terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Usina de pensamentos


Minha cabeça é uma usina de pensamentos, de reflexões, de captação e análise. Algumas vezes, também, de transmissão, sobretudo através do trabalho. Desenhos, frases, ímãs, broches, pirogravuras, serigrafias, livrinhos, fanzines, camisetas, adesivos, a maior parte do que fiz e faço são meus veículos de comunicação. Mas a usina é compulsiva e muita coisa fica interna, fervilhando. Às vezes eu gostaria de desligar um pouco. Mas só às vezes.

Faço essa compulsão ser produtiva e, dentro do possível, agradável. A sociedade já tem desagrados de sobra pra eu mesmo os produzir na minha vida. É das reflexões que sai a matéria prima pro meu trabalho. E eu me sinto uma antena de recepção e transmissão, não o criador das comunicações, embora não possa impedir minha personalidade na forma de exposição, no estilo ou no traço. Lembro que não se agradece à antena e sim se dá proveito aos conteúdos, quando é e o quanto for possível. Pra isso eles se apresentam, não pra celebração de ninguém.

Sinto que há uma coletividade incorpórea participando dessa atividade, embora não pretenda definir nada quanto a isso - o foco é o uso, o aproveitamento na prática cotidiana, a colocação em prática das idéias, das percepções, dos enganos percebidos, nas mudanças de valores, de comportamentos, de visão de mundo, de desejos e objetivos de vida. Entender o extra-físico não é a função, vamos todos atravessar o portal das dimensões, estaremos de cara pra essa realidade inevitavelmente, em relativamente pouco tempo. As relações do aqui e agora chamam à reflexão, à atividade, às mudanças nos valores e comportamentos cotidianos.

Não permito que minha razão se meta a explicar coisas que meu entendimento não alcança, essa é a área do sentimento. Sinto que há dimensões várias, além da nossa, física como conhecemos. Imagino que há outras matérias em diferentes freqüências, como são diferentes as estações de rádio, na falta de comparação melhor. Mas não perco tempo tentando alcançar com minha precária razão humana, ela precisa estar muito mais desenvolvida e é na lida cotidiana que ela se desenvolve, no trato com o mundo, nas formas de relacionamento, no caráter, nos sentimentos que tenho em mim e nos que causo nos que estão em volta. Nas reações diante do insulto, da perda, das contrariedades da vida, na auto-observação e análise permanente, sincera e profunda, no desenvolvimento da própria consciência. Com o tempo, a capacidade de compreensão vai se ampliando, sem pretensões arrogantes.

Perceber as próprias falhas e trabalhar nelas, com humildade, melhora a relação com as pessoas, aumenta a tolerância com falhas alheias, porque todos as temos, e tende a nos poupar do aborrecimento de julgar e condenar os outros, ao mesmo tempo em que nos imuniza de julgamentos a nosso respeito.

Quanto às espiritualidades, não explico, não entendo e não acredito em nenhuma explicação. Mas sinto profundamente que está bem no espírito quem está bem com a própria consciência. Daqui a pouco eu passo pro outro lado, não demora muito. Aí vou estar de cara com a realidade, não com as concepções que pretendem definir como será. As ameaças de fogo eterno, de banimento do paraíso, de "ira divina", me parecem contos infantis, chantagem psicológica pra mentes infantilizadas. Sem querer ofender ninguém, não escolho minhas opiniões, elas brotam das reflexões. Às vezes contra a minha vontade - e eu tenho que me render às evidências.

Os orgulhosos dirão que estou "chamando" os religiosos de infantilizados. É apenas uma percepção, não um insulto. Posso estar errado, é só minha opinião - que pode ser perfeitamente desprezada como ridícula, sem problema, sem ódio, sem insultos. Esta é mais uma tendência nefasta da ignorância induzida, transformar toda discordância em conflito - uma indução social, programada, estratégica, pra impedir mesmo o entendimento geral. Teremos que conviver com isso durante muito tempo ainda, não nos iludamos.

Minha cabeça é uma usina de pensamentos, de reflexões, de captação e análise. Às vezes, também, de transmissão...

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.