quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Resposta ao preconceito contra o "brasileiro"

Não aceito bem a desvalorização do brasileiro como um todo. Pra começar, o povo brasileiro é recém nascido e ainda não se conformou nem mais ou menos. Estamos em pleno processo.
Dizer que é indolente, acomodado, desqualificá-lo diante do europeu e do anglo-saxônico, sobretudo, é comparar o incomparável. Papo de quem vive fora da realidade, não tem noção do que é a coletividade brasileira, em franca formação, aglutinando elementos de todo o planeta, de todos os povos, sem conflitos em sua maioria, recebendo e abraçando a mistura - exceção feita a alguns focos, insignificantes diante da totalidade.
Quem anda pelo chão da sociedade conhece o espírito solidário, criativo e resistente das coletividades brasileiras, juntando os elementos mais diferentes de modo harmônico, integrando, diluindo as etnias em permanentes misturas, num processo de integração dos diversos povos do mundo.
Ignorância, preconceito, ingenuidade, fraqueza mental, primitivismo espiritual, não sei quantas possibilidades posso imaginar pra esse tipo de conceito. Ou preconceito.
A concentração histórica de terras, riquezas, rendas, tecnologias e poderes nas mãos de elitezinhas insignificantes, desde que chegaram os invasores europeus até hoje, sonega direitos da maioria e cria uma situação de domínio e exploração com o apoio total das instituições do Estado, atirando milhões à pobreza, à miséria e à ignorância, negando-lhes os direito básicos, hoje determinados na Constituição do Estado. 
Ponham-se os filhos da elite nas escolas públicas que formam a massa da população, com os mesmos recursos de que dispõe a maioria, e vai se ver o que causa essa aparente "inferioridade" do povo brasileiro.
A mensagem ainda usa o jargão "cada povo tem o governo que merece", na velhíssima prática de culpar as vítimas, e fala sobre os corruptos. Como sempre, da parte mais fraca da corrupção, jamais tocando no corruptor - nos donos das imensas empresas que promovem a corrupção através de mandatos sucessivos, em todo governo, em toda a legislatura -, sem considerar que as instituições estão infiltradas desde as estruturas - por essas mesmas elites e seus elegantíssimos apaniguados - e que a origem primeira da corrupção é o interesse empresarial  nas riquezas públicas e seu controle sobre o Estado e seus flutuantes políticos, governantes, legisladores, mesmo juízes dos altos escalões.

Eis a resposta. Aproveito pra recomendar os links.


Isso foi hoje. Até agora, ninguém me respondeu. 










Aí, rapaziada.

Ilusão esse negócio de que brasileiro não luta. Aliás, ilusão planejada, montada em laboratórios de mídia, a serviço da elite dominante pra dentro e dominada de fora, pra moldar a mentalidade da população. Quem não luta ou se faz de palhaço são pessoas das classes médias (das altas às baixas), emburrecidas e superficializadas ao extremo - e a parcela subalternizada da massa pobre, que é levada a ver o consumo como ideal de vida, a esquecer os seus direitos fundamentais roubados e viver cheia de sonhos de consumos impossíveis, assimilando a sabotagem institucional como incapacidade ou inferioridade pessoal. Essa maioria esmagadora muitas vezes põe sua mentalidade a reboque das classes médias (supõe-se que por ter mais acesso ao consumo, "sabem das coisas") que, perdidas entre o trabalho, o consumo e as contas, formam sua visão de mundo a partir da mídia comercial e dos isolamentos em que procuram se manter.

Mas há movimento, sim, e muita luta. Essa imagem do brasileiro pacato e omisso é criada, estimulada e divulgada pela mídia, num processo de acomodação e desinformação geral. Correspondências como essa apenas colaboram com essa visão. Pegue a história do Brasil, vista por historiadores honestos e não cooptados pelos agentes controladores dos bastidores sociais (Mario Schmidt, por exemplo, Moniz Bandeira e tantos outros, cujos livros são boicotados nas escolas). Inúmeras revoltas, rebeliões e levantes são apagados da história ou citados como folclóricos, movimentos desligados do contexto histórico das lutas populares de resistência.

Só como sugestão, sugiro um filme que vi ontem, Atrás da Porta, de Vladimir Seixas, feito em duas ocupações no centro do Rio, de prédios abandonados por pessoas sem casa, moradores de rua. (www.atrasdaporta.blogspot.com, pra adquirir o dvd, mas tá no youtube, em 7 partes, que foi como assisti - se eu pudesse, compraria o dvd pra ajudar na luta do cara que, fazendo o que faz, não tem nenhum apoio financeiro). Como não estou podendo no momento e o filme tá disponível no youtube, tô articulando baixar e colocar em um filme inteiro, pra exibição e distribuição - pois são informações boicotadas que precisam vir a público, até pra desfazer essa idéia depreciativa sobre o povo brasileiro, que é de luta, sim, além de extremamente solidário, guerreiro, disposto e criativo. Essas informações eu não busquei na mídia, não, convivo nas periferias há pelo menos trinta anos, desde a mais despossuída condição, onde até o que comer e onde dormir me era dado ou improvisado, até pagar meu aluguel e manter um cotidiano proletário de artista de rua, enquanto meus filhos cresciam.


Aí estão a 1ª e a 2ª partes, se quiserem é só seguir adiante.

Entrem no saite do MST, se já não estiverem contaminados pelo preconceito raivoso plantado pela mídia. Os elitianos (e os elitistas,  seus seguidores) se enchem de ódio contra aqueles que foram estereotipados como seres humanos inferiores, quando eles têm o atrevimento de tomar atitudes de resistência e defesa contra o massacre social e ideológico cotidiano em cima dos mais pobres.
A América Latina está em movimento, a sociedade brasileira está em movimento. Não esperem tomar conhecimento sem correr atrás, os meios de comunicação estão aí pra distorcer, ocultar, omitir e atacar qualquer movimento que não atenda a linha conservadora de manutenção da ignorância e da inação.

Na minha opinião (e eu posso estar errado, é claro - além de não querer ofender ninguém), a posição exibida neste seu comunicado é do interesse das grandes empresas que dominam os Estados e suas instituições, inocula ainda mais o desvalor criado para manter a maioria cabisbaixa, desacreditada em si mesma, na estratégia cruel de manutenção dessa sociedade desigual, perversa, desumana, criadora de misérias para a maioria e opulência para poucos. Repitam com a mídia: "o povo brasileiro é inferior, incapaz, desinteressado, preguiçosos e merece estar nessa miséria estatisticamente predominante. Europeu e estadunidense (brancos, lindos e inteligentes) é que sabe das coisas, eles é que são o modelo de ser humano evoluído. Nosso povo é todo constituído de gentinha mestiça, pobre, suja e burra, exceção feira aos mais enriquecidos e embranquecidos, infelizmente em minoria insignificante socialmente, embora dominando riquezas e poderes."

Gostaria de não ter ferido susceptibilidades de ninguém. Não carrego verdades, apenas opiniões, não desejo insultar ou ofender ninguém, tenha a mentalidade que tiver, respeito até o que considero absurdo, no campo do pensamento. Reparem, porém, que os conservadores, os elitistas, os ideólogos da alienação e do consumo reagem com ódio, por não terem argumentos sustentáveis pra defender essa estrutura social ridícula e vergonhosa, e partem pro insulto pessoal, a agressividade, a desqualificação preconceituosa. As falácias são evidentes e não resistem a delicados golpes de informação real e consciência sobre o que acontece, por trás das distorções midiáticas. Os que não desejam mexer a bunda pra mudar a sociedade e preferem usufruir seus privilégios egoístas, resultado do roubo dos direitos da maioria, através do controle do Estado pelas empresas, estão sempre prontos a atacar qualquer ameaça à sua acomodação, com os pretextos e as opiniões mais absurdas, odiosas e odiantes, além de desumanas.

Quem quer se informar de verdade, encontra o que precisa aqui na net, mesmo. Mas os que não querem saber, para continuar na sua comodidade injusta e mentirosa, não têm jeito, não. Rejeitam tudo o que se aproxima da realidade que os denuncia em sua arrogância, seu egoísmo, sua grosseria, enfim, sua desumanidade e sua inferioridade espiritual.

Vai desculpano carqué coisa aí.
Abraços a todos,
                         Eduardo Marinho. 

Outro documentário que assistimos no vídeo-garagem da última quinta, Sagrada Terra Especulada, mostra bem a hipocrisia dos governantes e seus executivos no poder político, a serviço das empresas, com desprezo pelos que eles dizem servir, os indígenas em histórica situação de genocídio - físico, moral e cultural. Taí o link, dá pra assistir inteiro: http://www.vimeo.com/28597529"

9 comentários:

  1. É isso, porra! Vc dá dois passos na rua e vê brasileiro produzindo trabalho a partir de qualquer coisa. Se juntando e se ajudando...

    Não precisa fazer mais do que olha pros lados em qualquer calçada brasileira... Mas pra isso tem que se livrat nos antolhos nossos de cada dia.

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  2. Não tem que pedir desculpas a ningém por falar a verdade.
    Abraços
    Alida

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  3. É preciso desarmar as reações, para existir a possibilidade de absorção. Uma atitude estratégica, não um reconhecimento de culpa.
    Valeu, Lila.

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  4. Valeu, Marinho! Como sempre, lúcido, firme, claro sem ser piegas nem agressivo ou presunçoso. Abs.

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  5. o blog pra comprar o DVD não existe... ou não abriu aqui

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  6. Rapaz, eu nem conferi. Não t tinha a grana, mesmo, fui direto no toutube e assisti lá, todinho. Parabéns ao Vladimir.

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  7. Como já ouvi dizer por aí: "Toda generalização é burra." Na minha concepção, é errôneo afirmar qualquer coisa a respeito do brasileiro como se todos os brasileiros fossem uma única pessoa. Mesmo uma pessoa traz em si multiplicidades.
    Percebo que seja mais comum os discursos revolucionários que as ações em prol dessa revolução, mas isso dentro da minha visão limitada num recorte de espaço limitadíssimo, não falo pelo todo. Mesmo porque os movimentos estão aí, embora eu veja muito mais movimentos pelo individual, pelo consumismo a movimentos pela coletividade. Sem falar nos que dizem fazer pela coletividade (e fazem), mas que escolhem submeter-se a partidos políticos.
    Ainda assim, os movimentos estão aí e estou embarcando em um desses em defesa dos índios Tupinambá de Olivença (Ilhéus-Ba). Por falar nisso, no dia 25 deste mês acontecerá a Caminhada Tupinambá em memória aos mártires do massacre do rio Cururupe, serão percorridos 7 Km do rio Cururupe até a Aldeia Mãe em Olivença. (http://tami-veloso.blogspot.com/2011/09/caminhada-tupinamba.html)
    No século XIX, quando da escrita a fim da criação da identidade (generalizadora) de um povo brasileiro com pretensão de ser independente, os negros foram excluídos a partir de teorias científicas e ridicularização, o índio foi visto como um bom selvagem (a partir de genocídio) a ser domado p/ tornar escravo e o branco, ah o branco era o modelo! De lá p/ cá me parece que pouca coisa mudou em relação a mentalidade propagada.
    Concordo com vc em tudo e, principalmente, em não estar com a verdade, deixo aqui apenas um comentário, opinião.

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  8. Não me parece que o brasileiro seja um inconformado, alguém que se movimenta. Parece impossível que na maior nação católica, onde o catolicismo influencia até religiões que têm origem na África, haja um povo que vai contra o conformismo que o catolicismo imprimi em outras sociedades. É claro que existem movimentos sociais inspiradores hoje no Brasil, que existe ainda resistência no movimento negro e resistência de etnias indígenas, existe resistência por todo o país, mas não acho que isso se dê de forma expressiva, se dá na forma de resistência e não de levante. Tanto que a mídia ou ignora ou solapa qualquer possibilidade de os movimentos sociais legítimos terem visibilidade, porque não há um movimentos de massas, então a mídia consegue destorcer, deslegitimar, desmoralizar movimentos sociais como o MST, que são vitais para a contrução de uma cultura insubmissa. O que eu vejo são as massas em casa assistindo TV com a classe média, mesmo que tenham mais consciência de realidade do que a classe média. O que temos visto em outros países é a mídia perdendo para a mobilização popular, a periferia tomando os bairros nobres e ateando fogo, montando barricadas, enfrantando a polícia. As pessoas vão pra rua mesmo com a mídia querendo o contrário, e aqui a gente tem esse movimento com discussões superficiais, que é um golpe midiático (como bem escreveu o Laerte) e não uma denúncia contra a corrupção. Não acredito que ufanismo melhore a nossa auto-estima, acho que maquia o que temos de mais profundo e irraigado na nossa cultura, uma forte e inegável influência do catolicismo. Além do mais tenho medo de tudo que queira levantar a auto-estima de uma nação, não acredito na construção de nações e sim de povos livres. O totalitarismo tem origem justamente na elevação da auto-estima de nações com baixa auto-estima.

    “Ilusão esse negócio de que brasileiro não luta. Aliás, ilusão planejada, montada em laboratórios de mídia, a serviço da elite “

    Aqui no Rio Grande do Sul, o movimento tradicionalista junto com a mídia e com a igreja levanta a auto-estima dos gaúchos, entra nas escolas e cria uma espécie de fascismo e militarição de uma sociedade bairrista, conservadora, machista, racista e que fundamenta tudo isso numa revolução fracassada, traidora das massas e ainda por cima orquestrada pelo latifúndio, a Revolução Farroupilha, que nunca revolucionou nada. Temos uma Semana Farroupilha que foi institucionalizada em 1964 com o golpe e que aproxima o povo do excército e da polícia militar, tem até uma lei que cria a Semana Farroupilha, uma lei de novembro de 1964, senão me engano. Isso tudo se funda na ideia de um povo guerreiro e inconformado, que não se submete, gera um sentimento de separatismo e uma agrassividade improdutiva. O que vejo na RBS, filha da Globo aqui no RS, vejo na Globo também. É a ideia de que somos capazes de um Fora Collor, vamos para a rua lutar contra a corrupção... Acho que é o contrário, a mídia insulfla as massas a lutar pelos motivos contrários aos interesses das massas. Mas voltando ao Rio Grande do Sul, a Legalidade e o Brizola adiaram em dois anos o Golpe Militar e os milicos quando tomaram o poder encontraram muito rapido uma forma de massagear o ego das massas no rio grande do sul e neutralizar o blizolistas: favoreceu o bairrismo e o separatismo que são parte da cultura do gaúcho, criaram a semana farroupilha e hoje ninguém pode contar a história do estado e nem demonstrar em cima de que valores culturais essa socidade se formou. E isso significa muito. Espero ter conseguido expressar o meu sentimento com relação a auto-estima dos povos, ou melhor, das nações.


    :))

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