segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Estamos a trote na direção dos colapsos

Ao afirmar que as ongs aplicadas na preservação ambiental estariam por trás dos mais de setenta mil focos de incêndio na Amazônia, a "autoridade máxima" do país e seus defensores dão uma demonstração clássica de julgar os outros por si mesmo. A agressividade violenta, intolerante e vingativa é a índole demonstrada à exaustão por essa... digamos... linha política de comportamento. Assim é fácil pensar que se toca fogo por vingança, pela suspensão de verbas destinadas exatamente à preservação ambiental - aliás, já falada e prometida como compromisso de campanha, abertamente, com o apoio total de madeireiros, garimpeiros, criadores de gado, plantadores de soja e outros tradicionais destruidores das florestas, assassinos dos seus povos. É o que nos diz a História, não por acaso outro alvo de ataques dessa "turba", com 'b' mesmo. A ignorância é o alicerce dessa linha política e sua correia de transmissão conta com a mentira e a violência explícita na sua composição. Não pode haver espaço pra reflexão, profunda, serena, sincera, é preciso gritos, insultos, pancadas pra levantar a poeira e não se enxergar a realidade. E a realidade é que, se já caminhávamos em direção ao caos social, agora estamos trotando, correndo, apressando os colapsos. Terríveis consequências se anunciam, já se apresentam em nosso cotidiano social, por mais que se escondam pelos meios de comunicação privados e dominantes das comunicações no país. Exponho aqui algumas coletas de informação do dia de hoje apenas, dos informativos que recebo e leio diariamente. O presidente do PROAM conclui dizendo que o governo cava "seu próprio buraco". Quem dera. O buraco está sendo cavado por todo o território nacional e quem vai ter que sair dele é o povo, principalmente os trabalhadores, os pobres, os miseráveis, os excluídos, as vítimas permanentes desta sociedade primitiva que comete crimes continuados, por gerações, contra sua própria população. O problema, afinal de contas, não é "este governo", mas a formação da sociedade em si. Este governo está apenas descarando o que era menos descarado, apressando o passo em direção aos colapsos sociais que venho anunciando há quatro décadas como inevitáveis, se não houvesse mudanças de costumes, de valores, de comportamentos, enfim, de modelo de sociedade. Não houve. O descaramento total de agora pode ser mais uma chance de se perceber a realidade social e a falcatrua da imagem social apresentada, as mentiras deste modelo e a urgência da criação de outro, outra forma de existir e de ser, coletivamente, socialmente. Ou isso, ou as mudanças serão impostas pelo sofrimento, pela destruição, pela catástrofe, pelos colapsos.

Abaixo uma pequena série do que li hoje. Em parte do que vi, que não tenho tempo pra passar tudo. Bom proveito a quem puder dar.


"Desde que o Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assumiram seus postos de governo, todas as políticas ambientais ficaram em xeque. Mesmo o fundo de recursos foi alvo de mudanças, o que desagradou seus principais doadores, Noruega e Alemanha que, nas últimas semanas, optaram por suspender os repasses diante do aumento do desmatamento no governo Bolsonaro. Na comparação com julho de 2018, neste ano, houve um aumento de 278% na taxa de devastação, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Dizer que o Fundo Amazônia era para as ONGs é uma balela. Na verdade, o Fundo atendia não só os poderes públicos estaduais e municipais, como também as próprias comunidades que vivem na Amazônia e que tinham o incentivo ao extrativismo sustentável, que é um saída econômica para aquela região”, afirma (o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental - Proam -, Carlos Bocuhy)Sem os recursos internacionais do Fundo Amazônia, projetos dos corpos de bombeiros florestais do Pará, Tocantins, Mato Grosso, Acre, Rondônia, ou mesmo a fiscalização do Ibama são prejudicados." 
"Durante sua entrevista na Rádio Brasil Atual, o presidente do Proam também criticou o edital, divulgado nesta quinta-feira (22), para contratar uma empresa privada voltada ao monitoramento da Amazônia, a despeito dos sistemas brasileiros usados ao longo de décadas. Bocuhy analisa que isso será “um desperdício de dinheiro público” apenas para contradizer os dados que jogam contra Bolsonaro ao explicitar as consequências de suas políticas."
"Ibama publica edital para empresas privadas monitorarem desmatamento"  
“Você tem a perda do Fundo Amazônia, de milhões e milhões de reais, jogando dinheiro público fora, é um absurdo que o governo faça isso. E, agora, ele quer gastar mais de forma desnecessária. Ou seja, para tumultuar a situação, para dizer que está fazendo uma nova política inovadora, o governo descarta tudo o que já tinha e funcionava bem, afirma Carlos Bocuhy.”
"“Isso me assusta porque, pior que fossem os governos anteriores, era possível dialogar, e agora só nos resta o Judiciário e a pressão internacional”, analisa. “A má imagem do Brasil traz uma perda econômica relativa às commodities, dos produtos certificados e desregula o mercado internamente já que se tem a perda de divisas no exterior. Acredito que o governo está cavando o seu próprio buraco”, finaliza (Bocuhy)."
Foto - Jornal da USP
"O Brasil era até recentemente reconhecido internacionalmente como líder na proteção da biodiversidade, e rapidamente se transformou no país que mais agride a biodiversidade -" ambientalista José Pedro de Oliveira Costa, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo.
"Aquilo que é um bem da população brasileira está se transformando em um bem privado, bem debaixo dos nossos narizes."
"A pesquisa revela o “impacto catastrófico” que agrotóxicos têm no meio ambiente e saúde humana. Estima-se que cerca 1,2 milhão de toneladas de agrotóxicos altamente perigosos são usados nos países de baixa e média renda todos os anos, representando um enorme mercado – cerca de US$ 13 bilhões."
"“É necessário denunciar o uso dos agrotóxicos como uma arma química. Temos que olhar para esses dados como um processo de extermínio da população mais pobre”, aponta categoricamente Francileia Paula de Castro, agrônoma e educadora da FASE, que também integra a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida."
"Um conjunto de 454 municípios brasileiros, com uma população total de 33 milhões de pessoas, apresentou resíduos de agrotóxicos na água para consumo humano acima dos limites legais pelo menos uma vez durante o período de quatro anos, o que representa um quarto do total de cidades. Dos 27 tipos de produtos encontrados, 16 são classificados como altamente tóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 11 associados a doenças como câncer, disfunções hormonais, doenças crônicas e malformação fetal."
"A versão em português do relatório “Lucros altamente perigosos” foi lancado pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida nesta quinta-feira (29), às 15h, na aula pública “O envenenamento do povo brasileiro – impactos dos agrotóxicos à saúde”. A atividade integrou a 18ª Jornada de Agroecologia, que aconteceu em Curitiba de 29 de agosto a 1º de setembro."

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.