade de sobrevivência, a humildade será uma ferramenta de aprendizado. Agoniza um modelo social, outro surgirá das ruínas. Um trabalho intenso e conjunto com níveis de espiritualidade além da nossa precária concepção.

Posso estar errado em tudo isso? Posso, claro. É possível que a gente morra e puf, tudo acabe, vira nada? É sim, admito. Mas não acredito. Não é o que sinto – e sei que não é nenhuma necessidade de permanência ou pavor de desaparecer. Se fosse assim mesmo, não me importaria muito. Nada mudaria, continuaria a viver como vivo, porque é assim que gosto. Só não posso acreditar nesse nada, vi coisas demais além da minha capacidade de compreensão, vi manifestações precisas, recebi recados e avisos cruciais, ouvi coisas impressionantes, passei por “acasos” e “coincidências” impossíveis. Respeito todas as opiniões, mantendo a minha. Ela não se baseia só na razão mas, sobretudo, no sentimento e na intuição.

Pra encerrar uma discussão com um amigo ateu – não entendo essa necessidade de por idéias pra brigar, não tenho nenhuma necessidade de “defender” o meu ponto de vista. Posso explicar, esclarecer como vejo, como penso, como sinto, sem afirmar ser “o certo”, o que supõe estarem “errados” todos que não concordem – voltando, pra encerrar a conversa, disse a ele que tinha uma vantagem sobre ele. Se eu tivesse razão, poderia falar com ele “taí, mané, não te disse?” Já se a razão estivesse com ele, não poderia dizer nada. Brincando, discussão encerrada. Nessa área, disputar quem tá certo ou errado é pura perda de tempo. O certo e errado vai se mostrar é no comportamento, na atitude, nas práticas e relações cotidianas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Combustível, privatização e jornalismo

Jornalistas especializados dizem que o preço da gasolina é menos o imposto estadual apontado como responsável e mais “as políticas de preços da Petrobrás”. Superficialíssimas análises. Embora seja verdade que os impostos estaduais não têm nada a ver com as altas de preços, pelo simples fato de que são os mesmos há décadas, a expressão “política de preços” esconde a raiz do problema.

A Petrobrás sempre incomodou os poderes externos, as mega-petroleiras internacionais, desde a sua criação (até antes, quando era só uma idéia) mas, sobretudo, nesses tempos de pré-sal e fartura de petróleo em território nacional – que a mídia empresarial tratou de omitir, esconder e, na impossibilidade, diminuir e desqualificar. Coincidentemente, foi quando se reativou a quarta frota dos Estados Unidos, e navios de guerra começaram a ser vistos das plataformas de petróleo próximas a Santos. Depois do golpe de 2016, o presidente da Petrobrás foi trocado por um sujeito que nunca foi petroleiro, com a função de retalhar a estatal*. Durante o governo Temer, a maior parte das refinarias – que produziam todo o combustível necessário ao funcionamento do país – foi vendida ou paralisada, toda a tubulação que trazia gás da Bolívia foi vendida, num processo de amputação que ainda continua. A última foi a distribuidora de combustíveis BR, com toda a sua infra-estrutura de transporte e serviço nos postos. Deixando de produzir o necessário ao funcionamento do país, o que era feito pela Petrobrás, foi preciso importar esses derivados a preços internacionais. Agora os combustíveis baseiam seu preço no dólar e é isso que provoca as altas seguidas, afetando o preço de praticamente tudo. A presidência e a política atuais da Petrobrás têm a missão de destruir a força descomunal da empresa. Ordens de fora.

Por quê será que o “jornalismo” aponta como causa dos aumentos as “políticas de preços da Petrobrás”? Uma expressão vaga, que não explica nada, não vai às causas e evita o entendimento, bem de acordo com os interesses corporativos e mais um crime contra a informação, na “política” de manter a desinformação geral. Assim fica fácil, pros ideólogos sociais de consciência vendida, convencer a população dos “benefícios da privatização”. Todas as privatizações que pude observar, e não foram poucas, causaram desemprego, chamado de “enxugamento”, aumento nas tarifas,  alegados “ajustes” e “correções”, e piora nos serviços, pela terceirização – que é entregar os serviços antes feitos por funcionários de carreira a pessoas sem preparo, de baixos salários, extremamente exploradas, pressionadas com crueldade e ameaçadas de demissão o tempo todo. As promessas antes de cada privatização se diluem com rapidez e a omissão criminosa do “jornalismo” corporativo esconde as conseqüências nefastas pra população. Tragédias e sacrifícios decorrentes jamais são ligados às suas verdadeiras causas. Os “benefícios da privatização” são benefícios só pros mega-empresários e seus acionistas podres de ricos, que não dependem do serviço que eles próprios “oferecem” ao povo.

*Creio que é dessa época o tal projeto de emenda constitucional (PEC) que mudou o artigo determinando que o presidente de uma estatal teria obrigatoriamente que ser um funcionário de carreira da mesma estatal, apenas acrescentando uma vírgula e incluindo a frase “a não ser por determinação do presidente da república”. E o presidente da república traíra da ocasião , fruto do golpe que ele ajudou a planejar e executar – somando com a mídia corporativa, os poderes econômicos estrangeiros e as elites internas e cúmplices, colocou a presidência da Petrobrás nas mãos de quem as petroleiras e banqueiros internacionais determinaram. A partir daí, um após o outro, nenhum presidente da Petrobrás foi funcionário da empresa. Mas a missão é a mesma, reduzir a Petrobrás a um escritório administrativo, amputar e esquartejar ao máximo suas partes lucrativas, “vendendo” pra empresas várias, nacionais e, sobretudo, estrangeiras. A imprensa corporativa, o jornalismo de consciência vendida, esconde, papagaiando razões falsas, sem relação com as raízes verdadeiras do problema.

“O mundo tem condições de produzir tudo o que é necessário às necessidades de todos, mas não o suficiente pra atender às ambições de alguns poucos”.      Mahatma Gandhi

Tempos de pré-eleição e evolução planetária

 Os donos do dinheiro se preparam, grandes bancos, mega-empresas afiam seu monitoramento, é preciso se manter no controle, manter ou, de preferência, aumentar o seu poder de pressão sobre os poderes ditos “públicos”.

O judiciário, com seus salários enormes e poder social incontestável, já está devidamente afastado da população em geral e sua realidade, artificial e irresistivelmente inflados em seus sentimentos de superioridade. “A justiça é como a serpente, ataca de preferência os descalços”, como disse Galeano. Assim os interesses econômico-financeiros, tradicionalmente anti-sociais, garantem a conivência e a proteção da "justiça", a impunidade na prática cotidiana de crimes contra a população, principalmente a mais pobre.

Agora é a vez do executivo, "eleição" do governo central, a cabeça da hierarquia estatal nas decisões da "cúpula" do Estado. Os lobistas, correias de transmissão dos poderes econômicos, circulam nos corredores estatais, reforçam seus apoios institucionais, carregando as forças das mídias empresariais sempre em defesa dos interesses desses poucos podres de ricos, sempre em prejuízo da população em geral e dos direitos de imensa parcela, sempre sabotada, enganada, explorada, iludida, alienada das decisões que afetam sua vida.

Mal sabe a população que é no seu comportamento condicionado, nos seus valores induzidos, nos seus desejos e objetivos programados, impostos pela educação empresarista, pelo massacre publicitário-marqueteiro – entre a sedução e a ameaça – e pelo falso jornalismo dos interesses econômicos – consciências profissionais vendidas por altos salários e privilégios sociais – que se baseiam os pilares desse modelo social injusto, perverso, covarde e destrutivo.

A sociedade é como é porque nós consentimos, sem perceber, exercendo a vida como é induzido, assimilando os falsos valores do excesso, do consumo desenfreado, na atenção e na intenção postas na matéria, na propriedade, na riqueza como objetivo de vida, como se a vida não acabasse. Pra isso a morte é concebida como uma tragédia, uma desgraça que “não vai acontecer” (a não ser num futuro remoto que, sideusquiser, nunca vai chegar), e não uma simples conseqüência de ter nascido, um acontecimento natural pra onde tudo o que vive se encaminha, seja fungo, planta, bicho ou gente. Da porta de entrada até a porta de saída, a vida é uma passagem. Minha razão, por algum tempo, negou a existência antes do nascimento e depois da morte. Mas o meu sentimento se impôs, diante de acontecimentos e percepções – nascimento de filhos, observação do desenvolvimento de crianças, assuntando a velhice avançada e a visão da vida das pessoas mais velhas que encontrei, em contatos com “entidades incorporadas” no candomblé, na umbanda, no kardecismo, em linhas espiritualistas independentes e das mais diversas – e, com o tempo, a convicção se fez como certeza intuitiva. Não se começa ao nascer, não se acaba ao morrer. Minha razão acata meu sentimento. E não se mete a entender, muito menos a explicar, a não ser através da intuição, que não precisa atender às exigências da lógica. Até por ter a humildade de reconhecer a própria ignorância, as limitações do conhecimento, do alcance e do entendimento.

Da mesma forma que sabemos hoje o que não sabíamos ontem, amanhã saberemos o que não sabemos hoje. A ciência, que sempre se arrogou dona das verdades, foi obrigada pelo tempo a reconhecer erros e fazer correções inúmeras vezes. Esse processo não termina, embora a arrogância continue, e é de se esperar sempre novos reconhecimentos de erros, correções e descobertas, num caminho sem final, sem chegada, de aprendizado e evolução coletivos. Negar obstinadamente o que não está comprovado cientificamente chega a ser ingenuidade. A ciência não chegou a seu termo, não tem conclusões finais sobre tudo – embora muitos tenham essa pretensão –, há muito a se descobrir, a se corrigir, a perceber e desenvolver. O caminho do desenvolvimento geral, sobretudo da consciência, é um caminho do qual não se vê o fim. Aqui do meu pequeno alcance me parece permanente.

Uso a imaginação pra daqui a mil anos, dois mil, e vejo a integração com a realidade universal, o contato com outras realidades planetárias, no desenvolvimento da consciência pra além da harmonia social que ainda estamos por construir. No contato com outras dimensões da realidade, já praticada por muitos, mas ainda não reconhecida pela “ciência oficial”. Tenho a intuição de que quando alcançarmos o patamar de sociedade sem abandonados, sem escravidão – e não tenho a ilusão de que esse passo se dê com poucas gerações e muito menos no tempo de uma vida, muito trabalho ainda por fazer – e nos tornarmos a família humana e planetária que somos e ainda não exercemos, não tomamos consciência, teremos percepções e desenvolvimentos além do que a maioria imagina ou acredita.

Ao mesmo tempo vejo o planeta dando sinais cada vez mais numerosos e intensos. Por mais que os geógrafos e geólogos digam que todos esses movimentos são naturais e sempre ocorreram, não me lembro de tantas convulsões ao mesmo tempo, terremotos, vulcões, tempestades, furacões, secas, neves e incêndios onde nunca tinham acontecido, migrações em massa e profecias se cumprindo. Parece mesmo que se aproxima “o fim do mundo”, pra quem está atento aos acontecimentos mundiais. E é mesmo um fim de mundo que se aproxima, entendendo por “mundo” as formas sociais em que vivemos. Um modelo social entrando em agonia de morte, prenúncio do nascimento de outro modelo, mais humano e solidário pela necessidade de sobrevivência, de superação das dificuldades que vêm se anunciando há muito tempo e que agora se apresentam e, pelo jeito, vão se apresentar cada vez mais. Não há retorno. Nem haverá um momento preciso de mutação, um ponto no tempo onde tudo vai mudar.

A mudança é permanente e, por mais que o momento seja intenso, de pressão, ainda assim leva gerações esse “momento”. É preciso serenidade e visão de médio e longo prazo – exatamente o contrário da visão imediatista a que a sociedade induz – pra perceber o processo multi-milenar no caminhar da humanidade e do planeta no tempo e no espaço. Minha satisfação – e não me dou o direito de cobrar de ninguém – é me colocar a serviço nesse processo, dentro do meu pequeno alcance e no máximo das minhas possibilidades. Pra mim, é assim que a vida vale a pena.

Eduardo Marinho – 13/10/2021

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Desprezo não diminui ninguém

 Muitas vezes vi meu trabalho ser desdenhado, desprezado, desqualificado, com olhares, posturas ou diretamente mesmo, com palavras e olhos nos olhos. Opiniões desprezadoras, desqualificadoras, costumam vir acompanhadas de agressividade, essa foi uma das lições do mangueio. Eu, como desqualificado social, vendendo artesanato de mesa em mesa, bar em bar, ouvi muitos insultos de pessoas que consumiam nos bares, garantidos como clientes. Eu sabia que se arrumasse problema, não poderia mais entrar naquele bar. E era um circuito de bares que eu fazia, pelas ruas na noite. Então aprendi a reagir de outras maneiras, sem agressividade. Entendia o insulto, às vezes vinham de pessoas típicas da classe onde eu havia nascido, era fácil entender os mecanismos mentais dessas pessoas. Elas que não percebiam com quem estavam tratando, supondo uma inferioridade social que pra mim era claramente falsa, e se surpreendiam com meu trato de igual pra igual, mesmo com todas as diferenças sociais visíveis ali, evidentes. Aprendi a dizer verdades com delicadeza, pra não provocar reações violentas, ao contrário, desfazendo essas possibilidades. E assumir eventuais prejuízos com serenidade, refletindo em como evitar acontecer de novo, o que me passou sem que eu percebesse, o que eu não vi que poderia ter evitado. Eu gostava do meu trabalho e desvalorizações vinham de mentalidades que não me importavam, os que gostavam eram poucos, pero buenos.

Uma vez, num bar da avenida do contorno, talvez esquina com o início da avenida Brasil, em Belzonte, noite de sexta pra sábado, parei mostrando meus brochinhos a um grupo que ocupava uma mesa tripla, na calçada - nesse tempo as mesas eram acessíveis ao mangueio, hoje é tudo fechado, com seguranças pra não deixar abordar -, algumas pessoas estavam olhando, gostando, comentando as idéias, os desenhos, gravados em relevo na chapa de metal. Um camarada do grupo, que estava na outra parte da mesa, se aproximou, olhou os trampos, ouviu as conversas, eu explicando como fazia, desacreditou. "Eu sei onde cê compra isso lá em São Paulo, vim de lá ontem, vi esses brochinhos aí mesmo", apontando pro meu painel. Todo mundo me olhou constrangido, o cara tinha explicitamente me chamado de mentiroso. Eu ri, disse pras pessoas em volta "eu vou tomar como um elogio" e olhei pro cara. Os olhares eram meio desentendidos. Estendi a mão cheia de calos e disse, sorrindo ainda, "cê acha meu trabalho tão bom, que é impossível que eu faça à mão, né isso? Por isso que tá mentindo, dizendo que viu em São Paulo. Esses calos na minha mão devem ser de coçar o saco, né não?", ri de novo, olhando pras pessoas. "Eu é que sei se faço ou não faço, qualquer idéia é livre, todo o respeito." Ele fez um olhar meio confundido, eu completei, "te agradeço o elogio". E fui saindo, já tinha vendido, recebido e encerrado as ligações. "Valeu, pessoal, tô seguindo na lida", acenei, recebi os acenos de volta e segui mesmo, pra outras mesas e outros contatos. As lições eram todo dia, muitas mais do que eu podia absorver. Guardei algumas. Nas memórias profundas, do inconsciente, devem estar todas.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A realidade é maior que o teatro institucional

Não sinto mais vontade de opinar sobre a cena cotidiana. O desmonte, o derretimento de tudo o que vinha sendo preparado pra começar - isso mesmo, começar - a proteger a vida, a dignidade, o equilíbrio ambiental, pra começar a formar uma sociedade realmente humana, todos os mecanismos institucionais que apenas esboçavam ações de contenção das destruições múltiplas foram sendo desmontados, a céu aberto, a olho nu, coberto apenas pelo oceano de ignorância produzido por uma sabotagem permanente de uma educação verdadeira, pelo modelo de ensino imposto pelo mercado, pela desinformação profunda produzida por mídias empresariais, interessadas no lucro, não na verdade. Aliás, se a verdade estiver no caminho do lucro, ela é destruída, escondida, difamada, destroçada, como temos visto ao longo da vida inteira. A ignorância e a desinformação são fáceis de dominar, controlar, conduzir e enganar por quem tem o controle do conhecimento e da informação.

A cada cena da política partidária, opiniões se digladiam no palco das mídias, ódio explícito, raivas imensas, acusações tenebrosas. As discordâncias são determinantes de inimizades mortais, insultos, deboches, difamações, tudo de acordo com a programação social. Este modelo de sociedade nos ensina a competir, a disputar, confrontar, vencer. Ele não vai mudar por confronto, disputa, conflitando, na luta. Isso é reproduzir as induções sociais, sem capacidade de sequer tocar na estrutura desumana da sociedade. Vejamos o que os poderes sociais mais atacam e aí estarão os seus pavores, suas fragilidades. Todos os governantes que investiram em qualidade de educação e alcance à maioria das pessoas foram difamados, atacados, caluniados, muitos foram derrubados. A ignorância é fundamental pra se manter o controle. A desinformação e a desorganização da maioria são necessidades de manutenção deste sistema social. Esta estrutura precisa, pra se manter, de alienação, superficialidade, precisa evitar a todo custo a tomada de consciência da realidade, a formação de senso crítico.

Hoje, mais que nunca, vejo discussões carregadas de ignorância, preconceito, desinformação, mentira, agressividade e destruição. Há quem saia por aí procurando briga, há quem se deixa levar toda hora, diante de qualquer provocação, de alguém ou da vida. Nunca me interessou uma discussão sem proveito, uma disputa que acaba frequentemente em insultos, às vezes em sopapos, sempre em mal estar. Não creio que seja um bom objetivo. Uma boa discussão termina com a gente satisfeita e acrescida em alguma coisa, um entendimento, um aprendizado, um desenvolvimento. Se não for assim, é perda de tempo, de energia e de paz.

Vejo mais claro que nunca a encenação das marionetes dos falsos "poderes públicos". Assim como os mecanismos subterrâneos por onde os verdadeiros poderes controlam a sociedade, tanto nas instituições do Estado quanto no controle das comunicações - usadas na condução de "opinião pública", na distorção da realidade, da distração alienante, na superficialização do pensamento, na hipnose coletiva do massacre publicitário, na desinformação criminosa, na criação de valores e comportamentos, tudo de acordo com os interesses de um punhado de podres de ricos pobres de espírito. Não é preciso derrubar esses parasitas, basta parar de se comportar, de querer, de valorizar o que somos induzidos e criar (ou reconhecer) os próprios valores, comportamentos, desejos, objetivos de vida... Um "basta"  bem mais profundo do que pode parecer. Mas faria ruir num instante este sistema social injusto, perverso, covarde e suicida. Tão suicida que seu fim está se aproximando.

Explodem vulcões, sacodem terremotos, derretem os pólos do planeta. Há água contaminada em todo o planeta, por venenos agrícolas, da mineração, dos resíduos industriais, águas, terras e ares. O clima se torna mais violento, o nível do mar sobe. Todos os sinais previstos e avisados ao longo do século passado, por "malucos" que foram totalmente ignorados - pela mídia e pelos poderes tanto públicos quanto econômicos - quando não atacados, difamados, ridicularizados, perseguidos ou mortos. Mas avisos não faltaram. Quem acompanha os acontecimentos no mundo está vendo as mutações planetárias em curso, em ritmo mais acelerado que nunca. Se acentuam as migrações, o movimento de populações sobre os territórios. Com as mudanças climáticas, somadas ao movimento do eixo da Terra, essas migrações serão em massa e modificarão toda a geo-política mundial, todas as fronteiras e todos os países.

O planeta está em processo de transição, alguns sabem, outros intuem, sentem, muitos não têm idéia, alienados pelo próprio sistema social que entra em agonia, nos espasmos do fim, da mutação forçada pelos acontecimentos. Essa pandemia é um sinal grande e abrangente do início da pressão a que estaremos submetidos por algumas gerações, até o nascimento de um outro modelo social, menos perverso, mais solidário, menos injusto, mais humano - no sentido de que o ser humano e seu desenvolvimento estará no centro de importância, a miséria, a ignorância, o desabrigo, a fome deixarão de existir, as necessidades básicas serão supridas pra que a gente possa alcançar outros patamares de relações, outros níveis de percepção, de contatos e desenvolvimentos como humanidade planetária.

A divisão está sendo feita em todos os planos terrestres, revelações vêm sendo feitas entre nós, se mostram perversidades onde antes não se mostravam, familiares e amigos se espantam com personalidades que antes pareciam tranquilas, pacatas, inofensivas e "passaram a ser" agressivas, intolerantes, odiosas, destrutivas. A vibração pessoal se escancara e a divisão é clara. A humanidade atinge o patamar da solidariedade, da harmonia e do equilíbrio social e os obstáculos vão se definindo e sendo retirados, pouco a pouco. Os que vibram no peso da maldade, do egoísmo, do conflito, da destrutividade estão sendo levados a orbes mais sintonizados com a sua freqüência - pra seguirem sua evolução em locais mais apropriados às suas necessidades, ao mesmo tempo em se "limpa" o caminho do desenvolvimento da humanidade. Será uma migração em massa interplanetária.

Somos ainda primitivos espiritualmente e temos o infinito e a eternidade pra nos desenvolver. Causando, colhendo consequências, refletindo, aprendendo, praticando a vida. Do mesmo jeito que estamos num ponto de desenvolvimento inimaginável aos nossos antepassados, alcançaremos compreensões, conhecimentos, movimentos e relacionamentos que ainda não podemos sequer imaginar. Embora esta, a imaginação, seja uma grande ferramenta de pesquisa e projeção, ela se baseia sempre na realidade do agora. A minha me permite entrever a comunicação interplanetária entre diversos sistemas e civilizações, assim como entre dimensões vibracionais, de matérias distintas. Penso que a ciência está perto de descobrir, cientificamente, a existência das dimensões espirituais. Daí à comunicação direta, será um passo.

sábado, 14 de agosto de 2021

Vai ser preciso superar e reconstruir.

O planeta está nos dando um sacode bem dado e bem merecido, pra gente tratar de se estruturar em uma sociedade onde o respeito esteja em lugar prioritário. Onde o ser humano e o equilíbrio planetário estejam no centro da importância social. As próximas décadas serão de intensivão em todo lado, a mutação que já é permanente, agora se apressa na pressão. É preciso colher o que foi plantado, assumir as responsabilidades e superar as dificuldades que virão. Algumas gerações vão passar nesse trampo de resgate e reconstrução. Depois, estarão lançados os alicerces da nova sociedade, fundados nos sentimentos afetivos, na solidariedade, no sentimento de família humana.

"No hay mal que para bien no venga." Se perde o bem que pode vir, quando prevalecem sentimentos de revolta ou depressão. Sem aqui estar julgando, muito menos condenando os que se revoltam ou deprimem. Cada um tem seus caminhos, suas condições, sua situação no mundo e seus aprendizados a fazer de todas as maneiras, a cada um de acordo com suas necessidades espirituais. E eu percebi que ganho muito mais paz de espírito me reconhecendo incapaz de alcançar todas as razões de cada atitude em suas raízes mais profundas. E passando longe de exercer a arrogância de andar por aí apontando o dedo pros erros alheios, atitude inútil e, no mais das vezes, destrutiva. Meu senso de justiça não me dá o direito de julgar. Posso analisar as atitudes, relações, acontecimentos, sem chegar a "veredictos", mas sim a percepções, aprendizados, sempre observando e absorvendo - ou tentando, praticando, desenvolvendo. Posso determinar, pelo meu sentimento, do que me aproximar e do que me afastar. Não por julgamento, mas por uma questão de sintonia. Ou dessintonia.

Além do mais, tenho meus próprios erros, minhas próprias falhas pra trabalhar. Aí sim, é meu espaço e meu trabalho em mudanças funciona, nos valores, nos desejos, nos comportamentos, na visão de mundo, nas escolhas e opções pelos caminhos da vida. Apontar falhas alheias só vai me atrasar - a não ser em situações muito específicas, onde cada caso é um caso. A referência é ser útil e inofensivo.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Espiritualidade em evolução

A espiritualidade não precisa de religião. Ela é exercida na vida prática, nos relacionamentos, na conduta, na forma de se relacionar com o mundo, com as pessoas, com as coisas e com os acontecimentos. Na agressividade ou na serenidade, na cobrança e na acusação ou na compreensão e no acolhimento, na generosidade ou no egoísmo, na humildade ou na arrogância. Nos sentimentos que se produz em si mesmo e nos que se causa nas pessoas em volta. Há espiritualidade em todas as religiões – e fora delas. Em todos os níveis. Não depende da religião, mas da alma de cada um. Não importa no que se acredita, não importa se não se acredita em nada. É no comportamento que se revela o que se é, não na crença.

A escolha de como tratar com a espiritualidade é direito de qualquer um, a ser respeitado coletiva e individualmente. Um desenvolvimento social e individual ainda muito pouco alcançado, pelo que se vê no mundo, religiões primitivas, ignorantes e arrogantes, demonizando e atacando outras formas de espiritualidade, sejam quais forem, desde que diferentes da sua. Ainda não se alcançou o estágio de humildade pra reconhecer a própria pequeneza e a incapacidade de compreender dimensões inalcançáveis pela razão humana. Embora se possa perceber o desenvolvimento ao longo do tempo, de anos a milênios. Do individual ao coletivo.

Há quem não perceba, há quem negue e é direito de qualquer um negar. É a contraposição aos que definem o indefinível, explicam o inexplicável, concebem o inconcebível e impõem sob ameaça – ou se acredita, ou se está condenado ao sofrimento eterno do inferno. A arrogância de estar em contato direto com o “supremo ser do universo”, um universo que nem conhecemos ainda, acaba criando um deus de características humanas, vaidoso e vingativo, com exigências tenebrosas e ameaçadoras, promessas de felicidade e prazeres – ou sofrimentos torturantes – ”por toda a eternidade”. Pobre ser humano inconsciente ainda do seu próprio desenvolvimento espiritual, empurrado à frente pela força dos acontecimentos, levado pela mutação permanente que é uma das leis que se podem perceber claramente – mas que, em geral, não se leva em conta. Ainda.

Vai se percebendo, muito pouco a pouco, que a espiritualidade verdadeira está na solidariedade prática, no sentimento de família humana, de pertencimento à natureza, no comportamento afetivo, generoso, igualitário e respeitoso. Que as necessidades materiais são muito menores que as necessidades espirituais, que o corpo abstrato – sentimento, pensamento, caráter, desejos, objetivos de vida, visão de mundo – é muito mais importante e duradouro que o corpo físico. Que a verdadeira satisfação pessoal está diretamente ligada à satisfação coletiva. Vai se descobrindo, no íntimo de cada um, e se percebendo, pelos exemplos que aumentam no convívio social, sem barulho, sem chamar a atenção – a não ser dos atentos, exceções às regras. Ainda.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Fábio Júnior pacifica a vila

 Prudente de Morais, Minas, 1991. Uma pequena vila de cerca de vinte casinhas, do mesmo dono, feitas pra serem alugadas. No meio das casas, um espaço aberto, sem calçamento, de terra, pedras e mato, servia às brincadeiras das crianças. Brisa tinha nove anos, Adhara sete e Ravi, três.

De repente, um desentendimento no grupo. Parou a brincadeira, dois meninos se espinharam, um acusando o outro. Já havia chegado um “irmão grande” pra resolver a parada, de cara feia, ameaçadora. O protegido apontava o oponente com o braço esticado, desfiando acusações sobre um adversário desconfiado, acuado pelo tamanho do recém chegado.

Ravi estava de castigo por ter atirado uma pedra em Adhara, não podia sair de casa mas podia ficar na janela - porque não tinha acertado a pedrada -, onde se epoleirou e participava, aos berros, das brincadeiras, com os pés no batente e a mão segura no alto da janela.

Na tensão do momento, aliviada por vários olhares adultos que pararam pra observar – como garantias de não violência – Brisa cochichou no ouvido de Adhara, que repetiu imediatamente o que ouviu, em voz alta, “ele parece o Fábio Júnior!”

Todas as atenções foram centralizadas no moleque maior, tanto do grupo quanto dos olhares em portas e janelas. O rapazinho que começava a falar com brabeza, engasgou, sem graça, e Ravi soltou uma gargalhada aguda, repetindo aos gritos, “Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô!” Várias risadas soaram, alguém comentou, “parece mesmo!”

O protetor se voltou contra o protegido, “olha aí o que cê me arrumou!” E bateu em retirada, resmungando. Risadaria geral, todos voltam aos seus afazeres, a brincadeira é retomada, menos pra Brisa e Adhara, que estão sentadas na calçada, dando uns minutos de risadas.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Respondendo ao Intercept

 

Fui procurado por Fabiana Moraes, jornalista do Intercept, pra responder a umas perguntas por conta de um artigo a ser escrito por ela e publicado uns três dias depois. Eu estava em Niterói, tinha vindo com o pretexto de tomar uma vacina anti-covid, que foi suspensa porque acabou, buscar material de trabalho, imprimir o mais que pudesse – a mesa de impressão é muito pesada, na área onde estou ainda não tenho espaço nem condições pra levar. Vou levando aos poucos, conforme o caminhar das coisas. Mas voltando ao assunto, disse a ela da minha correria, na noite seguinte partiria pela Dutra e iria respondendo por áudio. E a correria continuou, separando ferramentas pra levar, papéis, telas, roupas, arrumando tudo, até a noite seguinte. A saída foi uma e meia da manhã, chovia muito e a estrada exigia toda a atenção, ou seja, não deu pra responder. Chegamos amanhecendo o dia, eu estava bem cansado, tanto que não consegui dormir até umas nove da manhã. Caí das nove às quatro da tarde, acordei meio zonzo, o braço inchado – ah, não falei que eu tive uns bernes no braço, tirei com babosa e tava tratando, quando peguei um sabonete medicinal e uma pomada com base de própolis que tinham, sem que eu soubesse, um componente que tem me dado uma reação violenta, me incha a cara e várias partes do corpo, dá uma coceira enorme. Por ser um componente mínimo no total, a reação não foi tão violenta, mas estendeu em muito o tratamento, que até se tornou meio cotidiano. Quando acordei, não tava nada bem. E por um tempinho, esqueci completamente das perguntas, ocupado em tratar – chá de gengibre, alho cru e mastigado, babosa no braço, chá de sempre-viva (que muitos chamam de “penicilina”), cabeça pesada, um sono danado, dormi. Quando acordei, já ia longe o último prazo que eu tinha pra mandar as respostas, eu tinha me desculpado com ela por não ter gravado na Dutra e ela me disse que se eu mandasse pelo menos uma resposta até o dia seguinte antes de meio-dia, daria pro artigo. Mas não deu, não pude, não tava bem, foi muito em cima e num momento difícil mesmo pra dispor um tempinho de cabeça fria pra concatenar as idéias. De qualquer forma, o artigo saiu, eu li hoje e... puxa vida. Muita desinformação e distorção. Fui misturado à direita e a “gurus”, me colocaram opiniões que não são minhas, distorções não sei se intencionais ou não, mas distorções. Como é um artigo do intercept, que respeito desde as revelações da vaza-jato – inclusive comprei o livro – resolvi fazer um apanhado no que foi publicado a meu respeito e manifestar minha opinião, sem querer ofender ninguém, só tentando esclarecer. Trouxe aqui apenas a parte que me diz respeito, entre aspas.

 

“A mão pesada da digitalização vai capturar, vejam só, mesmo aquelas e aqueles que, em nome do juízo e da espiritualidade, procuram se manter “fora” da internet. É o caso do artista e palestrante Eduardo Marinho, que possui uma significativa base de fãs e seguidores nas plataformas: um de seus perfis no Instagram, o @eduardomarinho.viacelestina (mantido por um apoiador), conta hoje com 386 mil seguidores, enquanto o documentário “Observar e Aprender” (2016) tem mais de 3,3 milhões de visualizações no YouTube.”

 

Primeiro, não procuro me manter “fora” da internet, já que tenho páginas no feice – uma pessoal e duas fanpeiges – e um canal no youtube, aberto por mim no ano passado, de tanto ouvi pessoas comentando sobre “meus vídeos”, sem que eu mesmo tivesse feito nenhum. Eram todos feitos por pessoas ou coletivos que postavam em seus próprios canais. O primeiro computador me foi dado, sob a alegação de que eu “precisava”, e ficou desligado um tempão – pensando “não sei mexer nisso, posso estragar, se quebrar não tenho grana pra consertar, então deixa aí”. Mas logo amigos do meu filho me ensinaram a ligar pra ver o gúgol, depois abri um endereço eletrônico e comecei a me corresponder, encontrar pessoas que tinham passado pela minha vida e sumido, contente da vida. Então conheci Márcia, ativista social, que me intimou com o dedo na cara, “tu tem a obrigação de escrever tudo isso que fala”. E abriu um blogue, o observareabsorver.blogspot.com. Isso tudo por conta de um vídeo gravado comigo enquanto eu expunha meu trabalho na rua, no bairro de Santa Teresa, no Rio. Havia trinta anos que vivia do meu trabalho, sempre vendendo nas ruas, nos bares, nas praças, em frente a escolas, e estava satisfeito, um trampo que provocava reflexão, questionamento, conversas produtivas, enfim, tava satisfeito. Mas a internet caiu na minha cabeça sem eu chamar e, quando vi, estavam me reconhecendo por aí, de vez em quando.

O instagram Via Celestina foi aberto e administrado sempre pelo Hare Brasil – que foi quem Fabiana procurou pra me contactar. Já nas filmagens do primeiro filme, Via Celestina, ele tentava me convencer a abrir um instagram e eu recusava. Já tinha ocupação demais com internet e precisava trabalhar pra me manter, porque nunca aceitei publicidade nas minhas coisas, nada meu é “monetizado”, ou seja, não banca minha vida e minhas despesas. Meu trabalho é exclusivamente manual e precisa de tempo pra ser feito. Como o Hare percebeu que eu não iria abrir instagram nenhum, sugeriu ele mesmo abrir, pra divulgação do filme. Tanto que Via Celestina está no título. Nunca fiz uma postagem, nem controlei, o Hare sempre fez o que quis. Lembro de uma única postagem que vi e discordei, pedi pra tirar e ele tirou. Nem lembro o que era. Depois disso, pouco vi a mais, ficou por conta dele. Quando fazíamos já a viagem do segundo filme, Transição, ele usou o insta pra várias coisa, inclusive “ao vivos” pra arrecadar grana, pois a viagem foi interrompida pela pandemia e ficamos seis meses em Cavalcante, na chapada. Ali ele me pediu pra “autenticar” o insta, pras pessoas verem que era eu mesmo por trás daquela página. Passei dados pessoais e o sinal verde foi concedido. Assim foi terminado o filme, a covid começou a chegar por lá e resolvemos voltar.

O Hare foi pra Santa Catarina, trabalhar com música, que é mais o que ele quer na vida. O que tínhamos pra fazer, havia sido feito e não foi pouca coisa. O instagram ficou “autenticado”, cheguei a falar com ele pra “desautenticar”, mas parecia impossível, teria que apagar a página segundo ele, eu podia pedir outra autenticação pra página que minha filha tava abrindo pra mim, mais próxima, e não se desautenticou. Senti um desconforto, afinal foram dados pessoais que passei pra a empresa lá colocar um sinal “autenticando”. Mas como não teve jeito, não disse mais nada. Cada um tomou seu rumo e sua vida pra cuidar. Eu vim pra uma terra que uma filha minha, depois de viver no exterior, trabalhar em navios de cruzeiro e se estabelecer de volta no Brasil, comprou mas nunca ocupou. Nem cerca tem por aqui, estou começando do começo, já que não dá pra expor e aglomerar, que era do que eu vivia.

O documentário Observar e Absorver – citado no artigo – foi feito em 2015, por Carlos Marques Júnior, o Júnior SQL, no embalo de uma série de vídeos que eram feitos comigo, na rua mesmo, por diversas pessoas. E antes tive participação em outro, pouco conhecido, “Escafandristas – cifrões, padrões e exceções”, de Victor Belart, um média metragem que acho valer a pena assistir, tem utilidade coletiva.

 

“Marinho vem há décadas circulando pelo país e falando, seja nas ruas, nos bares ou em auditórios, sobre desigualdade social, a crueldade de nossa elite política e econômica, os resultados desastrosos de uma sociedade que fomenta e privilegia a competição. São críticas extremamente necessárias e também bem comuns no campo da esquerda. Articuladas em nítida separação da esfera política e centradas na ação individual, no entanto, elas  vão se encontrar com o discurso perpetrado por bolsonaristas e afins: se no fim, “é tudo ladrão”, vamos quase todos em busca de um Messias. E estamos sentindo na pele que essa estratégia não dá certo.”

 

“Circulando pelo país” é tão genérico, superficial, não dá a menor idéia da história. Depois de anos na estrada, já com uma filha pequena, fazendo brincos, pulseiras, colares, sapatos de criança, bolsas, pão integral de vários tipos, cheguei em Salvador sentindo necessidade de colocar no meu trabalho o que me engasgava na realidade que eu estava vendo. De colocar o que eu sentia, o que eu pensava, pra expor ao mundo e viver disso. Não eram “críticas”, embora haja espaço pra essa interpretação, não era isso o que eu sentia. Era o que eu via, o que eu sentia, o que eu pensava diante do mundo, usando também pensamentos de outros que dissessem o que eu pretendia que fosse visto no meu trabalho. Esse papo de “é tudo ladrão” nunca saiu da minha boca, minha visão sobre a política institucional é algo mais profunda que isso. O que vejo é o esmagamento do poder econômico-financeiro determinando políticas ditas “públicas”, é o Estado como um Robin Hood ao contrário, permanentemente roubando a maioria mais pobre pra dar a podres de ricos já privilegiados demais diante da miséria. Que existem pessoas bem intencionadas, honestas e conscientes lá dentro, é óbvio. Exceções há em qualquer coletividade. E há serviço em toda parte, não vejo a política exclusivamente partidária, que me parece mais um teatro macabro de marionetes, dominado dos bastidores com o apoio total da mídia.

Meu trabalho é político, onde há qualquer comunidade há política, onde há polis, há política. Essa indução de que só há política nos partidos é apenas uma a mais, validando a estrutura dominada, como se vê, como se estampa com a existência permanente da miséria, do abandono, da sabotagem da educação, dos crimes constitucionais cometidos pelo Estado contra a população desde o império, desde a colônia, desde que chegaram por aqui os europeus. Esperando um “Messias”? Aí eu desconfio que a Fabiana não me viu mesmo falando, sempre rechaçando essa história de guru, várias vezes afirmando que não sirvo de exemplo pra ninguém, sempre deixando claro que o olhar de admiração não me aumenta em nada, do mesmo jeito que o desprezo que encarei por trinta anos não me diminuía em nada, eu sabia bem que não tinha sinais sociais de respeito, artista de rua, mangueador e pobre – o desprezo partia de mentalidades bem conhecidas, induzidas, condicionadas a respeitar a propriedade, não a pessoa. Não tinha porque me abalar.

 

“Várias falas de Marinho apontam para isso: ele sugere sempre que a solução dos problemas não está no sistema político (“podre”), critica a medicina (“é patrocinada pelos laboratórios”, diz no documentário citado), critica o pensamento intelectual (“teórico não gosta de ir para a rua”, no mesmo doc). Assim, joga fora não só a água suja da banheira, mas também o bebê dentro dela, contribuindo para o discurso anti-universidade e anti-ciência que, por exemplo, foi propalado pelo infelizmente inesquecível ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.”

 

Eu não sugiro “solução dos problemas” nenhuma, não tenho um plano infalível pra derrubar o capitalismo. Não digo que o sistema político é podre – mais uma generalização e uma atribuição falsa – digo que a estrutura social é injusta, perversa, covarde e suicida. E que a política partidária é uma encenação safada, onde as minorias privilegiadas têm amplo acesso aos poderes e a população é amplamente enganada, excluída e sabotada. Não vejo solução nem saída, vejo um caminho sendo seguido pela humanidade há milênios, vejo mutação permanente em tudo, nascemos num processo de mutação e morremos nele, temos umas décadas pra participar desse processo multimilenar que não começa quando nascemos e não termina quando morremos.

A medicina e seus cursos são infiltrados por laboratórios e pela indústria da medicina, é minha opinião mesmo. Daí o modelo de medicina lucrativa, que não se interessa por saúde - não dá grana -, que despreza a medicina preventiva - pois é a doença que dá lucro. E não só a medicina que está dominada, a academia, como centro de produção de conhecimento, não seria deixada de fora do controle social pelos parasitas sociais. Daí a gente ver tanta arrogância, tanto afastamento da população, tanta disputa de egos, tanta fragilidade social. O que vale são as exceções acadêmicas, e eu conheço muitas, em geral discriminadas, ironizadas, às vezes perseguidas e excluídas.

Ainda na minha opinião, o conhecimento é restrito a uma “elite intelectual” minoritária, que são os que vão comandar, administrar, supervisionar a massa roubada em seus direitos, construída pra ser mão-de-obra barata, profissionais de baixa qualificação, gente explorável, enganável, conduzível pelo massacre midiático, publicitário e ideológico. O acesso dos periféricos, dos sabotados, roubados no seu direito constitucional ao ensino pleno, é fundamento pra se pensar em harmonia social no futuro.

Abaixo a moça continua me atribuindo equívocos, pra dizer o mínimo. Eu fragilizar a universidade? De onde vem isso? “Simplesmente implodi-la”? Eu queria que a universidade se abrisse a todos os que quisessem, em vez de formar “elites”, inflando egos e egoísmos, orgulhos e vaidades. Queria que ela se abrisse geral, que conscientizasse os “formandos” da responsabilidade social de quem acessa direitos negados à maioria. As afirmações da jornalista estão longe da minha realidade. E ainda me liga a esse presidente aí... fico imaginando se é dificuldade de interpretação, ignorância ou má-fé.

 

“Assim, Marinho também fragiliza a universidade, que pode ser um caminho para amenizar a desigualdade social que ele critica (como professora de uma no interior de Pernambuco, vejo esse fenômeno acontecer constantemente). Também não aponta que uma maior participação de grupos que estiveram historicamente afastados da política institucional – mulheres, pessoas negras, pessoas indígenas, pessoas transsexuais, etc – seja uma das formas de modificá-la por dentro, em vez de simplesmente implodi-la. Foi esse sentimento de destruição que, no fim, nos trouxe Bolsonaro, e não há fractal, chá de hibisco, cordel ou jejum detox que neguem isso.

A romantização da pobreza e o elitismo também são marcas das celebradas falas de Marinho. Em uma aparição no programa Pânico, da Jovem Pan (forte apoiadora do presidente Bolsonaro), ele discorre sobre sua experiência de abandonar a classe média para viver nas ruas. “Eu queria não ter nada. Eu queria me aproximar dos pobres e não conseguia. Deles, eu só via olhar de igualdade quando estava com aspecto mendigo também”, diz em um trecho.”

 

Quem marcou a entrevista na Jovem Pan foi o Hare, eu só tomei consciência de onde estava quando cheguei no estúdio – até na portaria a kombi foi barrada, até os caras da rádio mandarem liberar. E contrastou demais com os carros na garagem. As falas estão deslocadas aí, cada uma tem um contexto diferente. Tô achando que a intenção da mina era me difamar mesmo. Ela é quem deve saber dos seus motivos, porque eu ignoro. E também não me importa, porque difamação já tive bem piores, mais profundas e doloridas. Mas quando leio que “a romantização da pobreza e o elitismo também são marcas” das minhas “celebradas” falas, percebo uma distorção completa e um talvez motivo pra toda essa distorção do que sou, faço ou quero. “Celebradas” demonstra um incômodo com a receptividade do que digo há quarenta anos, trinta sob desprezo e dez sob admiração exagerada. Pra mim, é óbvio tudo o que falo, tá na cara de quem quiser ver – muito embora poucos queiram de verdade.

 

“Em uma animação baseada em uma palestra do artista, publicada em dezembro de 2019 no perfil @eduardomarinho.viacelestina, ele explica que a pobreza (“estas pessoas”, como o artista se refere), por falta de acesso a uma melhor educação, tem “bloqueada” a capacidade da racionalidade. No lugar desta, a população de menor renda tem desenvolvida a sua “intuição”. Aqui, o homem que abandonou uma vida de conforto para construir uma existência na pobreza anti-sistema fomenta uma clássica hierarquização na qual pessoas pobres – e também mulheres – são conduzidas não também por suas capacidades racionais, mas pela emoção. Esse é um argumento classista, machista e racista já visto no discurso de nomes como Paulo Guedes, para quem filho de empregada doméstica e de porteiro não devia entrar na universidade. No artigo “A emoção é negra, a razão é helênica?, o pesquisador Deivison Faustino analisa justamente essa questão pelo viés racial.”

 

Intuição no lugar da razão? Mais um disparate. Não há como acontecer, são complementares, sentimento e razão. O que disse é que, como quando se perde um sentido os outros se desenvolvem, a sabotagem institucional do desenvolvimento racional, através de uma educação que merecesse o nome, acaba causando o desenvolvimento intuitivo, que foi o que mais admirei nos de baixo, além da força interna descomunal pra encarar dificuldades materiais imensas e cotidianas.

 

“A questão é que o charme e o apelo de ser contra-tudo-que-está aí não nos oferecem alternativas palpáveis de ação e, sem elas, continua tudo-o-que-está-aí. A maioria da população brasileira, que vive na pobreza, gostaria de ter à mão alguns “confortos” possíveis à classe média brasileira da qual Marinho preferiu sair – e não estou falando aqui de carros, geladeiras e processadores, mas de saneamento básico, saúde e segurança, por exemplo.”

 

Mais uma vez a Fabiana me coloca como um idiota, atrás de “charme” com o “apelo de ser contra-tudo-que-está-aí”. Totalmente fora da realidade. Não fosse pelo intercept, nem responderia nada, só desprezaria esse texto como inútil. Mas é mais que inútil, é mal intencionado, é mau caráter, afirma a meu respeito desqualificações que não correspondem à realidade, tenta me ligar à essa figura nefasta que ocupa a presidência da república, força a barra de aproximar meu pensamento da mentalidade rasa, ignorante e agressiva dos seus seguidores e apoiadores. Faltou honestidade, sobrou distorção e veneno.

Só pra encerrar, reafirmo. Não tenho e nunca tive intenções de visibilidade – o que aconteceu não foi por iniciativa minha, eu só estava sendo o que sou quando vieram câmeras e fizeram vídeos. Depois foram os convites pra palestras – que eu até estranhei, “ué, não tenho nenhuma qualificação acadêmica, que que cês querem comigo?” perguntei logo na primeira chamada. Não ganho grana com vídeos, não procuro seguidores, não faço “turbinamentos”, não me preocupo com essas coisas, não sou um “youtuber” como tantos por aí, ninguém me viu pedindo likes, curtidas, sininhos e sei lá o quê mais. Vivo do meu trabalho manual há quarenta anos e continuo vivendo, é minha fonte de renda. Não estou me comunicando por interesse, mas por espírito de serviço coletivo. A única coisa que ganho é a satisfação de ver pessoas dando proveito. Não estou preocupado em agradar ninguém nem de manter “seguidores” em lugar nenhum. Nem essa palavra me agrada.

Se me pedirem, publico as perguntas que a Fabiana Moraes me enviou, com as devidas respostas. Eu ia mandar pra ela mas, depois que li o artigo, desisti. Não vale a pena. Acho que ela não percebe que tá me dando um cartaz de graça, com essa difamaçãozinha. Seria melhor me ignorar, irmãzinha, afinal eu sou só um artista de rua, sem qualificação nenhuma, olhando o mundo e dizendo o que tá vendo. Sem referências de ícone revolucionário europeu-acadêmico, só no atrevimento da inguinorança.

Link do artigo completo - https://theintercept.com/2021/05/04/entre-cloroquina-namaste-conheca-direita-gratiluz/

terça-feira, 30 de março de 2021

Vantagem cênica, natureza do sistema e consciência

 A televisão anuncia no jornal que não será cortada a energia elétrica das casas que pagam "tarifa social", saiu aí uma burocracia qualquer, decreto, portaria, lei, sei lá, garantindo isso. "Vitória" de algumas forças institucionais de "esquerda", comemorada e brandida em sua publicidade. A "tarifa social" é um cadastro em que se colocam os milhões que provaram que não ganham o suficiente nem pra comer, de quem foram exigidos vários procedimentos, pessoas que passaram por vária humilhações e desrespeitos pelo caminho - no sentido de causar impedimentos e desistências e diminuir o (que se considera, falsamente) "custo social". 

E que ninguém se engane. Os empresários da energia têm seus departamentos jurídicos, assediando legislativos e judiciários, usando a imprensa pra atacar tudo o que ameaça seus lucros a baixo custo, entrando com ações, liminares e recursos nos tribunais em qualquer instância, mexendo seus pauzinhos e ativando suas influências no sistema social. Em qualquer brecha, nas oportunidades que se criam, essa lei, decreto, portaria ou seja o que for cai. E, se cair de manhã, as equipes de corte já estarão de prontidão pra sair no princípio da tarde, dependendo da área acompanhadas de polícia, apagando a luzes e desligando geladeiras e demais aparelhos de uso diário. Que ninguém se fie em deixar de pagar, se puder, as contas. A perversidade empresarial e, por consequência e influência, institucional, não considera pandemia, não considera a fome, o desabrigo, não considera a vida e envenena o mundo, espiritual e quimicamente. 

É a natureza do sistema social. É preciso criar autonomia porque, pelo jeito, a conscientização ainda demora. Vai ter que ser ao natural, sofrimento, reflexão, tragédia, solidariedade e reconstrução. Dificuldades que obrigam ao desenvolvimento das relações, sociais, profissionais, familiares, de vizinhança, na humildade imposta pelas dores e problemas criados por uma civilização irresponsável, dominada e conduzida pela ambição, pelo egoísmo, pela perversidade e pelo apego ao poder, ao controle, aos privilégios, luxos e ostentações. 

Os que se propõem a conscientizar não conseguem além dos seus pequenos círculos coletivos, perdidos nos condicionamentos sociais, nas vaidades, nos egos, nas disputas, nas formas de relacionamento induzidas socialmente, sem se darem conta de reproduzirem valores e comportamentos planejados e estrategicamente implantados pra produzir, entre outras coisas, distanciamento, desconfiança, disputas e confrontos. Como pretender "mudar" uma sociedade que induz e estimula egoísmos, desconfianças, disputas, competições e confrontos? 

O Saber precisa servir à Sabedoria, e não controlar, comandar e definir caminhos. Definir caminhos é muito melhor com o sentimento, a intuição, elementos da Sabedoria. Quando o Saber se encontrar - humilde e a serviço - com a Sabedoria, aí a consciência coletiva toma impulso.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.