quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Falsa superioridade

Acredito que a repulsa e o desprezo sentido por muitas pessoas, das classes altas, pelos mais pobres e pelos miseráveis da sociedade, tem origem, na maior parte das vezes, na percepção inconsciente da própria responsabilidade, diante de existências que acusam e revelam seu egoísmo, sua arrogância – e sua indiferença.

É da consciência incomodada, unida com o apego aos privilégios, que parte a discriminação, a inferiorização dos pobres. Cria-se um sentimento de superioridade humana, com base em referências sociais, e acredita-se (voluntariamente) que a miséria e a pobreza são males inevitáveis e que a “culpa”, em grande parte, é dos próprios pobres e miseráveis. Eles não se esforçam, são vagabundos e não querem nada.

Essa “superioridade” é plenamente "justificada", diante da visão superficial, pela educação mais refinada, qualificada, por um padrão de consumo bem acima da maioria, pelo acesso a um volume de informações exageradamente superior e inúmeras outras facilidades, condições restritas a minorias tanto menores quanto mais altos forem os padrões. E se confirma de forma irônica, pela necessidade que há de serviçais para manutenção desses padrões. Ao invés de perceber a fragilidade e dependência expostas, prefere-se distorcer a realidade e apresentar a exploração do trabalho mal pago como um “benefício”, o fato de “oferecer empregos”. Esconde-se a dependência e a fragilidade, maquiada, é apresentada como fortaleza – “eu pago!”

Indivíduos. Grupos. Povos. Planetas. Estrelas. Galáxias.
Todo o Universo se encontra em constante e eterna evolução.

Uma fortaleza falsa e frágil, fácil de desmascarar (desde que haja interesse real) com simples, leves e pacíficos golpes de consciência. Apesar do seu aspecto indestrutível e ameaçador, a fortaleza tende a desmoronar, quando lhe retiramos o consentimento e a colaboração. É neles que a relação de superioridade/inferioridade se sustenta. Existe preparação para o ataque direto, a contestação violenta. Mas não para a conscientização. E é a consciência que, efetivamente e a partir de dentro, possibilitará a mudança para melhor do ser humano, suas relações pessoais, das sociedades e das relações com o mundo.

10 comentários:

  1. Concordo.Existe uma corrente de pensamento que diz que tudo o que você dá, é o que você recebe.
    Pode ser que funcione em um ambito espiritual lá,budista, mas as pessoas torcem o conceito para que possam dar de ombros ao sofrimeto alheio, sedando a consciência com um vai saber, quem sabe mereceu...
    Justificativa é o instrumento muito forte,e quase desconhecido da Fazem o tempo todo, mas não sabem.Quando as pessoas desenvolverem a consciência de que nem tudo é justificável, quem sabe, a humanidade progrida.

    ResponderExcluir
  2. Estudo em uma escola particular, onde a maioria dos meus colegas tem um pensamento parecido. Tenho um colega - de quem já fui muito amigo - que sempre vi como companheiro e benevolente, até ver que ele trata apenas seus colegas de classe assim. Quando fala de um pobre, ou então quando lida com um trabalhador que tem um emprego considerado "indigno", como o de faxineiro, o despreza em mais pura soberba e arrogância. Sujeitinho nojento

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Eduardo eu queria que um dia você falasse sobre um assunto que me deixa cheio de duvidas. É o seguinte: Antigamente eu saia para estas festas e shows, pagava 180 reais no camarote pra ficar num lugar "mais de boa". A questão ai era o seguinte, ir na pista onde ia o "povão", ressalta exatamente essa questão de separação social. O fato é que ficar na "pista" era um tanto chato porque o "povão" é(ou era) muito mal educado, dezenas de brigas e etç. O fato de ficar no camarote onde só tinha riquinho bunda mole era melhor nessa ocasião porque apesar de eu estar num ambiente arraigado de "falsa superioridade" e orgulho material, eu não era incomodado pela ignorancia e falta de educação dos menos favorecidos.

    E quero ressaltar que eu não tenho mais esse tipo de pensamento( e nem vou mais nesse tipo de festa), eu acompanho seu blog a um tempo e está me fazendo pensar e mudar as minhas atitudes. Não quero que você se engane de achar que eu sou uma dessas pessoas cheias de orgulho que você tanto fala, mas o que eu disse é um fato, é uma realidade pra quem vai nesse tipo de evento. Obrigado ai cara! t +

    ResponderExcluir
  5. Oi Eduardo,

    Leia isso !!!

    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/estudante-de-direito-e-vitima-de-racismo-na-puc-de-sao-paulo.html

    ResponderExcluir
  6. "golpes de consciência" muito bom Eduardo. Abraços

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  9. Boa..

    Eu gostava do Didi Mocó quando cantava : "Super homem cascateiro, só faz força no banheiro". Mas Paulo Freire, claro, foi ainda mais profundo, com o perdão do trocadilho, quando disse: Ninguém liberta ninguém, nos libertamos coletivamente"

    A força está na união, no coletivo, no braços dados.

    ResponderExcluir
  10. É igual a balanço de madeira e as crianças brincarem. Se um monte de pessoas fica de um lado da madeira o outro lado fica em cima. Mas quem sustenta são as pessoas que estão embaixo. Gandhi provou isso na Índia e acho que não tem o que provar mais. Isso é como isso parece.

    ResponderExcluir

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.