quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Evolução Social



Desenho feito em 1996. Outra versão foi feita em 2003. A terceira é de 2010.
A 2ª está alguns textos abaixos, aquarelada (colorida).


Evolução social

            Até hoje, nas políticas oficiais, não se percebeu que violência não combate violência, que se o foco principal (a miséria, a ignorância produzida com a sabotagem do ensino público fundamental e médio para a maioria da população e a desinformação espalhada pela mídia) fosse central na problemática social e prioridade nas políticas públicas, teríamos reduzido os índices de criminalidade.
            Quando houver investimento nas políticas de real interesse em extirpar essa miséria que acompanha a sociedade onde quer que ela se implante, a violência será reduzida aos casos de psicopatia ou desajustamento de qualquer ordem. De toda forma, instituições dedicadas ao estudo e desenvolvimento de tratamentos adequados à ressocialização, ao apaziguamento, ao ensino, ao desenvolvimento da sensibilidade e do sentimento de integração à coletividade de forma útil e solidária, custariam menos ao Estado que a última quebra do sistema financeiro.
            Na Constituição Federal, consta que o Estado tem a função de garantir necessidades essenciais à vida digna (alimentação suficiente, ensino de qualidade, moradia salubre, acesso a trabalho, ao transporte, o direito de ir e vir, etc, etc.) e o que vemos é o não cumprimento escancarado, descarado e cínico, por parte do Estado, das determinações da sua Carta Magna. Ao contrário, cada organização popular a reivindicar direitos, promover manifestações e ações pacíficas, esclarecer, conscientizar e pressionar o poder público para cumprir a lei (!) é criminalizada na mídia e alvo do ataque das forças de segurança pública, com o aparato repressivo de contenção de massa, que vem sendo adquirido paulatinamente pelos governos, sob pressão dos interesses privados, os mesmos financiadores das campanhas eleitorais.
            Pra esses caras, é fácil pensar que armando as forças de segurança para a guerra será possível manter a violência longe deles. Além do que eles têm seus próprios aparatos de segurança particular, carros blindados, batedores, helicópteros. Eles não têm expectativa de acabar com a violência. Devem saber que suas empresas estão na origem e no final das razões para a barbárie, são elas (e seu poder econômico) quem amarra o Estado para não investir na população, chamando de custo social e exigindo cortes cada vez mais profundos. São as empresas quem se beneficia dos salários baixos, aceitos pela pressão do desemprego, da miséria sempre ameaçando. Condições de segurança, de higiene, direitos trabalhistas, tudo “flexibilizado”, tudo morto.
            Os políticos que fecham sem restrições com esses caras costumam odiar os movimentos populares, atiram furiosamente a policia pra cima deles, abrem processos de extinção na justiça, enquanto a mídia fica histérica de ódio, transformando lutadores por justiça em bandidos em seus pseudo-noticiários. Cercam favelas com muros, implantam unidades dentro das comunidades que ficam próximas aos eixos de movimentação, por onde passa a classe média em massa – vítimas potenciais da bandidagem. Bem, a classe média costuma formar opinião, tem certa voz no coletivo. Se pudessem, cercariam as áreas de exclusão com muros como o da Cisjordânia ou de Gaza, com passagens controladas por guardas armados, permitindo a saída apenas dos que tiverem carteira assinada ou comprovarem a razão da saída. E eu cada vez mais me convenço de que esses caras – tanto os políticos, quanto os seus patrões reais – sabem a causa da miséria – e de tanto sofrimento -, sabem como se poderia acabar com ela, mas não estão nem aí. Temem por seus privilégios e precisam exercer o máximo de controle possível para mantê-los. Se possível, aumentá-los cada vez mais.
            Pra isso, avançam no Estado, o montante do dinheiro público é enorme. Sob sua pressão, o orçamento destina uma merreca insuficiente pra educação e saúde públicas de base (para pobres), diminuindo o “custo” social e aumentando o dinheiro público para o uso privado, sob infinitos pretextos.
            Quando as situações de fragilidade forem a prioridade do Estado e da sociedade, rapidamente elas serão extintas. O abandono da velhice e da infância, as misérias material, de um lado, e moral, de outro, as situações de ignorância e abjeção, os conflitos fundiários, a criminalidade endêmica, tudo isso será coisa do passado, objeto de estudo nos livros de história e de espanto e horror, entre estudantes e pesquisadores.
            Sinto a chegada de novas gerações, com novos pendores e impulsos. Cada vez mais e mais questionam os valores vigentes, o consumo compulsivo e a hipocrisia da mídia privada e seu monopólio do espaço público de comunicações. A mediocridade, a indiferença, a entrega sem questão aos valores absurdos tem cobrado seu preço. Em angústia, em frustração, em revolta, em depressão. Os que não aceitam se conformar com isso aumentam em número. Mas não se percebe esse movimento à primeira vista, é preciso andar pelo chão da sociedade. E é melhor que não se perceba, mesmo. Ou o aparato do sistema pode ser ativado – caso aqueles caras se sintam ameaçados antes da hora - e provocar muito mais sofrimento que o necessário, na evolução das coisas.
            Olhando lá do alto, açambarcando os continentes, pode-se perceber significativas mudanças e importantes movimentos no equilíbrio geo-político entre as nações e mudanças de realidades e comportamentos, que contaminam os povos. O processo caminha. É preciso caminhar com ele.

Eduardo Marinho                                                                                       11 de novembro de 2010        

14 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pelas pinturas/desenhos... conheci seu trabalho por meio de um vídeo no YTube e me encantei! Parabéns!

    ♦ pacientesensinam.blogspot.com ♦

    ResponderExcluir
  2. Pode ter certeza que a nova geração está caminhando. E não precisa temer o sistema, ele por si só é instável, vai desabar qualquer hora.
    A estabilidade sempre vence, é certo. Quem consegue olhar para as causas sociais vai encontrar muita gente envolvida. Acho que já se iniciou a mudança.

    ResponderExcluir
  3. Caro amigo ainda existem pessoas que não se entregaram as conveniências oferecida pelo mundo corrupto e capitalista que não se dobraram a novelinhas que tratam problemas sociais como fabula, creio sim que essa geração esta abrindo os olhos para tanta miséria que consome esse lindo País.

    ResponderExcluir
  4. Visto isso, temos a manifestação contra a tarifa de 3,00 reais e a favor do passe livre aqui em Florianópolis (há poucos meses).
    ...Mesmo numa manifestação pacífica muitos apanharam da polícia e foram presos por fazer nada, por estar simplesmente no meio da rua gritando por seus direitos.

    ...A indignação tomou conta de muitos ( e continua tomando).

    ResponderExcluir
  5. Adorei o blog..... estarei aqui sempre!!!!!bj
    dayane
    souumhomemdepaixoes.blogspot.com
    abraço

    ResponderExcluir
  6. nossa Eduardo esse final de texto deu até uma adrenalina!

    "Sinto a chegada de novas gerações, com novos pendores e impulsos. Cada vez mais e mais questionam os valores vigentes, o consumo compulsivo e a hipocrisia da mídia privada e seu monopólio do espaço público de comunicações. A mediocridade, a indiferença, a entrega sem questão aos valores absurdos tem cobrado seu preço. Em angústia, em frustração, em revolta, em depressão. Os que não aceitam se conformar com isso aumentam em número. Mas não se percebe esse movimento à primeira vista, é preciso andar pelo chão da sociedade."

    muito louco eu já venho pensando isso a algum tempo. Eu finalmente tomei vergonha nessa merda da minha cara e resolvi fazer alguma coisa pela sociedade em que eu vivo. Pelo menos ter a decencia de participar dos protestos aos quais eu sou simpatizante. Vamos nos mexer galera!

    ResponderExcluir
  7. Um belo texto!

    Que toda esta angustia que carregamos em nosso coração, frente a um mundo que encontra-se totalmente desprovido de valores, seja transformada em ações que venham ao encontro de fazer com que cada vez mais pessoas possam compartilhar desta reflexão que nos leva a um olhar crítico sobre a realidade, e consequentemente a enxergar verdadeiramente com o coração, saindo desta alienação do qual a mídia vem reforçando, e descontruindo a idéia de que como diz Nando Reis em sua canção : O mundo está ao CONTRÁRIO e ninguém reparou...

    Parabéns pelo texto!

    ResponderExcluir
  8. Brasileiro é torcedor e não patriota. Suas palavras talvez terão efeito quando realmente formos patriotas, preocupados com os moradores deste país de 190 milhôes de homens, mulheres,idosos, jovens e crianças que sofrem por está realidade, por enquanto vamos torcedndo que dê certo sem nada fazer.

    ResponderExcluir
  9. Discordo com sua visão na parte que diz sobre as mudanças de questionamento das gerações que estão aparecendo agora.
    Tenho 18 anos e me considero uma das exceções dentro de minha geração Tupiniquim parcialmente alienada e não tenho muitas esperanças nas próximas gerações.
    Vejo e ouço todos os dias seres mais novos que eu e que se demonstram totalmente alienados pelo sistema, criaturas que provavelmente só sabem respirar por que alguém os ensinou.
    Sinceramente, tenho medo do que esse mundo está se tornando.

    Eu o sigo já há algum tempo e te digo que foi graças ao seu vídeo no YouTube e as suas ideias que tive a coragem de criar meu blog. De uma conferida: http://sei-la-ta.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  10. Parabens pelo texto. Sua visão e sensacional.

    ResponderExcluir
  11. SENSACIONAL, tenho a mesma visao, apenas estou
    aprimorando, desenvolvendo, para futuramente (breve) tirar conclusoes, que porem ja sao muitas
    as tiradas, e tambem em breve ponharei em praticas
    Abraços !

    ResponderExcluir
  12. Eu prefiro formar opinião, em vez de tirar conclusão. Opiniões são mais maleáveis, conclusões só tiro em casos especiais e óbvios.

    ResponderExcluir
  13. O frescor do teu otimismo tem me feito pensar que o ponto de ruptura que venho intuindo, sentindo, talvez esteja relacionado a algo muito maior do que eu imaginava. Oxalá esta evolução consiga se sobrepor a tantos e poderosos interesses nefastos. Saiba que tua voz faz eco no mais profundo da minha esperança e da minha energia para agir. Forte abraço.

    ResponderExcluir

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.