sábado, 16 de outubro de 2010

Ver como é, não como nos é mostrado

É preciso dar o nome devido às coisas. A forma de falar acaba criando condições mentais propícias a análises tendenciosas. Erramos o caminho do pensamento e ficamos a dar voltas, sem achar saída.

Quando olhamos o panorama da sociedade, vemos que a “elite dirigente” formal, apresentada como o “poder”, não é o que parece ser. Observando seu comportamento, sem nos deixar enganar pela mídia, percebemos que o poder real, atual e atuante, está bem acima dessa elite, no escuro das empresas de comunicações e do aparelho do Estado. A verdadeira elite dirigente não é eleita pelo voto, ao contrário, elege seus subordinados e, através deles, indica outros subordinados para os cargos chave, dentro da administração estatal. Considera seu o que é de todos, monopoliza a atenção e os privilégios que o Estado pode lhes oferecer. Dispõem das verbas públicas com a naturalidade de quem usa o que é seu, por direito de nascimento ou conquista financeira.

A “elite dirigente” não passa, na verdade, de uma elite de gerentes. Vê-los abanando o rabinho para mega-empresários, representantes de gigantes transnacionais e de banqueiros é uma bofetada na cara do cidadão.

Andamos pelas ruas recebendo multidões de recados mentirosos, explícitos e subliminares, dizendo que nos amam, fazem tudo pelo nosso bem estar, que essa é a maior razão de sua existência, tudo "especialmente para você", com sorrisos, gestos, cores, imagens e sons sedutores, acenando com possibilidades de destaque e consideração social, prêmios por se deixar convencer e desejar o que oferecem. Tudo com o único objetivo de nos fazer consumir o que não precisamos. Para vincular a felicidade ao consumo.

Se entramos num "chópim" a coisa se torna ridícula, absurda, caricata, uma ofensa à inteligência. Mas de tal maneira bem elaborada, de tal amplitude e profundidade é o trabalho de condicionamento cotidiano neste sentido, que se pode ver nos olhos das pessoas o brilho da avidez, da necessidade de comprar, de ter, de consumir. Tornam-se fanáticas pelo consumo. Produzem angústias profundas, amargam tristes frustrações, obtêm efêmeras alegrias, superficiais demais para sanar a insatisfação do espírito humano.

“A massa sustenta a marca. A marca sustenta a mídia. E a mídia controla a massa.”
                                                                                                                                                                      George Orwell

A marca controla o Estado, eu poderia dizer. Mas fica despersonalizado. Os donos das mega-empresas, os grupos de empresários mais ricos, de donos de terras, de indústrias, são esses os que mandam, controlam, criam valores, distorcem a realidade, interferem no ensino, nas decisões do Estado em qualquer das suas instâncias. Atacam populações, comunidades, etnias, tudo o que esteja no caminho dos lucros absurdos a que se acostumaram.

Se a minha visão é simplista, é porque a realidade é simples assim. Claro que virão acadêmicos laureados, especialistas, analistas, com uma linguagem rebuscada, provando que a coisa é muito mais complexa, não é bem assim, e mais isso e aquilo. Mas eles não me enganam. A sociedade é essa barbárie, na vida da maioria (alguns privilegiados nem acreditam nisso), por uma questão de egoísmo, orgulho, soberba de uma minoria que não alcançou, ainda, o patamar humano. E também por um minucioso trabalho de ignorantização, nas escolas, e de idiotização, pela mídia e pelas redes da internet, que é acolhido, assimilado e exercido pela grande maioria, que inclui os mais sacaneados da coletividade desarmada de instrução, informação e senso crítico - desarmada de cidadania.

Todos temos nossas responsabilidades, ninguém está isento. Mesmo os mais engajados, os mais ferrenhos lutadores por mudanças reais na estrutura social. A diferença destes é que exercem sua responsabilidade humana, cada um à sua maneira, como o professor que dá tudo de si no ensino e na formação de seus alunos, mesmo sabendo que a estrutura de ensino não permite um grau aceitável de assimilação. Como o médico que atende com amor, mesmo nas mais precárias condições.

Eu, de minha parte, ponho tudo o que posso no meu trabalho. Consumo só o que me é realmente necessário. Nem entro em chópincenter, que aquilo é um insulto à minha humanidade. E duvido de tudo que a mídia diz – falou mal, deve ser bom, falou bem, deve ser mau.

http://antizero.rg3.net/
Eduardo Marinho, 16/10/10                                                                                         

13 comentários:

  1. E eu, digo aos meus pequenos assim,com relção a produtos para crianças anunciados por ai:
    Se precisa enfeite, bonequinho, propaganda, é porquê não vale pelo alimento em si,que deve ser tão ruim, que se der de graça, as crianças não querem.
    Presta sempre atenção, coisa boa pra saúde não precisa de estímulo,nem açucar e corantes...
    E para nosso castigo, viemos para a Meca do consumo...
    Bjo

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  2. "Como fomos enganados a ponto de acreditar que queremos um grande palácio para morar e um grande carro para dirigir, muito dinheiro no banco, férias elegantes? Enquanto há pessoas com fome? Estamos todos dentro de uma cesta de mentiras! Tudo o que precisamos é de comida e amigos. Tendo isso, está tudo resolvido. Então, você pensa: como posso ajudar a minha gente? Esse deve ser o nosso sonho. Não uma boa carteira de ações." - Patch Adams

    Pois é, é preciso continuar espalhando essa verdade... Tem sempre gente me dizendo que não adianta tentar fazer mudanças no mundo, na vida das pessoas e tal, mas eu sei que o que importa na vida não é a realização, mas a caminhada. Tive certeza disso depois que conheci você por aqui. Entendi que o importante é a luta. A tentativa. Correr atrás daquilo que você acredita ser o caminho certo... Só assim, com o tempo, a gente pode provocar um brilho intenso no mundo! Nunca deixe que tirem isso de você, cara. Tô contigo.

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  3. Hoje a mídia controla a tal ponto que está quase decidindo as eleições para o candidato das elites. Mais a internet, que(ainda é livre)tem muita coisa interessante e permite-nos falar a verdade como nesse seu ótimo texto. A internet é a revolução!!!

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  4. Bom texto. È isto. Mandou bem
    Ontem mesmo tomei banho de rio num lugar chamado Morros em São Luís do MA. Apesar de tão belo, muito lixo encontrei, nadava catando lixo e percebi. Que a Natureza era mero entretenimento e beber, fumar e zuar e exibir o corpo infelismente era mais importante. Pedi licença e entrei mata a dentro. Muito lixo. Mas foi como terapia catar. De volta pra São Luis. Errei minha senha do banco e antes da última tentativa o cartão bloqueou. Frustração, na hora fiquei puto. Logo depois afirmei, pra meu comforto: Eu estou vivo o banco não.

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  5. Eduardo,

    Mais um excelente texto. Como você diz, o mundo está sempre em processo de mudança, e isso chama-se evolução, e quando esse processo se dá de maneira mais acelerada, chama-se revolução. É exatamente isso que você está fazendo na consciência das pessoas e consequentemente no mundo, com seus vídeos no youtube, tanto na entrevista quanto na sua palestra na UFPR, e aqui em seus textos, mais uma vez, parabéns.

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  6. Ótimo texto!

    "O homem do capitalismo se coisifica e a coisa se humaniza." Karl Marx

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  7. Nossas bases são fracas, nosso ensino é sabotado desde sempre. Saímos da escola como animais querendo uns matar aos outros em troca de status, enfim. Continue com os textos, bravo.
    Abraço

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  8. Muito boa observação em relação aos tentáculos que tomam conta da vida da massa.

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  9. Muito prazer!

    As vezes também me sinto meio isolado, o do contra, o que detesta chópim etc. Mas nunca desisti de plantar minhas sementes. Nunca deixei de lado minha visão do ideal, minha percepção do possível, e a realização do palpável. Parabéns por seu valioso trabalho.

    HUMANOS, DESPERTAI!!!!!!!!

    Abraço Guilherme/Geografia PUC CAMPINAS-SP

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  10. É uma lavagem cerebral o que a publicidade faz.

    Os donos do mundo precisam de alguma ferramenta de manipulação da massa (e não serve o rolo de macarrão...rs).

    Durante séculos a igreja cumpriu esta função, com seus dogmas religiosos.
    Agora, na era da "razão(?)", a publicidade a substitui com os dogmas do consumo: é proibido envelhecer, é vergonhoso não consumir, seja superior, ganância é virtude, e por aí vai...

    O mandamento "Amai-vos uns aos outros" (bem distorcido pela igreja) foi facilmente superado pelo mandamento do consumo: "Compre o que você não precisa e mostre ao mundo o que você não é".

    Cada cabeça uma sentença.
    Seguir estes mandamentos é uma opção, ao menos para quem tem acesso à educação e informação, que por acaso são os mesmos frequentadores dos templos do consumo: os chopincenters.

    VIVAS ao Eduardo e todos que seguem o mandamento de Jesus!

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  11. O que vemos nos confunde às vezes porque temos na ala dos políticos os próprios barões da elite brasileira. Junto a eles estão outras pessoas que dedicaram sua vida à política. Uns são aliciados pelos barões, pois que eles sabem ver e apreciam o carisma e a sedução. Eles querem estas pessoas carismáticas ao seu lado. São cooptados pelo verdadeiro poder. Por outro lado, vemos também os que chegam lá com seu próprio dinheiro e carisma mas não fecham com os barões. Fazem um jogo independente. Alguns deles se tornam barões depois de 30 anos como político. Pessoas muito astutas, conseguem dar o nó no próprio diabo. Outros são honestos, bem poucos conseguem se manter dentro das conveniências éticas.

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