segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Texto de natal - ou "Feliz Natal!" (republicando)

Lembrando que a data do nascimento de Jesus não é conhecida, e que 25 de dezembro foi decretado pelo Vaticano no ano de 854 para fazer frente às festas do solstício, dos povos do norte europeu, republico esse texto. No império romano o registro dos nascimentos era feito por ano. O dia não constava. Essa mentira teria caído por terra, se a invenção do papai noel não fizesse a festa dos comerciantes e dos industriais, no apelo irresistível ao consumo. A data se transformou na maior onda de consumo anual. A festa da alienação, da ignorância, do egoísmo, da indiferença com a situação de enormes parcelas da humanidade, da hipocrisia, da falsidade, momento de encontros para alguns, de ostentação e conflitos, para muitos, quando se finge ser feliz. O texto de Luiz Sepúlveda merece a republicação.

Bom proveito e abraços a todos,
                                                    Eduardo.


Por Luis Sepúlveda


Estimado Santa Claus, Papai Noel, Bom Velhinho,
ou como queira chamar-se ou ser chamado.

Confesso que sempre lhe tive simpatia porque, em geral, me agrada a Escandinávia, sua roupa vermelha me dá um sentimento premonitório e porque, por trás dessas barbas sempre acreditei reconhecer um filósofo alemão que, a cada dia, tem mais razão no que afirmou, em vários livros muito citados, mas pouco lidos.

Não tema pelo teor desta carta, não sou o menino chileno que, há muitos anos lhe escreveu: “Velho safado, no ano passado te escrevi contando que, apesar de ir descalço e em jejum à escola, consegui tirar as melhores notas e que o único presente querido era uma bicicleta, sem querer que seja nova. Não teria que ser uma mountain bike, nem para correr o Tour de France. Queria uma bicicleta simples, sem marchas, para ajudar minha mãe na condução das roupas que ela busca, lava, passa e entrega. Isso era tudo, uma humilde bicicleta. Mas chegou o natal e eu ganhei uma estúpida corneta de plástico, brinquedo que guardei e te envio com esta carta, para que enfies no cu. Desejo que pegues AIDS, velho filho da puta”.

Foram seus elfos, os responsáveis por tão monstruoso desrespeito? Pois bem, estimado Santa Claus, seguramente este ano receberá muitos pedidos de bicicletas, pois o único porvir que espera os meninos do mundo é como entregadores, mensageiros e trabalhos sem contrato de trabalho, condenados a distribuir pacotes e quinquilharias até os 67 anos de idade. No entanto, não lhe peço uma bicicleta. Peço, em troca, um esforço pedagógico, que ponha seus elfos, anões, duendes e renas para escrever milhões de cartas explicando o que são e onde estão os mercados.

Como você bem sabe, eles nos têm fodido a vida, rebaixado os salários, arrasado as pensões, retirado benefícios das aposentadorias e condenado as pessoas a trabalhar permanentemente, para tranqüilizar os mercados.

Os mercados têm nomes e rostos de pessoas. São um grupo integrado por menos de um por cento da humanidade, donos de 99% das riquezas. Os mercados são os integrantes dos conselhos de acionistas, como são acionistas, por exemplo, de um laboratório que se nega a renunciar aos royalties de uma série de medicamentos que, se fossem genéricos, salvariam milhões de vidas. Não o fazem porque essas vidas não são rentáveis. Mas a morte sim, é, e muito.

Os mercados são os acionistas das indústrias que engarrafam suco de laranja e que esperaram até que a União Européia anunciasse leis restritivas para os trabalhadores não comunitários, que serão obrigados a trabalhar na Espanha ou outro país da U.E., sob as regras de trabalho e condições salariais de seus países de origem. Logo que isto aconteceu, nas bolsas européias dispararam os preços da próxima colheita de laranja. Para os mercados, para todos e cada um destes acionistas, a justiça social não é rentável, mas a escravidão sim, e muito.

Os mercados são os acionistas de um banco que suspende o salário mínimo de uma mulher que tem o filho inválido. Para todos e cada um dos acionistas, gerentes e diretores dos departamentos, as razões humanitárias não são rentáveis. Mas os despojos, as expulsões da pobreza para a miséria sim, é. E muito. E para os ladrões de esperança, sejam de direita ou de direita – pois não há outra opção para os defensores do sistema responsável pela crise causada pelos mesmos mercados –, despojar da sua casa aquela senhora idosa foi um sinal para tranqüilizar os mercados.

Na Inglaterra, a alta criminosa das tarifas universitárias se fez para tranqüilizar os mercados. O descontentamento social levará a ações inevitáveis pela sobrevivência e os mercados pedirão sangue, mortes, para tranqüilizar seu apetite insaciável.

Que seus duendes e elfos expliquem, detalhadamente, que no meio desta crise econômica gerada pela voracidade especulativa dos mercados – e pela renúncia do Estado a controlar os vai-véns financeiros –, nenhum banco deixou de ganhar, nenhuma sociedade multinacional deixou de lucrar e até os economistas mais ortodoxos das teorias de mercado concordam em que o principal sintoma da crise é que os bancos e as empresas multinacionais lucram menos mas, em nenhum caso deixam de lucrar. Que os elfos e duendes expliquem até ficar claro que foi o mercado quem se opôs a (e conseguiu eliminar, financiando campanhas de legisladores a seu serviço - n do T) qualquer controle estatal às especulações, mas agora impõem que o Estado castigue os cidadãos com a diminuição dos seus rendimentos.

E, por último, permita-me pedir-lhe algo mais: milhares, milhões de bandeiras de combate, barricadas fortes, paralelepípedos maciços, máscaras anti-gases, e que a estrela de Belém se transforme numa série de cometas incandescentes com alvos fixos: as Bolsas, que queimem até os alicerces, pois as chamas dos formosos incêndios nos dariam, ainda que temporariamente, uma inesquecível Noite de Paz.

Muito fraternalmente


Fuente: Le Monde Diplomatique                                                                     Tradução - Eduardo Marinho

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Como a mídia manipula a opinião pública para manter sua ditadura

Segue a nojeira comunicacional das nossa sociedade. Desentorpecer é um processo necessário, que está acontecendo apesar das resistências, tanto das empresas de comunicação, quanto pela mentalidade alienada por eles imposta às coletividades.

Pra eles, é vital manter o monopólio e reduzir a comunicação popular ou independente à criminalidade mentirosa. É triste ver pessoas se acharem informadas por assistirem os pseudo-jornais dessa mídia safada, mentirosa, sem vergonha, etc, etc, etc. Mas a blindagem das comunicações está vazando, cada vez mais, já se consegue informações para além da mídia. E as artimanhas dessas empresas se desmoralizam, muito pouco a pouco pro meu gosto, mas em ritmo cada vez mais acelerado, em toda parte.



http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/12/para-entender-o-xadrez-da-politica.html

A Guerra das Empresas contra os Povos - batalhas de Porto do Açu, norte fluminense

Impossível não se comover com o sofrimento dessas pessoas com a truculência do Estado, que ataca e destrói seus direitos para beneficiar o podre de rico. Toda uma população de agricultores está sendo removida das suas terras - onde nasceram e vivem há gerações.

O desvio de função das forças de segurança é um processo instalado há muito tempo. Os pretextos ofendem a inteligência. Os motivos reais despertam os piores sentimentos (inflamam a indignação, como dizia Che Guevara).


A mídia comercial privada, chamada de "grandes meios de comunicação", é desmascarada pelo encarregado da ONU para liberdade de expressão e imprensa

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) é uma sociedade das empresas privadas de comunicação, fundada na Cuba da ditadura de Fulgêncio Batista, então um cassino dos milionários e das celebridades estadunidenses, em 1943. Vinculada à Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), tinha e tem como objetivo o monopólio das comunicações para a distorção da realidade e para o condicionamento das populações, pelo uso massacrante da psicologia do inconsciente (ver O Século do Ego, programa em cinco episódios produzido pela BBC de Londres na década de 80), para formar padrões de comportamento, valores, visões de mundo, desejos e objetivos de vida que favoreçam a gradativa concentração de poderes nas mãos dos poucos beneficiados por essa estrutura social insana.

Esses meios de comunicação são porta-vozes e servidores dos inimigos da humanidade.

No vídeo, os "jornalistas" desses meios criticam a lei de mídia criada na Argentina, que limita o poder desses conglomerados midiáticos. Liberdade de empresa, para mentir, distorcer, caluniar e incitar a opinião pública contra o que seria o próprio interesse público, na boca dessas marionetes são a "liberdade de imprensa". A hipocrisia criminosa e muito bem paga é de causar repulsa indignada. Escondendo a tradicional promiscuidade entre empresários e associações patronais com políticos, legisladores e magistrados, eles falam na promiscuidade entre líderes sindicais e o governo argentino para atacar a "liberdade" das empresas privadas. É a solidariedade entre os exploradores, entre empresas irmãs de crimes, em outros países.

A comentarista da globo é a expressão da mentalidade dos seus patrões, de um reacionarismo conservador empedrado, arrogante e raivoso. Impressionante como sua expressão se assemelha mesmo a um leitão. Quando ouço a expressão "imprensa livre" na boca desses fantoches, sinto nojo, sinto a falsidade. E a consciência do alcance das suas mentiras me causa uma enorme repulsa e o questionamento da humanidade destas pessoas, insensíveis ao sofrimento de enormes parcelas da população - perversidade em alto grau exigida e muito bem paga pela mídia comercial. Honestos ali não têm vez.

A distorção da realidade é a prática cotidiana dos "grandes meios de comunicação". Com profissionalismo cênico, ne verdade defendem o predomínio dos podres de ricos sobre as sociedades, em franca ditadura dos mais endinheirados no sacrifício de populações inteiras para manter seus privilégios e destruir direitos.

No final do vídeo, é um prazer assistir ao locutor marionete mor ser obrigado pela justiça a ler um texto do Brizola sobre o papel do "jornalismo" privado, no "horário nobre".


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Malucos de Estrada - os remanescentes do que se chamou o "movimento hippie" no Brasil

Em 1980 "peguei a estrada". Desde essa época, convivi com a repressão institucional permanente, a discriminação social e a estranheza geral. COm os anos, os filhos foram nascendo e a nossa mobilidade tinha que ser imensa, mudando de lugar - de cidade, de região - a cada vez que as dificuldades impossibilitavam uma vida digna. Para comer bem, abríamos mão da moradia e tínhamos que nos virar pra resolver os probleminhas cotidianos, viajando de carona, cidade em cidade. Uma vida dura, embora rica de experiências, vivências e aprendizados.

Perdi a conta de quantas vezes fui atacado pelas forças de segurança - indiferentes ao meu princípio de não causar prejuízo ou qualquer tipo de mal às pessoas -, tive meus trabalhos tomados violentamente, apreendidos sem condições de recuperá-los, tendo que começar novamente do zero. Injustiças cotidianas com os que tentam levar a vida de forma diferente do modo angustiante e sem sentido que nos impõem - é a estratégia de um Estado controlado por grandes empresários, onde se plantam idéias criminalizadoras contra todos os que não se submetem a esse esquema tirânico que inferniza o mundo. E que só é interessante pra os poucos ricos, que usufruem da exploração do trabalho, dos luxos e excessos que custaram os direitos da imensa maioria, roubada em instrução e em informação - pra não permitir condições de entender e reagir.

Consegui superar a revolta, mas é uma sensação estranha você estar lutando com tantas dificuldades pra ter uma vida menos vazia de significado, pra resistir às imposições convencionais, pra sobreviver, e ter o fruto do seu trabalho tomado por pessoas uniformizadas, sob a proteção de armas e da própria lei - com base nos tais "códigos de postura" dos municípios que violam a própria constituição federal. Afinal, as guardas municipais seguem antes as leis municipais que a constituição, que eles nem conhecem.

Esse filme que se propõem a realizar é um marco na história nunca contada dessa enorme e heterogênea coletividade que se lançou nas estradas, ao nomadismo, à contraposição ao esquema convencionado como o único possível. Infinitas histórias diferentes, com o denominador comum da repressão, da estranheza e da discriminação. E da resistência, da criatividade e da insubmissão, pra seguir vivendo.

Aqueles que puderem ajudar essa realização, estarão contribuindo pra lançar luz nessa parte tão obscura da nossa história cultural, nessa realidade tão desconhecida e tão marginalizada, com o trabalho da mídia e das instituições que sempre desqualificam e perseguem aqueles que não seguem os padrões impostos. Será um filme precioso. Até pra entender alguns modos de ação dessa nossa sociedade tão injusta, hipócrita, covarde, genocida e suicida.

Abraços a todos,
                           Eduardo.


O Estado contra Milton Santos - o assentamento.

A comunidade do assentamento Milton Santos está ameaçada pelo Estado de extinção. Mais um crime de Estado contra sua população, em favor de interesses empresariais no monocultivo de cana e o de soja. Perdem as 68 famílias, perde o meio ambiente, perdem escolas e casas de assistência públicas em várias cidades vizinhas, em alimentos orgânicos, isentos de agrotóxicos ou fertilizantes químicos, para beneficiar uns poucos. Um lugar comum, um procedimento cotidiano neste modo de sociedade. Só que dá tempo de pressionar pelo assentamento Milton Santos, peço a quem puder pra divulgar, mobilizar, pressionar de todas as maneiras possíveis, pra impedir mais esse absurdo. Agradeço. Abaixo, o link do vídeo, não consegui transpor pra cá.

 http://brasil.indymedia.org/media/2012/12//514586.mp4

O blogue do assentamento com informações - http://www.assentamentomiltonsantos.com.br/

 Abaixo o documentário do Milton Santos, feito por Sílvio Tendler. Eu já o tenho postado neste blogue, mas nunca é demais, porque é muito esclarecedor - perdi a conta das vezes que assisti a esse filme, é muita informação e é bom lembrar sempre. Foi fácil porque tava no iutube, o vídeo do assentamento tá em outro lugar, ou outra coisa, sei lá. Só deu pra postar o link, espero que funcione.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Aviso aos amigos do sul - Mixou a viagem.


Acabo de saber que minha participação no evento Aldeia Caiana, em Santa Cruz do Sul, foi suspensa. Segundo Joe Nunes, que tá nas cabeças do evento, a universidade suspendeu a grana das passagens e os sindicatos patrocinadores retiraram a grana prometida ao evento, em retaliação às manifestações contra a administração da cultura no município. É essa politiquinha que rege nossa sociedade e ainda tira onda de ser popular. Papo pra otário.

Lamento muito por não poder rever tanta gente boa que conheci por aí. Foi uma ducha gelada. Se eu tivesse grana pras passagens, pagaria de bom grado. Mas não é o caso.

Deixo aqui minha saudade desse povo guerreiro, essa moçada que luta por lucidez num mundo entorpecido.

Abraços a todos,
                            Eduardo.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Retalhos de pensamentos costurados

Vídeo apresentado pelo blogue pensadores compulsivos, em setembro de 2012. São trechos dos meus escritos, garimpados em várias localizações. É pra dar o que pensar, e o pensar é pra dar o que mudar. De dentro pra fora as mudanças nascem com raizes fortes. Antes de pretender mudar o mundo, é preciso mudar por dentro, limpando os condicionamentos implacáveis, meticulosamente trabalhados no inconsciente coletivo, desde cada indivíduo. Um trabalho monstruoso, constante, nas estruturas mentais, sociais, culturais, econômicas, políticas...

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.