sábado, 30 de maio de 2020

A distância dá valor ao abraço

Paramos pra comprar uma coisinha numa loja de variedades. Ela desceu e foi, a criança (quatro anos) começou a gritar "mamãe, eu vou também!", ela já atravessava a rua, ele insistiu, "quero ir, quero ir, mamãe!". Ela já nem ouvia, eu respondi, "eu também queria ir, moleque, mas não dá pra gente ir todo mundo". Ele alongou a voz, contrariado e triste, "por quee, eduuu...? "Porque não estamos mais no tempo de chegar perto, não pode entrar em grupo, olha lá como não tem ninguém na loja. É tempo de ficar longe das pessoas, por isso que a gente tem essas máscaras". Ele não disse mais nada. E eu fiquei pensando, não é tempo de aproximação, de abraços, de apertos de mãos, de toque. Que tempos são esses...
Sinto falta dos abraços tão frequentes, do sorriso, das conversas, das risadas, da troca de sintonia, das percepções de dessintonias e suas raízes. Passei a vida toda expondo nas ruas, nas praças, vendendo minhas artes diretamente às pessoas, artes reflexivas que geram papos reflexivos, profundos, esclarecedores, instrutivos a todos os que participam com o canal de recepção aberto.
Olhei a loja do outro lado da rua, sentado ao volante da kombi, as prateleiras cheias de variadas coisas, eu adoraria estar lá dentro vendo tudo, falando com as pessoas, assuntando, dando risada. Mas não é tempo, agora, e não sei por quanto tempo será assim.
E me pergunto, por quê razão profunda isso tá acontecendo? Bueno, assim se vai perceber o valor do abraço, do contato, da troca. A humanidade, em sua maioria, não aprendeu a abraçar de verdade. Só conheceu o abraço no seu círculo restrito, que é muito bom, mas que precisa ser estendido pra muito mais, pra longe, pro todo. Abraçar toda a humanidade, toda a diversidade, toda a vida no planeta, incluindo bichos, plantas, águas, terras e ares. A gente ainda não aprendeu, não se desenvolveu a esse ponto como coletividade humana, embora existam muitas coletividades de exceções que sim, aprenderam e colocam na prática cotidiana. É preciso no geral e, por ainda não termos aprendido, fomos proibidos de abraçar. Os poucos vão no bolo. As exceções colhem os frutos do plantio geral, sem terem plantado em suas vidas. Algum motivo haverá.
Imagino um dia isso passando - ou mudando de etapa - daqui a alguns anos, quando a gente puder se abraçar de novo, sem medo, o alívio que vai ser. Talvez então o abraço possa ser mais que corporal, seja de alma, de irmandade, pra muitos mais. Pra todos sei que é impossível, mas haverá redução de hostilidades e aumento de afeto. Não posso afirmar certezas, mas é o que diz minha intuição. Ou isso ou iremos mais pro fundo do poço, pra ver se finalmente tomamos impulso pra nos tornarmos mais humanos pra constituir uma sociedade menos injusta, mais humana, menos perversa e mais solidária.
No indivíduo como no coletivo, o sofrimento é sempre oportunidade de crescimento, de desenvolvimento, de superação, sensibilização e entendimento. Daí que o espanto não é surpresa, tudo isso tá prometido há muito tempo, pela mística há milênios, pela ciência há décadas muitas. E ignorado, omitido pela mídia empresarial, porta-voz dos que se beneficiam da destruição e do desequilíbrio.
É preciso criar e desenvolver resistência pra esses tempos de mutação forçada, acelerada. A dor é certa, as revelações estão se fazendo a respeito da estrutura social em que vivemos, distraídos pelo massacre publicitário, midiático, ideológico, exercendo valores que não escolhemos, obrigados a uma vida sem sentido verdadeiro, com sentidos superficiais e falsos, a caminho da sensação de vazio, de inutilidade da vida, da falta de sentido. O sentido da vida é abstrato e vai muito além da vida, somos um grupo muito maior do que pensamos, do que enxergamos. A matéria não é a única dimensão da existência, temos portais interdimensionais à vista, nascimento e morte. Pra mim, é óbvio que a razão, o objetivo da vida não está no mundo físico, pois que temos entrada e saída - com apenas algumas décadas de passagem numa realidade "eterna". Entre aspas porque a eternidade está fora da minha capacidade de compreensão e alcance. Mas o pouco que alcanço já é muitíssimo maior que a vida física. Assim os valores do mundo são temporários e, no momento, artificiais, induzidos e ilusórios.
Os tempos de hoje impõem distanciamento pra que aprendamos a tratar melhor com as aproximações.  Não só, evidentemente, mas sobretudo. E como processo coletivo, são tempos de gerações várias, um hoje estendido a décadas, talvez séculos. Os abraços ainda serão amplos, gerais e de almas, mas o processo não termina aí. O sentimento de coletivo deve alcançar o nível de não admitir mais fome, miséria e abandono. Será o tempo de uma sociedade humana, finalmente. O que for necessário pra chegar a esse ponto, será.


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Artigo interessante sobre a geopolítica mundial da atualidade


As novas equações no sistema de poder mundial

Por: Nicola Hadwa y Silvia Domenech
Publicado 25 maio 2020



Na atualidade, a política externa norteamericana já não tem um epicentro. Os focos vitais para os Estados Unidos estão no mundo inteiro. E cada vez são mais perigosos para todos.
Há algumas décadas, as potências ocidentais criaram um sistema de poder que, praticamente, as converteu em juízes permanentes de um mundo dominado pelo imperialismo, a cujos ditames os países deviam se submeter sob pena, caso não o fizessem, de se verem invadidos, sob diferentes pretextos, ou ser alvo de golpes de estado ou, simplesmente, enfrentar sua destruição econômica e política.
O desenrolar dos acontecimentos, a arrogância do poder unipolar norteamericano e a necessidade de sobrevivência interna do capitalismo e das estruturas econômicas internacionais feitas à sua maneira, leva, no entanto, este sistema de poder a tentar submeter outras economias, como a chinesa e a russa, e colocá-las sob sua esfera de controle direto. Lancemos uma rápida vista aos últimos acontecimentos.
Comecemos pela tentativa de derrubar o governo sírio e tirar a Rússia do mar Mediterrâneo, privando-a do único porto russo no Mediterrâneo, Tartús, onde chegam os navios da Criméia, no mar Negro. O iminente fracasso desta ação leva o império a derrubar o governo ucraniano para colocar um fantoche e depois privar a Rússia do porto de Sebastopol, na Criméia. O resultado desta manobra significou a separação de algumas províncias do Donbass e um referendo onde a população da Criméia votou de forma esmagadora em pertencer à Rússia, e não à Ucrânia, intensificando as pretensões norteamericanas de isolar a Rússia.
Logicamente, soaram os alarmes e se preparam condições para derrotar novas conspirações anti-russas.
A administração dos Estados Unidos se volta para a China, pretendendo atrasar e diretamente minimizar o desenvolvimento econômico desse país, para dominar sua economia e favorecer as transnacionais norteamericanas, cujos interesses estão entrelaçados com os das européias, a fim de que estas mantenham a hegemonia comercial e estabeleçam o controle sobre o comércio chinês. Isto leva o império a tentar cortar e anular todos os projetos de desenvolvimentos comerciais da China, principalmente os relacionados com a nova rota da seda e, em particular, com a Organização de Cooperação de Shangai que inclui ainda, entre outros, a Rússia, e à qual se integram países como Irã, que é um aliado estratégico desta última.
China, então, amplia e adapta o porto de Chabahar, no sudeste do Irã, na fronteira entre o oceano Índico e o mar de Omã, o que lhe permite conectar-se com o Golfo Pérsico para que funcione como centro de distribuição para todo o mundo, principalmente Europa, do novo comércio pela rota da seda, que necessariamente integra a países como Paquistão, Irã e Rússia, entre outros, a qual aglutinaria 65% do comércio mundial e concentraria países que possuem ao redor de 70% dos recursos do mundo. No centro deste comércio estarão Rússia e China e, de forma crescente, o Irã.
O império, em sua tentativa de isolar a Rússia, junta a intenção de bloquear a China. O que, evidentemente, levou ambos países a estreitar suas alianças político-comerciais e atuar em conjunto, já não somente na Ásia, mas em todo o mundo, e a se protegerem e colaborar com seus aliados.
Os Estados Unidos se dá agora a tarefa, em conjunto com seus obedientes e submissos colaboradores Arábia Saudita e outros como Qatar e os Emirados Árabes, de bloquear tanto a Rússia quanto a China, de forma conjunta.
Desta perspectiva, criam um movimento terrorista de envergadura, o Daesh (ISIS) ou Estado Islâmico, organização ultra-terrorista e selvagem. Seu objetivo central seria derrubar o governo sírio e depois o iraquiano, para fechar a passagem da China pela nova rota da seda e, fechando o porto de Tartús à Rússia, transportar o petróleo saudita e dos Emirados – por um oleoduto que desembocaria em Haifa – para a Europa. Seu preço quase monopolizado permitiria anular o comércio do petróleo e gás da Rússia com a Europa e, dado que a fonte do abastecimento seriam as monarquias feudais, a quem não importa desperdiçar os recursos do país, este sempre teria um preço preferencial, o que daria ampla margem à possibilidade de debilitar profundamente a economia russa e ao país. Os riscos para a Europa de uma campanha anti-russa, de forma direta e decidida, no entanto, eram muitos, já que qualquer contradição entre as empresas européias e norteamericanas e a falta de alternativas de abastecimento poderia significar um preço monopolizado e/ou a perda de liberdade comercial.
Por outro lado, seguindo esses desígnios ianques, a monarquia feudal Saudita inicia uma guerra insensata contra o Yemen, com o objetivo de satisfazer o desejo norteamericano-israelense de controlar o estreito de Bab El Mandeb*, gargalo que dá acesso ao Mar Vermelho desde o oceano Índico, pelo golfo de Adén, o que o faz passagem obrigatória até o canal de Suez e o Mediterrâneo, tendo portanto uma imensa importância para o comércio e a segurança internacionais ao ser o que liga os portos europeus com a Ásia e com o Golfo Pérsico, passando por em torno de 10% do petróleo mundial transportado por mar.
Foi a aliança da Rússia com o Irã e com as forças anti-imperialistas e anti-sionistas do Oriente Médio – a Frente da Resistência formado pelo Movimento Libanês Hezbollah, o governo da Síria, o Movimento Yemeni Ansarolá e outros grupos aliados, como Hezbollah Al Nuyaba, do Iraque, Hashad Al Shaabi, Ansar Allah, Hamas, Jihad Islâmica Palestina e a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) – o que permitiu mudar o rumo da guerra contra o terrorismo na Síria e deter a desintegração desse país. E fazer, em geral, que todos estes projetos de domínio imperial do Oriente Médio estejam sendo derrotados.
Arábia Saudita e seus aliados, no entanto, têm demonstrado ser os traidores não só dos seus povos, mas do mundo árabe e islâmico, num trabalho absolutamente contrário a estes, colocando seus recursos à disposição do regime sionista e dos Estados Unidos, para promover o domínio destes sobre os pontos estratégicos do Oriente Médio e, ao mesmo tempo e de forma ativa, a normalização dos laços com aqueles que os exploram e, em especial, com esta entidade anti-árabe e anti-islâmica que é a entidade sionista. Mas há mais ainda. Traíram também o povo palestino e sua luta contra a ocupação sionista.
Mas a guerra contra a China não pode parar. É a guerra do petróleo. E aí está a entidade sionista, que segue fiel ao seu rol de gendarme do imperialismo, apesar da estratégia de usá-la como meio para agredir e derrotar os países da Frente da Resistência e obrigá-los a se submeterem aos Estados Unidos ter falhado. Não importa, os estadunidenses sempre os apoiaram. Os sionistas coordenam as atividades contra os povos do Oriente Médio e em outros continentes, cooperando ativamente nos complôs contra Venezuela, Cuba, Nicarágua e Bolívia, tratando de deter o inexorável despertar independente e libertário destes países, os quais também desafiaram o controle imperial. Países que este controle tenta sufocar, por meio de bloqueios ilegais, ilegítimos, que Rússia, China e Irã têm contribuído para resistir, transferindo suas ações de confrontação com o domínio norteamericano para a América Latina.
O interessante é que, se como base territorial do sionismo, sua entidade (Israel), em quilômetros quadrados, não é muito grande, ela representa o capital financeiro mundial e seu poder é imenso, pelo que seu lobby controla a política externa (e o congresso - n do T) dos Estados Unidos. O governo norteamericano, então, pressionado pela entidade sionista que controla sua política externa para os países árabes e tira vantagens aceleradamente da presença no poder de uma administração pró-sionista arrogante e soberba – que simplesmente há demonstrado não ter nada de estadista, apenas ser inábil em política, acostumada à busca de fortuna e sem conhecimentos –, inicia gestões para reforçar Israel. E agora doa terras e cidades, que não lhe pertencem, ao colonialismo sionista, aprofundando ainda mais seu conflito com o povo palestino, que resiste à ocupação e ao roubo do seu país.
Em meio a todo este panorama e afundado na crise gerada pela pandemia do COVID-19, Estados Unidos anuncia o deslocamento de uma “estranha” operação militar antidroga, ao que segue um frustrado atentado de incursão marítima na Venezuela. A realidade é que os Estados Unidos quer lançar mão do poder na Venezuela para controlar o mercado de petróleo e gás no mundo e, assim, poder novamente estabelecer um preço que, enquanto dana a economia russa, não lhe gera perdas – pois o prejuízo deverá ser absorvido pelo povo venezuelano – e não afeta as reservas ianques. E com o terrorismo e suas próprias bases militares no Oriente Médio, poderia manter a guerra terrorista contra a Síria e o Iraque, desta vez com o apoio da Turquia, e prolongar pela maior quantidade de anos possíveis, tentando assim paralisar e bloquear o projeto chinês da nova rota da seda, ao qual se incorporaram e trabalham ativamente a Rússia, o Irã e o Iraque.
Tudo isso quer dizer que o governo da Venezuela não só constitui um incômodo exemplo para a América Latina. Se transformou no ponto chave para fazer fracassar os planos globais do império, dirigidos a dominar o mundo com o enfraquecimento de Rússia e China. Países estes que, junto ao Irã, sustentam e apóiam a Venezuela e a queda do governo venezuelano nas mãos de um fantoche dos Estados Unidos como o auto-proclamado presidente Juan Guaidó constituiria para eles uma derrota estratégica.
Não é por acaso, então, que estes países estejam ajudando a ressurgir adequadamente a produção petroleira venezuelana. Assim, Rússia e China aportam capital, instrução militar e armas para que tenha capacidade de resistir ao embate criminoso do império contra o povo da Venezuela. Império que espera um levante popular cada dia mais distante. Com ajuda russa se reativou um complexo de refinarias com capacidade para 140.000 barris e agora, com a ajuda do Irã, pretende-se recuperar toda a capacidade de produção de combustíveis refinados. O Irã está enviando neste momento ajuda de emergência à Venezuela. Ajuda que os Estados Unidos ameaça deter, cinco superpetroleiros, além do pessoal que está no país trabalhando para reativar a dita capacidade de produção, que se quer levar novamente a cerca de 1.000.000 de barris de petróleo por dia e convertê-los em 66.000.000 de litros de gasolina, lubrificantes e outros derivados. O que romperia o bloqueio ianque sobre este país latinoamericano e terminaria por fazer fracassar o plano israeli-estadunidense contra a Venezuela, que pretendem substituir o governo por um à maneira dos planos imperiais.
Na Venezuela se joga, como na Síria, portanto, o destino dos planos norteamericanos. Em ambos, as desesperadas manobras imperialistas de desestabilização estão fracassando. O Estado sionista, que depende do músculo norteamericano, vai cavando sua própria sepultura, junto ao império. A nova equação já não tem só o Oriente Médio como centro de gravidade. Este é a América Latina, a Europa e o mundo inteiro, posto que o império se move sobre areias movediças. Mais por seu desespero em deter o rompimento do bloqueio à Venezuela, está colocando o mundo em uma perigosa rota de colisão.


*Nos últimos anos, este estreito tem passado por vários conflitos e se converteu em cenário da rivalidade entre potências regionais e mundiais, que pretendem se assegurar do seu controle. Ali se concentram aspectos de grande importância na atualidade do Oriente Médio e África Oriental: a guerra no Yemen, as constantes disputas e enfrentamentos no Sudão e na Somália, o confronto entre Irã e Arábia Saudita e é passagem obrigatória do petróleo e gás procedentes do Golfo Pérsico, pelo que constitui um ponto estratégico que atrai a presença e a influência de diversos países.

Nicola Hadwa – Analista internacional chileno-palestino. Ex-treinador da Seleção Palestina de Futebol. Diretor da Liga Latinoamericana pelo Direito ao Retorno e coordenador do Comitê de Solidariedade com o Povo Palestino do Chila. Especialista em temas principalmente do Oriente Médio. É colaborador de varias redes de notícias internacionais.
Silvia Domenech – Pesquisadora cubana com vários livros publicados. Doutora em Ciências Econômicas e Professora Titular da Universidade de La Habana e da Escola Superior do PCC.
Tradução – Eduardo Marinho.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Andorra agradece


Andorra é um principado encravado ao norte da Espanha, sem litoral, em área montanhosa. Muitas referências dizem "Andorra, Espanha", como no googlemaps, por exemplo. Mas espanhóis lá são considerados estrangeiros. Como "principado" imaginei que fosse uma monarquia, como a Espanha que, como reino, tem alguma superioridade sobre um principado. Mas na guerra espanhola, o exército do general Franco não passou da fronteira, o que demonstra que a Espanha respeita Andorra. Verdade que o exército francês tava lá dentro, pra garantir. Aí é que tá. O presidente francês é também co-príncipe de Andorra, são dois co-príncipes lá, o outro é o bispo católico da Diocese de Urgel, em território espanhol, nomeado pelo Papa, do Vaticano. Isso é um acordo que vem da idade média, sei lá como rolou, mas vem assim desde o século 12 ou 13. Por isso Andorra não é uma monarquia, é uma diarquia, a única no mundo - eu nem imaginava que existisse uma coisa dessa. 
Do tamanho de um município brasileiro médio, tem dez cidades - a maior com pouco mais de 24 mil habitantes e a menor com pouco mais de 1 mil e 600. Vive basicamente do turismo, embora produza alguma coisa nas suas áreas rurais, e é o segundo país mais alto da Europa, o primeiro é a Suíça. Hoje é uma diarquia parlamentarista, com governo, legislativo e judiciário. Não tem exército, França e Espanha garantem sua segurança, até com seus territórios, que Andorra só faz fronteira com esses dois países, e pelo fato dos dois co-príncipes viverem nesses países. Que acordo medieval criou esse quadro, nem imagino.
Recentemente, com o desastre do coronavírus na Espanha, o lado francês com um pouco menos violência mas igualmente ameaçador, Andorra se viu frigideira com fogo dos dois lados. Com apenas um hospital e uma dúzia de centros de atenção primária, a pequena população - perto de oitenta mil habitantes - viu a pandemia entrar com força. Eu não sabia de nada disso.
Chamou minha atenção as declarações que o ministro da saúde de Andorra fez esses dias, agradecendo os médicos cubanos por terem ajudado a conter a propagação da pandemia, "quando a brigada chegou, a incidência do SARS-Cov-2 era muito alta e o trabalho dos cubanos teve um impacto favorável no declínio da letalidade". A ministra das relações exteriores agradeceu a Cuba pelo envio dos profissionais, "por sua ajuda diante da pandemia".
As declarações foram feitas na despedida de 13 profissionais de saúde que regressavam a Cuba. Ficaram por lá ainda 26, por solicitação das autoridades locais, acompanhando os trabalhos na continuação. Fiquei curioso sobre os números de Cuba, busquei informações. Lá puseram grupos de saúde andando de casa em casa, testando todo mundo, todo contaminado teve sua rede de relações pesquisada e testada com atenção redobrada. E medicina é uma das maiores especialidades de Cuba, assim como a educação é outra, na formação de seres humanos solidários e conscientes.
Cuba teve 1974 casos confirmados, 467 internados, 1724 recuperados e 82 mortos pelo corona. Numa área próxima a Espírito Santo e Rio de Janeiro juntos, com menos de 12 milhões de habitantes. Botaí em proporção às populações. E pensar que os cubanos foram os primeiros a serem enxotados do Brasil por esse "governo", antes mesmo da posse, com ameaças e estímulos à agressividade a esses médicos - que servem ao mundo com sua medicina e seu amor. Teve médico cubano nos países europeus em crise corônica, Itália, Espanha, já ao longo da história Cuba exporta medicina e educação, sobretudo em países pobres. Nada é divulgado na mídia empresarial, ao contrário, se difama, se insufla o ódio contra eles e seu país. "Que medicina gratuita é o cacete, aqui é medicina lucrativa" dizem os poderosos da doença, como o que reclama da queda de acidentes de trânsito, assim não dá, os hospitais estão quebrando, é preciso quebrar e adoecer pessoas pra estimular o negócio.

Em español. 

Sobre Andorra eu pesquisei na wikipédia mesmo.



sábado, 23 de maio de 2020

Crenças, sentimentos, realidade e conduta. Disparate entre forma e conte...

Primeiro "ao vivo" feito na Chapada dos Veadeiros, onde fomos bloqueados em viagem pelas restrições devido à pandemia do coronavírus. Como sempre, sinto que falo o óbvio. O óbvio sentido e desacreditado.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

O desperdício de julgar

Quem tem uma consciência atenta e atuante não se importa com julgamentos alheios. Um julgador é vítima dos condicionamentos sociais, programado pra arrogância, pro conflito e pra cegueira em relação a si mesmo. A atenção nas "falhas alheias" não permite perceber as próprias falhas. Só cria conflitos inúteis e piora as situações.
A formação social estimula os egos, as cobranças, os julgamentos, as disputas, os conflitos. É da natureza social encontrar mentalidades programadas pra intolerância, pra posse das verdades, pro confronto, pro insulto. Quando encontro idéias fabricadas, colocadas de forma agressiva, minha raiva se dirige à sociedade que produz essas mentalidades no atacadão, geral, pra todo lado, não às pessoas que as emitem. Seria não só um desperdício de raiva - ela pode ser criativa, ou um estímulo a lavar aquele monte de coisa amontoada na pia da cozinha -, como o despertar de um bate-boca inútil, a criação de conflito do jeitinho que é induzido. Eu me sentiria idiota. Já me senti, algumas vezes. Mas prefiro evitar.
No meu entender da vida, cada um produz sua própria freqüência, querendo ou não, sabendo ou não, consciente ou inconscientemente. Essa freqüência encontra suas sintonias, naturalmente. Encontros, desencontros, simpatias, antipatias, atrações, repulsões, "acasos" e "coincidências", muitas vezes são frutos da freqüência pessoal de cada um - só pra não dizer todas. Sentimentos, pensamentos, desejos, caráter, temperamento, visão de mundo, atitudes, tudo isso e muito mais formam essa vibração, ou padrão vibracional. É único, pessoal, mas na coletividade se formam faixas, áreas de freqüência - quem sabe física pode explicar em detalhes. Eu só sinto.
Estamos aí, na lida. É bom lembrar que o latido dos cães não impede a passagem da caravana. Seguimos sempre, variando a dimensão.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Helvio Rech, Franck Maciel Peçanha e eu - em tempo de pandemia

Conheci Franck em Uruguaiana, convidado por ele a participar de um evento na Unipampa. Fiquei por lá, expondo, por uns dias, atravessei a fronteira argentina pra experimentar uma cerveja com ele. Sentia tanto frio que mesmo vestindo todas as roupas que tinha levado, tremia. Penalizado com minha situação, Franck me deu um casaco pra frio congelante e o frio ficou fora. Esse casaco eu só uso de raro em raro, em alto de montanha no inverno.
O Hélvio fui conhecer na fronteira com o Uruguai, num evento centrado na união latinoamericana, a chamado do Franck. Ali, vi Pepe Mujica fazer uma fala e receber o único título honoris causa da Unipampa. Ele estava na mesa ao lado do mestre de vida, aparece no filme "Via Celestina", que a gente estava fazendo naquela viagem - o Hare como diretor-câmera-contra-regra. A cada fala certeira do Mujica, ele sorria. Bueno, estamos os três nesse papo de quase duas horas. Quem tiver paciência e interesse, que agüente. A quem der proveito, agradeço.
Ah, ia esquecendo, numa certa altura o Hélvio me situou no Tocantins, talvez por eu ter dito antes a ele que estava próximo à fronteira entre Goiás e Tocantins. Na verdade estou em Goiás.



observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.