sábado, 22 de abril de 2017

Relatos de delatores desmascaram o Estado

Nunca tinha visto as entranhas da sociedade serem expostas dessa maneira. Taí a explicação da miséria, da ignorância, da violência, da criminalidade, da barbárie, da situação de degradação social em que vivemos. Os relatos nas delações da Odebrecht mostram o corriqueiro dos procedimentos, nas relações da empresa com os poderes públicos. Não se trata só da área da construção. É óbvio que é da mesma forma em todas as áreas. A naturalidade das falas, "há trinta anos eu estou nesse ramo, há trinta anos que é assim"; os relatos das visitas, das conversas, dos encontros, das reuniões, mostram algo mais que um escândalo de corrupção entre uma empresa e um governo. Revelam como o Estado, o aparato público, as instituições funcionam, como é o seu modo de proceder rotineiro, recebendo dos ricos pra roubar os pobres. Pra enganar os pobres. Pra manter a pobreza.

O domínio de laboratórios farmacêuticos, indústria da medicina e as empresas de planos de saúde explica a situação da saúde pública, a penúria, o abandono, a desimportância, negada por números oficiais mas visíveis a quem quiser ver, na realidade.

As "revitalizações" que vieram em ondas, nestes tempos, puseram milhares de pessoas nas ruas. Só na Copa e nas Olimpiadas, as obras que interessavam às empreiteiras, financiadoras de campanhas eleitorais e midiáticas expulsaram de suas casas mais de trezentas mil famílias, grande parte sem direito a nada, exatamente as em piores condições. Em todo território nacional é a mesma coisa.

Em toda parte é senso comum obra pública superfaturada e sub-construída. Foi naturalizada a "roubalheira" que de vez em quando a mídia levanta pontual, focada em alguma área de interesse no momento, em disputas de espaço e controle, colocando todo mundo na rua a papagaiar suas falas inventadas, cheias de distorção calculada, controle mental em efeito. A sabotagem da educação facilita o trabalho da mídia, que foi toda construída pra fazer exatamente o que faz, distorcer a realidade e controlar a opinião pública. A gente aí, querendo o programado, vivendo condicionada, atrás de ilusões muito bem criadas pra ocupar as vidas.

De repente se descara o funcionamento do Estado. Tá explicado o massacre permanente dos povos originários, do massacre nas favelas, nas periferias. Tá explicada tanta maldade nos serviços públicos, tanta carência de recursos e tanto sofrimento. Tá explicada a ignorância, a miséria, a violência, a criminalidade. Tá explicado o abandono de tanta criança, tanto velho, tá explicada tanta exploração de tanta gente. Tá explicado o roubo geral de direitos constitucionais, humanos, básicos e fundamentais. São os interesses empresariais, com os bancos por cima, dando respaldo. É a "máquina de moer gente" do Darcy, em pleno funcionamento.

Grupos de milhares controlando uma sociedade de centenas de milhões, em seu benefício - como paga da sua traição pelos banqueiros e mega-empresários estrangeiros - e em prejuízo da própria sociedade.

As delações da Odebrecht são só a ponta do véu levantada, o véu institucional que cobre o funcionamento verdadeiro de toda a máquina pública, em sua dimensão nacional, regional e local, em todos os setores. As instituições, infestadas por dentro, servem de parte deste véu, sentem-se parte acima da sociedade, são induzidas a olhar os mais pobres como inferiores e não como vítimas de crimes sociais, a quem se deve reparação - no mínimo em respeito pessoal - em programas estatais de resgate das populações vitimadas pelo Estado. Pelo que se vê, a serviço empresarial, sempre, pois sempre há os que se beneficiam desses crimes coletivos. Toda a máquina estatal está aparelhada por interesses banqueiro-empresariais. As instituições não podem se resolver, foram criadas de forma a não funcionar em benefício da população, a não ser cenicamente, em pequena parte, infinitamente abaixo do que deveria, pra criar a imagem mentirosa de funcionamento.

Tá explicado também a brutalidade das forças de segurança, seu treinamento pra guerra, não pra paz social, verdadeiras forças de combate e de contenção de massa. Tá explicada a quantidade de investimento em armamentos "não letais" e caminhões pra dispersão de multidões. O povo é a principal vítima da estrutura, é de se esperar que se levante aqui e ali, em algumas ocasiões, mesmo com toda a idiotização da mídia. O investimento e a "formação" das forças de segurança é um elemento estratégico. É preciso que não se sintam parte do povo, é preciso distanciar, segregar, criar abismos. As instruções e treinamentos, de um lado, e o comportamento induzido dos agentes, agressivo com quase todos e violento com os mais pobres, cria a rejeição popular necessária, do outro lado. Taí a "cidade da polícia", "enclave" construído em Del Castilho, símbolo do que eu tô falando.

Tá explicado o predomínio dos valores empresariais na educação, em sua pequena fração que funciona, a particular, onde a sociedade é apresentada como uma arena competitiva, e não como uma coletividade que pretende a harmonia social. E que vença o melhor. Os outros merecem a "derrota". Essa a mentalidade criada, há muitas gerações. A educação pública é feita pra engabelar, claro, o mais imprescindível trabalho, sem o qual nada funciona, é o braçal, o "desqualificado" e o de "baixa qualificação", é preciso produzir a mão de obra, assim, traiçoeiramente. Interesses empresariais.

É preciso ver as instituições como elas são, uma fachada pra esconder o que acontece nos bastidores, de onde controlam a sociedade toda e infernizam geral. Não tenho aqui uma "solução" ou uma "saída", acho que antes de escolher o que fazer é preciso enxergar a realidade. Quanto mais gente vendo o que é e como funciona o Estado e suas instituições - e bancos, empresas e suas corporações, no controle - mais possibilidade de aparecerem soluções localizadas, onde e como se fazem necessárias. Decisões e mudanças pessoais são também são coletivas e modificam o trato com a coletividade.

Os que lutam contra moinhos, dentro das instituições, têm sua importância no constante denunciar, no apontar permanente das falcatruas institucionais. No uso de algo do aparato público em favor da população, por pouco que seja. Apenas não têm, de onde estão, a capacidade de mudança social desde a raiz.

12 comentários:

  1. Tá muito difícil, meu amigo. Vejo na universidade cada vez maia jovens iludidos, acreditando na mídia idiotizante, achando qie "tirando o pete" vai se ajeitar tudo. Triste. Mas a gente continua. Senpre. Firme.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É preciso garimpar as coletividades, hermanita. Há sempre pedras raras. Ainda é tempo de garimpo. Preciosidades se destinam a contaminar e transformar cascalho em pedra rara, nesta altura do processo.

      Excluir
  2. #MovimentoUna
    Todo poder emana do 1, da Essência, da Luz, da Una , da Lei, o Verbo Divino imutável que todos somos que também o manifesta através do povo.
    Portanto o parágrafo único do artigo 1 pilar central da constituição brasileira onde lemos: " Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição" é uma falácia, o que a torna como toda a construção sistêmica gerada pelas “Democracias Representativas” participante da queda dos ímpios, o sistema, pois ninguém pode servir 2 senhores.

    Logo todos os partidos são golpistas, junto com quem os perpetua no falso poder inexistente, os que votam, o sistema é o golpe, e quem o constrói cai junto com ele. Ao assinar seu voto ou ser "esquerda" ou "direita" do desgoverno ímpio golpista genocida e participar da mentira constitucional, você imediatamente colhe como Karma a queda junto com o sistema que plantou. A farsa constitucional eleitoral assim como todas as outras só dura o tempo da queda que a mesma gera, enquanto a verdade é por todo o eterno.
    UNARQUIA é viver conscientemente o único Governo que há, o Governo Una do Verbo Divino Imutável, quem aceita outro ou o nega está em desgoverno caindo junto com o sistema ímpio que é.
    Consequentemente é principio básico de todo o ser que carrega essa consciência da Verdade=Realidade, Saber=Ser=Fazer-se Luz no todo em toda Forma do 1, logo, todo o irmão e irmã que luta construindo o Trabalho Divino=Una acaba com o sistema, a queda, e boicota todas as suas manifestações até total reforma Sistêmica=Constitucional em perfeita harmonia com o governo Una =Luz=Lei, materializando o Verbo Divino Imutável a todo momento sendo guiado pelo mesmo, este é o trabalho de toda Família Una selados pelo Pai, o equilíbrio entre a eterna razão=1 e a infinita Sabedoria, a perfeita harmonia da Lei=Justiça e o Amor=Misericórdia, e a manifestação de todas as infinitas formas do movimento Una=Evolução na eterna Vitória, pois nosso é o Reino o Poder e a Gloria de todos os Eões, assim é e assim sempre será.
    #ManifestoUna

    ResponderExcluir
  3. Meu caro amigo. Como disse, antes de tentar encontrar uma saída e preciso observar as verdades. Porem enxergar as verdades e ficar parado ou mudar somente a si próprio acredito - na minha ingenuidade - não ser o caminho. Tem sim que repassar o pensamento, tem sim não impor, mas transmitir essa forma para o máximo de pessoas possíveis e ACREDITAR QUE É POSSIVEL SIM UMA MUDANCA SOCIAL EM CONJUNTO.

    ResponderExcluir
  4. segundo o houaiss máfia: "associação ou organização , que usa metodos inescrupulosos para fazer prevalecer seus interesses ou para controlar uma atividade.
    mafia branca (medicos e afins) mafia do judiciario (moro e seus seguidores)
    Eduardo, te digo que me vi otimista com a possibilidade de justas sentenças pra tantos bandidos.
    agora, só abrimos, realmente, a pontinha do véu, imaginem quando investigarem o bndes, a caixa...

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Estou no rj e queria ver suas exposições. Que parte do RJ te encontro?

    ResponderExcluir
  7. Que texto! A verdade nua e crua. Os escravos do sistema precisam acordar.

    ResponderExcluir
  8. Tá explicado o que muitos já sabem a anos e outros fazem questão de não entender.
    Hoje, além disso temos uma discrepância forte em relação as classes sociais (quem é quem), o que dificulta a luta pelo mesmo interesse. Em resumo, tem pobre lutando pelo interesse do rico, e "riquinho" achando que é Deus...
    Atualmente se você se solidariza c/ os projetos para os menos favorecidos, você é comunista. A mentalidade do ser humano atual diante de toda essa bagunça e manipulação de interesses, é algo incompreensível.
    Não vamos longe... bastaria cumprir a constituição, basta ser humanitário, basta cumprir os ensinamentos religiosos, bastaria cumprir o que seus pais te ensinaram (mas não fazem), não precisa ser marxista, basta ser aquilo que nós mesmos pregamos, aquilo que ensinamos e que somos "ensinados". As pessoas "acham" que compram sua entrada para o paraíso com $$$, quando deveria ser c/ações.
    Abraço!

    ResponderExcluir

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.