segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

"Parabéns por ter enfrentado seus pais", alguém me disse.

Eu precisava enfrentar era o mundo, sem privilégios além dos que eu já carregava na minha formação, pra vivenciar o que vivenciei e fazer hoje o que faço. Não me vejo como exemplo pra ninguém, ao contrário, mas exerço minha visão de mundo no meu trabalho, desde décadas atrás, como consequência das minhas vivências. Perdi todas as garantias e considerações sociais e segui no risco, como todo mundo à minha volta, no abandono social - e sem reclamar, amarradão, atento às lições preciosas que a vida me apresentava. Enfrentar os meus pais foi um momento curto, lá no comecinho, como a chave pra abrir essa nova existência, tão cheia de aprendizados, que jamais seria assimilada por eles. E que não seria possível vivenciar, em vários momentos críticos, se houvesse alguma proximidade com eles. Eu estava só diante do aparato público, sem intermediários, sem proteção, no nível mais baixo da sociedade. Tinha que tratar com isso e desenrolar com as pessoas do aparato, quando necessário, tratar com o descaso, com a indiferença, com a falta de recursos e a má vontade institucional com a imensa legião de pobres que a sociedade necessita produzir, pra manter minorias em privilégios. Os meus privilégios sociais, escolas particulares "de qualidade", cursos, boa alimentação, esportes e movimentações que me deram resistência e saúde, os hábitos de buscar e analisar informações em jornais e informativos, ainda que empresariais, tudo isso então foi comigo buscar as vivências que os privilegiados não têm. Não têm e morrem de medo de ter, se sentiriam humilhados, frágeis. Vivências que exigem resistência e criatividade, que desenvolvem a capacidade de superação, a solidariedade, a disposição de encarar os riscos de viver sem proteção.
Ali que eu percebi que os privilégios fragilizam, que os fortes estavam ali, encarando todas as durezas com naturalidade, disposição, alegria, união solidária diante das dificuldades. Ali eu percebi a riqueza da pobreza, a humanidade mais desenvolvida - não por alguma superioridade espíritual, mas por necessidade de sobrevivência, de superação das dificuldades que esta estrutura criminosa de sociedade cria. Os fortes não sabem que são fortes sociais, se sentem fortes apenas nos seus afazeres, socialmente se sentem pequenos, frágeis, insignificantes, incapazes, como a própria ideologia social os faz crer, com todas as artimanhas de convencimento e sabotagem, de exclusão e acorrentamento a valores falsos e planejados pra evitar que se tome consciência da própria importância na sociedade, da própria força e capacidade. Não se trata de levantar disputas e apontar saídas, trata-se apenas de ver a realidade como ela é, não como nos é mostrada, tomar consciência dela progressivamente e construir suas próprias soluções e caminhos. Eu construí, na minha vida, no meu mundo, já que não podia fazer isso com o mundo. E foi essa atitude, esses caminhos e essas práticas que se tornaram útieis ao mundo.
Só pra concluir, o enfrentamento com meus pais durou coisa de dois meses. Com a estrutura social já lá se vão quarenta anos.

15 comentários:

  1. Eduardo,
    Isso é estar Vivo, vivendo!
    A verdade não tem argumento,
    A mentira é só floreado!
    Bem haja.
    Sandra V.

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  2. Eduardo Parabéns por nos fazer acordar para um realidade onde somos impulsionado a consumir produtos dos quais são frutos de desejos plantando inconcientimente através das mídias.
    O maior impacto causado a mim foi como se eu vive se em outro lugar e do nada os olhos se abrem para um realidade maquiada.
    Sua fala simples e transparente quebrando barreiras e insetivando cada um de nós de maneira a buscar informação e para que possamos nos futuro possamos debater vários assunto e também termo como argumentar e melhor é poder passar essas informações aos nosso filhos e amigos .

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  3. Meu nome é Tiago Vasconcelos e venho acompanhando há algum tempo os vídeos do Eduardo Marinho, acho louvável a história de ter largado tudo para viver e conhecer de fato como é possível viver com nada. A busca por entendimento da linguagem da favela, com certeza foi uma jornada bem dolorosa, porém acredito que incrível.

    Todo esse esclarecimento sobre a matrix, sobre como tudo é negado aos pobres, concordo com quase tudo isso, e como também nasci e cresci na comunidade sei bem do que está falando.

    Agora em resumo, sem esticar muito pra minha pergunta.

    "Na minha ignorância por não lhe conhecer, vou perguntar"

    A idéia de se manifestar aos poucos, aparecer num vídeo de quando em quando, parece sempre ser de surpresa, e acredito nisso, acompanhei o vídeo de quando esteve no TED também e tudo mais, tudo isso é somente pra causar uma provocação?

    Eduardo em sua consciência, você acredita estar ajudando alguém?

    Você faz esse manifesto com algum propósito?

    Na sua visão, caso seu propósito seja de ajudar as pessoas, como você pode ajudar a mudar isso?

    Talvez não as palavras possam soar arrogantes, porém são na humildade.


    Aguardo ansioso pela resposta.

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    1. Assista a todos os vídeos dele. As respostas as suas perguntas estão lá.

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    2. Pelo que entendi nas falas deles em que tratava sobre isso, o propósito dele é viver, apenas. Com a vida, aprender e compartilhar os seus pensamentos, apenas isso. Não quer fazer um mundo melhor, mas participar da melhoria do mundo.

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  4. Parabéns Eduardo, agradeço por mim fazer ter visões diferente da convencional, implantado pela mídia empresarial.

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  5. Eduardo tem as chaves do inconsciente coletivo muitos vão ao um terapeuta ou analista que através da hipinose tenta acessar o subconsciente já Eduardo acessa os nossos subconsciente com palavras

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  6. Gostaria de falar com você esrou numa angústia social, ao memso tempo que cada vez me torno mais bem sucedido na minha empresa, é na minha vida familiar, minha mulher está grávida, me formei em terapia comportamental também, fico cada mais mais angustiado e com sentimento se vazio pois me sinto incompreendido, pois apesar de me sentir infeliz sinto uma vontade de mudar esse rumo. Mas como? Minha esposa não entende, pessoas dependem de mim para o trabalho e estudos. Minha mãe é depressiva e depende do meu apoio emocional e financeiro. Mas as cobranças do dia a dia, trabalho com marketing,meus clientes em que não tenho afinidade nem afeto e nem compactuo com o ideal de nenhum deles, me deixam cada vez mais cansado. Fica aqui meu desabafo e um pedido de ajuda.
    Abraços

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    1. vai pra floresta meu amigo, fica uns dias no meio do mato, tenho uma professora que dizia: "o homem quando se afasta da natureza perde a sanidade mental." Espero que você fique bem.

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  7. Obrigada pelos textos e entrevistas. A sua filosofia de vida me fez repensar e abrir a mente para expansão do amor e caridade.

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  8. Você é um gênio incompreendido ...
    Abraços de um jovem de 19 anos de Portugal :)

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  9. Precisamos de mais pessoas iguais a você , que com certeza teríamos pessoas mais sensíveis e humanas..

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  10. Sensacional.
    Eduardo sou de Barra de são Francisco-ES, quase exato 5 horas longe de Vitória onde você nasceu. Vejo teus videos no youtube, primeira vez vi seu trabalho no instagram conversando com uma pessoa numa barraca mostrando como é o sistema da estrtura social e mostrando a riqueza de um pobre. Nos mostra o quanto humano você é por enraizar a humanidade em ti, não conformado com este tipo de vida que nos impõe, eu gostaria muito de conhecer mais o seu trabalho e quem sabe um dia poder conversar pessoalmente contigo, pessoas assim que fortalece nossos dias e abre nossa mente acerca deste mundo enquadrador, que até eu sinto raiva de um sistema falcatruador como esta. Um grande abraço!

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