Suécia pede a extradição de Julian. O Reino Unido cerca a embaixada onde ele pediu asilo, prevendo a intenção de vingança dos que se viram revelados em seus crimes contra a humanidade - e que estão nos poderes do mundo, comandando máquinas de guerra em genocídios generalizados em várias regiões do planeta. O cara tinha ido pra Suécia porque seu país é subordinado demais ao império corporativo, assistindo daí o que estavam (e estão) fazendo com o primeiro fornecedor de informações-denúncia, como veremos abaixo, e percebendo o cerco se armando à sua volta, quando começaram as denúncias de "delitos sexuais". Mudou pra Grã-Bretanha, tentando se precaver contra a vingança insana da besta-fera.
(O "conselho de segurança" da ONU - Organização das Nações Unidas - é comandado pelos cinco países que são os maiores fabricantes de armas do mundo. Algo mais tragicamente bizarro?)
A "diplomacia" britânica ameaça invadir a embaixada do Equador, uma atitude estranhíssima do ponto de vista das leis internacionais. Essa movimentação, sob o pretexto de um "crime" risível e sem base diante da lógica mais primária, mostra o desprezo pela inteligência de todo mundo e a segurança em que se sentem os controladores dos aparatos públicos, bancos internacionais, fabricantes de armamentos e vários etc. O Equador concede o asilo e o impasse tá armado. Lembro que Pinochet estava em Londres e foi pedida sua extradição pela Espanha. Ele era acusado de crimes a dar com o pau, de assassinatos de espanhóis - o motivo do pedido - à tortura e morte de milhares e milhares de chilenos e pessoas de outras nacionalidade, de formar com a operação condor e inúmeros etc. Um gracioso asilo foi concedido a Pinochet, afinal suas empresas lucraram bastante no Chile - um dos maiores produtores de cobre no mundo, entre outras coisas.
Há pouco tempo atrás, era quase impossível tomar conhecimento de informações dos bastidores, só se obtinham informações filtradas pela mídia comercial, dominante total das comunicações a ponto de indicar ministros abertamente. Agora mais e mais pessoas tomam conhecimento da realidade por trás dos panos das políticas públicas mundiais, regionais e locais, formas de controle da política por elites na mesma seqüência. E óbvio, dos orçamentos, dos dinheiros públicos - restando, à maioria, migalhas. O Wikileaks foi um tremendo alavancador dessa onda de informações, numa situação de predomínio geral das mídias privadas, do controle das comunicações, entre outros, no sentido de manter a desinformação, a alienação, a superficialização das mentalidades. Desvia-se a atenção, deforma-se a realidade, atiram-se todos contra todos, justifiicam-se as injustiças, culpa-se as vítimas dessa estrutura desumana. Incompetência, desinteresse, preguiça, mau caráter são expressões comuns. O caminho a ser trilhado, penso eu - ou um dos caminhos, vá lá - está no documentário da postagem anterior.
Esta postagem foi motivada pela foto abaixo, tirada dois dias depois do alegado crime e publicada em jornal, onde a vítima sorri no mesmo grupo com Assange, em confraternização amiga. O artigo diz que poderia ser usada pela defesa do cara. Como assim, poderia? Se for verdadeira, e parece que é, a foto esculacha com as acusações, prova intenções outras e armação clara. Com o histórico do Wikileaks, cujos maiores alvos foram as forças de segurança e a diplomacia das corporações mundiais instaladas sobre os governos do "primeiro mundo", os pretextos são ridículos, contos de fadas, conversa fiada.
O jornal The Mail on Sunday republicou a foto, explicando que borraram a cara da acusadora "por motivos de segurança". Imagino que seja alguma segurança jurídica, já que vi fotos dela e da outra acusadora em várias publicações, na época das denúncia. |
A perseguição ao criador do site que mais revela as secretas e criminosas manobras de controle e interferência mundial, em todos os sentidos, era uma certeza matemática. O soldado Bradley Manning, primeiro liberador de informações sigilosas em massa pro Wikileaks, continua em isolamento, seu advogado acusa o Estado de o estar enlouquecendo, sob tortura psicológica e sem a assistência devida por lei, nem médica, nem jurídica, nem familiar, até onde eu soube, com direito a um único banho de sol de uma hora por semana - sabe-se lá o que pode estar sendo feito a esse rapaz, à mercê do ódio dos criminosos contra seus delatores. Ele era um cara no princípio da juventude, acreditava na imagem fabricada do seu país, o protetor da paz mundial, a maior democracia do mundo, missionário da civilização, e foi colocado por suas especializações, em contato com os arquivos das guerras do Iraque e Afganistão, ambos ocupados pelo exército da democracia estadunidense. Deve ter ficado estarrecido. Imagino o sentimento de traição, a frustração, a revolta de ser enganado toda a vida até ali e a necessidade de fazer alguma coisa. Denunciou não o seu país, mas a corja que o dominou ou servia aos poderes dos que o dominava. Deve ter pensado que tudo mudaria se todo mundo soubesse. E o sistema se armou pra impedir. A mídia nada diz a respeito, ou diz o que for inofensivo ao controle das comunicações. Mas embora não mude como (imagino) esperava o Manning, deu um valioso impulso na divulgação das informações mais próximas da realidade, tornando o mundo mais compreensível e, portanto, mais possível de mudar. A partir de mudanças individuais, daí ao coletivo, permanentemente, persistentemente. Uma peste benigna e altamente contaminante.
O mais importante nisso tudo é que se perceba a vida manipulada que se leva. Perceber quanto dos nossos valores, nossas opiniões, nossos objetivos e comportamentos são conduzidos pelas estratégias midiáticas, publicitárias, novelescas, a serviço de uma estrutura formadora essencialmente de privilégios e poderes para poucos em detrimento dos direitos da grande maioria. Os que percebem precisam trabalhar em si para trabalhar o mundo, mudar em si para mudar o mundo, espalhar geral, esclarecer o mais que se possa, sem agressividade nem com os confrontadores. O confronto é instrumento do sistema, ele está sempre disposto ao confronto, até porque no confronto as razões desaparecem, vira tumulto, briga, insultos, embates pessoais inúteis e nocivos. Com serenidade, ou se desarma o agressor, ou se elimina a relação. Não se planta sementes no deserto, é preciso reconhecer as terras férteis. Quando se houver semeado o suficiente nas coletividades, os negadores vão de arrasto ou são atropelados.