domingo, 14 de abril de 2013

Cícero Garcez e a ordem pós moderna

Eu estava em Porto Alegre, ele apareceu na noite, cara de moleque e olhar de alma antiga, inconformação estampada, inteligência aguçada, personalidade leonina. Circulamos juntos, falamos muito, tomamos várias. Agora ele me envia esse trampo, duvido que tenha espaço na mídia. O que presta ao coletivo não aparece na mídia privada. Valeu o encontro, ficou a identificação. Quem achar que deve, divulgue. Foi o que eu fiz.

Por figuras como essa é que eu não aceito afirmações depreciativas sobre "a juventude de hoje", porque as juventudes através dos tempos midiáticos tiveram predominância de alienação e consumismo, muito mais forma que conteúdo. E tiveram suas exceções, que são o que vale a pena em todas as faixas etárias. A humanidade é um garimpo, como disse um velho garimpeiro na Amazônia, em 1980, eu tinha 19 anos e tava na estrada. É preciso garimpar pra achar as pepitas de ouro humanas. Naquela época, eram muito raras, hoje encontro com muito mais freqüência. Sinal dos tempos. Luzes andam se acendendo, apesar da propagação midiática massiva de trevas, de alienação, de inconsciência, de consumismo e competição entre irmãos. Somos todos a mesma família, ainda que não tenhamos tomado consciência disso. Os poderosos de plantão fazem de tudo pra impedir a real informação, a real instrução, a solidariedade, a união das pessoas e dos povos. Seu medo é um mundo menos injusto, perverso, covarde, hipócrita, concentrador de riquezas pra poucos e espalhador de sofrimentos pra maioria explorada, sabotada, enganada, roubada e excluída dos benefícios do desenvolvimento tecnológico - em grande parte a serviço do controle e da repressão a qualquer tipo de organização popular, solidária, esclarecedora e reivindicadora. Os privilégios desse punhado custam o sangue, a saúde, a vida e os direitos de enormes parcelas da humanidade. Mas a realidade é cada vez mais conhecida, toma-se consciência e esse é o pavor dos privilegiados. Luzes que acendem outras luzes, se multiplicam, se propagam. Nada vai deter a caminhada. Muitos não acreditam e se acomodam. Muitos se tornam em agentes desse processo e, no mínimo, ganham um sentido na vida menos vazio que os sentidos apresentados pelas convenções.

Somos muitos trabalhando no serviço de conscientização, na contra-corrente desse modelo absurdo de sociedade que nos enfiam güela abaixo, como se fosse não apenas a melhor, mas a única forma de existência coletiva - descarada, deslavada mentira ricamente ornamentada pra enganar os trouxas.

Tamo junto, parceiro, eu, tu e muitos outros. Podem nos matar, mas não podem nos controlar. E se for pra viver uma vida controlada, medíocre, conformada e sem sentido, é melhor mesmo nem viver.


25 comentários:

  1. Concordo com você, Eduardo! Tenho alguns amigos bastante jovens - faixa entre 15 e 30 anos e estão a mil em relação a uma realidade totalmente diferente desta em que a maioria, "vive"!
    Abraços pra você!

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  2. Muito bom saber e ver que ainda existe quem faça música com críticas construtivas, e com a finalidade de abrir os olhos e as mentes de quem ouvir. Gente que faz um som limpo, um som muito bom e um som que ecoa na mente e no mínimo, te faz refletir. Não apenas com o intuito de comercializá-las.
    Parabéns Eduardo pelo blog, e em especial por este texto!
    Parabéns Dirty Lion, que tu tenhas o sucesso que merece!

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    1. Não é "ainda". É cada vez mais. Sem divulgação em mídias. Tá rolando.

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  3. Ajudar os pobres é algo que não resolve o problema da miséria, pobreza e acreditar que dá para igualar as pessoas num padrão de consumo é um mito e uma utopia que não consigo ver em nenhum país que se diga democrático e respeite as garantias e liberdades individuais reservados à subjetividade de cada um, mesmo estabelecendo um critério de consumo e um teto para o que parece impossível mensurar : a disposição do homem em querer descobrir, pagar para ver, explorar, saber, satisfazer-se, sua curiosidade, seja para o bem, seja para o mal. Vi os vídeos do Sr. Eduardo Marinho e tudo parece muito fácil desconstruir, no entanto, a própria natureza pode ser mais cruel do que qualquer intenção bondosa ou mólecula moral que brote de boas pessoas. Demônios nascem feitos, prontos, e as doenças, os casos de estupros, mortes, destruição e monstruosidades estão ai. É algo que brota no espírito de milhões de homens e de alguns até solidários, pobres, bem ou mal sucedidos. Os Darwinistas sociais estão certos? Em nome de grandes causas e famílias tantos genócidios já foram cometidos, os mesopotâmios, os persas, os africanos, os gregos, os romanos, os europeus, os celtas, os medos, os espartanos, os nórdicos - escandinavos, os bretões, os merovingios, os mongóis, os chineses, os incas, todos estes povos com certeza praticavam seus atos de crueldade contra seus semelhantes, mesmo não havendo capitalismo na época.

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  4. Traição, incesto, tortura, sacrifícios de crianças, e todo tipo de atrocidades que hoje ganham novos nomes para práticas antigas, culturais, viscerais, e que põe em dúvida a questão do bem como um sentimento universal ou a moral, a ética, as virtudes como algo que se alcance por mero esforço ou ajuntamento por uma causa. Sinto que é algo inerente ao próprio ser e não só a história parece me dizer isso, mas toda a investigação do homem e passagem do homem pela terra parece estar marcada por exploração, destruição e feridas, na natureza, no próximo e em si mesmo, tudo em nome de quê e para quê? Consciente ou inconsciente, inerente ou proposital, fazemos o mal e isto é uma parte da nossa natureza, ainda mais misteriosa do que o impulso que move para o bem comum, a coletividade. Sei que o Sr. compreendeu meus argumentos.
    A natureza faz a própria seleção? O homem pode controlar o que existe nele de perigoso? Há paz na trajetória e no futuro das intenções humanas? São questão debatidas por milhares de anos pelos variados pensadores, cientistas, estadistas da Filosofia, Psicologia, Sociologia, Antropologia e atualmente a Neurociência, no entanto, sem respostas satisfatórias ou que nos mova para algo melhor do que já fomos. Há algo de ruim em nós caro Eduardo e você, no meu ponto de vista, é uma raríssima exceção.

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  5. Não vejo uma nova mentalidade ou salvação, e isto me torna um niilista, portanto, não só sofri na vida por causa dos mais ricos, mas dos mais pobres também, e assim como Nietzsche, Schopenhauer, Camus, Dostoyevisk, Turgueniev, Pushkin e tantos outros homens que também PENSARAM não sei de outra saída senão a adotada por Zaratrusta, ou a realizada por H. D. Thoreau, Tolstoi, a saber, a volta para o campo e o contato com a terra, como índios artificiais. Você acha possível isso? Há algum país, nação, povo que mesmo entre as tecnologias vive de tal forma por exemplo? Gostaria de debater com você o assunto, não apenas partindo do ponto de vista racionalista ou academiquês, mas com sentimentos e coisas que vivi na prática e que me fizeram pensar muito se de fato, a busca do homem é honesta e a natureza algo além das condições duras que representaram para um homem como eu, de origem no Sertão e que para não morrer de fome teve que "vender a alma ao diabo"( entregar seu corpo à serviço da manutenção do sistema), como você mesmo fala.
    Você dá uma mão, eles querem o braço, ficam dependentes e não conseguem se desenvolver por si só, mesmo quando você fornece terrenos em perfeitas condições e um ambiente propício ao manejo da terra, das condições e do desenvolvimento destas comunidades. Isso ocorre muito com as populações dos Estados do Norte e Nordeste, o qual a cultura da dependência, do tirar vantagem e da preguiça tomaram de conta de uma quantidade de pessoas que poderiam, com suas próprias mãos, abrir caminhos para mudanças radicais, precisando apenas se unir e usar o dinheiro que a União despende todos os meses para satisfazer gratuitamente suas necessidades. Ora, o que custa criarem sua própria economia? Criarem sua própria comunidade? O Estado não veta as feiras, as trocas de frutas, de legumes, então por que não aproveitam parte desta liberdade e aplicam no seu dia - a - dia? Conscientização? Leituras críticas? Marx, Hobbes, Locke, Rosseau, não são necessários.

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  6. Alguns chama essa busca pelo "BEM" de DEUS, outros de Cristo, Alá, Dinheiro, poder, o próximo, no entanto, a busca quase sempre acaba em conquista, prisão, estudo de caso e por fim, explicações científicas, filosóficas ou práticas pedagógicas de cunho civilizatório e mutacional, sendo assim, como posso acreditar na ideia de Família humana? Com todo respeito, não seria muita igenuidade e mesmo uma norma forma de inteligência ou razão, digo, a intuição ou a questão sentimental? Nós, seres humanos, nos corrompemos muito facilmente até mesmo diante da perfeição e em qualquer dos paraísos imaginados pelos mais bondosos ou bem-intencionados pensadores. Dê-nos tudo materialmente e ainda vamos querer mais. Dê-nos tudo para consumir e isso não será o bastante. Dê-nos todas as respostas e ainda assim teremos perguntas. Dê-nos um Cristo e ainda assim teremos um diabo e dê-nos a solução e ainda assim criaremos problemas. A essência do homem caminha sobre o paraíso e o inferno e não se sabe ao certo em qual deles se origina suas reais intenções e as reais e finais consequências dos seus atos.

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  7. Mas não o fazem por egoísmo, ganância, exploração do outro, e a vantagem que percebem em coisas fáceis, rápidas, como poder, dinheiro, bens, consumo, e isso ocorre mesmo entre as classes mais baixas e nas próprias favelas. Quase ninguém deseja trabalhar, querem tudo de graça, do jeito fácil, rápido, pelas mãos gordas do governo, que é sustentado pelos habitantes que vendem a alma para a máquina de gerar dinheiro : Sul e Sudeste. Eis ai um dos aspectos da raiva que tanta gente dos estados Sul-Sudeste nutre dos nordestinos, dos pobres, dos nortistas, dos povos índigenas e daqueles que consideram como preguiçosos, analfabetos, dependentes, parasitas do Brasil. Parece uma tendência natural do ser humano querer mais, mais, mais ou manifestar um instinto semelhante ao predator, explorar, destruir, reconstruir, dominar, controlar, manipular, conduzir. Não é isto que move tanto o homem ocidental como oriental, mesmo sendo de culturas tão distintas, não é esse impulso animal ou não que iguala e nos move a beber do poder, dos sistemas, da razão, dos instintos, do agrupamento e da reunião de interesses? Desde às caças em grupo aos sistemas tribais.
    Não sei se isso é próprio da natureza humana ou algo desenvolvido por séculos, o fato é que está aí e vemos diariamente boas iniciativas indo para o ralo por causa de vagabundos que com a mesma mão que são levantados por pessoas de bem, matam, roubam e acabam com a vida daqueles que os ajudaram. Ora, há de se falar em mudança, conscientização ou bondade a ser desenvolvida? Há como se discutir em família humana vendo a quantidade de atrocidades que todos os dias pais cometem contra seus filhos? Há de se falar em desenvolver um instinto solidário, coletivo, cooperativo entre seres que são tão diferentes uns dos outros como as estrelas do céu e que parecem ter verdade obsessão por competir, se destacar, oprimir? Em dez anos de estudo e de docência no ensino de Sociologia, não vi nada parecido durar muito tempo. Alternativas? A solução, a meu ver, é a criação de grupos de ajuda mútua, cuja finalidade e conseqüências são claras até ao raciocínio mais infantil. O homem sempre quis e sempre quer controle, domínio, poder e ilusão e isso é um fato.

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    1. "Ajudar os pobres" soa estranho. As mãos que constróem a sociedade, mantêm e sustentam (via impostos sobre consumo) são de pobres. As roupas que vestimos são costuradas por pobres, muitas vezes com trabalho "em condições análogas à escravidão", como nos mostra cotidianamente o Repórter Brasil, ong noticiosa com boletim de notícias diário, criada por, entre outros, Leonardo Sakamoto (blog do sakamoto). Se somarmos todos os impostos pagos por empresas, sejam grandes ou pequenas, não chega nem perto da massa tributária arrancada aos mais pobres, que chegam a pagar mais de 60% do que ganham em impostos embutidos nos preços do seu consumo.

      Minha proposta não é "ajudar os pobres", mas respeitar seus direitos constitucionais. Ou seja, educação de qualidade (e não esse simulacro mentiroso que não instrui, não educa e não forma), moradia digna (direito claramente negado por um Estado seqüestrado por interesses econômicos), informação verdadeira (que passa longe da mídia privada, dominante nas comunicações do país) e proteção contra os desvios ideológicos e a indução a valores externos em detrimento dos valores reais, subjetivos, do ser humano.

      Acho que é uma questão de ponto de vista, que vem a ser a vista que temos, a partir do ponto em que nos encontramos.

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  8. Perdoe-me pelo tamanho da postagem e se de alguma forma ofendi, mas não sei como debater com você essas questões online. Estou aberto e atento à sua resposta. O que eu disse acima, falei baseado na minha experiência trabalhando numa empresa dentro da comunidade, aqui no Norte, a empresa era do meu pai e o pessoal simplesmente não queria trabalhar, só dinheiro, dinheiro e benefícios e isso eu me matando de trabalhar, querendo montar uma equipe e a galera só querendo receber, tantos os pobres como os ricos.

    Abraços e desde já agradeço e peço desculpas pelo tamanho da postagem.

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  9. o que é realidade? o que é ideologia?
    https://www.youtube.com/watch?v=A4FAJsFqHe0

    enquanto o link estiver no ar, estará transmitindo o filme baseado na obra de Guy Debord "A sociedade do Espetáculo".
    E parece-me, como disse Galeano, que "a utopia serve para que sigamos caminhando".

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    1. Lendo tudo quase passei pro fim e ia postar isso Ju, nada melhor pra descrever... Inclusive queria conversar com o Eduardo sobre esta obra...
      Curti muitão!!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Ele aparece no Zeitgeist que eu já vi todos mas não tinha visto esse... Um Mundo sem guerras, miséria....

      Um mundo sem fronteiras...

      Já assistiu La Belle Verte - não sei pq em portugues virou "O turista espacial" mas vale a pena conferir!

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    4. Este comentário foi removido pelo autor.

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    5. A propósito, baixei o disco do artista do tópico e to só curtindo os peso nas minhas playlist! Valeu pelo trabalho e pela divulgação!

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  10. Ahhhhhhh empresa do papai... Pobre não é burro, preguiçoso e vagabundo. Faz corpo mole pq sabe a merreca que vai receber no final do mês.

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    1. Olha o preconceito, que não é bom nem prum lado nem pro outro. Vamos aos pósconceitos. A maioria - de qualquer classe - é phoda. Mas não somos seres acabados, estamos em processo, como tudo. Hostilidades não ajudam, respeito e delicadeza facilitam a tomada de consciência. Desde que exista terra fértil. Há cabeças e corações de pedra, onde não brotam sementes, apenas cactos. Quando brotam, a maioria das pedras é desértica, mesmo. O tempo e o universo tratam de pulverizá-las. Mas é trabalho pra séculos, temos mais o que fazer, dispomos de terra fértil cada vez mais abundante. A angústia da vida imposta na atualidade é um bom fertilizante.

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  11. Eduardo, compreendi seu ponto de vista. Muito obrigado pela resposta. E ao Pedro: se corpo mole fosse justificativa para injustiça, eu, meu pai e tantos outros que estão tentando sobreviver, simplesmente cruzaríamos os braços. Tenha respeito e saiba dialogar.

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  12. Ser rico não é ser rico, entendam, por favor.

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  13. "Tentando sobreviver" as custas de mão de obra mal paga? Conheço muitos donos de empresa que reclamam dos seus funcionários. Mas dividir o lucro ninguém quer.

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    1. Faz favor, parceiro, aqui não é área pra bate boca. Ache o cara e debata com ele, particularmente. Não sejamos ridículos.

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  14. Excelente, RAP melhor meio para se expressar, não é o primeira musica de rap que ouço falando sobre esse tema... Graças a internet temos essa visibilidade e facilidade de nos acharmos. Tenho 20 anos e acompanho teu blog a um tempo Eduardo, continue fazendo esse trabalho de nos informar alem das grandes midias! Abraço.

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