quinta-feira, 1 de maio de 2014

Dia dos trabalhadores

Republico esse texto, na falta de coisa melhor...            


A luta dos explorados é todo dia. Dos espoliados, dos mal servidos, dos sabotados, dos excluídos. Uma luta não só deles, e sim de todos que se pretendem participantes da coletividade humana. Mas precisa começar dentro de si mesmo, em cada um, e daí para a coletividade. Não de fora pra dentro, nem de cima pra baixo. De dentro para fora o trabalho ganha força, raiz, nutrição e substância.












                      
 No princípio era o caos. As fábricas eram escuras, úmidas, fechadas, barulhentas, cheias de fumaças, poeiras e resíduos venenosos. As engrenagens eram toscas, enormes, perigosas, qualquer descuido e moíam dedos, mãos, pés, braços, às vezes corpos inteiros eram esmagados entre rodas dentadas, correias de transmissão, rolos compressores. Era o princípio da chamada revolução industrial.

Os operários eram camponeses ou descendentes de camponeses expulsos dos campos pelas milícias da época, a serviço dos poderosos que tomavam terras para a criação de ovelhas e as plantações de algodão. A nascente indústria de tecidos na Inglaterra precisava de matéria prima para suas máquinas. Sem opção, a população expulsa e sobrevivente dos massacres sofridos pelos que resistiam, formava legiões de sem nada. Eles caminhavam sem rumo até as periferias dos centros urbanos, se aglomerando em situação de miséria e desespero, prontos a aceitar o trabalho insano nas condições terríveis das indústrias, sem nenhum direito.

Diante das multidões em desespero, mão de obra farta, os patrões não se importavam com as condições infernais de trabalho nas suas fábricas. Os mortos eram imediatamente substituídos, da mesma forma que os mutilados - estes eram, simplesmente, atirados à própria sorte, ao amparo dos próximos ou à mendicância.

Com o tempo – e com a força que a resistência ao sofrimento impõe – começaram a surgir organizações entre os trabalhadores. Crianças, velhos, homens e mulheres eram massacrados pelas condições de vida e de trabalho e os patrões, atentos, proibiam qualquer tipo de organização. Sabiam que seriam obstáculos à sua exploração desenfreada. Escolhiam os mais fortes e de pior caráter, para controlar os demais em troca de migalhas um pouco maiores. Capatazes, feitores, chefes, gerentes, cagoetes eram os olhos e ouvidos do patrão, armas e ferramentas de desunião e controle.

As primeiras organizações muitas vezes tinham que ser às escondidas, entre conversas rápidas, sussurros e combinações sob o olhar atento do patrão e seus xisnoves*, em reuniões noturnas e encontros em segredo. A luta foi árdua desde o início, o ódio, a covardia e a perversidade dos privilegiados não teve limites, muitos foram e são os mortos, os banidos, os perseguidos e penalizados por lutarem pelos direitos básicos, para não morrerem de fome, de cansaço, de acidente ou de abandono. São "baderneiros", dizem os patrões.

Num primeiro de maio, na Inglaterra de 1848, entra em vigor a primeira lei limitando o trabalho a dez horas por dia. As manifestações eram reprimidas com fúria pelas forças de segurança, muitas vezes terminando em massacres sangrentos. As bandeiras operárias eram tão freqüentemente banhadas em sangue e, depois, erguidas novamente, que a cor vermelha foi escolhida para simbolizar as lutas por direitos básicos, até hoje não atendidos pela sociedade, pelo Estado, em violação flagrante da sua própria constituição e demonstração clara do predomínio dos interesses empresariais, sobre os direitos da população como um todo. A cor vermelha é o sangue do povo.

Num primeiro de maio foi iniciada a greve geral nos Estados Unidos que resultou no massacre de Chicago, com dezenas de mortos, centenas de feridos, em 1886.

Quatro anos depois operários estavam organizados entre países, na Europa, nos Estados Unidos, na África e na América Latina houve manifestações, greves, barricadas, confrontos com a polícia. 1890. Em 91, o 2º Congresso da organização operária já conhecida como Internacional Socialista decreta o dia 1º de maio o Dia Internacional dos Trabalhadores.

Impotentes para evitar, os patrões se esforçam, todo ano, para transformar a data em comemoração festiva, de celebrações, espetáculos, sorteios e premiações, na clara intenção de distorcer o significado deste dia de luta dos explorados por condições dignas de vida e trabalho. Dia do trabalho é todo dia. O primeiro de maio é o dia dos trabalhadores.

                                                                                                                                 Eduardo Marinho

* xisnove – ou X-9, informante da polícia.

14 comentários:

  1. http://joserosafilho.wordpress.com/2014/05/01/operario-em-construcao/

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  2. Assim como o dia da mulher, é um dia de luta contra a opressão e a injustiça. E é transformado em dia de parabéns, de presentinho, de homenagens inócuas. Mas a luta (sempre) continua. Ela é impossível de matar.

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  3. Eduardo, gostaria de ver sua arte pessoalmente, como faço? Abraço.

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    1. Uai, chega junto, exponho no Largo do Guimarães, em Santa Teresa, nos fins de semana. Sábado próximo vou estar em Paquetá, na comemoração do Afonsinho, jogador de futebol revolucionário na década de 70. Domingo devo estar em Santa.

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  4. faltou ressaltar a importância do anarquismo nessas lutas sociais, já que os próprios operários mortos em Chicago eram anarquistas.

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    1. Do anarquismo. Bueno, ressaltei importâncias, embora não tenha exaltado ideologias.

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  5. Eduardo, vi seu no escrito em um informativo sobre umas palestras que vão rolar na UFF, queria saber se é você mesmo?

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    1. Dia 20 de maio, no auditório da Geociências, 18 horas. É o que tá marcado aqui.

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    2. Edu, queria saber se você tem esse informativo, pois queria saber se era só aparecer por lá ou se tem que se inscrever antes para poder assistir..

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  6. é.... na verdade é tudo programado para ser com é..... o consumismo esta cada vez mais impregnado no ser humano pelo intermédio do capitalismo.... e ai quando um direito trabalhista de menos de carga horaria de trabalho é conquistado o sujeito arruma outro bico pra complementar a renda e sobrar mais dinheiro pra trocar de carro ou comprar uma tv de 50 polegas dentre outras coisas fúteis....... diriam as mas linguás.... "o sujeito é u idiota!".........não parceiro.... ele é apenas um programado pelo sistema desde colégio primário que acha que para ser melhor aceito tem que ter o "melhor" para parecer estar "melhor" ... e ele realmente acha que se sente "melhor".
    Ja dizia o filosofo (que eu não lembro o nome) "A verdadeira riqueza, é não precisar de muito"

    Fica na Paz parceiro

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  7. Cara, tenho 19 anos e descobri sua história dias atrás através de uma amiga. Parabéns, estou assistindo seus vídeos e vou ler e acompanhar seu blog. E além de parabéns, quero dizer Obrigado, por me dar motivação e me fazer refletir.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. A história das mudanças humanas nos demonstra, cristalinamente, que tais movimentos ocorreram a partir de grupos.
    Jamais existiu uma criatura que, de per si, houvesse efetuado tal prodígio, quer para o bem (Jesus, Gandhi, Marx etc.) ou para o mau (Hitler, Idi Amin, Chiang Kai-shek etc.).

    Por mais que se diga que tais criaturas agiram isoladamente para a consecução de suas empresas, isso não é verdade. Junto a todas as pessoas que moveram a humanidade, existiram grupos maiores ou menores de aliados, plenamente afim com seus pendores.

    Não há dúvidas de que a Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – foi uma evolução para o Brasil, a despeito de ainda existir o trabalho escravo, com a anuência dos donos do poder. Mas é necessário desfazermos o equívoco de que foi o Sr. Getúlio Vagas o autor da CLT – propagado pelo próprio imbecil -.

    Notemos que a CLT teve por fonte, além de outras, os costumes locais, as Convenções Internacionais de Direito do Trabalho, as conclusões do 1º Congresso Brasileiro de Direitos Sociais etc. Observe-se aqui, que nesse 1º Congresso, há de ter participado um grande número de pessoas que contribuíram diretamente na criação da CLT.

    Nesse sentido, não devemos creditar às pessoas erradas os feitos que não lhe pertencem, e, a CLT foi exigência de pressões internas e externas daquela época. Além de ter sido confeccionada por um grupo de pessoas envolvidas em tais discussões (José de Segadas Viana, Oscar Saraiva, Luís Augusto Rego Monteiro, Dorval Lacerda Marcondes e Arnaldo Lopes Süssekind), como não poderia ser de outra forma, pois trata-se de uma compilação vasta, que reúne leis materiais e leis processuais, requerendo um esforço conjunto mesmo.

    Agora, por que o ditador imbecil, Getúlio, fez com que acreditassem que ele era o criador da CLT? Porque ele era um ditador imbecil. Que, inclusive, franqueava à SS nazista trabalhar aqui no Brasil como se estivesse em casa.

    Um texto fácil e legal sobre a CLT é este do TST que segue: http://www.tst.jus.br/web/70-anos-clt/historia

    Boa leitura, Rosália Pestana.

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