terça-feira, 30 de março de 2021

Vantagem cênica, natureza do sistema e consciência

 A televisão anuncia no jornal que não será cortada a energia elétrica das casas que pagam "tarifa social", saiu aí uma burocracia qualquer, decreto, portaria, lei, sei lá, garantindo isso. "Vitória" de algumas forças institucionais de "esquerda", comemorada e brandida em sua publicidade. A "tarifa social" é um cadastro em que se colocam os milhões que provaram que não ganham o suficiente nem pra comer, de quem foram exigidos vários procedimentos, pessoas que passaram por vária humilhações e desrespeitos pelo caminho - no sentido de causar impedimentos e desistências e diminuir o (que se considera, falsamente) "custo social". 

E que ninguém se engane. Os empresários da energia têm seus departamentos jurídicos, assediando legislativos e judiciários, usando a imprensa pra atacar tudo o que ameaça seus lucros a baixo custo, entrando com ações, liminares e recursos nos tribunais em qualquer instância, mexendo seus pauzinhos e ativando suas influências no sistema social. Em qualquer brecha, nas oportunidades que se criam, essa lei, decreto, portaria ou seja o que for cai. E, se cair de manhã, as equipes de corte já estarão de prontidão pra sair no princípio da tarde, dependendo da área acompanhadas de polícia, apagando a luzes e desligando geladeiras e demais aparelhos de uso diário. Que ninguém se fie em deixar de pagar, se puder, as contas. A perversidade empresarial e, por consequência e influência, institucional, não considera pandemia, não considera a fome, o desabrigo, não considera a vida e envenena o mundo, espiritual e quimicamente. 

É a natureza do sistema social. É preciso criar autonomia porque, pelo jeito, a conscientização ainda demora. Vai ter que ser ao natural, sofrimento, reflexão, tragédia, solidariedade e reconstrução. Dificuldades que obrigam ao desenvolvimento das relações, sociais, profissionais, familiares, de vizinhança, na humildade imposta pelas dores e problemas criados por uma civilização irresponsável, dominada e conduzida pela ambição, pelo egoísmo, pela perversidade e pelo apego ao poder, ao controle, aos privilégios, luxos e ostentações. 

Os que se propõem a conscientizar não conseguem além dos seus pequenos círculos coletivos, perdidos nos condicionamentos sociais, nas vaidades, nos egos, nas disputas, nas formas de relacionamento induzidas socialmente, sem se darem conta de reproduzirem valores e comportamentos planejados e estrategicamente implantados pra produzir, entre outras coisas, distanciamento, desconfiança, disputas e confrontos. Como pretender "mudar" uma sociedade que induz e estimula egoísmos, desconfianças, disputas, competições e confrontos? 

O Saber precisa servir à Sabedoria, e não controlar, comandar e definir caminhos. Definir caminhos é muito melhor com o sentimento, a intuição, elementos da Sabedoria. Quando o Saber se encontrar - humilde e a serviço - com a Sabedoria, aí a consciência coletiva toma impulso.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Distorções midiáticas da realidade - quando se toma consciência de ter sido enganado.

São só exemplos colombianos do papel das comunicações nesta sociedade centrada nos interesses econômico-financeiros, que coloca o ser humano, a vida, o equilíbrio do ambiente, a harmonia social em plano secundário, sem importância suficiente pra impedir a ambição desmedida do punhado de dominantes podres de ricos - a quem a mídia empresarial dominante serve. A distorção da realidade, a criminalização dos movimentos dos prejudicados pelas políticas que roubam dos pobres, em vida, em saúde, em tempo, em qualidade de vida, pra acumular riquezas e poderes naquele punhado, cada vez mais, enquanto a gente estiver com a consciência roubada, enganada, entorpecida pelo massacre midiático, publicitário e ideológico. A missão é hipnotizar, seduzir, superficializar, alienar, criar desejos e objetivos de vida que alimentam o sistema social desumano, perverso, injusto e verdadeiramente anti-social. O artigo é de fevereiro, mas simboliza a "desilusão" necessária à tomada de consciência da realidade. 


Colômbia: Insurgências, ética jornalística e a Síndrome de Estocolmo

Por: DannaUrdaneta

Publicado em 18 de fevereiro de 2021.

Tradução – Amanda Mara Lopes de Oliveira e Eduardo Marinho (todos os parênteses são de E.M.).

Sobre a libertação de dois soldados pelo ELN em Catatumbo... e minha experiência na 10ª Conferência Nacional de Guerrilha das antigas FARC-EP.

O mês de fevereiro começou, na Colômbia, com a discussão sobre a síndrome de Estocolmo no conflito social e armado. A discussão surgiu da prova de vida e posterior liberação pelo ELN (Exército de Libertação Nacional) dos militares profissionais identificados como Jhony Andrés Ospino e Jesús Alberto Segovia, lotados no Batalhão 10 de Energia General José Concha Vial, do departamento de fronteira Norte de Santander.

A mídia (empresarial e dominante, como em muitos países) noticiou o incidente como "libertação de soldados sequestrados", sem levar em conta que na guerra os combatentes das partes em conflito são capturados como prisioneiros de guerra (e não “seqüestrados”) e protegidos pelo Direito Internacional Humanitário. Essas mídias corporativas são chamadas a fazer pedagogia pela paz na Colômbia e são elas que manipulam, negam e distorcem o conflito social e armado no país (nosso) vizinho.

As prisões chamaram a atenção porque os militares são dois adolescentes, quase crianças, evidentemente de origem humilde, levados à guerra pela falta de oportunidades. Suas declarações tiveram um caráter revelador contra a doutrina das Forças Militares: os guerrilheiros são terroristas e massacram seus "reféns". Esses jovens deram seu testemunho quando se depararam com uma realidade muito diferente daquela que sempre lhes ensinaram sobre o inimigo contra quem lutavam.

A prova de vida e a consequente libertação dos prisioneiros de guerra deram origem a declarações das partes no conflito que não foram suficientemente valorizadas (foram desconsideradas ou omitidas) pelos meios de comunicação. As evidências desses discursos no calor do combate são ingredientes para a promoção de diálogos de paz com todos os atores políticos e militares da sociedade colombiana. No entanto, os depoimentos deram o que falar nas redes sociais e levantaram várias questões sobre o tratamento dispensado aos militares dentro dos batalhões, o tipo de comida que recebem e sob quais códigos de valores eles realmente se relacionam.

Os fatos e os testemunhos: dois prisioneiros de guerra capturados pelo ELN.

A captura desses militares ocorreu em 2 de fevereiro, durante a coleta de suprimentos para levá-los à unidade militar do distrito de Guamalito, município de El Carmen, Norte de Santander. No dia 12 de fevereiro, veio à tona um vídeo que comprova a vida dos dois, publicado pelo meio de comunicação Canal CNC Valledupar1, que recolheu as palavras de um comandante não identificado do ELN:

O Comandante da Frente de Guerra do Nordeste, Manuel Pérez Martínez, do Exército de Libertação Nacional da Colômbia, entrega provas de vida aos familiares dos soldados Jhony Andrés Ospino e Jesús Alberto Segovia, vinculados ao Batalhão Rodoviário Energético nº 10, detidos em 2 de fevereiro de 2021 no distrito de Guamalito, município de El Carmen, Norte de Santander. Informamos ao público que nos próximos dias eles serão entregues a uma comissão humanitária com a qual estamos negociando.

Estes acontecimentos levantam várias questões. Quantos gestos humanitários são necessários para que o Estado colombiano decida reabrir as congeladas negociações de paz, em Havana, com a delegação de paz do ELN? Quantos gestos humanitários o Estado retirou de ações de guerra ao perseguir, estigmatizar e massacrar o movimento social, sob a negação do conflito social e armado e protegido por uma suposta “luta contra o narcotráfico”?

Na prova de vida, os prisioneiros de guerra também declararam. O primeiro afirmou:

“Apresento-me, sou o soldado SL 18 MuñozSegovia, faço parte do Batalhão Rodoviário Energético Número 10 General José Concha. Estou aqui com meu parceiro Castillo, fomos capturados pelo Exército de Libertação Nacional (ELN). No decurso da nossa captura, trataram-nos bem, com uma boa alimentação. Sentimo-nos em perfeitas condições. Queremos enviar uma saudação a toda a Colômbia, estaremos em casa em breve.”

A declaração do soldado Jhony Andrés Ospinono vídeo foi objeto de censura por parte da RCN e serviu de ante-sala para a discussão sobre a síndrome de Estocolmo no desenrolar destas capturas, a qual se refere ao afeto que pode surgir entre capturador e capturado e vice-versa:

“Enviamos uma saudação especial aos nossos colegas, que não se deixem iludir, más histórias, que os ELN são terroristas, que aqueles que são capturados pelo ELN são torturados, massacrados. Como nos disseram nossos comandantes, diga você mesmo: você viveu a experiência para que venha falar mal do ELN, dos guerrilheiros? Então, pelo menos acredite, nós já estamos vivendo a experiência. No início foi aterrorizante, mas quando vivemos com o próprio ELN, o ambiente, já se sente como em casa. E mandamos saudações à nossa família: ao meu pai, à minha mãe, aos meus dois irmãos mais novos, à minha avó, não se preocupem, o ELN já entrou em processo e aparentemente... já nos disseram que partiremos em breve.”

No dia 16 de fevereiro, os militares foram soltos, diante do que o soldado Jhony Andrés Ospino declarou o que sentiu diante de sua liberdade com voz quebrada:

“A verdade é que me deram um bom tratamento desde o começo, pra quê (sic). Já me sentia enturmado com eles. E a verdade é que não tenho nada de ruim para dizer assim, algo de ruim que eles me fizeram, que me trataram mal. A verdade é feliz, mas ao mesmo tempo triste porque eu já estava me afeiçoando a eles.”

Essas histórias, esses rostos confusos dos soldados, essas provocações contra sua integridade sob a estigmatização de que sofreram com a síndrome de Estocolmo são bastante familiares para mim.

Meu depoimento sobre "ética jornalística", "a síndrome de Estocolmo" e a 10ª Conferência Nacional de Guerrilha das antigas FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular):

Fui o único repórter venezuelano na 10ª Conferência Nacional de Guerrilha das ex-FARC-EP durante o mês de setembro de 2016. Essa era a cúpula máxima de decisão da guerrilha, lá seria decidido coletivamente se acabariam com a revolta armada. Este acontecimento não teve conclusões conhecidas até ao momento, nem mesmo pelos ex-combatentes, apesar de todos os dias às 7h00 e às 17h00 haver uma conferência de imprensa por parte de seus principais porta-vozes.

Fui apenas uma entre mais de 900 jornalistas de meios alternativos, colombianos e internacionais de todas as partes do mundo. Conheci um vizinho de acampamento que era correspondente na América Latina de um jornal japonês; residia no Brasil e havia viajado para a Colômbia exclusivamente para cobrir este evento que marcaria um antes e um depois na história do continente latino-americano.

            Este correspondente conversava angustiado com outro jornalista e antropólogo enviado por uma universidade colombiana. O japonês perguntava ao colombiano como iria fazer sua reportagem, já que não encontrara a maneira, não poderia escrever, com certeza. Havia chegado com muito medo à Colombia porque iria diretamente para a região onde se acirrou a guerra e, para o meio de um acampamento de “terroristas”. O colombiano escutou o japonês e lhe disse, rindo, que o entendia perfeitamente. O japonês insistia que havia chegado com muito medo ao lugar, sem saber se sairia vivo dali, porque nos meios de comunicação só se fala que as FARC-EP são criminosas, terroristas, sequestradoras e tudo de pior no mundo. No entanto, ao chegar ao lugar e conhecer os guerrilheiros e guerrilheiras, ao vê-los trabalhar, só via que eram camponeses pobres, que não tiveram opção de vida além de serem arrastados para a guerra. Ele não via neles os terroristas que pintavam nos meios de comunicação.

O dilema do japonês era que a mídia para a qual trabalhava aguardava algumas notas que dessem conta dos horrores e crimes cometidos pelas FARC-EP, mas, ao ouvir suas histórias e suas convicções políticas, mudou completamente o quadro que ele conhecia. Se ele dissesse o que realmente estava vendo, eles o despediriam e o rotulariam como um propagandista do terrorismo.

Como este, foram muitos os casos que conheci, histórias que permaneceram como parte dos segredos que as planícies de Yari escondem até hoje.

Os dois casos que mais me tocaram aconteceram no final da 10ª Conferência, onde um membro do secretariado realizou uma reunião com cerca de 50 jornalistas que permaneceram na área para fazer algumas reflexões e reconhecimento dos trabalhadores dos meios de comunicação face aos seus exploradores. Me aperta o peito e a garganta ao me lembrar dele.

Um rapaz como eu fez a sua intervenção de pé e disse que ele e os seus companheiros iam para uma comunicação social comunitária, que não tinha recursos ou bilhetes para chegar ao local, mas não podia perder a oportunidade de se encontrar com os guerrilheiros neste evento histórico. Foram de carona em carona e de cauda em cauda – como dizemos na Venezuela – de Antioquia, demoraram 5 dias para chegar às planícies de Yarí, no departamento de Caquetá. Atravessaram todo o país para chegar. Sobre o sacrifício e a incerteza da viagem no meio da pobreza e da estigmatização, disse orgulhosamente, com a voz embargada: “viemos conhecê-los, esta é a nossa contribuição para a paz e reconciliação na Colômbia” que, evidentemente, consistia em mostrar a outra voz do conflito.

Após esta intervenção, outra jornalista de uma mídia nacional colombiana falou, uma âncora até agora reconhecida. Disse chorando que lamentava não ter levado os filhos com ela à 10ª Conferência, que era uma grande oportunidade que nunca se repetiria e que lamentava que seus filhos não pudessem conhecer a guerrilha, para viver na própria pele uma outra forma de ser, de agir, outros valores, como a solidariedade e o desapego absoluto, o verdadeiro trabalho em equipe e o cuidado coletivo. Nunca esqueço suas palavras: "não sabia que isso ia ser assim, teria trazido meus filhos para conhecê-los”. Em seu discurso ela disse que, depois de muitos anos, percebeu o quão injusta tem sido a estigmatização da guerra pela mídia.

Como esses colegas, tantas outras experiências da classe média universitária colombiana, gente apavorada com a estigmatização que sofreriam ao voltar para suas famílias e amigos nas cidades. Já tinham parado de falar com mais de um só porque tinham ido fazer a cobertura do evento e não podiam contar tudo o que tinham vivido, ao invés de dizer que estavam bem, que foram bem tratados. Sem poder dizer o que realmente pensavam: “não são terroristas, são camponeses”.

A libertação dos adolescentes serviu para abrir a discussão contra os meios de comunicação, por sua alta responsabilidade em se posicionar como agentes do conflito social e armado, que desumaniza o "inimigo interno", no caso, as insurgências. Essa demonização de cada condição humana prepara as condições subjetivas para as ações do terrorismo de Estado. Portanto, não importa se eles massacram civis ou bombardeiam 18 crianças em Caquetá, porque são “terroristas”.

Esses jornalistas colombianos e internacionais também sofreram de uma versão da síndrome de Estocolmo durante a X Conferência Nacional de Guerrilha? São as mesmas faces de confusão e alegria mesclada que se vêem nesses soldados adolescentes que foram libertados pelo ELN.

Paz para a Colômbia, nada para a guerra!

 

 

Referências:

1 Canal CNC Valledupar. (12 de fevereiro de 2021). ELN ENTREGA PROVA DE SOBREVIVÊNCIA DE UM SOLDADO DE AGUACHIQUENSE SEQUESTRADO. Colômbia: YouTube. Recuperado de: https://www.youtube.com/watch?v=Ud3J7iCHjKc

2 Roloco News. (16 de fevereiro de 2021). "Eu já estava me apegando a eles": Soldado libertado. Colômbia: YouTube. Obtido em https://www.youtube.com/watch?v=nH7YOBLkvX8

3 Reservo a identidade dos colegas com os quais compartilhei a experiência devido ao aumento da violência e do terrorismo de Estado na Colômbia que diariamente desloca acadêmicos, sindicalistas, dirigentes e lideranças sociais, principalmente para a Venezuela e Espanha. A esse respeito, recomendo a leitura: https://www.telesurtv.net/opinion/Cristina-Bustillo-y-el-terrorismo-de-Estado-en-Colombia-contra-el-sindicalismo-20201217-0014.htm

Equipe editorial da 4 W Radio. (12 de novembro de 2019). O número de menores que morreram após o atentado de Caquetá seria de 18, segundo testemunhas. Colômbia: W Radio. Obtido em https://www.wradio.com.co/noticias/actualidad/cifra-de-menores-que-murieron-tras-bombardeo-en-caqueta-ascenderia-a-18-segun-testigos/20191112/nota/ 3977643.aspx

Sinais da falsidade (ou revelações sociais)

 Quatro presidentes se reúnem em Brasília, dois do legislativo, um do judiciário e um do executivo. Os três poderes ditos "públicos". Os cargos máximos desses poderes, os maiores da nação brasileira. Em segredo, fechados, sem microfones, sem câmeras. Se são públicos, é direito de todos saberem do que estão tratando, ainda mais diante da catástrofe sanitária no país inteiro - que apavora o mundo, todos os países estão fechados pro Brasil. Os três poderes, os quatro maiorais... e nenhum deles é confiável, nenhum deles serve à população, mas sim a banqueiros nacionais e, sobretudo, internacionais, aos podres de ricos do mercado econômico-financeiro, ao poder econômico na mão de um punhado. O sinal da falsidade na cena está na convocação de governadores, mas só os que não tiveram nenhuma discordância pública das "políticas" deste governo central. Sinal inequívoco. Depois da tal reunião, virão as mentiras, as distorções, a cara-de-pau de costume. O jogo é de cachorro grande, enquanto o povo, enganado, sabotado, desinformado, põe a sociedade pra funcionar, como todo dia. Nos transportes públicos, não há isolamento - porque a sociedade depende, fundamentalmente, dessa multidão roubada em seus direitos e exposta permanentemente à exploração de todas as formas, pelos "poderes" da sociedade. Mais de três mil e duzentos mortos em 24 horas. Quantos mortos por dia serão necessários pra se respeitar a realidade? Tragédia anunciada, prevista, avisada, comentada, descrita mesmo com antecedência. Com a pandemia do corona, se revelou também um surto de perversidade psicopática, divisão de almas, fratura social, revelações de personalidades - antes enrustidas, por inconveniência, agora exibidas, brandidas com orgulho, com arrogância e violência. O que resta é que agora sabemos quem são os perversos, os violentos, os pobres de espírito. Que não se apague a memória. Ninguém piorou, só se revelou. A maldade que era subterrânea, agora está exposta. E o mundo de mentiras em que vivemos está mais claro do que nunca. Que se leve aos valores pessoais, aos desejos e objetivos de vida, aos comportamentos, à visão de mundo, à própria vida, no cotidiano, no trabalho, nas relações em toda parte. O processo de mutação está em tempos de pressão.

4 de março, 2021.

quinta-feira, 11 de março de 2021

As voltas do mundo... quem diria?

 Diante das reviravoltas que estou vendo nesse teatro macabro da política institucional, lembro da minha mãe, nos seus últimos anos de vida, vendo a realidade em volta, antes inimaginável, olhando nos meus olhos com um sorriso triste – e me parecia que seu olhar se estendia pelos seus 99 anos – e  comentava, conformada, “quem diria...” Geralmente eu só concordava, “quem diria...”, sorrindo de volta. Uma vez perguntei, “quem diria o quê, mãe?” Pega de surpresa ela respondeu com um gesto de quem ouviu uma bobagem, olhando em volta como quem olha o mundo, “ora... tudo”.

Tô vendo um tanto de atitudes “quem diria” por aí, no palco das instituições. As peças mudam de lugar no tabuleiro. Os jogadores continuam no escuro, os holofotes - mídias empresariais jamais apontam suas luzes para os vampiros sociais que as sustentam com patrocínios e publicidades bilionárias - estão sobre as peças da política institucional, manipuladas como se decidissem sobre si mesmas, encenando tragédias e comédias de acordo com as instruções dos bastidores. As poucas que não se deixam manipular – porque existem as peças rebeldes – são monitoradas, mantidas nos limites que não afetem a estrutura social, e são estratégicas pra legitimar a farsa. Essa independência enquadrada acaba por dar crédito a uma democracia falsa, de instituições alheias às necessidades fundamentais de grande parte da população, onde o povo é mantido ignorante e desinformado – sabotagem da educação pública, educação particular “de mercado” e controle das comunicações por poderes econômicos gigantescos que claramente induzem, condicionam, aprisionam mentes e corações num inferno social de desarmonia, conflito, exploração, miséria, desabrigo, violência e criminalidade. Não é à toa tanta manifestação de ódio, tanto conflito em torno da superfície, em torno dos personagens do tal teatro macabro. Torcidas de novela com tremendo potencial destrutivo na vida real.

Valores, comportamentos, desejos, objetivos de vida, opiniões, visão de mundo, tudo passível de condicionamento, de indução. É o que constrói o mundo como ele é. E o que pode construir um outro modelo de mundo, de sociedade humana. Se não imediatamente no coletivo, pelo menos na própria vida. Mudando um mundo, se muda de freqüências e sintonias, muitas vezes de lugares e companhias, de desejos, de objetivos. E o que é o mundo todo senão a união de todos os mundos? Cabe sentir, perceber por dentro. Vejo as exceções se multiplicarem há quarenta anos. Vi a formação de tantos grupos buscando alternativas – inclusive de sobrevivência, que são os mais fortes e unidos – surgindo, desaparecendo, desfazendo em outros, uns sumindo, outros permanecendo, muitos se contaminando de vaidades, disputas, ambições pessoais, alguns permanecendo e seguindo nas atividades. Hoje tem pra todo lado, quem quiser conhecer vai encontrar por perto, em algum lugar, fazendo coisas fora do padrão. Se eu chegar em algum lugar que não tenha, não fico. Mas tenho encontrado em toda parte por onde ando. A senha de contato é sinceridade, humildade e respeito. Sem esquecer do próprio.

Consciência contamina.

quinta-feira, 4 de março de 2021

"Vamos pular esse tempo", disseram.

O tempo não dá pulos, mas passa. Há quem feche os olhos pra criar a sensação de "pulo" e não ver a realidade do momento. É preciso respeitar as escolhas, elas trazem suas consequências. Eu prefiro manter os meus olhos o mais abertos possível pra ver e enxergar a realidade, muito além do que me é mostrado pelas empresas de comunicação que dominam essa área PÚBLICA. No país e no mundo.

Todo sofrimento traz uma carga profunda de aprendizados, além da dor, na percepção das responsabilidades gerais, na busca das causas pra começar o trabalho das correções e aperfeiçoamentos, tanto individual quanto coletivamente. Apontar "culpados" superficializa as percepções. Embora, claro, eles existam e "mereçam as penalidades da lei".

Mas é preciso trabalhar nas condições e nos espaços que se criam pra existência desses tipos de personagens na chamada "vida pública". Na estrutura social, na formação das pessoas, das populações, de forma ampla e em todos os setores. A formação de mentalidades, a manipulação da alma coletiva é uma indústria instalada há muito tempo - é hora de perceber nos valores vigentes, nos comportamentos, nos desejos e objetivos, na visão de mundo, nas relações sociais. Os condicionamentos afastam, dividem, criam disputas e conflitos. Tudo nessa direção é indução social. É preciso humildade pra reconhecer. Por isso tanto estímulo aos egos.

Na busca e construção de uma estrutura que tenha como objetivo harmonia social, a eliminação das condições de miséria, ignorância, desinformação, desabrigo e abandono é a base. Essa é a prioridade em qualquer sociedade que se pretenda humana de verdade. A nossa há tempos históricos está sob controle de poucos e obscuros poderosos, servindo aos bancos, mega-empresas, ao mercado econômico-financeiro, contra - isso mesmo, contra - as populações, a humanidade, o povo e o equilíbrio social.

Se não fomos capazes de evitar, temos a responsabilidade de encarar as consequências. Todos, sem exceção, tendo ou não responsabilidade direta, somos responsáveis pela coletividade. O que varia é a forma de participação. Coletividade como humanidade, na parte onde se está. A mutação é permanente.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.