Constrangedora subalternidade cultural, psicológica, política, social, econômica, entre tantas subalternidades sovadas pelos colonizadores, na manutenção da submissão nacional aos interesses banqueiro-mega-empresariais. É de envergonhar tanto letreiro em inglês, tanta programação derivada da cultura do consumo, tantas "estátuas da liberdade" em frente a chópins (shoppings). Os exploradores europeus, a que se somaram os estadunidenses depois da segunda guerra mundial, pra estender sua dominação pra além das "independências" nacionais, criaram elites dirigentes em cada uma das suas colônias, de forma bem parecida. Geralmente brancas, com profundo desprezo pelo seu próprio povo e repulsiva admiração, idolatria e servilismo pelo colonizador, explorador e escravizador.
Em toda ação destinada a realizar verdadeiramente a independência e a soberania nacional, se vê o levante das elites, protestando até em inglês contra o investimento social, no desenvolvimento - com instrução, informação, com o atendimento dos direitos constitucionais - das populações. Cúmplices e usufruintes da escravidão não declarada, da ignorância, da desqualificação, da pobreza e da miséria do povo, que resulta em baixos salários e na extrema exploração do trabalho, as elites locais tremem de pavor e ódio diante dos coletivos mais conscientes e conscientizadores, criminalizando, atacando, difamando toda iniciativa de esclarecimento, de reivindicação, de união dos de baixo, o alicerce fundamental da sociedade como um todo.
Nessa atividade reacionária estão colocados os meios de comunicação (de forma inconstitucional inclusive) e as instituições do Estado, em todas as áreas. A saúde pública é sabotada por pressão de planos de saúde e da indústria da medicina lucrativa; o ensino público é sabotado pra manter a ignorância fundamental pra se facilitar a eficiência da mídia em formar a opinião pública de acordo com interesses empresariais; a mineração é uma sinistra caixa preta, saqueando permanentemente as riquezas da nação no escuro da desinformação; a indústria armamentista vende horrores, sem que se tome conhecimento; as forças de segurança são treinadas e preparadas ideológica e psicológicamente contra sua própria população, sem noção de cidadania, de história e da realidade, consciências distorcidas sob a pressão insuportável das "instruções" ideologicamente formadas (ou deformadas) em laboratórios de pensamento anti-social, anti-humano, a serviço de um punhado de podres de ricos, dominantes internacionais, fabricantes de guerras genocidas, destruidores de países inteiros - quando não se submetem aos seus interesses.
Não é por acaso que países produtores de petróleo estejam sempre na alça de mira do atual imperialismo euro-estadunidense (só um exemplo). Os países árabes são difamados, criminalizados e atacados quando não se ajoelham no altar das mega-petroleiras, enquanto os "aliados" são protegidos, mesmo sendo ditaduras sanguinárias de verdade, por massacrarem os movimentos nacionalistas que se opõem a essa colonização tardia. Ninguém fala na Arábia Saudita, um reino dinástico extremamente violento não só com seu próprio povo, mas também com países vizinhos que se atrevem a "pisar fora da risca".
Os "golpes de Estado" na América Latina estão todos dentro deste contexto, sejam institucionais ou não. As artimanhas das corporações - atualmente representadas pelos "países de primeiro mundo", os colonizadores continentais - não conhecem limites. A formação ideológica - através do modelo de educação e, sobretudo, pelo massacre midiático-publicitário - mostra seus resultados nas reações de classes médias e altas, furiosas, em pânico diante da possibilidade do desenvolvimento social verdadeiro, na formação de um povo instruído, solidário e consciente, que busca atingir a harmonia social, a erradicação da situação de lixo humano - que é prova mais que suficiente de que a vida vale menos que o patrimônio e os interesses mega-empresariais.
Acordar pra essa realidade acaba resultando na mudança de valores e comportamentos. As mudanças internas, íntimas, pessoais, são fundamentais pra se realizarem verdadeiras mudanças sociais. Se não se faz a revolução interna, qualquer revolução social é ilusória. E aí voltamos aos sinais de subalternização em cada um. Admirar a "evolução social" dos países do "primeiro mundo", não por acaso os maiores escravizadores, invasores, saqueadores do planeta, é subalternidade mental. Admirar pessoas formadas em Sourbone, em Harvard, em Oxford, quando na verdade elas deveriam ser suspeitas de desprezar seu próprio povo e tender ao favorecimento dos algozes euro-estadunidenses, é subalternidade mental. Ter orgulho em ostentar marcas caras - sempre escravizando trabalhadores nos países menos desenvolvidos em leis trabalhistas - é subalternização publicitário-midiática. São as marcas do inimigo e deve ser uma vergonha ostentá-las, pra quem tem um mínimo de consciência social. É constrangedor o sentimento de inferioridade diante do márquetim imperial estrangeiro, que planta no inconsciente coletivo essa falsa incapacidade, essa inferioridade construída pra manter o domínio sobre os povos e, sobretudo, as riquezas das nações.
É tempo de enxergamento, de acendimento de luzes. Mas que ninguém se engane. O processo leva gerações e quem esperar ver um mundo justo e equilibrado e alguns anos, vai se frustrar, desistir, amargar o sentimento de impotência e desqualificar os mais novos que pensam em "lutar" por mudanças de verdade. É preciso se dar conta que cada um de nós nasce num processo milenar e participa, por algumas dezenas de anos, dessa marcha permanente, desse caminhar mutante através dos tempos do planeta como um todo. Ter satisfação em estar vivo, em trabalhar no que se gosta, em determinar os próprios valores e comportamentos - e não adotar os valores falsos impregnados no inconsciente coletivo - é a atitude mais revolucionária no momento histórico, o embrião de um outro modelo de sociedade, mais humana, menos perversa, menos injusta e mais solidária.