quinta-feira, 29 de março de 2012

Anistia



Com a criação da Comissão da Verdade, fala-se que os torturadores e assassinos do período de destruição das brechas do sistema são anistiados e não podem ser acusados, processados ou presos.

Eu penso aqui na minha ignorância. Anistia não é o que se dá a uma pessoa que foi presa, julgada e condenada? Anistia não é uma espécie de perdão? Como é que se anistia quem não foi acusado, nem é condenado? Prender, julgar e condenar não é condição pra se anistiar? Mesmo os exilados foram presos e condenados.

Posso estar enganado, mas me parece muito esquisito isso. Se eles querem ser anistiados, que se apresentem como criminosos. Senão, como obter uma anistia? O que acontece é cumplicidade com os crimes, isso sim, é o que me parece. Proteção devido aos “serviços prestados”. Mais uma mentira, mais um deboche. Mais uma falta de dignidade.

Nós todos feitos de otários, mais uma vez. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Difícil de entender




              Tenho dificuldade em compreender certas situações e sua permanência.
            Em Pinheirinho foi documentada a expulsão de mais de mil e seiscentas famílias, cerca de nove mil pessoas, idosos, crianças, deficientes, mulheres e homens – e a destruição de suas casas, muitas com os poucos pertences dentro, lançando essa multidão ao desabrigo. Crianças confiscadas de seus pais pelo conselho tutelar da cidade, por estarem desabrigados, não terem aceitado passagens pra fora da cidade e ocupado os abrigos improvisados pela prefeitura – que sofreram e sofrem uma pressão estúpida, com bombas de gás lançadas dentro desses abrigos durante a noite, explosões de efeito moral e assédio ininterrupto, sem banheiros suficientes, sem higiene e com a alimentação precária. O proprietário do terreno desocupado pela polícia, um mega-especulador já denunciado há anos, responsável pela quebra na bolsa do Rio de Janeiro, nunca pagou impostos devidos ao município, a área estava abandonada e se tornou um bairro – não uma favela – com ruas, postes e saneamento, pelo esforço da própria comunidade, há oito anos. Na omissão do Estado, o povo deu seu jeito. O usucapião urbano é de dois anos, a comunidade, repito, tinha oito. Mas o Estado e seu aparato de segurança foram usados pra defender a propriedade do especulador milionário – denunciado até pela veja, a revista mais reaça do país, na época da quebra da bolsa –, atacando a população, massacrando, espancando, matando cachorros e pessoas, em cenas de barbárie explícita. Algo mais claro?
            Na Grécia, considerada o “berço da democracia” nos meios acadêmicos (apesar de ter sido um sistema escravagista e de o voto ser restrito aos poucos “cidadãos de bens”, os homens ricos), vimos no mês passado a polícia de choque circundar o parlamento para protegê-lo da fúria da população, enquanto seus “representantes” votavam mudanças na legislação impostas pelos bancos internacionais, suprimindo direitos, cortando salários e empregos, aposentadorias e pensões – covardia cada vez mais comum –, privatizando coisas públicas e destruindo a economia do país enquanto, na cidade inteira, o resto da polícia combatia focos de levantes populares, sem conseguir. Foi o caos durante dias, controlado com muito sangue, pancadaria, quebra-quebras e prisões, numa guerra generalizada onde o Estado ataca, contém e controla a população roubada, que se debate em protesto. Inutilmente. Algo mais claro?
            No Rio, os empresários do ramo imobiliário estão esgotando as áreas da Barra e zona oeste litorânea e voltam os olhos para o centro da cidade. Abandonado há décadas e com milhares de prédios sem uso, deteriorando, o centro foi tendo vários desses prédios ocupados pela população desabrigada. Na ausência do Estado, que não cumpre sua “lei máxima”, a constituição, que garante moradia, alimentação, etc., o povo sem teto toma suas iniciativas e se apropria do que é seu direito, violado pela própria estrutura social. Com a cobiça dos grandes empresários, a prefeitura apareceu com um projeto de “revitalização”, denominação mentirosa que mal encobre o processo de expulsão dos mais pobres pra longe dali, de investimento de dinheiro público na reestruturação da infra-estrutura do centro, agora transformado em patrimônio histórico, preparando a área pra chegada dos empresários. É o que eles chamam, na encolha, de “limpeza”. Pra eles, os pobres são lixo e devem ser removidos. Comunidades inteiras têm sido removidas no interesse dos financiadores de campanhas de legisladores e governantes, tornando-os seus agentes, travestidos de representantes do povo. Algo mais claro?
            Em São Paulo, favelas em locais valorizados são assediadas de todas as formas, legais e ilegais, físicas e psicológicas. Os incêndios nessas comunidades se tornaram comuns, a ponto de surgirem métodos de combate ao fogo pelos próprios moradores. Eles perceberam não poder contar com o poder público. Apesar dos chamados insistentes aos bombeiros, quando começa um desses incêndios, quem chega primeiro é a polícia, cercando a comunidade, enquanto empresários e seus políticos esfregam as mãos, repetindo o jargão dos fanáticos religiosos diante do que acreditam ser o demônio – “queeiima!” Num desses, que por acaso contou com a presença de algumas equipes de imprensa, foi mandado um caminhão dos bombeiros, pra não ficar tão mal na foto. A polícia teve que abrir passagem pra entrada do veículo. Era um caminhão velho, estava com meia carga de água e a mangueira tinha tantos furos que os moradores amarravam plásticos e camisas pra conter os vazamentos, sem sucesso. A água não chegava com a pressão necessária. A cena da mangueira jorrando água pra todos os lados, menos no fogo, era de revirar os intestinos. Algo mais claro?
              O Estado está seqüestrado pelos poderes econômicos e em preparação constante para a guerra e o massacre contra suas próprias populações. Exemplos temos de sobra, falta assumir a realidade. A coisa pública está imersa na privada.
            E nós, boiada conduzida, vemos o mundo restrito a dois “mercados” básicos, o de trabalho e o de consumo; vemos a vida como uma competição permanente e cada irmão como um adversário; sonhamos com consumos impossíveis para todos e aceitamos trabalhos que odiamos, transformando o prazer de trabalhar em sacrifício insuportável; assistimos os jornais da mídia privada mesmo depois de provas à exaustão da desonestidade dessa mídia, das distorções da realidade e da defesa histérica e irrestrita dos interesses empresariais, em prejuízo da maioria. Não nos revolucionamos por dentro, mas pretendemos revolucionar a sociedade, numa ingenuidade desanimadora. Os protestos e mobilizações são cada vez mais inúteis e ignorados pelas autoridades – ou atacados pelas forças de segurança, pondo em risco a integridade física e mesmo a vida dos que se manifestam. Em vez de conscientizar a população, a proposta é conduzir as massas, liderar, numa arrogância planejada e produzida nos laboratórios transnacionais de psicologia do inconsciente – na criação de valores falsos, desejos superficiais e comportamentos condicionados – e imposta pela mídia. As contestações não escapam ao condicionamento, por isso são inócuas, inofensivas ao sistema empresarista estabelecido sobre os poderes públicos. Se mudanças acontecem, no mais das vezes são mudanças cosméticas, na aparência, superficiais demais pra provocar mudanças profundas e reais na estrutura social.
            Começo a achar que o movimento hippie era muito mais revolucionário que esses europeístas cheios de arrogância, condicionados de todas as formas, subalternos ideológicos ao pensamento europeu, incapazes de criar e de revolucionar o próprio comportamento, incapazes de olhar dentro de si mesmos e encontrar aí o trabalho a ser feito, em primeiro lugar. Os hippies começavam mudando seu comportamento, seus valores, sua vida. Por isso contaminavam daquela maneira avassaladora, conquistando a juventude em massa e obrigando o sistema ao trabalho intensivo de criminalização daquela onda, de perseguição implacável, de dispersão e extermínio que eu vi, ninguém me contou. Eles pregavam a vida com o mínimo necessário de material, a abolição da alimentação industrial, o uso da medicina não comercial, natural, na maior parte dos casos, o desenvolvimento das artes e das relações fraternas, o igualitarismo, a generosidade, a solidariedade irrestrita, o pacifismo e a resistência às imposições de valores e comportamentos. Mais que isso, eles praticavam e viviam essas coisas. Sua revolução partia da alma, de dentro, era preciso vivenciar os novos valores.
            Não estou dizendo que eles revolucionariam a sociedade, que por ali seria possível. Apenas que era um movimento muito mais inteiro, muito mais contagiante, por ser impossível apregoar sem vivenciar no dia a dia, sem assumir o que se propõe e viver de acordo, independente se a sociedade é assim ou não, não importam as conseqüências. Um revolucionário sem amor, arrogante e cheio de verdades não é um revolucionário. Ao contrário, esse tipo de postura desmoraliza a palavra revolução. São os revolucionários dos rebanhos, esporrentos, raivosos e inofensivos ao sistema, recusados pela população, ridicularizados pela mídia e cansativamente repetitivos, incapazes que são de mudanças reais. Dizem querer mudanças, mas não conseguem ser essas mudanças – esta é sua limitação, sua contradição, sua precariedade.
            Não há meio termo, não há como negar. A sociedade está sob controle dos poderes econômicos, dos bancos, das grandes empresas, e o povo é traído permanentemente, sabotado, enganado, explorado e excluído dos benefícios do desenvolvimento. Difícil entender como pessoas informadas, instruídas e desejosas de mudanças não enxergam essa realidade e ainda falam em democracia, na pseudo “democratização pós-ditadura”, numa ditadura que mudou de cara, mas não de essência. Estamos envolvidos por mentiras descaradas que não resistem a uma análise simples. O problema é que não analisamos sem partir de premissas falsas. Na sociedade atual, o patrimônio vale mais do que a vida, o privilégio vale mais que o direito, o rico vale muito, o pobre não vale nada. O Estado, amarrado, seqüestrado, dominado, toma dos pobres pra dar aos ricos e está cercado por vampiros, morcegos, sanguessugas, carrapatos, pulgas, piolhos, bactérias, que o enfraquecem. O remédio contra essa anemia está na instrução, na informação, na conscientização – por isso se sabota o ensino, se controla tão ferrenhamente as comunicações e se ataca todo movimento popular que defenda os direitos da maioria, reivindique, denuncie ou conscientize. É a estratégia dos zero vírgula alguma coisa por cento da população pra impedir mudanças reais e garantir seu vampirismo sobre o poder público e as riquezas do país.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Notícia da Agência Petroleira dá o que pensar

http://www.apn.org.br/apn/content/view/4208/48/

Recebi esta notícia e senti necessidade de repassar. Acabei escrevendo o texto abaixo, a partir da gravidade do que está rolando na área do petróleo, extraído com ânsia e urgência por empresas petroleiras privadas multinacionais, conscientes de que o saque pode ser percebido e contido a qualquer reviravolta política. Por enquanto, contam com políticos, legisladores e juristas domesticados e a seu serviço. Mas sabem dos movimentos contrários à sua exploração. E a cobiça exige a urgência na extração, indiferente a conseqüências nefastas ao meio ambiente e às populações locais, como sempre.


Petróleo “Brasileiro”

            Sindicalistas, revolucionários, ativistas, políticos e ideólogos que se dizem nacionalistas dão uma conotação hipócrita à palavra ‘brasileiro’, como se isto significasse ‘dos brasileiros’. A idéia é fraca e não cola, a realidade se impõe. Nas chamadas mobilizações, nas manifestações, vemos as mesmas caras, os mesmos grupos embandeirados com suas siglas e ideologias, cada um certo de que está com a verdade, como as religiões, de vez em quando se estranhando seriamente, ódios explícitos e insultos irreconciliáveis – em termos. Circunstâncias podem acontecer de vermos inimigos ferrenhos, pessoas que ontem se acusavam das piores intenções, de portadoras do pior caráter, no mesmo palanque, se afagando como se fosse um ato de nobreza, de superação das diferenças, em cenas ofensivas ao entendimento, à sensibilidade, numa hipocrisia cujo único ponto positivo é demonstrar em que nível está nossa prática política, a administração da nossa sociedade, e o quanto merece de confiança.
            Basta observar o ridículo poder de convocação, o descrédito popular às organizações ditas revolucionárias, pra perceber o isolamento destes grupos, restritos a movimentações simbólicas, sem poder de catalizar as paixões, de despertar as consciências, de provocar debates independentes, de causar, pelo menos, questionamentos. Quando acordarão pro fato de que a revolução da sociedade começa na revolução do indivíduo e, em primeiro lugar, nos que se pretendem revolucionários?
            Bueno, eu comecei a escrever na intenção de divulgar uma notícia que dá o que pensar, chegada pela Agência Petroleira de Notícias. Vazamentos de petróleo no fundo do mar. Acidentes provocados, como é freqüente, pela ganância, e que muitas vezes nem vêm à tona, não se fala, os interesses envolvidos são gigantescos, poderes econômicos esmagadores. Há uma série desses “acidentes” acontecendo, com regularidade, há bastante tempo. Regularidade acentuada depois de se descobrir o pré-sal. As empresas que já conseguiram seu quinhão, via leilões lesa-pátria que os governos se viram obrigados a fazer, pressionados pelas forças econômicas estrangeiras e, sobretudo, pelos sócios brasileiros, neo-mega-empresários e a mídia, essas empresas sabem haver disputas internas e que há luta por leis que restrinjam sua participação. Quando se intalam, tratam de retirar o máximo de petróleo, o mais rápido possível, não importam as conseqüências, antes de serem impedidas por lei – ainda que tenham grande poder de pressão interna e internacional, política e jurídicamente, somados ao poder de mídia.
            Um conhecido meu trabalha numa plataforma de petróleo, em Santos. Há alguns anos encontrei com ele, que me relatou a passagem de navios de guerra dos Estados Unidos margeando as águas territoriais brasileiras desde a divulgação do pré-sal, da descoberta de enormes quantidades de petróleo. Ele me disse que via passarem esses navios todo dia. Foi a reativação da quarta frota estadunidense, parte da polícia do planeta, em demonstrações de força. Quantidades imensas de dinheiro são necessárias pra mover essas esquadras, com seus porta-aviões, destróieres, cruzadores, aviões, helicópteros, bombas, munições e milhares de militares. Essas movimentações dão idéia do tamanho da importância desse petróleo, da quantidade inimaginável de grana que vai brotar dali e do perigo que estamos todos correndo, com a cobiça dos grandes inimigos da humanidade localizada em nossa área. Já vimos como são capazes de atacar países, matar populações civis, destruir estradas e pontes, hospitais e escolas, fábricas e toda a infra-estrutura de uma nação, em proveito de suas empresas - petroleiras, armamentistas, construtoras, etc. No Brasil, eles contam com a desinstrução e a desinformação do povo, além de terem aliados de monte - e de monta - nas elites do país, que arreganham os dentes aqui dentro e abanam o rabinho lá pra fora. 
            A população não sente o petróleo como sendo seu. Nunca viu resultado dessa riqueza em sua vida, a mixaria destinada à maior parte da população - se é que existe, não dá pra sentir, nunca deu, nem quando era estatal.. A gente vê os políticos e os especialistas falando em altas somas, valores incríveis, mas o posto de saúde é uma merda, a escola é outra, os transportes, nem se fala – e olha o preço da comida, olha quanta gente desabrigada, olha a miséria que nos cerca. As coisas não são explicadas à maioria, ao contrário, à população é sabotado o desenvolvimento racional, com uma parcela ridícula do orçamento para a educação, perpetuando a ignorância – a meu ver, intencionalmente. O povo não entende o que acontece. Intuitivamente, sente, pois a intuição se desenvolve na carência do desenvolvimento da racionalidade e o brasileiro médio tem uma intuição altamente desenvolvida. Um poder que ele mesmo não reconhece, esmagado pelo massacre publicitário e de propaganda pseudo-ideológica, que implanta sentimentos de inferioridade aos que têm pouco, que “sabem menos”, à esmagadora maioria, aos explorados, sabotados, reprimidos e desprezados da sociedade. Não se pode esperar que a população lute pelo "seu" petróleo. Ela não sabe e não acredita que essa riqueza seja sua, seu dia a dia esculacha com essa idéia, torna-a absurda, sem pé nem cabeça.
            Uma vez recuperada a auto-estima, a intuição se torna um instrumento de grande utilidade, nas escolhas pessoais, nas relações sociais, nas posições políticas. Para despertar dessa narcose, o caminho é o sentimento. O afeto é o melhor caminho para despertar as pessoas. A tolerância, a persistência com inteligência, com respeito e humildade. De outra forma, o que se encontra é rejeição, oposição e conflito. Que, aliás, é o que mais vemos no cenário político. Conflitos inúteis, inofensivos ao sistema.
            Falta quem trabalhe em conscientização, em despertamento, sem arrebanhamento, sem imposição ideológica alguma. Os cursos de formação política que vejo por aí são, na verdade, cursos de conformação ideológica, de imposição de verdades e criação de rebanhos que gastarão suas energias combatendo outros grupos, enquanto a barbárie social come solta. Esses comportamentos desmoralizam cada vez mais a palavra ‘revolução’ e o revolucionário já é costumeiramente ligado à noção de chato, de perturbação, de incômodo, à sensação de “já vi e não gosto, não”.
            Já tô saindo da linha de novo. O papo aqui é petróleo. Nada do que acontece é de se estranhar, onde há mega-empresas, há mega-falcatruas. Mas é preciso repercutir essas notícias, dentro do processo de despertamento que percebo, ainda pouco visível, mas que venho acompanhando há pelo menos trinta anos e caminha, sem parar, embora lentamente. Hoje, há muito maior número de despertos que antes. E o processo de contaminação está bem mais intenso. Conscientizemos uns aos outros.
            Não adianta, de qualquer ponto estou caindo na evolução humana, individual e coletiva. O recado está dado.

             Abraços a todos,
                                         Eduardo.

sábado, 17 de março de 2012

Cátia com "C"

Cadê você?
Cê começou a contar sua história e parou no seu pai, desescolarizado e sábio. Essa condição e seu amor por ele criaram a condição rara de obter o conhecimento acadêmico e não perder o respeito pela sabedoria dos sabotados em educação. Esperei que aparecesse no segundo dia de PUC-RS, cheguei a perguntar ao Guilherme, mas nada.
Tua história pode servir pra muita gente, que vive nos pedestais acadêmicos, se tocar do ridículo e do quanto estão perdendo, com esse condicionamento idiota de superioridade. Cê disse que lia esse blog, vez por outra. Apois, tô tentando saber o resto da história. O endereço é esse do cabeçário, mesmo, faz favor. Tem gente boa que se contamina com o condicionamento de superioridade dos cursos universitários, pelo inconsciente, e nem percebe, tão entranhado é esse condicionamento. A arrogância, a grosseria, a indiferença ou a benevolência com que se trata os mais pobres e menos escolarizados têm origem no mesmo sentimento de superioridade, as variações são pessoais, do temperamento e do caráter de cada um.
Curso superior deveria ter outro nome, se não tivesse o objetivo de formar classes "superiores", separadas do todo, da coletividade, para servir aos interesses empresariais. De todas as formas, seja com serviços profissionais específicos de cada área, seja na administração hipocritamente pública (pois está sob controle da privada), seja no comando, controle e condução da massa empobrecida, explorada e excluída dos benefícios da tecnologia, além de sabotada e roubada em seus direitos fundamentais.
Numa sociedade verdadeiramente humana, considerando a situação atual, deveria haver um pórtico na entrada das universidades, com letras garrafais, dizendo "você que entra neste estabelecimento está tendo acesso a conhecimentos negados à maioria da família humana, portanto está adquirindo uma dívida moral com essa maioria, que construiu, mantém e sustenta não só essa escola, como toda a sociedade. Trate de merecer esse privilégio, distribuindo todo o conhecimento e seus benefícios à coletividade".
Na forma atual, dominada por interesses empresariais, egoístas, a mensagem é oposta, embora subliminar na maior parte das vezes. "Guarde o conhecimento privilegiado como um capital pessoal, em seu próprio benefício e dos mais próximos, pois o mundo é uma arena de batalha onde todos são adversários e não se pode confiar em ninguém".
Interesses empresariais dominam nossa sociedade em todos os setores estratégicos. Esses poucos se prepararam pra todo tipo de contestação, manifestação, protesto. Mas não têm como permanecer no controle se houver consciência da realidade espalhada pela população. Instrução e informação são as maiores carências pra mudar a sociedade pra melhor, em benefício de todos.

Então, Cátia, dá as caras aí, preciso da tua história, que ficou pendurada na minha precária memória.

Em 12 de maio de 2012 - ...e a Cátia não apareceu.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Luzes quebram correntes

O cidadão médio, com cabeça de televisão, o político marionete,
manobrado do escuro, o ensino em ruínas, os hospitais opressivos,
as correntes de mentiras, entre outros detalhes.


          Uma sociedade injusta como a nossa precisa ser observada com muito cuidado e prevenção (contra as armadilhas, dissimulações e distorções “plantadas” no caminho do entendimento), para revelar suas realidades, a forma como está entranhada, infiltrada em nossa inconsciência, como se fosse a única estrutura social possível, como se fosse a melhor, com valores traiçoeiros, falsos, mas fortes como verdades.
            Acreditamos que a vida é uma competição desenfreada e é dividida em dois mercados, o de trabalho e o de consumo. Acreditamos ser superiores quando temos muito e inferiores quando temos pouco – seja materialmente ou em conhecimentos mas, em geral, os dois. Narcotizados pela mídia, pressionados econômica e psicologicamente, esquecemos os valores da alma, a solidariedade, a preocupação com o bem-estar coletivo e sua busca, o afeto nas relações, o prazer do bem-fazer, o sentimento de integração no todo, a cooperação, a humildade, a generosidade. Ou guardamos tudo isso num cubículo remoto da mente, para usar apenas com uns poucos, mais próximos e chegados. E o resto é guerra.
            Com o egoísmo estimulado ao máximo, vemos adversários por todo lado e deixamos de perceber a grande família humana da qual somos parte – mais que isso, somos uma família planetária e consangüínea, pois nos alimentamos todos da carne e do sangue do mesmo planeta. Somos todos conterrâneos. Mas estamos acorrentados por mentiras em que acreditamos e que nos estragam a vida e o mundo. Descobrir em nós mesmos – e desacreditar – as mentiras impostas como verdades é o primeiro passo para quebrar as correntes da escravidão contemporânea.
            Para muitos, é difícil perceber as próprias prisões. As grades são apresentadas como proteção, como garantia contra a barbárie. Por isso a barbárie – miséria, ignorância plena, abandono; e violência e repressão como conseqüência – é mantida, para criar medo, conformação, como uma chantagem irresistível. Por isso a mídia se especializou em distorcer a realidade, para não se ligarem causas e conseqüências de tanto desequilíbrio. Para que a miséria seja vista como inevitável, sem nada a ver com o predomínio empresarial, com o egoísmo estimulado, com a concentração de riquezas e privilégios.
            Desejamos riquezas e privilégios, vemos nos irmãos, adversários, transformamos qualquer discordância em discórdia e conflito, confundimos valor e preço, amor e posse, amizade e interesse, felicidade e consumo. Construímos, assim, as grades da prisão e as correntes da nossa própria escravidão. Prisioneiros de mentiras, desejamos o que nos é induzido e nos comportamos como é condicionado.
            Se rompemos ou afastamos algumas dessas grades, apenas o suficiente para colocar a cabeça lá fora, é possível perceber o infinito espaço externo, ao mesmo tempo as restrições e o sofrimento da vida engaiolada – e a inutilidade dos seus subterfúgios –, além da fragilidade das mentiras que compõem as grades e correntes que nos prendem. Se, de dentro, essas prisões parecem indestrutíveis, de fora elas se revelam ilusões e desabam ao leve toque de um olhar mais lúcido. Nesse momento, é impossível conter a vontade de abrir as asas e voar. Só o medo pode impedir o vôo, as ameaças estratégicas, planejadas e impostas pelo sistema – cobrando o preço da frustração, do vazio e da falta de sentido na vida a todos que precisam de mais do que matéria, ostentação, consumo e outras superficialidades sem alma. Mas o tempo passa, mudanças não param de acontecer e, apesar das mentiras, cada vez mais a angústia supera o medo, cada vez mais pessoas abrem suas asas e voam, apesar das ameaças, apesar das mentiras, apesar das perseguições, apesar da repressão.
            Como uma febre que se alastra, a lucidez contamina, a consciência se desenvolve e abre caminho na escuridão. Lentamente, como todo processo da natureza, e sem que nada possa impedir. As luzes se acendem, ainda poucas, mas são luzes que acendem outras luzes que, por sua vez, seguirão acendendo luzes outras.

                                                                                                                          Eduardo Marinho

sexta-feira, 9 de março de 2012

Crimes sociais de empresas, desta vez aéreas, em cooperação com os poderes "públicos", por Oberdan Barbosa.

Recebi o pedido de ajuda do Oberdan, pra divulgação da situação em que está colocado por, ele diz (e eu acredito), ter feito em seu trabalho denúncias sobre procedimentos que atentavam contra a segurança dos vôos por algumas empresas. Fucei aí na internet e encontrei várias referências ao assunto, senão verdadeiras, perfeitamente possíveis de serem verdade. Muitíssimas empresas, na busca de seu objetivo principal, dinheiro, o chamado lucro, contêm custos sonegando, demitindo, aumentando cargas de trabalho, violando legislações, comprando parlamentares, juízes, advogados, destruindo vidas, influenciando poderes públicos, difamando, perseguindo, assassinando denunciantes e testemunhas que não se vendem e inumeráveis outros procedimentos na mesma linha. Não é de se estranhar, as grandes (leia-se ricas) empresas costumam não ter nenhum compromisso moral, social, humano, nenhum compromisso além do lucro, dos ganhos possíveis a qualquer custo. Alguns podem dizer que não é bem assim, que não são todas. Eu digo que pode até haver exceções, mas essa é a regra geral - basta ver como o aparato público trata a maior parte do público, a maioria pobre. Essa mazela social não está restrita ao espaço aéreo, está espalhada e enraizada em toda sociedade, em todos os setores. A empresarização da sociedade se reflete no modo de vida, nos valores vigentes, nas disputas intermináveis, as competições cotidianas, na idéia da vida restrita ao ridículo vencer ou perder, a coletividade dividida entre vencedores, poucos, e perdedores, muitos. Absurda dualidade que inferniza a vida de toda coletividade humana, afastando, dividindo, conflitando, o egoísmo estimulado ao máximo. A desonestidade "bem-sucedida" é premiada, enquanto a honestidade que se põe no caminho do lucro é reprimida, difamada, corrompida ou destruída. Ou pelo menos reduzida a uma expressão mínima e inofensiva aos interesses vampirescos. É disso aí que fazemos parte, é nesta sociedade que a maioria tenta se ajustar, colaborando com seus valores e comportamentos, objetivos e meios de alcançá-los.

Voltando ao assunto, coloquei abaixo um vídeo do Oberdan e um texto da associação formada pelos parentes das vítimas do acidente com o avião da Gol com o Legacy dos pilotos estadunidenses ilesos enquanto os 154 ocupantes do outro avião (que voava em sua rota programada) morreram. Num comentário, Oberdan se apresenta e é apresentado por outros comentários.

O vídeo, pra mim, parece mais o ensaio que a apresentação. Há pausas desnecessárias, mistura os fatos com opiniões pessoais, analisa frações do sistema judiciário, cita os movimentos árabes, com ênfase no Egito, aconselha ações a diversas figuras envolvidas e denuncia as perseguições que sofreu e vem sofrendo. Acusa a venalidade e a traição de advogados e testemunhas. Declara sua confiança num deus, coisa que sempre me causa uma sensação estranha, embora eu respeite essas projeções por perceber sua influência nas posições morais dos mais fragilizados. Não contesto, apenas não reconheço no ser humano capacidade pra compreender tal magnitude, pois se não conhece nem uma ínfima parte da criação como pode se arvorar a conceber o criador? Aliás, criador já indica forma de gente, um "super-serumano". Mas nada disso serve pra desacreditar as denúncias, ou seu denunciante que é também vítima. Nada disso sinaliza a índole do caráter.

Acredito no Oberdan, embora reconheça sempre a possibilidade de estar errado. Ou, dito de outro modo, reconheço sempre a possibilidade de estar errado, mas acredito no Oberdan. O assunto é digno da atenção de todos.

 http://oberdanbarbosa.wordpress.com/videos/

http://nadiatimm.com/Joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=451&Itemid=35

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.