sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Espiritualidade não é religião

Não ter religião não significa de maneira nenhuma ser ateu. Significa apenas não acreditar nas interpretações religiosas sobre espiritualidade, arrogantes, repressivas, donas de verdades improváveis, que cobram crença sob ameaça de punição, de incorrer na "ira divina", expressão, a meu ver, ridícula, que atribui um dos piores sentimentos à divindade. É o ser humano projetado na imagem do "ser supremo".
Espiritualidade acima da média é amorosidade, generosidade, tolerância, respeito, senso de justiça, cooperatividade, além de humildade e espírito de serviço. Intolerância, julgamento, ameaça, irritação, acusação, preconceitos são característica da baixa espiritualidade, do primitivismo religioso, separatista, orgulhoso, atrasado, verdadeira âncora no desenvolvimento da humanidade.
Não preciso nem posso saber o que está fora do alcance da minha capacidade de compreensão. Tenho quase sessenta anos, não demora muito vou estar de cara pra essa realidade, sem intermediação de nada nem ninguém. E "alguma coisa" me diz que, se tenho uma consciência ativa, alerta, e estou de acordo com ela, em paz comigo mesmo e com o mundo a minha volta, estou bem espiritualmente pra encontrar as boas sintonias das outras dimensões. Saber, só assim mesmo. No momento, é intuição, sentimento e atuação na coletividade humana, minha família espiritual, primitiva e em desenvolvimento.

Arrogância como distância

Há uma produção intensa e intencional de arrogância, via estimulação de egos, pela mídia e pelo sistema social em geral. Vaidades, superficialidades, fragilidades são criadas, induzidas, estimuladas. Os motivos são simples, ligados à dominação da estrutura, da sociedade como um todo. A arrogância é o melhor conservante pra ignorância e desinformação. Bloqueia qualquer tentativa de esclarecimento com insultos programados e automáticos, de forma superficial e grosseira. Afasta as pessoas e torna as relações superficiais.

Arrogância é um recurso de domínio social, entre muitos outros. Induzida entre acadêmicos, é uma forma infalível de conter o conhecimento entre poucos, os que se destinam ao controle, à administração da maioria ignorante e desinformada, da massa explorável, escravizável, roubada em seus direitos constitucionais, fácil de conduzir pela mídia, pelas redes sociais, desarmada de senso crítico, de conhecimentos e informações, apesar de ser a classe mais forte, mais resistente e que, pelas dificuldades com que trata rotineiramente, desenvolve a sabedoria das vivências e convivências, da superação de obstáculos, problemas e dificuldades. Para o punhado de dominantes, o saber não pode se aproximar da sabedoria, é uma "heresia", pros que dominam, a idéia de instruir e informar, de verdade, a população. A ignorância é parte fundamental do alicerce desta estrutura social, a superficialidade, a desinformação, a alienação são básicas pra existência da injustiça, da exploração, a competição, a ânsia de consumo, o valor humano diretamente ligado e dependente do patrimônio, da forma muito além do conteúdo, tudo são armações psicológicas, induções criminosas na formação da mentalidade geral. A arrogância é uma barreira, mais uma entre tantas, no caminho do saber. 

A arrogância serve também como capa, biombo pra esconder a insegurança pessoal, social ou afetiva. Afasta as pessoas e tornam as relações superficiais e distantes. Um esconderijo, um castelo de areia, uma capa de invisibilidade que só convence os igualmente condicionados, induzidos a estes valores e procedimentos. Mesmo assim, entre os que acatam a arrogância dos "superiores", muitos sentem alguma coisa no ar, algum desequilíbrio, alguma falsidade, encenação, alguma coisa por trás da situação, que passa despercebida, embora intuída.

O que seria bom levar em conta é que a arrogância cega, muitas pessoas deixam de perceber os sinais sutis que a vida apresenta, os avisos e advertências diante de decisões e escolhas. Perdem boa parte da capacidade de aprendizado, sobretudo dos que lhe são “socialmente inferiores”, mais uma estupidez planejada. Arrogância diminui a sensibilidade, a capacidade de percepção, o senso de justiça. As coisas passam a ser analisadas de acordo com a própria conveniência, só se chegam a conclusões convenientes, só se vê o que se quer e não há como se esclarecer a respeito dos próprios erros. O arrogante tem enorme dificuldade em corrigir as próprias falhas porque não as admite. Os que tentam mostrar o que não se quer ver são desqualificados de imediato, quando não insultados e agredidos.

Arrogância – freqüentemente ligada a egoísmo, a vaidade, a interesses materiais e financeiros, a forma, a aparência, a superficialidade – é terra árida, infértil, desértica, onde só crescem cactos e plantas agressivas, até pela agressividade do meio. Quem tiver sementes pra plantar, melhor guardar pra terras férteis, que estão sempre por aí. Sei que todo deserto tem seus oásis, mas poucos têm condições de encontrar, melhor deixar pra especialistas, gente com mais sabedoria que eu. Não gosto e não quero perder sementes. Quando percebo a impossibilidade, a infertilidade, a hostilidade, a tranca, me calo, sem ranço, sem mágoas, sem julgamentos.

Conheço o mundo onde vivo, sei das fábricas de pensamentos e sentimentos rasteiros, atrasados, conflituosos, percebo os planos de causar discórdias e confrontos, a manipulação mental que acompanha a distorção da realidade pelo jornalismo empresarial, a sabotagem de todo sistema de ensino, cada setor de uma forma específica, na construção da sociedade onde vivo e das mentalidades que vigoram nesse momento da eternidade. Um emissor ocasional de barbaridades e desumanidades ideológicas é um repetidor de programações mentais, um papagaio de mídia, teleguiado e com pequena capacidade de criação do seu próprio pensamento, da própria visão de mundo. A própria sociedade é desumana e cria barbárie nas suas periferias. Eu sou igualmente condicionado se me aborreço com este repetidor, se o julgo e condeno, decompondo a pessoa em fatores químicos tóxicos, insultando e acusando. Ou mesmo se o responsabilizo pelo pensamento emitido. Sei que é produção em massa, que são usados conhecimentos profundos de psicologia do inconsciente, psicologia de massa, antropologia, sociologia, tudo quanto é estudo do ser humano e da sociedade. Contratam-se as “melhores cabeças” por fortunas que anestesiam as consciências, pra compor laboratórios de pensamento na intenção de construir valores, comportamentos, desejos, visão de mundo, objetivos de vida.

O mercado das consciências movimenta muita, muuita grana pelo mundo afora, monitorando academias e demais produtores de conhecimento. Salários altíssimos e garantias sociais são anestésicos potentes pra consciências e sensibilidades. E a arrogância é um ingrediente importante na composição desses anestésicos. Os efeitos colaterais são aqueles mencionados lá atrás, de passagem: a tendência à cegueira, à distorção da realidade, o desenvolvimento de egoísmo e de vaidades – sobretudo simbólicas, que confirmem sua falsa superioridade –, a queda no sentimento de solidariedade, a criação de isolamento, de dificuldades afetivas... e por aí vai. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Não como castigo, mas sim como conseqüência. A arrogância bloqueia a inteligência e impede que se tome consciência. Afasta e mantém distância.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guerra en América Latina (II): Receita para incendiar un continente



Por: Claudio Fabian Guevara

Publicado 31 diciembre 2019



Um plano explícito e documentado se foca em detonar uma conflagração na América Latina em torno de Venezuela e Caribe. Agora se soma a transformação da Bolívia em um novo estado criminoso que colabore com a geração da guerra. No horizonte, um caos de longa duração e a subdivisão política do continente em unidades menores.
“Estados Unidos, em vista do seu retroceso mundial, quer reordenar seu espaço geopolítico …() e afundar Nuestra América num caos sem fim de ódios ideológicos implantados de fora”.
Miguel Angel Barrios
“A América Latina é, mais uma vez, o território da disputa geopolítica de colonização ou descolonização. Em todos os lugares – Bolívia, Chile, Argentina, Brasil, Venezuela, Uruguai...- e assim, no mesmo padrão: os liberais pró Estados Unidos (+ liberais de extrema direita) contra as forças de descolonização, em sua maioria de esquerda”.
Alexander Dugin

As peças vão se juntando. Com o desmentelamento da UNASUR e das instituições multilaterais que garantiam a paz e os projetos de integração entre as nações sulamericanas, todas as fichas se movem em direção a uma guerra induzida na América Latina. Nas duas últimas semanas, todas as variáveis se aceleraram.
As principais hipóteses de conflito partem do cerco multidimensional à Venezuela. Agora aparecem os perigos de uma “ruandização” da Bolivia e sua transformação em um novo estado criminoso que colabore com a geração da guerra, junto com Colômbia, Peru, Equador, Brasil e Guiana.
As nações latinoamericanas não têm motivos históricos verdadeiros para entrar em guerra. Um potencial conflito bélico só pode ser criado artificialmente, a partir de denúncias falsas, ataques de falsa bandeira ou decisões governamentais para queimar o continente no altar de uma quimera de origem estrangeira, como “a defesa da democracia” na Venezuela, ou “a luta contra o terrorismo” que alimenta o regime usurpador de La Paz.
Um plano detalhado para envolver um grupo de nações latinoamericanas em um conflito deste tipo veio à luz no ano passado e seus primeiros passos estão à vista.

A agenda profunda do “golpe de mestre”

No início de 2018, um artigo da jornalista Stella Calloni trouxe à luz um documento de 11 páginas, com a assinatura do almirante Kurt Walter Tidd, então comandante em chefe do Comando Sul (SouthCom) estadunidense: “Plan to overthrow the Venezuelan Dictatorship – Masterstroke”. Ali se esboça a agenda profunda da guerra contra a Venezuela que, em sua etapa mais avançada prevê uma operação multinacional. O documento manda executar passos práticos com o objetivo de desgastar o governo de Nicolás Maduro e forçar a sua queda:

- No plano econômico, incrementar a instabilidade interna, intensificando a descapitalização do país, a fuga de capitais estrangeiros e a deterioração da moeda nacional, mediante a aplicação de medidas inflacionárias que acelerem essa deterioração. Obstruir todas as importações e desmotivar os investidores externos. Sabotar a indústria do petróleo. Generalizar o desabastecimento de comida, remédios e bens básicos. Contribuir fazendo mais críticas à situação da população e fomentar o descontentamento. Todas as calamidades vividas pela população serão exploradas para “culpar o governo”.
- No plano social, apelar a aliados internos e agentes externos implantados no país para provocar protestos e atos violentos, gerar insegurança, saques e roubos. Promover os seqüestros de embarcações para desertar do país. Estruturar um plano para conseguir a deserção dos profissionais mais qualificados do país. Promover o desgaste entre os membros do partido governante e seus seguidores.
- No plano midiático, ridicularizar a figura de Maduro, fazê-lo cair em arroubos verbais e equívocos, para provocar desconfiança à sua figura. Acossá-lo, ridicularizá-lo e apontá-lo como exemplo de torpeza e incompetência. Minimizar sua importância internacional. Expô-lo como marionete de Cuba. Exagerar as diferenças entre os membros do grupo no governo.
- No plano militar, instigar um golpe de Estado, continuar o fogo contínuo na fronteira com a Colômbia, multiplicar o tráfico de combustíveis e outros bens, o movimento dos paramilitares, incursões armadas e tráfico de drogas. Provocar incidentes armados com as forças de segurança nas fronteiras. Também recrutar paramilitares, principalmente nos campos de refugiados de Cúcuta, Guajira e no norte de Santander.
Num primeiro nível de leitura, o plano é uma explícita declaração de guerra e de interferência descarada, que explica em grande parte os padecimentos da Venezuela hoje.
Num segundo nível de leitura, o documento pode ser interpretado como um manual para o assédio e controle das populações das colônias. Este conjunto de estratégias se aplicam em outros cenários, contra outros povos.
Em um terceiro, é uma instrução ideológica para os centros geradores de notícias. Os estereótipos e construções verbais propostos pelo documento para desacreditar o “líder inimigo” aparecem transversalmente na cobertura noticiosa sobre a Venezuela atual.
Preparação de una coalizão internacional
Enquanto se fomenta a instabilidade interna, se traça um plano para obter a cooperação das autoridades aliadas de “países amigos”: Brasil, Argentina, Colômbia, Panamá e Guiana.
-As provisões das tropas, apoio logístico e médico se realizarão a partir do Panamá. Se fará uso das facilidades da vigilância eletrônica e dos sinais inteligentes, de hospitais e instalações levadas a Darién (selva panamenha), o equipamento de drones do Plano Colômbia, como também as terras das antigas bases militares de Howard e Albrood (no Panamá), assim como as pertencentes a Rio Hato.
- Além disso se utilizará o Centro Regional Humanitário das Nações Unidas, desenhado para situações de catástrofes e emergências humanitárias, que conta com um campo de aterrissagem e seus próprios armazéns.
- A operação militar será desenvolvida sob bandeira internacional, patrocinada pela Conferência dos Exércitos Latinoamericanos, sob a proteção da OEA e a supervisão, “no contexto legal e midiático, do secretário geral (da OEA) Luis Almagro (SIC).
- É prevista uma Operação Multilateral com a contribuição de Estados, organismos não estatais e corpos internacionais, antecipando especialmente os pontos mais importantes em Aruba, Puerto Carreño, Inirida, Maicao, Barranquilla e Sincelejo, em Colômbia e Roraima, Manaus e Boa Vista, no Brasil.
- Se unirão ao Brasil, Argentina, Colômbia e Panamá para contribuir com o número de tropas, com a presença de unidades de combate dos Estados Unidos e destas nações, sob comando geral do Estado Maior Conjunto, liderado pelos Estados Unidos.
Esta plano – pensa Stella Calloni – “torna compreensíveis as recentes manobras militares de Estados Unidos nesta região de fronteira entre Brasil e Venezuela (Brasil, Peru e Colômbia), no Atlântico Sul (EUA, Chile, Grã Bretanha, Argentina), no caso argentino sem autorização do Congresso Nacional”.
O “Golpe de Mestre” previa acelerar os acontecimentos antes das eleições de maio de 2018. Não conseguiu seus objetivos nos prazos anunciados. O almirante Tidd foi aposentado poucos meses depois das revelações jornalísticas. Mas o plano continua sua marcha.
Ultimas novidades na frente venezuelana

Internamente a Venezuela vive todos os ingredientes do plano previsto no “Golpe de Mestre”: ao boicote da economia se somam um acúmulo de ações desestabilizadores. Durante 2019, cinco conspirações violentas da direita venezulana foram descobertas e desativadas. O último incidente aconteceu em 23 de dezembro, com o  ataque de um grupo armado ao Batalhão 513 no estado sulista e fronteiriço de Bolívar, onde morreu um militar das FANB (exército venezuelano – n do T). O governo venezuelano informou o roubo de armamento de guerra, supostamente com o propósito de realizar uma ação de bandeira falsa, para provocar uma intervenção militar dos EUA contra a Venezuela.
Os governos da região, longe de impedir a propagação da violência, mostram uma convergência com as linhas de ação previstas no plano do Comando Sul. O ministro da informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, disse que Colômbia, Peru, Equador e Brasil facilitaram os movimentos do grupo armado responsável pelo ataque ao Batalhão 513. Os fatos parecem lhe dar razão.
O presidente Maduro exigiu do Brasil a captura dos militares responsáveis, que no entanto foram recebidos em território brasileiro, no marco da “Operação Boas Vindas”. A chancelaria brasileira anunciou que os desertores solicitaram asilo e lhes foi concedido.
Isto é, por um lado há um estímulo à imigração, uma recepção “amigável”, inclusive se tratando de elementos violentos.
Por outro lado, se aponta o êxodo dos venezuelanos como um motivo de “alarme internacional”. No 11 de setembro de 2019, 11 países das Américas (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras, Paraguai, República Dominicana) resolveram convocar uma reunião do TIAR (Tratado Inter Americano de Assistência Recíproca), com o argumento de que a situação atual na Venezuela tem um "impacto desestabilizador" y planeja una "ameaça para a paz e a segurança no hemisfério".
Esta reunião pode ser a ante-sala de uma operação militar conjunta.

As veias abertas da América Latina
A guerra já começou há muitos anos, com o epicentro na Colômbia. Há mais de meio século que a pátria de Gabriel Garcia Márquez é sangrada, com o Estado ausente em muitos meios rurais, hoje nas mãos de narcotraficantes e paramilitares. Colômbia, nas últimas décadas, registrou ao menos 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos y mais de sete milhões de deslocados. Desde a assinatura dos acordos de paz, em 2016, se registrou o assassinato de 620 líderes sociales.
Neste clima, se teme que o presidente Iván Duque se aventure numa guerra contra seu vizinho, Venezuela. Duque se somou à campanha contra a pátria bolivariana, no início de 2019, com a operação de “assistência humanitária” em Cúcuta, e em setembro, com um show lastimável na ONU, onde denunciou a Venezuela por proteger guerrilheiros do Ejército de Liberación Nacional (ELN). Mas Duque apresentou como “prova” fotos falsas, e caiu em ridículo cuando a Agência France-Press o colocou em evidência.
A fronteira colombiana-venezuelana é uma zona de permanentes atritos. Desde junho em Cúcuta e Maicao, cidades fronteiriças com a Venezuela, há um contingente de “capacetes brancos” da chancelaria argentina. Na Síria e em outros cenários, os capacetes brancos têm sido responsáveis por operações de falsa bandeira e fraudes noticiosas. A missão, mais que uma ação de assistência sanitária, faz parte do cordão de pressão contra a Venezuela e pode detonar episódios que sirvam de pretexto para o início das operações.
América Central é outra zona de tensões. Cuba e Nicarágua estão advertidas mais uma vez  que são um marco militar do Pentágono. A fortaleza militar da ilha não parece haver diminuído, mas a Nicarágua deu mostras de ter sido infiltrada com o ensaio de guerra híbrida em abril de 2018. A NED e a USAID deram respaldo explícito aos estudantes/paramilitares nicaraguenses que no ano passado mobilizaram protestos violentos que provocaram centenas de mortos y feridos.
Bolívia é outro aríete contra a paz regional. O desgoverno de fato de Jeanine Añez começa a fazer o papel de cão raivoso, ao estilo de Israel no Oriente Médio. Há duas semanas houve uma incursão ilegal de miltares bolivianos em território argentino. Agora se anuncia a potencial invasão da embaixada do México em La Paz e a expulsão da embaixadora mexicana e diplomatas espanhóis. Este incidente segue a matriz da crise das embaixadas venezuelanas e o descrédito criado a partir do reconhecimento, em alguns Estados, dos falsos representantes diplomáticos de Guaidó. A política da Bolívia hoje é funcional à deterioração da institucionalidade da região, uma linha de ação persistente do “pentagonismo”. Trata-se de ridicularizar a ordem jurídica dos países da zona “não integrada”, entronizar líderes de papel, desconhecer normas elementais de convivência entre as nações e confundir a população com falsos debates.

Conclusões: os piromaníacos que se lancem ao fogo

Un programa de guerra de longa duração, criado pelo Pentagonismo, tem estratégias bem definidas para detonar uma conflagração na América Latina. O novo mapa do Pentágono vai se perfilando com preparativos no terreno, condições sociais longamente preparadas e uma narrativa que o justifica nos noticiários. Trata-se de um conjunto de elementos de grande dinamismo, com diferentes atores, capazes de entrar ou sair de cena, segundo o curso dos acontecimentos.
Esta receita para incendiar a América Latina não terá vencedores entre as nações latinoamericanas. O desenho da guerra tem como objetivo uma ruína generalizada, a imposição de um caos de longa duração, que facilite a reconfiguração da região e a subdivisão política do continente em unidades menores (a divisão de Santa Cruz, a balcanização da Venezuela e o desmembramento da Argentina figuram na agenda globalista).
Assim vê Stella Calloni: “Estados Unidos estão armando um cenário de guerra na Latinoamérica que depois ameaçará a todos os países da região, inclusiive os que hoje se prestam aos planos contra a Venezuela".
Em Caracas se dará uma batalha decisiva. Como disse Atilio Borón, Venezuela é a nova Stalingrado.

Tradução – Eduardo Marinho

Tempestades à vista – nada de feliz ano novo.



Não quis, não fui, não saí de casa. Foi todo mundo, fiquei sozinho pra não atrapalhar ninguém. Não quero ouvir “feliz ano novo”, repetidas vezes, com os jargões de sempre, todo ano, todo “fim de ciclo”, um monte de gente pedindo mudanças pras entidades, sejam quais forem, mudanças que só podem ser feitas por escolha própria, mudanças de valores, de atitudes, por percepções de si mesmo seguidas de mudanças de sentimentos, de disposições, de objetivos, de desejos, de comportamentos, de formas de ver o mundo, os acontecimentos, as pessoas, as coisas, a vida. Mas não, espera-se que alguma coisa faça o nosso serviço pessoal e intransferível. Dá-se pulinhos, queimam-se velas, joga-se arroz, castanhas, ervilhas, lentilhas, usa-se branco, preto, amarelo, laranja, vermelho, roxo, todos os rituais, todas as mandingas, todas as ilusões. A esperança é que alguma interferência externa melhore as coisas, traga dinheiro, facilite a vida. Os mesmos pedidos, repetidos ano a ano, as mesmas confianças e convicções, esquecer o passado, agora é tudo novo.
Esquecer o passado é o maior risco de repetir velhos erros. E se não há mudança interna, percebida, assumida, escolhida, decidida e posta em prática, não há mudança nenhuma além das que o tempo impõe a tudo, no seu ritmo e do seu jeito. Os desejos, os mesmos produzidos em laboratórios de pensamento e implantados pelo massacre publicitário-ideológico. A cegueira é palpável, sedutoramente imposta, quase voluntária. Feliz ano novo.
O ano que termina viu o desmonte de tudo o que fazia alguma defesa do meio ambiente, das terras indígenas, da agricultura familiar e orgânica, dos direitos humanos. As instituições foram ocupadas por mentalidades destrutivas, rasas, ignorantes, truculentas, orgulhosas da sua truculência e ostensivas da sua ignorância. A indústria nacional foi destruída enquanto o teatro político-partidário encenava a farsa tragicômica dos desencontros, chamando a atenção pra si, ocupando os holofotes da mídia empresarial, enquanto nos bastidores, nas casas legislativas, no poder judiciário, rola a destruição de todo pudor no saque, na anti-socialidade, na criação de miséria, desemprego e criminalidade. Os horizontes estão cheios de nuvens escuras, carregadas, a miséria aumenta, os desabrigados se multiplicam sem controle, o crack, as drogas, anestesias no abandono, sendo consumidos à destruição, os cortes na assistência social esmoleira cria mais abandono e sofrimento, a violência se armando, as forças de segurança sendo treinadas e incitadas pra guerra, pro combate “ao crime” nas favelas, periferias e bairros pobres, a pobreza crescente gerando mão de obra pro crime organizado, mais e mais violência. As atrocidades do Estado refletindo nas atrocidades cada vez mais sem limites do crime, penitenciárias sendo construídas e lotadas, especializando a criminalidade, formando as forças inimigas num conflito social sem fronteiras ou limites, onde a população é o campo de batalha exposto a todas as barbaridades da guerra. E os empresários do crime proliferam junto ao Estado, financiam campanhas eleitorais, saem nas colunas sociais com suas obras beneméritas entre a população roubada nos seus direitos constitucionais, humanos, básicos, fundamentais. (Feliz ano novo...)
Os assassinos dos povos originários, entre madeireiros, garimpeiros, mineradoras, empresas agrícolas, ricos criadores de gado, plantadores de soja e outras monoculturas extensivas (as tais comódities) estão atiçados, rosnando indóceis, incentivados pelo governo e pela retirada dos órgãos de defesa tanto das terras indígenas, quanto do meio ambiente. Os assassinatos voltam a recrudescer, como na colônia, quando matar os indígenas era a regra. Foi até criado o dia do fogo, quando milhares de peões foram pagos, municiados de combustível e enviados de moto na missão de criar focos de incêndio, a tal ponto que escandalizou o mundo.
 A viagem que temos planejada pra começar em janeiro, passando por Tocantins e Maranhão, passa pelas terras indígenas onde foi assassinada a quarta liderança em dois meses. Vamos encontrar histórias aí, na certa. De dor e resistência, de ameaças, ataques e sobrevivência. Estamos do lado socialmente mais fraco, humanamente muito mais forte. E é essa a força que tentamos captar e passar adiante, na busca de consciência e solidariedade social numa estrutura construída pra ser egoísta e indiferente ao sofrimento das multidões injustiçadas pelos poderes falsamente ditos públicos, pois seqüestrados e dominados pelos poderes econômico-financeiros, exercido nos bastidores da farsa.
Foram liberados este ano mais de 200 venenos agrícolas com nomes nojentamente falsificados como “defensivos”, alguns dos quais proibidos nos países dos próprios fabricantes. Estamos sendo conduzidos ao câncer e várias outras doenças, pelas químicas não só agrícolas, mas também da indústria alimentícia, que só tem esse nome pela criminalidade social em que vivemos, pois é responsável direta pelo adoecimento compulsivo da atualidade, entre outros fatores também sociais como vida estressante, pressões de mercado, insegurança no trabalho, paranóias e medos intensificados (e mesmo criados) no massacre publicitário-ideológico exercido permanentemente pela mídia empresarial.
O rio Doce continua produzindo doenças degenerativas pelos metais pesados, nos oitocentos e cinqüenta quilômetros da maior bacia hidrográfica da região sudeste brasileira, empesteado pelos rejeitos da mineração que desceram com o rompimento da barragem de Fundão, ao sul do município de Mariana, MG. O litoral de ES, BA, RJ, SP e PR já têm infestação dos metais pesados lançados em Regência, foz do rio Doce, há quatro anos no oceano Atlântico. Os poderes públicos são cúmplices das mineradoras, não à toa. Elas financiam campanhas tanto eleitorais quanto publicitárias, apoiando e sendo apoiadas em seus interesses dentro dos poderes municipais, estaduais e federais, em prejuízo da nação, do meio ambiente e da população. Agora mais que nunca. Médicos foram retirados de locais onde sua necessidade cresce em ritmo alucinado. As águas de banhar, de beber, de cozinhar, de usar, no vale do rio Doce, estão todas contaminadas de metais pesados, altamente cancerígenos. E não se fala nada, o silêncio cúmplice das empresas de comunicação é o mesmo dos poderes falsamente públicos, o escândalo, os crimes contra a população são escondidos, jogados debaixo do tapete, com medidas ridículas, cênicas, hipócritas, cheias de demagogia e perversidade. Os venenos da mineração que devastaram Brumadinho, das mesmas empresas, contaminam agora o vale do São Francisco, que é vital pelo sertão adentro, fonte única de água pra inúmeros municípios. Dessa vez não é avassalador como o rio Doce, é mais sutil, menos escancarado, está contaminando aos poucos e, por isso mesmo, está passando “despercebido” pela mídia, pelo Estado, pelos que cometem crimes sociais permanentemente contra a nação brasileira e sua população. Esta, a população ribeirinha, irá adoecendo lentamente, gradativamente, sem ter ligadas as causas do aumento de ocorrência de doenças degenerativas, sobretudo cânceres, aos peixes contaminados, à água de irrigação, aos poços de consumo doméstico.
O que vem se anunciando pelos fatos torna o “feliz ano novo” ridículo. Não quero ser desmancha-prazeres, não quero ser o chato reclamão, não quero cortar as alegrias que se fabricam no atacado por esta época do ano - não por acaso. É a estratégia da superficialização do pensamento, da percepção, criando ilusões de mudança pra que tudo permaneça como está, pra que não se perceba as raízes, as razões dos enormes problemas sociais, nem as ameaças que se mostram aproximar como nuvens de tempestades terríveis sobre todos nós. Por isso passo a noite em casa, sozinho, tomando um vinho, enquanto se festeja a “chegada de um novo ano, novas esperanças, ano novo, vida nova, tudo novo”.  Não tô pra isso, não dá. Não consigo nem quero olhar pro outro lado.
Sociedade mafiosa, em todos os campos há máfias. O Estado é uma entidade criminosa, dominado pelos poderes econômico-financeiros de um punhado de parasitas sociais podres de ricos que ditam o modelo, o formato, a estrutura da sociedade, o tipo de educação, os valores, os comportamentos, as mentalidades. Parasitas que têm na mídia seu porta-voz, seu condutor de pensamentos e mentalidades, seu deformador da realidade, seu criador de valores e comportamentos sociais, com as melhores cabeças compradas nas melhores universidades, consciências vendidas, pra constituírem laboratórios de pensamento que criarão o que quer que seja pra enganar e conduzir a população, como gado, usando psicologia do inconsciente e todos os recursos do conhecimento sobre o ser humano.
Não se trata de ser pessimista ou otimista, se trata de ser realista ou idiota. Feliz ano novo é o cacete. Não participo disso. Estamos em tempos nefastos, desumanos, e o que se anuncia é colapso. Não tem “feliz”, não tem “ano” e não tem “novo”. É tudo mentira. É preciso preparar o pé pra segurar o tranco. Por gerações.

observar e absorver

Aqui procuramos causar reflexão.