Erundina e os partidos
O que
aconteceu com Erundina no PSol deveria servir de alerta à chamada “militância”.
Mas quem sou eu, né, pra falar das coisas partidárias, ali minha palavra não
vale muito. Mas eu vi esse processo antes, nos idos de 90, quando freqüentava sindicatos,
assembléias, federações, congressos, onde haviam pessoas reflexivas e eu vendia
meu trabalho. Foram décadas de observação “de fora”, apesar de ter grandes
amigos e de ter vivido coisas inesquecíveis. Sempre me cobravam filiação às
suas entidades, mas eu dizia que já era filiado à minha consciência e circulava
entre vários agrupamentos ideológicos diferentes, pelo menos os que me davam
acesso – e não eram poucos. Eu era visto como um hippie com visão crítica, que
ainda não tinha me definido ideológicamente. Eu deixava quieto, mas minha
formação ideológica estava se construindo todo o tempo. Até hoje, aliás. Mas eu
vi os conflitos começarem a acontecer, até o fisiologismo, pouco a pouco, se
estabelecer.
No PT
começou com a "articulação", cujo nome já aponta ao que vem, pouco a
pouco reduzindo a "DS" por dentro do partido, os leais, os gente boa,
os que acreditavam em construir uma sociedade mais justa. Aliás foi dessa
galera que nasceu o PSol e alguns outros partidos pequenos - os chamados
"de esquerda". A própria Erundina era militante no PT e saiu numa das
levas de indignados.
Mas já
brotou esse caroço no PSol, também, há um tempinho. Só a aproximação e ocupação
dos cargos institucionais parece contaminar com esses “tumores” autoritários
pra dentro e flexíveis pra fora. Ou extirpa, ou se contamina.
O PT não
extirpou e obriga os bem intencionados a “articulações” mentais e verbais
malabarísticas pra explicar o inexplicável. Se forças maiores obrigaram a fazer
copa e olimpíadas expulsando duzentos e cinqüenta mil famílias das suas casas –
já precárias pelo crime do Estado em não cumprir sua constituição – e destruir
a vida na região da usina de belo monte –
entre muitas outras perversidades sociais –, que se denunciem essas forças em
toda parte. Mas elas estão muito enraizadas no aparato público, nas casas
legislativas, nos poderes de governo, no judiciário – com honrosas e fugidias
exceções – e não é possível se aproximar dos poderes institucionais sem a aprovação
dessas forças – que têm sua raiz no mercado econômico-financeiro internacional
e suas ramificações nacionais, não só no Brasil, como na maior parte dos países
do mundo.
Agora parlamentares do PSol “articulam” com vampiros vendidos, em troca de cargos e posições. É um velho e triste caminho. No passado, partidos que não se curvaram foram dizimados, perseguidos, proibidos, torturados - e os dominantes aperfeiçoaram os mecanismos de cooptação institucional.. É a estrutura social. E ela está dentro de cada um de nós, inclusive os que se sentem "revolucionários".