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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019
Rumores de guerra
Falam em "ajuda humanitária". Eu vi o que essa "ajuda" fez na Líbia, até hoje em caos, destruída em todos os setores. Na Síria, a mesma coisa, com a diferença que ali os "humanitários" se deram mal, mesmo matando tantos milhares de pessoas, mesmo destruindo o país, obrigando milhões e milhões a migrarem, por falta de condições pra sobreviver. Mas perderam e tiveram que se retirar.
O plano era ir por Pacaraima, no Brasil, ao mesmo tempo que pela Colômbia. O presidente do Brasil e o antecessor, fruto do golpe institucional, exibem a sua vassalagem ao império corporativo dos Estados Unidos da América, o atual mais ostensivo e fanfarrão que o golpista. Frente a câmeras e microfones o cara declara disposição de invadir a Venezuela, de abrir uma base dos Estados Unidos em território nacional - e os próprios militares deram um freio nele. Mourão, o general vice-presidente, foi contra ceder território e soldados nacionais pra fazerem o serviço de levar a tal "ajuda" à fronteira com a Venezuela. Tiveram que tentar pela Colômbia, um vassalo já antigo e muito mais infiltrado. Só de bases militares, até onde eu sei, tem treze - faz tempo, é possível que tenham mais e de todo o tipo, não só militares. Mas se deram mal na semana passada, na tentativa de romper a fronteira com a tal "ajuda humanitária".
Ouvi dizer que Mourão, o general, foi adido militar na embaixada brasileira da Venezuela. Deve conhecer os venezuelanos muito mais que a miopia bajulatória do mandatário brasileiro. Há contatos militares entre as forças armadas de países vizinhos, há entre venezuelanos e brasileiros. Além do mais, eles não estão de bobeira. Sabem de sobra e na própria carne do que são capazes os interesses desumanos no petróleo abundante deles, convivem com sabotagens, armações, atentados, difamação em massa na mídia mundial privada e dominante, criando condições pra guerra de destruição e saque, como temos visto em outras partes do mundo. Sabem dos vizinhos que têm, Colômbia e Brasil. Têm visto e ouvido o presidente brasileiro declarar total apoio a Trump - que prega abertamente a invasão militar na Venezuela -, praticamente se colocando às ordens. O plano é mais antigo, já houve treinamentos na tríplice fronteira onde o único estrangeiro era o exército estadunidense, perto do sul do país "alvo". E, como eu disse, Venezuela não está de bobeira.
As fronteiras foram fechadas pelo governo venezuelano, a energia enviada pra Roraima foi cortada, tropas e tanques foram posicionados na região fronteiriça. Mísseis russos que já derrubaram um monte de aviões da marinha estadunidense na Síria, foram colocados a 11 km de Pacaraima. Nas palavras de Paulo José Jarava, "os radares do sistem são poderosíssimos e criam, na prática, uma área de exclusão aérea com raio de 300 km, atingindo os aeroportos de Boa Vista e Manaus (Manaus sedia a Ala 8 da base aérea da FAB em Manaus, onde estão os doze MI-35, também russos, os únicos helicópteros de ataque das Forças Armadas, além de super-tucanos de ataque). Significa que já paralisaram as forças da FAB e do Exército Brasileiro, incluindo o famoso batalhão de selva de Manaus, que poderia ser transportado por helicópteros da Helibrás recém incorporados). Na prática, também quase todo o tráfego aéreo que sobrevoa Manaus e Boa Vista passa a ser controlado..." (www.contextolivre.com.br/2019/02/a-supremacia-venezuelana.html)
A tentativa da "ajuda humanitária" não deu certo no dia 23 último. Apesar dos soldados feridos por molotovs, do caminhão incendiado sobre a ponte da fronteira Colômbia-Venezuela, uma vitória, embora por enquanto. Os interesses nas riquezas petrolíferas não sossegam enquanto não se saciam, custe o que custar. Rumores de guerra continuam, procurando uma brecha, um pretexto, manobrando nos bastidores dos "poderes", insuflando ódio e desinformação pela mídia mega-empresarial, distorcendo a realidade e criando mentalidades e conduzindo a "opinião pública". Mas encontram, na Venezuela, um povo muito mais instruído e informado do que há vinte anos atrás, época em que um levante popular foi dizimado pelos militares de então, a serviço dos colonizadores euro-estadunidenses.
Os militares venezuelanos de hoje nasceram da dissidência, da revolta militar acontecida logo depois do assassinato em massa do povo venezuelano - contaram três mil mortos, em Caracas, fora os "desaparecidos"-, revolta essa liderada por um jovem oficial chamado Hugo Chávez. O massacre ficou conhecido como "Caracazo" ("não foi pra isso que nos tornamos militares, mas pra defender a pátria e o povo venezuelano", diria Chávez aos companheiros revoltosos), em favor dos interesses econômicos estrangeiros que tomaram os "poderes públicos" (como é de rotina na América Latina) e tornaram miserável a nação. A revolta perdeu, mas a semente brotou tempos depois. As forças armadas da Venezuela não têm a formação anti-social - de fundo empresarista - da Escola das Américas, no Panamá apesar de estadunidense, que impregna a mentalidade militar latinoamericana de acordo com os interesse do Império Corporativo dos Estados Unidos da América, na mentalidade e na prática do saque permanente das riquezas, nas políticas públicas de sabotagem da educação e controle das comunicações. É por isso que o presidente de lá se refere à união cívico-militar como pilar da resistência ao assédio das forças imperialistas, da mídia mundial, dos boicotes econômicos, da pressão desmedida para desestabilizar a economia, causar sofrimentos e carências à população e levar à queda esse governo que não entrega de bandeja suas riquezas em troca de miséria, ignorância, dignidade e soberania.
Não falo em Nicolás Maduro porque esse é o jogo da mídia, a estratégia de personalizar numa figura o país. Assim fica mais fácil criar ódio. Cá pra nós, nunca achei que Maduro tivesse vocação pra ocupar a presidência, ainda mais com a Venezuela sendo foco das atenções parasitas dos gigantes do petróleo. Suas colocações, suas posições, sua fala, careciam do carisma, da alma de um Hugo Chávez. Achei mesmo que ele seria deposto, questão de tempo. Mas a Venezuela não é Nicolás Maduro. Por trás dele existe todo o aparato público tornado pela primeira vez em nacionalista e interessado no desenvolvimento do povo e da nação. Desde os comandos militares até as chamadas milícias populares (mais de dois milhões de pessoas treinadas e armadas, que têm outras ocupações na vida, mas que estão prontas a se levantar em defesa da sua nação). Os brasileiros seriam buchas pra derramarem seu sangue em nome de interesses corporativos, através da subalternidade às políticas imperiais do governo estadunidense.
Com um detalhe... os venezuelanos estão defendendo o seu país, seu território, de invasores estrangeiros, de forças que pretendem desfazer todo o serviço público que foi criado nestes anos bolivarianos - o fim do analfabetismo, o atendimento médico sem restrições, a inclusão das periferias no mapa da cidadania, a conscientização da massa da população, coisas que devem interessar a qualquer nação que se pretenda independente, desenvolvida e soberana sobre si mesma. É exatamente isso que enfurece os exploradores, a ignorância, o analfabetismo, a carência, a desinformação, a condução mental, a miséria e o abandono são fundamentais ao alicerce da exploração, do saque e da dominação das corporações (banqueiras e mega-empresariais, no caso, das grandes petroleiras mundiais), com todo o apoio da mídia, da indústria de armamentos, das construtora que ganham muito "reconstruindo" os países destruídos e outros interesses igualmente desumanos.
No Brasil, por muito menos, derrubaram os governos ditos "populares", embora nem chegassem a tanto. As forças são estrangeiras e contam com parte da elite brasileira, entreguista e anti-nacional, traidora da nação e das populações no território. Aqui não precisou mais do que campanhas publicitárias, difamações e distorções. Foi até fácil. Em 1964, pelos mesmos motivos se mobilizou a quarta frota pra atacar nosso país, quem quiser ver, veja em "O dia que durou 21 anos", baseado nos documentos secretos que, nos USA, são publicados depois de 40 anos, por lei. Em 2004 saíram os documentos de 64, revelando toda a articulação, preparação, execução e aprofundamento do golpe dito "militar", pra manter a dominação plena dos interesses corporativos multinacionais. Destruíram a educação pública, destroçaram as associações populares, sindicatos, tudo o que resistia ao domínio estrangeiro, esclareciam, conscientizavam, denunciavam e reivindicavam.
Os motivos de 64 foram os mesmo de 2016. O que mudou foram as instituições envolvidas no golpe, antes os militares, depois as instituições ditas "públicas". As mentiras midiáticas golpeam permanentemente o consciente e o inconsciente coletivo, distorcendo, deturpando, mentindo, difamando por interesses anti-sociais, desumanos, que já se exerceram de sobra em todo o mundo e ainda se exercem. Perceba-se.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
Miséria moral no domínio social
Uma sensação estranha, vendo nos cargos do poder dito "público" figuras tão descaradamente mesquinhas, emanando grosseria e ignorância, insensibilidade social explícita. Vejo o aumento dos zumbis nas noites, do desabrigo, da miséria, das situações de fermentação da violência e da criminalidade externa, de rua, que alcança a esmagadora maioria e serve à mídia pra apavorar e paralisar a população. A criminalidade interna, que infesta os círculos de poder, não se mostra, não se vê, não se permite perceber. Estão nos bastidores, acima dos chamados "poderes públicos". E é daí que brotam as decisões perversas que criam o caos social, impõem a ignorância e a desinformação, impedem o Estado de cumprir a sua própria constituição, roubando direitos básicos à população. Assim se garante acesso ao roubo principal, os saques econômicos, financeiros e mega-empresariais dos recursos e das riquezas da nação, em benefício dos poucos podres de ricos, que já têm muito mais do que precisariam pra viver muitas vidas fartas. E na barbárie social causada, miséria, ignorância, exploração desenfreada, na exclusão, no abandono brota a fonte farta da criminalidade que fornece "trabalhadores" aos empresários dos crimes organizados, "mão-de-obra" inesgotável e sem direitos trabalhistas. Serviços públicos não fazem nem por merecer o nome, sabotados pelo próprio sistema social. É a exigência, indiferente ao sofrimento de milhões, dos poderes econômicos que dominam o Estado em todas as áreas, comandados por banqueiros internacionais que parasitam o mundo. A dor das multidões alimenta sua ambição desumana. Os cúmplices executivos, traidores dos seus povos, são pinçados da coletividade pra ocupar os cargos de mando social, a seu serviço. Desta vez, com raiva dos últimos "capatazes" - benevolentes demais com os escravizados -, puseram uma corja especialmente perversa, com todas as artimanhas da condução de mentalidades, na difamação, na produção de sentimentos de rejeição com o massacre midiático e pelas redes sociais, profundamente, usando os dados pessoais coletados pra isso e milhões de mensagens falsas, distorcidas, mentirosas, sutis e grosseiras, em todos os níveis, estimulando o ódio e o conflito pra evitar o entendimento do que estava acontecendo. Era uma troca de capatazes. Os benevolentes saíram, entraram os sádicos. E aos que perguntam qual é "a solução" ou "a saída", respondo que a saída é a morte e não há outra. E que é do enxergamento e do entendimento da criminalidade entranhada no "aparato público", sequestrado pelos poderes econômicos instalados acima dos tais "poderes", que vão brotar as soluções - e não "a solução" -, nos locais onde se fizerem necessárias. Soluções locais e decididas pelos locais. Um passo no processo que deve se seguir ao esclarecimento, à percepção de que é preciso tomar a vida nas próprias mãos, e não esperar por salvadores improváveis, na expectativa artificial e falsa que torna as pessoas passivas, sem iniciativa e sem poder de decisão.
domingo, 10 de fevereiro de 2019
Desarmando
Há pessoas que têm opiniões preconceituosas, teleguiadas, superficiais, e lançam essas opiniões com eloqüência, como desafios. Não contentes em mostrar barbaridades em forma de idéias, cobram concordância, “você não acha!?”, sempre em tom agressivo. É o convite à disputa, ao conflito, ao confronto, que afinal levará aos insultos, à briga, às ofensas sem medidas. Levantar a poeira pra não se enxergar razões e clarezas.
Quando encontro pessoas assim, não contraponho diretamente minha idéia. Aqui é preciso perceber se a terra tem fertilidade ou é árida. Se há condições de conversar ou não, no temperamento, na maneira de ser, na conduta, no olhar. Não se plantam sementes no deserto, há pessoas ainda no estágio “inconversável”.
Se houver espaço - e respeito - digo apenas que vejo de forma diferente, mas respeito sua forma de ver e prefiro nem dizer o que penso, pra não ter conflito ou mal estar - não tenho a menor necessidade de dar meu ponto de vista. Em geral ela diz que também respeita, que eu posso falar, mas se sente ainda a prontidão pro debate. Sigo então o desarmamento. Reafirmo meu respeito à sua opinião - “não quero dizer que tá errado, sei muito bem que também posso estar errado na minha maneira de ver”. Peço à pessoa pra observar minha visão e digo que, se ela encontrar alguma falha no meu pensamento, que me mostre. Eu mudo imediatamente de pensamento e agradeço pro ela ter me tirado do erro.
Aí ela vai receber minha idéia não como uma contraposição, não como uma afirmação do seu erro, mas como uma exposição que ela vai analisar livremente, procurando as falhas. Se eu souber expor direitinho, se eu souber evitar as “palavras-chaves” que detonam a repulsa, condicionadas no inconsciente coletivo pelo trabalho massacrante da mídia, se eu convocar a humanidade dela pra acompanhar meu raciocínio, ela não vai encontrar falhas e vai concluir como frequentemente se conclui, “não tinha visto por esse lado”. Tá cumprida a função, depois de desarmado o espírito.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
Roubo em Santa Maria
Ontem, dia 4 de fevereiro, foi roubado o meu computador. Em Santa Maria, à luz do dia, enquanto estávamos almoçando. A noite havia passado e a kombi estava intocada, estive nela e conferi de manhã, nenhuma entrada ou tentativa tinha sido feita, como sempre. Celestina, a kombi, não é de chamar a atenção cobiçosa, velha e cheia de cicatrizes que é, ao contrário, desperta mais simpatia que olho grande.
Por volta das duas da tarde saímos pra almoçar, antes de partir pra Passo Fundo, eu carregava tudo o que era meu, a mochila pequena e a pastinha com o computador e o agadê com todo o material gravado pro filme Via Celestina, mais um monte de material de trabalho, textos, vídeos, áudios, gravações no rio Doce, muita coisa publicada e a publicar, além de coisas pessoais, fotos de todo o tipo. Arquivos sem conta, textos inacabados, fotos esperando os temas pra serem publicadas, idéias, esboços, acontecimentos, registros, fotos de família.
O restaurante era perto, fomos a pé. Abri a kombi e coloquei a pasta no seu lugar de sempre, no chão, junto ao freio de mão, ao lado dos pedais, e levei a pequena mochila comigo. Não me preocupei em trancar. Em pouco mais de uma hora, voltamos. A janela do motorista estava aberta, conferi o local e vi que não estava mais a pastinha. Frio na barriga, certeza do roubo. Alguém enfiou a mão pelo quebra-vento, abriu a janela e nem se deu ao trabalho abrir a porta - o pino permaneceu abaixado. Debruçou pra dentro e retirou a pasta. Ela não estava mais lá, e o vazio doeu no coração, muita coisa perdida.
Em princípio imaginei que algum cracudo perdido tinha visto a possibilidade de arrumar dinheiro pra comprar suas pedras. Depois, conferindo as coisas, percebi que nada mais havia sido tocado. Havia grana da mochila grande, havia câmeras, microfones e outros equipamentos, no porta-luvas estava bem visível uma caixa de som cilíndrica. Estava tudo em seu lugar, intocado, nada além do computador sumiu. Considerei o horário, entre duas e quatro da tarde, em plena luz do dia em uma rua movimentada do centro de Santa Maria, a Tuiuti, em frente ao número 2450, trecho de passagem intensa de veículos. Cracudos são da noite, do silêncio, do vazio. A possibilidade de agirem nesse horário é muito pequena, embora exista. A luz do dia, o movimento intenso do lugar, a passagem de gente inibem a ação desses restos sociais, dessas vítimas do abandono coletivo que se tornam zumbis nas noites.
Outra possibilidade surge, entre tantas. Renato, nosso anfitrião, abriu a casa nos dias em que estivemos abrigados e encheu o ambiente nas noites. Muitas pessoas passaram por ali, tomando cerveja, ouvindo música e conversando. Nem todos vibravam honestidade, vi muitos olhares vazios de sinceridade e atitudes confirmando. Trouxemos a cerveja que tomaríamos, como se deve, e esses simplesmente metiam a mão, sem perguntar ou avisar, e iam tomando como se fosse natural pegar o que não é seu e fazer uso como se fosse. Duas vezes tomei a garrafa de mãos folgadas, as duas últimas pelo menos. Houve algum mal estar, mas eu estava no meu direito e não abri mão. Perguntei ao Renato e ele não conhecia as figuras direito, não tinha convívio. Abrira a casa, simplesmente, e permitira a entrada. E a gente sente a vibração, havia gente boa e gente nem tanto, dissimulações e superficialidades se exibiam aos nossos olhos, na segunda noite estávamos visivelmente deslocados da maior parte das pessoas. Foi no dia seguinte.
Juntando os sinais, há possibilidade de ter sido observado ao sair de casa, visto colocando a pasta no chão da kombi. E esse ladrão veio na finalidade mesmo do computador, na cobiça dos meus arquivos, das coisas que tenho guardadas, por conta dessa visibilidade que surgiu, que nunca foi meu objetivo e que acho uma bobagem, um exagero na sociedade do “celebrismo”, mas que cria um olhar diferente em muita gente. Vi vários desses olhares “estranhos” na nossa direção, a intuição vibrou intenções desequilibradas algumas vezes. Não se pode ter certeza, mas os indícios alimentam essa possibilidade.
Santa Maria nos recebeu de braços abertos, fomos muito bem acolhidos nos lugares onde ficamos, entre a casa do Renato e a casa nove, onde projetamos o filme e trocamos idéias. Os encontros foram férteis, muitas exceções às regras compareceram nos dois eventos feitos por aqui. Apelo aos amigos pra ficarem atentos, quem sabe aparecem os sinais, os indícios, e o computador aparece? Os que têm contato com o submundo social, onde tudo pode ser revelado, têm acesso a informações das internas, por aí se pode conseguir. Se fosse obra de cracudos, tudo seria simplesmente apagado pra que se pudesse vender como se fosse novo, tanto o computador quanto o agadê. Mas acredito ter sido intencionado, mirado na minha pessoa, cobiça em cima dessa idiotice de “celebridade”.
Segue a vida, não é a primeira, nem a maior perda com que tive que tratar. O sentimento é mais de perda coletiva, acima das perdas pessoais. Muito trabalho em curso, muito arquivo precioso, muita coisa. Mas ficam braços, pernas, cabeça, o trampo continua. Perdas são percalços a serem superados, a gente não pode sentar pra se lamentar, o lamento é interno e deve aumentar a disposição pra fazer mais e mais, tudo novo já que o feito se foi. Mas é impossível não esperar, torcendo, que alguém descubra o paradeiro desse material, embora a consciência da possibilidade pequena.
Celestina, a kombi, no sertão da Bahia. |
Estamos saindo de Santa Maria pra Passo Fundo, hoje. Não registramos B.O. em polícia, o nosso trato com esses profissionais é sempre na condição de “suspeitos”, no começo mesmo dessa viagem fomos abordados violentamente em Piraí, sob a desconfiança de que éramos ladrões de cargas, num posto de caminhoneiros. Assim como não confio no Estado, não confio em nenhuma das suas instituições. Prefiro confiar nos invisíveis e na boa vontade das pessoas de caráter. Nos “acasos” e “coincidências” da vida. Não me espantaria se alguém entrasse em contato dizendo que encontraram meu computador. O que não posso é me fiar nisso, a realidade é que todo esse material não está mais comigo. Só que a esperança é teimosa e persiste. Se a expectativa é indevida, só o tempo vai dizer. E nós não vamos esperar sentados, é muita coisa pra fazer e temos a necessidade de seguir fazendo. As fatalidades a gente tem que encarar, superar e continuar dando o mesmo sentido à vida.
Se alguém tiver a manha de localizar, o IP do computador roubado é 189.103.7.164, uma esperança.
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