quarta-feira, 28 de março de 2018

Viagem ao vale do rio morto, ex-Doce - o saldo

Em território Krenak, encontramos com o cacique Leonir. Mais de uma hora de conversa.
Pescadores em atividade, ao longo de todo o rio dos rejeitos da mineração, antigo rio Doce.

Atoleiro a caminho de Regência.
Saindo de Regência, o sentimento de final de rota se misturava com o peso da conformação. Desde Mariana se passava a expectativa de que tudo está voltando ao seu normal, o assunto metais pesados tá ficando pra trás. Os moradores dos povoados destruídos já se tornam um estorvo, responsabilizados pela paralisação dos escritórios, das atividades burocráticas, pela queda no comércio da cidade, do movimento dos funcionários das mineradoras, que na verdade não pararam com a extração - porque o minério continuou descendo o vale nos trens, até os portos de exportação, todo o tempo. Até as crianças desabrigadas eram discriminadas nas escolas de Mariana como "pés de lama".

Houve algumas interrupções momentâneas, como quando os Krenak bloquearam os trilhos com troncos, logo no início, e conseguiram algumas necessidades vitais de sobrevivência. Mas depois, quando as pessoas de Pedra Corrida quiseram pressionar pra conversar com algum representante, alguma autoridade, na tentativa de conseguir ao menos a água de beber, foram corridos sob ameaça de ataque da polícia, com balas de borracha em cima de crianças, mulheres, velhos e homens da povoação. Sem conversa, sem argumento, sem nenhum representante de empresa ou governo presente. Pedra Corrida cozinha e toma banho com água de poços artesianos. Um escritório da Renova, armação da Samarco, foi aberto no povoado. Segundo os moradores, pra nada, ali não se resolve nada, se anota qualquer coisa e se promete "algum encaminhamento" e uma resposta que nunca vem. Dá em nada.

O márquetim da empresa cria novidades na condução do pensamento e do sentimento das populações envolvidas. Manobra rivalidades, cria outras tantas, constrói cenários, usa a publicidade na mídia, distorce a realidade. E começa a trabalhar o sentimento de que tudo está se resolvendo, tudo vai voltar à normalidade, já tem peixes no rio, as coisas voltam, pouco a pouco, a ser como eram antes. Crime total contra a informação, os problemas ainda estão começando e prometem continuidade a longo prazo.

Há dois anos a vida acabou no rio Doce. Há dois anos a vida mudou em toda região. Há dois anos o povo, sem saber o que fazer, espera os acontecimentos. A vontade é muito grande, todos querem a "volta do rio" que não volta. Pescadores circulam em suas canoas, lançam suas redes, colhem seus peixes. O rio Doce tem muitos e grandes afluentes, que despejam suas águas cheias de peixes no veneno da mineração. No princípio, os peixes simplesmente morriam ou voltavam rio acima, ficando numa área menos densa, mas já em contato com os metais pesados. Nas procriações, com o tempo e as mutações genéticas, adaptações naturais ao ambiente e novas gerações já conseguem sobreviver, pelo menos algum tempo, nos rejeitos da mineração. Estes peixes estão sendo pescados, exibidos com orgulho - "os peixes voltaram" - e comidos com prazer, sem nenhum tipo de análise da carne. É fácil perceber a vontade enorme que as pessoas têm de retomar seus costumes ribeirinhos, a pesca, o nado, os encontros familiares, o lazer na beira, nas praias, nas ilhas. A depressão tomou conta, várias pessoas morreram de tristeza, a mãe do cacique Rondon foi uma delas, dois ex-moradores de Bento Rodrigues, que foram enterrados no cemitério de lá, mesmo sem povoado. Nos mais de 800 quilômetros, muitos dramas, muitas tragédias com a morte do rio. "Não é tão grave quanto estão dizendo" foi uma frase que ouvi várias vezes no percurso. Mas a índia krenak que se recusou a deixar o costume de se banhar no rio está doente, muito doente, nos contou o cacique Leonir. Nos postos de saúde, muitas doenças que não haviam antes, agora são numerosas. São mais de duzentos municípios, todos em silêncio com relação aos perigos do contato com esse veneno metálico. A promiscuidade público-privada é uma cumplicidade criminosa contra a população. O clima é de superação da catástrofe, uma grande mentira. A catástrofe ainda está em seu início, doenças provocadas pelos metais pesados podem levar oito, dez, doze, quinze anos pra se manifestar, depois do acúmulo no organismo, de forma avassaladora.

Em Regência, o clima ficou mais pesado. A comunidade vivia em torno da foz do rio Doce, seu encontro com o mar, da pesca, do surf, do turismo. Agora está como em suspensão, todos esperando a "normalização", com tanta vontade que se convencem da irrealidade. Regência é um povoado deprimido, com características de bloqueio mental pra realidade. À medida em que se trabalha o sentimento de superação, a empresa vai suspendendo suas ações compensatórias, deixando a população entregue à própria sorte, aos poços contaminados, à exposição aos rejeitos debaixo de mentiras repetidas até o convencimento conveniente. No litoral, várias comunidades de pescadores estão proibidas de pescar. Mas pescam. Sem saber fazer outra coisa, os pescadores vão longe atrás de peixe, voltam na madrugada e já encontram caminhonetes com gelo pra transportar os pescados pro interior, onde são vendidos.

O governo mineiro autorizou a pesca profissional e artesanal no rio envenenado. Tudo parte do cenário construído e falso de superação do desastre, sem nenhuma responsabilidade social, nenhuma responsabilidade moral com a população, sempre traída pelos poderes constituídos sob o domínio econômico-financeiro que desumaniza a sociedade. Os surfistas do rio Doce pegam ondas nas corredeiras, em Valadares. Os surfistas da boca do rio entram no mar todos os dias, desde a primeira semana da lama, hoje mais numerosos. Essa rapaziada deveria estar fazendo exames pra detectar metais pesados no sangue. Mas eles não querem saber, preferem acreditar que "não é tão grave assim", que "está passando" a situação, que "tudo está voltando ao normal". O espectro da tragédia paira no silêncio.

"O rio Doce sempre foi assim, eu tenho 68 anos e sempre pesquei aqui, agora os peixes voltaram, não é tão grave quanto estão falando, tudo está voltando ao normal. O rio sempre teve essa cor, sempre foi barrento." - acampado a vinte quilômetros da foz, na beira do rio, pra três dias pescando de caniço.
"Eu vou viver até os cinqüenta anos. Tô com quarenta agora, né, e comendo esse peixe não vou durar muito..." - pescador em Governador Valadares.
"A gente tá com a Samarco. Ela me dá noventa reais por mes e água mineral pra beber. Tem muita gente que não recebe, eu não posso reclamar" - pescadora sem ter o que fazer, em Naque, MG.
"Muita gente que precisa não tá recebendo nada. E tem gente que não precisa e tá recebendo. Água, ajuda, cartão... gente que nem mora aqui na beira do rio... e tá recebendo"- duas senhoras numa rua de Periquito, a outra completou, "recebe quem tem proteção, quem tem indicação".
"Eu nunca mais vou ver o rio, meu filho. Tô com 84 anos, talvez meus netos ainda vejam esse rio de novo, mas eu... nunca mais", em Rio Doce, a cidade, dezembro de 2015. Há os que morrem vivos, na apatia, no sem vontade de viver, na espera de que tudo acabe de uma vez.

As vítimas são chamadas de "impactados", os que conseguem alguma indenização são os "beneficiários". O departamento de máquetim da mineradora capricha nos deboches. E estimula a criminalização das vítimas, um procedimento milenar nesta sociedade ainda desumana, por lapidar e construir uma convivência social harmônica. A mentalidade empresarista impõe todos os obstáculos possíveis neste caminho. Com a criação de uma falsa "volta à normalidade" as mineradoras vão se livrando das indenizações e da responsabilidade sobre tanta destruição.

Mais uma vez sinto a composição entre empresas e poderes "públicos" como uma cumplicidade criminosa contra a população, mentem mineradoras e Estado, como cotidiano das comunicações com o povo. Mentem, roubam, ameaçam, atacam as contestações, criminalizam vítimas, o rol de crimes cometidos cotidianamente, rotineiramente, pela própria natureza de uma sociedade empresarista, onde o patrimônio, o lucro, os interesses de um punhado são mais importantes do que a vida, os direitos, a saúde da população. Empresarismo é o contrário de humanismo. Enquanto o ser humano não for o centro de importância da sociedade pretensamente humana, a barbárie empresarial vai destruir, condenar, perseguir suas próprias vítimas. A vida vale menos que o lucro, estamos em tempo de percepção dos enganos impostos por este modelo de sociedade. Caminhamos ao longo dos milênios, em processo de mutação permanente. As próximas gerações colherão os frutos plantados por tanto tempo, frutos da destruição, do empesteamento, da impregnação de elementos tóxicos, mortais. Os frutos apocalípticos da irresponsabilidade de tão poucos serão colhidos por todos.

E sem essa de "o ser humano está destruindo o planeta". Os que concentram poderes, riquezas e privilégios materiais se esforçam por socializar as responsabilidades pelas suas ações. Novamente, é tempo de percepção, de acendimento de luzes. Com isso, surgirão as soluções, novos valores e comportamentos serão raízes de novas formas de relações sociais. O tempo não dá pulos. O caminho é permanente, como são permanentes as mutações individuais e coletivas.

Os afluentes trazem suas águas limpas, com peixes, pra desaguar na lama tóxica. Aí ainda é o Gualaxo.
Pequena usina hidroelétrica destruída, próxima a Camargos.
Exposição em Ouro Preto
Exposição em Mariana
Exposição em Penedo
Exposição na casa Bananal, Juiz de Fora












Exposição em Gov. Valadares



sexta-feira, 23 de março de 2018

Exposição em Valadares

Chegamos no meio da tarde e fomos ficando, a kombi estacionada num espaço de quatro vagas, com uma placa de "veículos oficiais". Parei ali pensando em tirar se fosse preciso, mas coloquei os painéis em volta da viatura, com dois numa árvore próxima. Era dia de feirinha, os expositores começavam a chegar, algumas barracas já estavam montadas. Logo chegou Cláudia, presidente da feira há vinte e tantos anos, simpática e comunicativa, conversamos um pouco e me senti bem vindo. Então chegou Zazá e a mesa foi posta com livrinhos, fanzines e quadrinhos, servindo ainda de apoio pros mostruários de ímãs. Ailton chegou e papeamos praticamente o resto da tarde. Várias pessoas chegaram, vários papos rolaram, tava escuro quando Ailton se despediu. Bueno, se despediu em termos, porque depois que ele foi embora, lembrou de que era fotógrafo e voltou. As fotos são todas dele. Fomos os últimos a sair da praça, fora algumas barracas de comidas e bebidas.








Tava mesmo precisando vender, e deu o suficiente pra seguir, talvez até Regência. Mas há possibilidades de vendas pelo caminho, não muitas, mas algumas já dão pra ir adiante. Espero que Vitória dê uma salvada, porque preciso chegar pra saldar dívidas ainda, no Rio. Sem crise, tá tudo no sossego. O motor tá ótimo, os sistemas funcionam, tem mercadoria pra expor, comida pra comer e combustível pra seguir viagem. O resto se vê.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Em Naque, MG, dona Sofia


Devagar, quase na velocidade de uma caminhada, íamos na kombi, olhando. O rio morto estava ali, a vinte metros. Na faixa entre a estrada cheia de terra e o rio, casinhas ao longo, pobres e muito pobres, improvisadas sobre o terreno inclinado, telhados escorados, muros remendados, a vida apertada em todos os sentidos. Uma senhora negra, cabelos brancos, sorri pra nós quando cumprimentamos e responde alto. Paramos a kombi, ela chega pra conversar. É dona Sofia, mora ali há muito tempo, tem filhos criados, morando fora. Ela fala que depois da lama dos rejeitos, a vida acabou. E a samarco? Ela fica séria, parece compenetrada, põe a mão no queixo, olha pro lado como quem não quer encarar e diz "a gente tá com a samarco". A senhora trabalha com o quê? Ela sorri sem responder, uma passagem de insanidade no olhar, tento consertar, vive de quê? Ela retorna à serenidade, me olha cheia de condescendência, ainda sorrindo e ainda sem responder, como se eu fosse incapaz de compreender. Baixo o tom de voz, a senhora era pescadora? Ela abre mais o sorriso, fecha os olhos e confirma com a cabeça, "eu e meu marido". Há uma tristeza forte no seu sorriso conformado. E agora? Ela ergue os ombros, olha pro céu. A mineradora "dá" a ela noventa reais por mês. E tem dado água, pouca, mas tem. Há muitos que não recebem nada. Com os noventa "dados" ao marido, cento e oitenta pra passar o mês. E isso porque ela "tá com a samarco".

A educação pública não merece o nome, é sabotagem e criação de ignorância, fornecimento de mão de obra não qualificada ou de baixa qualificação, pra ser explorada, manipulada, controlada, reprimida e descartável na miséria extrema. Enquanto isso, o sistema de comunicações distorce a realidade, superficializa mentalidades, aliena, induz, condiciona e comete todos os crimes contra a verdade que os interesses banqueiros e mega-empresariais - sempre o mesmo punhado - julgarem "necessário". Isso é o que cria o campo pras "donas Sofias" acreditarem nos parasitas sociais.

Num dos poucos momentos sem sorriso.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Do Bento a Barra Longa

Bento Rodrigues em foto de dezembro de 2015. Desta vez não tivemos acesso.
Bento Rodrigues sumiu. O plano da mineradora se cumpriu. Há anos a mega-empresa pressionava os moradores, queria comprar suas casas pra construir um novo dique de venenos da mineração, além das de Fundão, Santarém e a gigante Germano. Ninguém quis, ninguém aceitou. Todos faziam questão de continuar "no Bento", era um disparate pensar em vender seu espaço, seria como vender a alma, as raízes da vida, seria como vender alguém da família, um pedaço do próprio corpo. A mineradora não desistiu, "os acionistas exigem que se construa mais um depósito de rejeitos em Bento Rodrigues". A Vale do Rio Doce foi praticamente dada de presente pra mega-empresários estrangeiros, que primeiro tiraram o Rio Doce do nome, depois mataram os quase oitocentos quilômetros do vale, deixando um rastro de metais pesados cancerígenos, altamente tóxicos. Toda a vida do meio ambiente morreu e o que sobrou adoece aos poucos, deteriora, se acaba. Milhões de pessoas afetadas, atingidas, feridas de morte. As cifras não correspondem à realidade, os dezenove mortos de Mariana são um punhado dos que morreram anônimos, gente muito pobre que ocupava as beiras dos rios. Garimpeiros, lavradores, criadores de galinhas, cabritos ou porcos, que arrancavam a vida das margens, expostos a enchentes, acostumados com elas. Gente analfabeta, esquecida pela sociedade e pelo Estado, ocupando as beiras em casas de barro, sem energia elétrica. Nos períodos de chuva o nível do rio era observado com atenção, documentos e coisas mais importantes já preparados pra fuga, quando o nível subisse a ponto de ameaçar as casas. Gente disposta a reconstruir tudo, depois que as águas baixavam, que não tinham outra opção, sem terra, sem propriedades. Se aproveitavam das margens, onde é propriedade do Estado, pra fazerem suas moradias, já que a sociedade não cumpre sua lei máxima, determinando que todo brasileiro tem direito à moradia garantido pelo Estado - além de alimentação, instrução, informação, formação profissional, atendimento médico, tudo ignorado, tudo sabotado, revelando a estrutura social como uma organização criminosa contra as populações e a serviço dos poucos podres de ricos que o controlam, parasitas sociais, dos bastidores da farsa política, manipulando suas marionetes e contando com os meios de comunicação como porta-voz, formadores da opinião pública sem nenhuma consciência moral ou social e sem nenhum compromisso com a verdade. No dia da tragédia, não era época de chuva. Todos os moradores estavam em casa, dormindo, sem saberem de nada. A avalanche de lama, troncos, tratores, carros, caminhões, pedaços de paredes, máquinas de todo o tipo, pegou os ribeirinhos de surpresa, pela noite e madrugada.

Os crimes da samarco, e são muitos, podem ser encarados como da natureza de um sistema social empresarista, onde a vida vale menos que a propriedade, que os interesses empresariais, uma sociedade empresarizada, de mentalidade empresarista, infiltrada em todas as áreas, educação, medicina, cultura, transportes, mineração, enfim, todos os setores. Os que falam em "absurdo" têm uma visão superficializada. Não é absurdo, é da natureza do sistema social, que está longe de ter na vida o seu valor máximo. O ser humano está em segundo plano na sociedade que se diz humana, mas ainda não alcançou esse patamar. Não adianta punir a empresa e manter o sistema onde as empresas ditam as normas e violam as leis, se infiltram no poder público e determinam políticas "públicas".

Descemos margeando o rio Gualaxo do Norte, o que leva os rejeitos da mineração vale abaixo. Em 2015 essa estrada estava toda interditada, submersa na lama de rejeitos da mineração. Tivemos que andar distantes, fazendo voltas pra acessar as margens onde era possível. Agora fomos por ela e não perdemos o rio de vista. As marcas de dois anos permanecem nas margens, o nível da lama está marcado nos troncos, muito acima das nossas cabeças, em vários lugares. Pontes arrastadas pela maré dos rejeitos, cheia de troncos arrancados das encostas, foram reconstruídas num único padrão, de ferro e corrimões amarelos. Passamos por várias. Depois da ponte do Gama, seguimos alguns quilômetros errados, pra perguntar numas casas pelo caminho. Quando a dona ouviu pra onde íamos, sorriu e disse "Paracatu de Baixo, a bem dizer, não existe mais". Voltamos e seguimos o caminho certo, passamos pelo povoado destruído, agora o asfalto passa pela antiga rua central, mourões uniformes e brancos cercam a estrada, marcando a lama alta e tóxica, as ruínas vermelhas dão o tom da destruição entre os verdes que cresceram sobre os rejeitos. Apenas no final das casas, numa encruzilhada, encontramos algumas pessoas. Soubemos que restam nove famílias morando ali, nas duas ruas que não foram afetadas. A sensação é de morte de uma povoação.
Fomos adiante, numa estrada que, em 2015, estava intrafegável, seguindo o Gualaxo. Passamos a Fazenda Gualaxo, portentosa, provável estância turística, sem ninguém à vista, tudo fechado, apenas alguns animais presos. Próximas, as casas dos trabalhadores. Entramos em Pedras, passamos Campinas, descemos até a beira do rio numa entrada sem saída onde encontramos um posto de trabalhos, sempre um clima de mistério e máfia, até que relaxam com nossa inofensibilidade. Fora a Carolina Rubinato, nada parece ameaçador. Na verdade, a máquina fotográfica grande é temida pelos funcionários, há um histórico de ocultamentos que deixam os funcionários inseguros, qualquer coisa eles podem se dar mal na empresa, aí se cria um clima de repulsa a tudo o que significa divulgação, a não ser quando vêm com a autorização e a indicação da própria empresa. Aí fazem o que a gente vê na mídia privada.

A ponte caída na estrada real continua caída

As armações pro "conserto" e o marco da estrada real.

Passamos Gesteira, onde nem pudemos ir da outra vez, as pontes haviam caído. Um povoado dividido em dois, depois da enchente de 79, quando muitos foram morar no alto da colina. Gesteira de baixo e Gesteira de cima. A de baixo não existe mais. Ali eu percebi a mesma coisa que depois, em Barra Longa. As árvores tiveram o tronco pintado de branco até o nível marcado em lama vermelha. Bem a cara da mineradora, maquiagem, escondimento, mentira, distorção da realidade, pressões, induções. O aspecto acima da realidade, o cenário montado sobre os crimes.

Assim chegamos em Barra Longa, à noite. No posto de abastecimento, encontramos Sérgio Papagaio, bom amigo, que nos convidou à sua casa. Como em 2015.

Pequena usina de energia elétrica, destruída e contaminada, no Gualaxo, entre Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.
Isolamento e abandono no povoado de Paracatu.

Paracatu - a lama continua no mesmo lugar, o mato tem crescido em cima.
O mato cresceu sobre a lama, nas margens. Mato empesteado.
Mais uma pequena hidrelétrica destruída.
A escola mantém a marca da lama, há mais de dois anos. Ensinos fundamental e médio. Uma creche também foi destruída.
A altura da avalanche está marcada nos troncos de algumas árvores, às margens do Gualaxo do Norte.
Os afluentes, muitos, se atiram limpos no líquido contaminado que corre no Gualaxo.
Na casa de Papagaio encontramos o estandarte levado em manifestações da população. 

sábado, 10 de março de 2018

Viagem preparando viagem

Esta "viagem ao rio Doce" começou no carnaval, mas teve etapas de arrecadação da grana necessária. Subimos a serra pra Visconde de Mauá pra expor no feriadão, descendo na quarta de cinzas pra Penedo, na casa cultural "Não é Hostel", onde rolou palestra, exposição e música. Dali iríamos a Pouso Alegre, MG, expor e palestrar, mas a kombi deu problema e precisou esperar acabar a semana do carnaval pra trocar umas peças. Então fomos direto a Juiz de Fora, à casa Bananal, exposição e palestra, artista pra todo lado. Fomos e voltamos da estrada, dessa vez pra regular o motor, a alimentação de gás, o controle de troca de combustível, troca de velas e da bomba de gasolina. Afinal, estávamos indo pra um mês seguindo o rastro da lama tóxica, os rejeitos da mineração que destruíram a vida do rio Doce, muita estrada de terra, muito buraco e pouca assistência técnica com qualidade. Era melhor ter as peças em bom estado, qualquer problema seria superficial. De Juiz de Fora fomos a Ouro Preto, encontramos o Douglas e expusemos um dia e meio. No meio do segundo a fiscalização surgiu, alguém (com voz de poder) convocara a guarda pra retirar a exposição da rua São José, esquina com a direita, de frente pro fórum (que é cheio de janelas grandes). Fomos à ocupação Chico Rei, dar uma idéia e força à ocupação, que é direito de quem não teve seus direitos constitucionais respeitados pelo Estado,  "apenas" a maioria da população. Claro, a parte mais pobre, sempre, até que essa parte tome consciência de sua força, sua capacidade de carregar o mundo nas costas, sua importância imprescindível na construção, na manutenção, no funcionamento e no financiamento da sociedade como um todo. Então chegamos a Mariana, na casa Pocilga no espaço da Moita, residências estudantis da UFOP em Mariana.
Alice Luz, na loja onde expusemos, brincando com a câmera. 
Última noite no vale das Cruzes. Leo, Eduardo e Ravi no som, na casa de Cláudia.

Primeira exposição, Visconde de Mauá, no carnaval.


Canu, Pedro Pura Luz, Chico, Eduardo, Mariana e Victor. Na casa de Pedro e Adriana ficamos hospedados, no vale das Cruzes.




Não consegui postar o resto das fotos até Ouro Preto e Mariana. Faço a próxima só com essas.
















sexta-feira, 9 de março de 2018

Mentalidade induzida pela mineração

Numa porta da casa que nos recebeu, Pocilga, na Moita.



Até onde pude perceber, o procedimento das grandes mineradoras internacionais seguem certos padrões de comportamento nas relações com o poder público, as populações e o meio ambiente. Sendo as piores poluidoras de todo o sistema industrial, com rejeitos químicos altamente tóxicos, armam o esquema onde se instalam. Financiam campanhas eleitorais de prefeitos e vereadores, pondo na mão os poderes públicos, criam empresas de assistência social, fachadas benfeitoras, influenciam os municípios a desinvestir em outras áreas da economia local para criar dependência econômica. Isso faz as cidades dependerem das mineradoras, que passam a constituir poderes acima dos poderes ditos "públicos". Daí ser comum encontrar pessoas que vêem essas empresas como "benfeitoras", pelo trabalho de publicidade e márquetim intenso e profundo no inconsciente coletivo das populações.

Em Mariana podemos constatar essa realidade. As vítimas do crime da Samarco, que perderam tudo em Bento Rodrigues, são vistas com hostilidade na comunidade marianense. No comércio, quando se apresenta o cartão distribuído pela Samarco para manutenção dos que perderam suas casas, seus trabalhos, seus bens por causa da tragédia, o tratamento muda, o preconceito se apresenta, hostilidades aparecem, má vontade, desprezo e grosseria. Nas escolas, as crianças vindas de Bento Rodrigues são chamadas "pés de lama", numa demonstração perversa da mentalidade implantada. Os ex-habitantes de Bento Rodrigues são responsabilizados pela interrupção dos trabalhos da mineradora. Parece que não se sabe de denúncias, há mais de doze anos, do alto risco desta mesma barragem de Fundão, ignoradas pela empresa, pela fiscalização e pelo poder público. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem todos os dados comprovados, além de denúncias iguais sobre mais de sessenta barragens de rejeitos de mineração em todo o estado de Minas Gerais.

A inconsciência coletiva é oferta do sistema social, plantada profundamente pela infiltração mega-empresarial no aparato de administração pública. As vítimas, como é freqüente, são transformadas em "culpadas". A educação apresenta um modelo de ensino empresarista, não humanista, que forma competidores pro mercado e não pessoas preparadas pra integrar harmonicamente uma sociedade onde o ser humano está no centro de importância. A cada passo vejo o interesse empresarial e o patrimônio valendo mais do que a vida, a justiça, os direitos das populações.

Estamos em tempos de percepção da realidade, do acendimento de luzes, da revelação dos mecanismos de funcionamento e controle do Estado, dos chamados "poderes públicos", que jamais fizeram por onde merecer esse nome. Ninguém vai "mudar o mundo", mas o mundo não pára de mudar. Cada um que perceba seus próprios condicionamentos. Ninguém está imune.

Rua Direita, centro de Mariana.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Telefone celular (ou a prisão do privilégio)

Não uso celular, quase nunca. Tenho um, velho, de teclas, sem câmera, que não lembro de carregar a bateria a não ser por algum motivo, um encontro, um evento em que vou precisar encontrar pessoas num lugar que não conheço bem, por algum motivo assim. Fora isso, o telefone fica esquecido no porta luvas da kombi (na verdade um buraco sem tampa furado no fundo), numa bolsa, num bolso da mochila. Às vezes carrego e não adianta nada, ele não atende por falta de créditos há muito tempo, a empresa corta até o recebimento de chamadas.
Tenho motivos de sobra pra não gostar do celular no meu bolso. Ganhei esse que uso há anos e acostumei a carregar sempre, por crédito sempre, usar sempre. Mas fui percebendo que a maioria das chamadas só me atrapalhavam o que estivesse fazendo, com propagandas, anúncios, oferecimentos de "vantagens" de todo tipo, a troco de mensalidades que eu pagaria, "módicas" pra quantidade de "serviços" que me seriam disponibilizados, ou conversas vazias de significado e proveito, repetindo fórmulas sociais, convites inaceitáveis, uma série interminável de inutilidades, entremeadas por uns poucos telefonemas que valiam a pena.
Com o tempo, o sentimento que me despertava o toque do celular no meu bolso, no momento mesmo do primeiro toque, era ruim, desagradável, "putaquilpariu, lá vem encheção de saco". Principalmente quando eu estava fazendo alguma coisa que cobrava atenção e continuidade, ou numa conversa de bom proveito, em algum planejamento ou acerto e a interrupção era inconveniente - a maior parte das vezes, assédio comercial. Então me perguntei, por quê colocar no bolso um troço que vai me causar maus sentimentos na hora que tocar? Não fazia sentido, se não houvesse necessidade.
Desde então, faço minhas comunicações por imeio, pelo feicebuque, por mensagens, no tempo que escolho pra fazer isso. Às vezes estou combinando alguma coisa com alguém pela internet, sem nenhuma dificudade, e a pessoa pergunta "não tem um telefone pra gente conversar?" Uai, por quê? Não estamos nos entendendo tão bem por aqui? Qual a necessidade de falar ao telefone, tem algum problema em escrever? Aliás, não é melhor o papo escrito, pra gente não esquecer nada e, se esquecer, poder conferir os combinados? Realmente não gosto de usar esse troço, de conversar nele, se ficar mais de três minutos começa a esquentar a minha orelha. Celular serve pra marcar encontro e, quando chegar e não encontrar, perguntar onde está a pessoa. Pelo jeito isso não acontece com muita gente, vejo pessoas que passam horas falando no celular, andando na rua, nos ônibus, em todo lugar. Ou feicebuqueando em qualquer lugar, todo mundo de cabeça baixa, alheio do mundo, da realidade em volta.
Aliás é o que me diz Clara. O celular hoje tem acesso à internet, dá pra acessar de qualquer lugar, essa é a vantagem. Eu prefiro usar o computador, o lépi-tope que tenho desde 2015, nos uaifai de estrada, dos bares e da vida, quando estou na rua. Ah, não dá pra usar em qualquer lugar... quem disse que eu quero acessar de qualquer lugar? Gosto de olhar em volta, em estar envolvido no lugar onde estou, de viver a vida material, observar as coisas, as pessoas, os acontecimentos que rolam todo tempo em todo lugar. Na hora de acessar a internet, paro pra isso pelo tempo necessário - ou possível -, e dedico minha atenção toda a isso.
Quando em viagem, é comum ir alguém comigo que tem um aparelho desses, que tem até os mapas pra ensinar os caminhos, não só no traçado do mapa, mas "falando" por onde ir. É ótimo isso, mas quando não tem vejo o caminho no gúgol-méps e anoto as referências em papel. Viajo desde que nasci, chego mesmo sem referências, mas com elas se evitam os erros, as voltas na procura do caminho. E basta. O resto é improviso, criatividade, superação e aventura.
Liberdade é risco. Segurança é prisão. Não é à toa que se chama a pior prisão de "segurança máxima". A segurança do privilégio são as grades, muros e guardas dos condomínios, dos chópincenteres, dos clubes fechados, das bolhas de proteção, fora das quais está o medo, o pavor, a insegurança. Os prisioneiros das grades de ouro não sabem que as algemas de diamantes são mais profundas e difíceis de escapar que as de aço e ferro, porque aprisionam a alma. É preciso desapego pra viver mais em paz, nada é de fato nosso, até o corpo em que vivemos é um empréstimo da natureza e será cobrado, a seu tempo.
Posso ser atrasado, antiquado, ultrapassado, não me importa. Não gosto de celular na maior parte do tempo. Uso pouco, quando quero.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Promiscuidade entre mineração e poderes "públicos"

A mineração é uma atividade pouco abordada pela imprensa - sobretudo a comercial. O poder econômico esmagador das multinacionais desse ramo, no entanto, pode ser percebido nas cidades "ocupadas" por essas mega-empresas, em suas estratégias de convivência, tanto com o poder público quanto com a população das cidades. Seus resíduos são os mais venenosos de toda a indústria, seu potencial de contaminação é elevadíssimo e fácil de perceber, quando a gente não se deixa levar pelas estratégias de márquetim dessas empresas que, se infiltrando no poder público e na vida das comunidades - e se aproveitando da ignorância e da desinformação implantadas pelo estado e pela mídia comercial - e criando mentalidades favoráveis à sua existência com base em distorções, mentiras e omissões.

A mina junto à cidade de Paracatu.

Em Paracatu, noroeste de Minas Gerais, onde o índice de câncer e doenças degenerativas está entre os maiores do mundo, a mina de ouro foi denunciada pelo médico Sérgio Ulhoa Dani no plenário do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutrição), na Alemanha, num conjunto de notícias estarrecedor pra quem acredita num Estado legítimo em que as relações empresariais se submetem - inteiramente - às leis. Nada vale mais do que o lucro, para o poder econômico, nem mesmo a vida, seja humana ou do meio ambiente. Não é à toa que esse médico foi morar na Suíça. Os capangas das mineradores - empresas de segurança privada - não brincam em serviço e denunciar com repercussões é risco de vida (http://alertaparacatu.blogspot.com.br/2010/12/fala-do-dr-sergio-u-dani-no-plenario-do.html). A mina lá é a céu aberto, a sotavento da cidade, e lança arsênico no ar e  na água em grande escala (cada quilo de ouro extraído significa o descarte de 2.500 quilos de arsênico). Duas universidades, UFMG e a Universidade Técnica de Freiberg, na Alemanha, fizeram coleta de poeira em vinte pontos diferentes da cidade e a proporção de arsênio encontrada levou os pesquisadores a falar em genocídio. Há um documentário francês a respeito desse genocídio: http://paracatu.net/view/7355-documentario-europeu-questiona-acao-da-mineradora-kinross-em-paracatu. Este fala por si. "Ouro é para um punhado de ricos, o que a maioria das pessoas não é. Os pobres devemos nos contentar com o veneno que nos empobrece cada vez mais até matar-nos. Até quando vão abusar da nossa paciência?" Sérgio Ulhoa Dani
Em Jacobina, norte da Bahia, a produção de ouro bruto chegou a 2 milhões de toneladas, o que, limpos, geraram mais de 160 milhões de reais. Em 2008 a empresa anunciou o mais que triplicamento da sua produção. No entanto a população, como sempre, não se beneficiou com isso. "As condições de saneamento em toda a região da Serra de Jacobina se apresentam bastante precárias, com baixos índices de abastecimento domiciliar de água potável e a quase total ausência de sistema de esgotamento sanitário, especialmente em zonas rurais (VALE, 2005)."

http://amazonia.inesc.org.br/artigos-inesc/amazonia-paraiso-extrativista-e-tributario-das-transnacionais-da-mineracao/

Na Amazônia, a coisa é sinistra. Um estudo sobre a tributação mostra o poder e a promiscuidade da mineração com as "autoridades constituídas". http://amazonia.inesc.org.br/artigos-inesc/amazonia-paraiso-extrativista-e-tributario-das-transnacionais-da-mineracao/
Em Mariana - e nos municípios do vale do falecido rio Doce - o procedimento foi o mesmo. Promiscuidade com os poderes públicos, financiamento de campanhas eleitorais que impuseram a redução de investimento em produções locais, tornando os municípios dependentes das mineradoras. Em conjunto com o márquetim e a publicidade mentirosos, formam-se as condições para que, diante da descoberta das falcatruas e prejuízos ambientais e em vidas, a própria população caia na defesa das empresas, em nome dos empregos e dos impostos que "sustentam" os municípios e são parte indispensável da arrecadação estadual - com as relações espúrias com os poderes públicos. Sendo, como são, as maiores poluidoras do planeta, esse é o procedimento comum. Daí ser comum encontrar, em Mariana, grande parte da população "contra" os desabrigados e a favor da empresa - intervenções "benéficas" são propagandeadas na formação da imagem "benfeitora" da Samarco - testa de ferro da Vale estrangeira.
Seria de espantar o silêncio marianense a respeito da destruição causada por essa empresa criminosa - há mais de dez anos eu já ouvia a denúncia sobre a iminência do desabamento da barragem de Fundão -, se não se levasse em conta o conjunto de fatores que favorece este silêncio e a ignorância a respeito do assunto. A sabotagem e o controle do ensino escolar, de modelo empresarista - que tem nos interesses empresariais importância maior que a da vida - formando mentalidades convenientes, e o controle das informações através da mídia empresarial. Além da repressão e difamação de toda denúncia fundada.
No fim das contas, mais importante que a "punição" da empresa - freqüentemente multas alardeadas pela mídia que, ao final, jamais são pagas -, é preciso perceber nosso modelo de sociedade dominada por poderes econômicos, que cria as condições pra que essas coisas aconteçam. Estamos sob poder banqueiro-mega-empresarial com uma fachada democrática falsa, apenas cenários que são comandados dos bastidores, sem que a população se dê conta, levada a crer que está num sistema democrático, que os poderes públicos são realmente públicos e que as leis são feitas pra serem cumpridas por todos. A necessidade de investimento em formação popular, com ensino de qualidade e de modelo humanista, não empresarista - para a constituição de um povo capaz de entender o que acontece e decidir coletivamente - é exatamente o terror desses dominantes, que pressionam permanentemente pelos cortes nos "custos sociais", expressão estratégica que deforma o que seria "investimento" na formação de um povo intruído, informado, capaz de ver a realidade com olhos próprios. 
Estamos numa sociedade que tem no patrimônio um valor maior do que a vida. Isso vai se descarar à medida em que formos descendo o rio morto, antigo rio Doce, o Watu dos Krenak.

Mais uma demonstração de como as empresas adquirem poder sobre os eleitos. Há muitas, o financiamento direto de campanhas eleitorais são tão importantes quanto as campanhas publicitárias e de márquetim. As primeiras, pra fazer do poder público serviçal dos seus interesses; as segundas pra formar a mentalidade geral da população, no controle mental exercido pelo massacre midiático-publicitário. No Espírito Santo como em qualquer parte onde exista interesses e "autoridades":
http://seculodiario.com.br/19686/10/empresas-de-mineracao-dominam-doacoes-a-eleitos-da-bancada-capixaba-no-congresso-1

Em dezembro de 2015, chegando em Bento Rodrigues. Ou no que foi o Bento.

Entrada da fazenda "Cachoeira", em Camargos, o terceiro povoado atingido.

Entre Bento e Paracatu de Baixo, o apocalipse da lama tóxica fez a paisagem.

Em Bento Rodrigues, a imagem simboliza o acontecido.

O tal carro, tão filmado pelos drones da mídia privada.

Entre Linhares e Colatina, o rio morto mata tudo.

Animais perdidos com a destruição, à mercê dela, esmagadora maioria condenada à morte. Os que ficaram vivos.




observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.