sábado, 19 de outubro de 2019

Coentro retira metais pesados do corpo

São tempos de metais pesados. Na água, no ar, na comida, pela pele adentro. Por isso é que se precisa do coentro. Ele retira metais pesados do corpo, do sangue, dos tecidos, é a informação que rola.

A passagem pelo rio Doce, duas vezes em dois anos, foi marcante. Reveladora dos valores nesta sociedade onde a vida está num plano tão evidentemente secundário que choca a sensibilidade mesmo havendo a consciência de tal disposição, de tal estrutura social, desumana, perversa, capaz de qualquer coisa "possível" em nome de interesses econômicos, empresariais. Inclusive transformando a política, a administração pública, os poderes do Estado em marionetes, em instrumento, em uma farsa institucional que trai cotidianamente a população, dominada nos bastidores, em círculos acima dos poderes públicos, a partir do mercado econômico-financeiro, do punhado de podres de ricos mundiais e seus cúmplices, agentes e beneficiários regionais e locais, elites privilegiadas que usufruem das injustiças e falcatruas sociais.

Na primeira viagem, a barragem de Fundão acabara de romper, havia menos de um mês, e nós começamos em Mariana, invadindo o distrito de Bento Rodrigues* - os acessos estavam embarreirados e a área estava sob controle da segurança da Samarco, mineradora testa da Vale, o terror dos povos originários e ribeirinhos, a população em geral do vale do rio Doce - e depois passando em todas as localidades ao longo do percurso dessa onda descomunal de rejeitos da mineração, metais pesados de todo o tipo, altamente cancerígenos. Desde o rio Gualaxo do Norte, coberto e destruído, passando pelo rio do Carmo, que continua "limpo" no centro de Mariana, mais de vinte quilômetros acima do despejo venenoso, segue ainda oitenta quilômetros serra abaixo até Barra Longa, depois mais dez, onde se junta ao rio Piranga pra formar o rio Doce*.

Em Barra Longa a maré do metal pesado cobriu a área de lazer da cidade, à beira rio. Chegamos à noite lá e no dia seguinte vimos tratores limpando, recolhendo, enchendo caminhões basculante que saíam pingando pelas ruas da cidade pra levar a lama tóxica até um espaço determinado pela prefeitura como depósito dos metais pesados. Claro, sem mencionar "metais pesados" em nenhum momento. Pensei neles, vendo escorrer pelas ruas, "isso vai secar, carros vão passar, a poeira vai levantar, cheia de veneno, pro povo respirar". Não deu outra. Dois anos depois, Barra Longa era "campeã" em doenças nas vias respiratórias, em todo o vale*. Doenças de pele, de esôfago, de estômago, garganta, intestino, pâncreas, fígado, em tudo, proliferaram e continuam proliferando por todos os mais de oitocentos quilômetros do rio Doce, hoje fonte de envenenamento. Não serve nem pra irrigar as plantações.

Bueno, tudo o que estou dizendo aqui já disse antes, a intenção agora é chamar a atenção pro coentro, como desmetalizador pesado de corpos, retira metais pesados que as... como dizer... "atribulações sociais", ou melhor, as mancomunações público-privadas da mineração espalharam em rios, mares, vales, montanhas, em proporção nunca vista. Informação necessária, não só pra ajudar os tratamentos, mas pra ligar sintomas desconhecidos à presença desses venenos, cádmio, chumbo, cobre, ferro, arsênio, etc, etc, etc, nas águas, terras, nos ares, na comida da atualidade.

São tempos de metais pesados. São tempos em que a necessidade do coentro, não só mas sobretudo, aumenta em importância medicinal. Chá de coentro, salada de coentro, coentro na manteiga, no queijo, no azeite, em tudo. Coentro!

http://observareabsorver.blogspot.com/2017/01/o-rio-doce-precisa-de-quelacao-urgente.html

*https://observareabsorver.blogspot.com/2015/11/o-apocalipse-de-bento-rodrigues.html
*https://observareabsorver.blogspot.com/2015/12/rio-doce-cidade.html
*https://observareabsorver.blogspot.com/2018/03/do-bento-barra-longa.html

sábado, 5 de outubro de 2019

Facilidades e dificuldades

Não sou defensor dos pobres e oprimidos, nem imagino de onde foi tirada essa idéia. Só tô vendo a realidade como ela não é mostrada, por estar vivendo exposto há quarenta anos, sem seguro, sem plano de saúde, sem salário, sem emprego - e trabalhando muito, sem férias nem feriados, amarradão, gosto muito do meu trabalho -, sem garantias a não ser a da morte e a da perseguição da sociedade que, sem ter conseguido me enquadrar, sempre tentou me impedir de expor as coisas que faço - e algumas vezes tomou tudo o que eu tinha, me roubando o sustento da minha família e quase me levando ao crime. Nessas horas sempre aparecia um "acaso" ou "coincidência", alguma "casualidade" pra me aliviar a revolta e dissuadir a disposição de delinqüir. As tentações são muitas e o Estado empurra a gente pro crime. Heróis são os que não se tornam criminosos.
Só tô vendo claro que os mais pobres são muito mais fortes do que as classes mais protegidas. Não por evolução espiritual, não por alguma genética ou superioridade, mas pela prática diária, cotidiana, superando dificuldades que as classes médias e altas não têm. Por isso mesmo a maioria é roubada nos seus direitos humanos, constitucionais, sabotada na educação e na informação pra que não se tome consciência da própria força e da própria importância na existência da sociedade como um todo. E se deixe explorar, enganar, conduzir, escravizar, manipular, convencida de uma inferioridade falsa e conformadora pelo modelo de educação, pelo massacre midiático-publicitário, pela prática social cotidiana. A fortaleza passa despercebida. Ainda.
Facilidades geram fragilidade e medo. Dificuldades geram capacidade de superação e resistência. Não é difícil entender. As pessoas mais protegidas, que têm seus direitos respeitados - e mais ainda os que têm regalias e privilégios - são mais frágeis, menos capazes diante das dificuldades, não enfrentam e superam os problemas que a maioria precisa encarar, têm sempre funcionários pra resolver os piores problemas. Os menos protegidos, os roubados nos seus direitos humanos, constitucionais, acabam se tornando mais fortes, por serem obrigados a superar dificuldades cotidianas.
Há pais que não levam em conta estarem formando os adultos de amanhã.  Quem educa seus filhos satisfazendo suas vontades e protegendo em excesso não os prepara pra encarar as dificuldades da vida, ao contrário - cria bundamoles sem capacidade de superação, sem resistência aos tombos e topadas da vida. Os adultos de hoje já dão uma idéia do que resulta da formação consumista, chantagista, subornadora e interesseira. É só olhar em volta o comportamento geral. Com louváveis e comoventes exceções, sempre. A humanidade é um garimpo. Ainda. 

Diferente da preciosidade mineral, a preciosidade humana contamina, as exceções se multiplicam, dão seu jeito, arrumam formas de viver além dos valores convencionais, soluções pros problemas estrategicamente criados pra dificultar autonomia, justiça, solidariedade, as qualidades sociais que resultarão em harmonia. Os podres de ricos não admitem justiça, vivem do sofrimento das multidões. Estas, as multidões, ao tomarem consciência de si, da sua força e resistência, não precisarão nem pensar em derrubar os opressores - eles cairão sozinhos, porque são sustentados pelas multidões inconscientes.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.