Prudente de Morais, Minas, 1991. Uma pequena vila de cerca de vinte casinhas, do mesmo dono, feitas pra serem alugadas. No meio das casas, um espaço aberto, sem calçamento, de terra, pedras e mato, servia às brincadeiras das crianças. Brisa tinha nove anos, Adhara sete e Ravi, três.
De repente, um desentendimento no grupo. Parou a brincadeira, dois meninos se espinharam, um acusando o outro. Já havia chegado um “irmão grande” pra resolver a parada, de cara feia, ameaçadora. O protegido apontava o oponente com o braço esticado, desfiando acusações sobre um adversário desconfiado, acuado pelo tamanho do recém chegado.
Ravi estava de castigo por ter atirado uma pedra em Adhara, não podia sair de casa mas podia ficar na janela - porque não tinha acertado a pedrada -, onde se epoleirou e participava, aos berros, das brincadeiras, com os pés no batente e a mão segura no alto da janela.
Na tensão do momento, aliviada por vários olhares adultos que pararam pra observar – como garantias de não violência – Brisa cochichou no ouvido de Adhara, que repetiu imediatamente o que ouviu, em voz alta, “ele parece o Fábio Júnior!”
Todas as atenções foram centralizadas no moleque maior, tanto do grupo quanto dos olhares em portas e janelas. O rapazinho que começava a falar com brabeza, engasgou, sem graça, e Ravi soltou uma gargalhada aguda, repetindo aos gritos, “Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô! Fábio Jú-niô!” Várias risadas soaram, alguém comentou, “parece mesmo!”
O protetor se voltou contra o protegido, “olha aí o que cê me arrumou!” E bateu em retirada, resmungando. Risadaria geral, todos voltam aos seus afazeres, a brincadeira é retomada, menos pra Brisa e Adhara, que estão sentadas na calçada, dando uns minutos de risadas.