quinta-feira, 26 de junho de 2014

Por fora da medicina comercial - além do controle empresarial.

Postei em 2004, aqui neste blogue, esse precioso documentário. No iutube, a descrição do vídeo passa muito mais informações, inclusive de outros filmes a respeito da terapia e contatos a respeito.



Não dá pra confiar na medicina. As faculdades, o ensino, a prática de rotina, o sistema é totalmente moldado e poucos têm intuição, sensibilidade e personalidade pra exercer a medicina com propriedade, com amor ao ser humano, com respeito e humildade, delicadeza e atenção. A medicina, atividade sagrada - como a do ensino, a da alimentação... - foi invadida e saqueada no que possui de melhor, em nome do lucro, dos interesses empresariais. A esmagadora maioria dos médicos não tem condição de alma pra ser médico, foi dessensibilizado na escola e é embrutecido no sistema público de saúde. Poucos escapam e é preciso reconhecer, são remadores contra a maré.



Impressionante o filme, merece pesquisa, atenção e divulgação.



terça-feira, 24 de junho de 2014

Uruguaiana, Santa Maria, Porto Alegre e desculpas ao Branco

Mês passado estive em Uruguaiana, convidado por Franck Peçanha, fisioterapeuta que dá aulas na Unipampa. Fui recebido pelo Patrick no aeroporto de Santa Maria e ele me levou pra jantar na casa dos seus avós. Com um acolhimento de familia, provei do vinho delicioso feito pelo avô - que comentou espantado eu ter bebido dois grandes copos. Prometeu uma garrafa quando eu passasse na volta, mas não acertei o endereço e deixei de trazer aquela delícia pra casa. Dia seguinte partimos pra Uruguaiana e perdi a conta de quanta gente com brilho nos olhos encontrei por lá, a partir do próprio Franck. O frio era de freezer e meus agasalhos cariocas não davam conta. Fomos a Paso de Los Libres, na fronteira argentina, pra comprar um casaco, mas só comprei pra Alice Luz, minha neta que mora no frio da montanha de Visconde de Mauá. Pra mim tava caro. O Franck acabou me dando o melhor casaco que já tive, penalizado com minha situação.

Dali fui a Santa Maria, a palestrar no evento Direito e Política, e conheci outros tantos olhares brilhantes, dessa vez com o paletó e a gravata indefectíveis no meio jurídico. O mundo está sendo revelado aos poucos. A angústia da vida sem sentido que nos forçam a engolir e viver ajuda a recepção de visões mais reais desta sociedade mentirosa que existe em função dos interesses nos lucros por parte de grandes bancos e empresas, ou seja, uma sociedade centrada nos podres de ricos. Que, em sua ganância insaciável, precisam manter a maior parcela da população na miséria, na ignorância, na pobreza, pra poderem explorar os trabalhadores até o talo, em condições precárias e sem reclamação - por medo. E pra isso compraram a política, se infiltraram nas instituições e implantaram a ditadura empresarial disfarçada de democracia, sabotando os serviços públicos, mesmo os constitucionais, e controlando as informações com a mídia privada.

Então fui pra Porto Alegre, passar uns dias e rever os amigos, além de expor na Lima e Silva. O Fabio, meu ex-vizinho em Niterói que está no patamar de irmão, e o Branco de Oliveira, compositor, cantor e botequeiro no Azenha, onde baixei com mochila e tudo, vindo da rodoviária. Entrei e me aproximei do Branco, ocupado com as coisas do caixa. Ele nem tinha me visto quando eu falei "tem pão velho aí, parceiro?" junto dele. Levantou os olhos e deu um grito, "aaaahh, carioca!", surpreso. Me deu aquele abraço apertado e, não contente com isso, tentou beijar minha boca de novo. Escaldado com a experiência anterior, que me deixou enjoado uma semana, consegui virar a cara e ele acertou a bochecha. Ali fiquei até a chegada do Fabio. O papo rolou alcoólico, com vários amigos no bar, até que fui dormir na casa do Fabio.

Seria demais descrever os acontecimentos dos dias que passei em Porto Alegre. Mas registro um vacilo meu. O Branco, na sua afeição superlativa, fez questão de bancar uma noite comigo, Fábio e mais um camarada, Cássio, que apareceu no dia e nos acompanhou na noite. Tomamos todas, jantamos, tomamos mais, abrimos o bar do Branco na madrugada e depois fomos pra casa - o Branco foi pra um cabaré, como ele mesmo diz. No dia seguinte, Fabio me aconselhou a procurar o Branco e dar alguma explicação a ele, pois eu o tinha esculachado a noite toda, a partir de um certo grau alcoólico. Tive dificuldade em me lembrar e ele me ajudou, enquanto eu ia me constrangendo. Saí dali direto pro bar do Branco, mas ele tava fechado. As memórias iam voltando e eu engasgando pra falar com o Branco, pra me desculpar as grosserias. Sem poder descarregar essa angústia, fui pra Redenção e ali, debaixo das árvores, escrevi o que diria, pra aliviar. Depois, antes de ir pra Lima e Silva, passei de novo pelo bar. Tava aberto e eu entrei. Dei de cara com o Branco na porta e ele me olhou sério. Disse que vinha me desculpar, que tinha sido injusto e estava envergonhado. Vi seu rosto relaxar e sorrir, que nada, tudo bem, não tem nada, pega uma cerveja aí. Então li o que escrevi pra ele. Emotivo, ele me abraçou e tentou, de novo, beijar minha boca. Sem conseguir, claro, virei de novo a bochecha. Avisei que publicaria e aí está.

"Porra, Branco vacilei contigo. Tô aqui envergonhado, mas tô aqui pra te dar essa explicação. Tu não merecia a perseguição que eu te fiz ontem à noite. Vi tua cara triste no fim da noite, mas tava por demais bêbado pra enxergar, só enxerguei hoje, lembrando aos poucos. O Fabio me ajudou. Tu, só querendo me agradar, e eu te espancando as idéias. Foi injusto, foi sem noção. Depois de me lembrar, arrependido e com vergonha, refleti procurando os motivos da minha grosseria. E se os motivos não estão em ti, é porque estão em mim. Então refiz o roteiro desde o começo, pra tentar entender.

Tu sabes que não gosto de elogios pra cima de mim, já te disse várias vezes. O Fabio também já te falou, também várias vezes. E tu nem aí. Não cabe aqui explicar de novo as razões, tô só levantando o porquê do meu procedimento - que não é o meu normal, não gosto de ser assim, de maltratar ninguém, de ser grosseiro e muito menos injusto como fui contigo.

Ontem tu tava me exaltando, me presenteando, me homenageando. Eu sempre me incomodo um pouco mas, como já tinha falado várias vezes e não adiantava nada, aceitei como o que não tem jeito. Pra não criar caso, não ser chato, não ficar te cortando, até pra não te magoar. Mas, com o tempo e a cerveja, o freio foi afrouxando, afrouxando... e o controle foi embora. Incomodado com tanta deferência, tanto elogio e homenagem, acho que inconscientemente eu quis te expor um lado bem ruim pra mostrar que não era essas coisas todas, que não merecia tanta exaltação. Não vejo outra hipótese, a meu ver só pode ter sido isso.

Preciso me educar pra não reagir desse jeito. Me estudar melhor pra compreender essa minha aversão e minha capacidade de me irritar. Um problema psicológico, psiquiátrico ou espiritual, sei lá. Rejeitar elogios é uma característica (ou compulsão) minha, mas não quero reagir da forma que usei contigo, não tenho esse direito.

Por sorte - ou azar - tu és pinguço como eu e pode entender. E se pode entender, pode perdoar. É só o que eu preciso. Desculpaí, parceiro."


Galeanas


Essas foram pescadas no livro "De pernas pro ar - a escola do mundo ao avesso", de Eduardo Galeano. Presente do amigo Franck Peçanha, capixaba de Uruguaiana, que além do livro me deu o melhor casaco que eu já tive, ao me ver tiritar no frio de congelador com meus agasalhos cariocas, de papel crepom praquelas temperaturas. Segue o garimpo, ainda que não tenha retirado todas as pedras preciosas que esse livro contém. Não são cópias literais dos escritos, uso muitas palavras minhas - daí não haver tantas aspas.


Em 1960, os 20% mais ricos possuíam trinta vezes mais que os 20% mais pobres. Em 1990 a diferença tinha aumentado pra noventa vezes mais.

Os produtos pra animais de estimação movimentam, por ano, mais dinheiro que toda a produção da Etiópia.

As vendas da Ford e da General Motors somam uma quantia maior que toda a produção da África negra.

Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento econômico declara que "dez pessoas, os dez mais ricos do planeta, têm uma riqueza equivalente à produção total de cinqüenta países. E 447 milionários somam uma fortuna maior que o ganho anual de metade da humanidade."

Nos finais dos anos 90, numa assembléia do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em que se celebrava a boa marcha do controle mundial pelos dois organismos, James Wolfenson, presidente do BM, lançou a advertência: se as coisas continuarem nesse caminho, em trinta anos haverá cinco bilhões de pessoas pobres no mundo "e a desigualdade explodirá, como uma bomba relógio, na cara das próximas gerações". Parece catastrófico mas, se por um lado isso aprisionará a parcela gerencial da humanidade nas correntes do pânico, justificando o aumento do sistema repressivo, por outro se planeja, de várias formas, o extermínio em massa, até a redução dos pobres a níveis "controláveis".

"A delinqüência do poder é a mãe de todas as delinqüências". Chamo a atenção pro fato de que não se deve confundir, como é comum demais, o poder com os governos. Governos são marionetes do poder, meras gerências sob o comando dos interesses empresariais, banqueiros, vampirescos. Democracia é farsa e tem sido assim desde o seu nascedouro - o do cenário, porque democracia nunca existiu por estas plagas.

"São muitos os cidadãos que perdem a opinião por falta de uso".

terça-feira, 17 de junho de 2014

Reação a uma dispensada

Esse texto foi escrito há um tempo, não é a situação em que me encontro agora. Ninguém precisa se solidarizar com meu "sofrimento", porque ele já foi digerido. Publico porque achei que, diante das reações raivosas, magoadas, acusadoras e cobrativas, comuns nos momentos de separação, seria uma fonte de reflexão pra muita gente. A inconformação com a realidade estende e aumenta o sofrimento, em vez de superar - que é o mais necessário nesses momentos. Bons sentimentos permitem enxergar melhor a realidade e as possibilidades que o tempo e a vida apresentam. Maus sentimentos fazem o contrário. Se não for possível ter bons sentimentos nessa hora, pelo menos é preferível a tristeza natural, a dor de uma ferida recém aberta, que a destrutividade. Feridas recentes sabemos que doem por um tempo, mas passam. Serenidade na tristeza é sinal de maturidade espiritual. O tempo é o melhor cicatrizante, a não ser que o rancor, a inconformação, a raiva mantenham a ferida sempre aberta, impedindo a cicatrização. 

Se vemos a vida como uma caminhada, é como se a gente desse uma canelada dessas fortes, que fazem a gente dar uma parada, esfregando o lugar da pancada, e logo andar de novo, pela necessidade do viver, mancando no princípio, enquanto a dor vai passando. Mais na frente, dor passada, estaremos mais atentos, mais sensíveis, mais perceptivos aos sinais que a vida nos dá. Há sinais, vê quem é capaz - e temos muitas capacidades a serem desenvolvidas, se favorecemos os sentimentos. A raiva, a mágoa, o rancor nos cegam a visão sobre a vida e nos prendem a atitudes destrutivas. Seguindo adiante e aceitando os acontecimentos, os fatos, superamos com proveito as situações, nos melhorando por dentro e nos preparando melhor pras coisas que a vida apresenta todo o tempo. 

É preciso tomar a vida com suas alegrias e dores, tirar dela o melhor proveito na construção interna, serenando o espírito pra ter clareza de visão. A revolta e a depressão turvam a visão e impedem as percepções necessárias ao crescimento inevitável - quem se recusa, é empurrado com a dor que se impõe, soberana e implacável, muitas vezes na forma de "inexplicáveis" angústias, outras vezes em atitudes pequenas de forra, tentativas inúteis e nocivas de "devolver" o sofrimento. Primário.

Com calma se pode ter melhor proveito dos percalços no caminho.

Prelúdio de um pé na bunda

Acho que já falamos, né...
Tô me desenrolando de você. Tá difícil, doído, mas se sobrevive, eu acho.
O cara se apavorou quando te viu comigo, ele te conhece, sabe como te tocar, viu que cê tava arrumando um lance sério. Imagino que tenha tocado seus pontos sensíveis, te mexeu, tu tem uma filha com ele, uma ligação forte. "Fiquei mexida", você disse. Sobrei nessa.
Fico pensando se não vai ser tarde quando você perceber que ele é a mesma pessoa que te fez desistir da relação.
Foi muito bom ficar contigo, imaginei que era pro resto da vida. Mas não foi, não era. Dói, pessoa, eu tenho amor por você, queria você comigo e era questão de tempo pra gente colar.
Mas não posso insistir, não posso interferir nessa história que não é minha.
Preciso seguir adiante, não posso ficar me lamentando.
Carrego uma dor comigo e não te responsabilizo por isso.
Vai em frente, linda.
Espero que você se realize.
Que faça tua vida ter sentido.
Admiro você, por sua disposição. Cê é uma guerreira.
Boa sorte, irmãzinha.

Não se preocupe comigo.

Toda dor passa. Tudo passa.

Depois disso, houve ainda uma continuação, à distância, até o primeiro encontro. E aí a relação gorou, por outros motivos. Fora de controle. Coisa da vida, sem ranço nem mágoa.

Continuo lhe desejando o bem, como de resto a todo mundo.


domingo, 15 de junho de 2014

A copa que não se vê - Domínio Público

Não tem como se empolgar com esse evento nefasto. A alienação programada dá seus resultados, a gente vê por aí. Mas nunca vi tanta gente desinteressada na copa do mundo de futebol, descaradamente empresarizada, descaradamente usada pelo interesse no lucro, sempre dos mesmos poucos, sempre com o sacrifício dos mais sacrificados da sociedade. A festança da opulência cobra seu preço pisando nos de baixo.



Já publiquei esse filme, mas não custa insistir, pra quem não viu ainda. Como acreditar que os poderes são públicos? Estamos num Estado seqüestrado pelos poderes econômicos em que o ser humano não é prioridade, mas sim os interesses empresariais - que tratam a vida da maioria como lixo e a miséria como combustível. Não dá pra assumir a alegria de boiada.



Estamos acordando e acordar muda o sentido da vida.



terça-feira, 3 de junho de 2014

Pra não dizer que não falei da copa.

Os que conseguem esquecer fazem a festa. Os que não conseguem estão se conscientizando.

Copa do Mundo, 2014 - A mídia faz a festa sobre as tragédias cotidianas, agora sufocando mais pelo clima festivo. Os mega-empresários aproveitam a ocasião de lucrar a todo custo, indiferentes ao sofrimento causado. Especulação imobiliária, construtoras, indústria do turismo e suas múltiplas facetas, terceirizadas de todo o tipo, o lucro acima das pessoas. O governo mostra sua cara de gerente dos ricos empresários que financiaram as campanhas eleitorais. E põe a polícia militar e civil - estaduais -, a guarda municipal, as forças armadas, todo o aparato público, tudo pressionando os moradores pra que saiam, tudo preparado pra encarar as manifestações "contra a copa". O governo federal, o estadual e o municipal, em franca distorção das suas funções, atacam a população, violam direitos, atacam com fúria usando o "monopólio da violência" , de forma truculenta, ferindo, matando, prendendo, forjando, torturando na defesa de interesses empresariais.  

Eu teria vergonha de me empolgar com essa copa da fifa. Teria vergonha de chamar essa seleção de milionários, atletas bancados por multinacionais, de Brasil. Grandes empresas mundiais se atrelam e tomam o território nacional - há governo nessa porra?- com suas leis determinando, entre tantos absurdos, proibido o comércio informal, num país com 70% de trabalhadores na informalidade. Agora, com a má repercussão, estão distribuindo alguns uniformes e crachás e dizendo que será uma "informalidade controlada". A violação da soberania continua. Tentaram até proibir o acarajé na Bahia, pra não concorrer com seus hambúrgueres que não apodrecem nunca. 
Teria vergonha de participar dessa festa do egoísmo, da indiferença com o sofrimento permanente de milhões de pessoas, mais de duzentos e cinqüenta mil famílias expulsas das suas casas por conta do pretexto da preparação pra copa. Sou obrigado a assistir a esses gasto de milhões, saber dos lucros de bilhões pro punhado de poderosos. Essa alegria falsa, encenada, o consumo estimulado ao extremo diante da miséria espalhada pela concentração de riquezas, mega-empresas patrocinando e embolsando rios de dinheiro diante da desinstrução planejada e da narcose midiática, implantada meticulosamente na estrutura tanto da sociedade como da mentalidade geral. É uma festa macabra pra quem conhece a realidade além das distorções da mídia. 
Também sinto um pouco de vergonha desses que se consideram revolucionários, mas vestem a camisa amarela da CBF, uma empresa privada de criminoso histórico, e torcem apaixonadamente pela seleção das multinacionais que se representam com seus patrocinados e se apresentam como "Brasil". Não consigo esquecer nada disso, mesmo no caso de estar no bar e assistir na televisão. Gosto de futebol, mas não me empolgo, não torço além de ver gols, dos dois lados - prefiro do lado brasileiro, claro, não estou isento dos condicionamentos, mas admiro qualquer gol, ou quase. 
Os torcedores apaixonados que se julgam politizados acabam mostrando que são revolucionários de superfície que não enxergam sua própria superficialidade, não vêem em si mesmos a reprodução dos condicionamentos impostos pelo sistema dominante e os praticam no seu dia a dia, não só no "futebol espetáculo". A própria entrega do sentimento, a empolgação esquecida que o evento foi razão e pretexto pra tantos crimes, demonstra a fragilidade revolucionária. Há uma dificuldade imensa em se olhar pra dentro, com sinceridade pra reconhecer os erros, profundidade pra perceber as raízes e humildade pra trabalhar nelas e se reformular constantemente. Se a revolução não começar dentro de si mesmo, não é revolução, mas simulação, casca sem conteúdo. Da construção interna e individual é mais fácil trabalhar na coletividade, mais fluido, mais sereno e produtivo.
Seria simplista dizer que sou contra a copa. Sou evidentemente contra tudo o que a ganância dos poderosos fez com a população sob o pretexto da copa. Mas essa porra é um fato e eu não vejo porque ficar brigando com todo o alienado que agora tá envolvido pela televisão. É um sentimento estranho conviver com isso tudo, mas à minha volta há vítimas, não idiotas, mentalidades produzidas em laboratórios de psicologia do inconsciente, de publicidade e márquetim, implantadas no inconsciente coletivo pela mídia, diariamente, diuturnamente. Confraternizo, opino diplomaticamente, mas sem falsidade, de forma que as pessoas se constrangem um pouco e não voltam a me pedir opinião. Algumas sim, poucas, e ficam sabendo o que penso, delicadamente e com respeito, pra ninguém se sentir acusado. Acaba havendo um constrangimento respeitoso e se muda de assunto. Geralmente.
Os responsáveis por isso não põem a cara na rua, não andam por aí. Passam de helicóptero, dentro de carros blindados e com escolta, têm bancos e empresas gigantes, compram políticos e mandam na "política". Que deixou de ser política há muito tempo, se é que algum dia foi, pra ser uma farsa descarada, a serviço dos interesses de poucos e em prejuízo da maioria da população, com o nome fantasia de "democracia". As "instituições democráticas" são cenários onde dançam as marionetes do poder visível, presas pelos fios que somem no alto escuro do poder real, os pouquíssimos mais podres de ricos. O povo, infantilizado, assiste ao espetáculo hipnotizado, os sentimentos, os valores, os comportamentos conduzidos com maestria por cabeças geniais muito bem pagas, na "política", na mídia, na economia e em todos os setores. Nessa alegria se constrói a desgraça coletiva, inclusive da esmagadora maioria dos alegres, dos apaixonados do "futebol'. Mas sobretudo e perversamente sobre os de baixo, os sabotados da sociedade.
As seleções foram compradas e já não representam os países dos quais ostentam os nomes, mas as empresas patrocinadoras, multinacionais que se insinuam nas marcas expostas estrategicamente nos subliminares e descaradamente em toda parte. Com a cumplicidade do Estado e das "instituições democráticas", a narcose midiática consumista come solta em meio à ostentação do evento e a alienação dos torcedores..
Sociedadezinha de merda. Não dá pra partilhar dos seus valores.

Eduardo Marinho 

                                                                                                       

Entrevista no Frio - pra Larissa, da Ocupação Saraí, Porto Alegre.

Ela chegou pra conversar e trouxe uma câmera dentro da mochila. Depois de bastante papo, ela perguntou se eu me importava de dar uma entrevista. É engraçado. Não vejo nada demais no que falo, acho tudo muito na cara, descarado até, mas vejo um efeito nas pessoas que me fazem sentir como uma obrigação em falar, em responder, opinar, mostrar meus pontos de vista. Uma obrigação moral pra com a família humana - pra mim, a humanidade é uma familia que ainda não se deu conta disso. E vivem mais em paz os que já perceberam, pelo menos em paz consigo mesmos. Faltou uma partezinha da gravação, em que dou um papo pro governador - a Ocupação Saraí tá no direito, o histórico do local é claro, falta apenas uma assinatura dele pra desapropriar a área. Eu não soube colocar o outro vídeo na mesma postagem e não vale a pena outra, são alguns segundos dedicados a pedir pro gerente, digo, governador do RS, que assine logo a desapropriação do prédio há tantos anos abandonado e que nunca pagou impostos, conforme eu soube.

Larissa, olhar lúcido de busca, inconformada como é preciso pra ter algum sentido na vida, tem sensibilidade humana, poder de captação e inteligência aguda. Responsa. Pelo menos me pareceu assim, em pouco mais de uma hora de conversa.







domingo, 1 de junho de 2014

Okilombo recebe Eduardo Marinho

Chamado por Raphael Galvano, esse foi um papo, não uma palestra, em que as pessoas deram o rumo dos assuntos. Ficou rica a conversa e é preciso algum esforço pra ouvir as perguntas e intervenções porque só haviam dois microfones, um comigo e outro na câmera. Mas dá pra ouvir, aumentando o volume quando não sou eu quem fala.

Encontrar pessoas reflexivas é sempre um privilégio, um alimento pra seguir na lida. A evolução das coisas e a evolução pessoal caminham juntas. É o caso do Raphael e de toda essa turma que compareceu ao encontro.

A sensação de impotência prevalece entre as pessoas que desejam mudança no mundo mas não se dispõem a mudar internamente, a construir seus valores em vez de exercer os valores impostos, a escolher seus comportamentos em vez de seguir os comportamentos induzidos, a refazer objetivos de vida, a reformular a visão do mundo distorcida pela mídia e seu jornalismo desonesto. Os acomodados caminham em direção à frustração, à mediocridade, à vida sem sentido, vazia e angustiante. Os laboratórios agradecem - dá-lhe rivotril, lexotan e outras porcarias anti-depressivas. O medo plantado pela mídia, pela cultura do consumo, da forma sem conteúdo, paralisa. Mas não se tem medo de uma vida sem sentido, de chegar na velhice com a sensação de ter vivido em vão. Quando se percebe, é tarde e não tem volta. Melhor perceber antes. Foi esse o medo que me moveu as buscas, pra viver daquele jeito, eu preferiria não viver, como disse com 19 anos. Fui buscar um sentido pra vida e dizia que ou iria encontrar ou iria morrer procurando, porque a vida que se apresentava na minha frente não fazia, pra mim, o menor sentido.

Ganhei sentido quando percebi que meu trabalho produzia reflexões, atraía e revelava pessoas sensíveis e pensantes. Individualmente, vendendo nas mesas dos bares, nas ruas e praças onde expunha, sem ambições maiores. Já estava satisfeito com esse efeito, quando apareceu a primeira câmera pra gravar minha visão de mundo e a coisa se ampliou. E eu comecei a entender porque não morri cedo, como tinha certeza que aconteceria quando peguei a estrada, mochilinha murcha nas costas, procurando a razão da existência nesta nossa sociedade tão injusta, tão perversa, tão covarde com a maioria da nossa família humana.



PARTE 1 - https://www.youtube.com/watch?v=SvXj7fMIZI0
PARTE 2 - https://www.youtube.com/watch?v=5wR_99DWM5U
PARTE 3 - https://www.youtube.com/watch?v=vkEIIiyISZ4
PARTE 4 - https://www.youtube.com/watch?v=pPsWOqdaIEc
PARTE 5 - https://www.youtube.com/watch?v=XGxRJSEaoXA

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.